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A Psicomotricidade na Educação Infantil

Barbara B. Valle Otoni

                     Convivemos nos dias atuais, com uma intensa estimulação do consumo por
parte da sociedade, transferindo nossas reais necessidades de SER (afeto, limite, carinho)
pela ilusão de que o TER nos salvará a falta original, a partir do qual se articula todas as
potencialidades do desejo. Diante da realidade social, buscamos proporcionar nos espaços
de Educação Infantil, relação e contato, permitindo uma percepção mais próxima dos
desejos de cada um, do grupo e das diferenças. Para isso temos o corpo em movimento.
Uma trama de sensações cinestésicas, sensoriais, emocionais, neurológicas... organizadas
por vias receptivas e expressivas onde a criança integra estes estímulos produzindo marcas
que a façam perceber a si e ao outro, na relação.

                     A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade a conceitua como sendo uma


ciência que estuda o homem através do seu movimento nas diversas relações, tendo como
objeto de estudo o corpo e a sua expressão dinâmica. A Psicomotricidade se dá a partir da
articulação movimento/ corpo/ relação. Diante do somatório de forças que atuam no corpo -
choros, medos, alegrias, tristezas... - a criança estrutura suas marcas, buscando qualificar
seus afetos e elaborar as suas idéias. Vai constituindo-se como pessoa.

                     A base do trabalho com as crianças na Educação Infantil consiste na


estimulação perceptiva e desenvolvimento do esquema corporal. A criança organiza aos
poucos o seu mundo a partir do seu próprio corpo. Regina Jakubovicz (2002) cita "que em
uma espécie de sequência poderíamos dizer que as evoluções se passam mais ou menos
assim:

1. O que é latente a princípio estará fundido e integrado com o mundo ao


redor, não havendo diferenciação das percepções internas daquelas que
chegam do interior. Uma primeira etapa é tomar consciência dos limites de
seu EU corporal e os limites de seu NÃO EU.
2. Após as primeiras percepções corporais, haverá uma separação e
dispersão, em que essas primeiras percepções serão abandonadas e não
reconhecidas mais como tendo relação entre si. Somente por volta dos 6
meses de idade que começarão as percepções a se unirem em um esquema
de conjunto. A partir de então irá começar a noção de unidade do EU
corporal, que será feita pela fusão dos dados visuais e proprioceptivos
iniciais, tendo como referência uma imagem preferencial (geralmente a
mãe).
3. Chega à fase da criança identificar-se como seu EU corporal, o que
acontecerá lentamente. Esta fase inicia-se quando a criança entrar no
período lingüístico e começar a empregar o pronome EU. O uso do "eu
quero", "eu faço"... pode ser considerada a primeira etapa de auto
conhecimento, e esta etapa, só terminará por volta dos 06 anos.
4. Em paralelo ao período anterior, a criança, irá organizar e estruturar seu
corpo, fazendo a distinção de suas partes... cabeça, pernas e
posteriormente, tronco, peito, palma..."

                     Através da ação, a criança vai descobrindo as suas preferências e adquirindo a


consciência do seu esquema corporal. Para isso é necessário que ela vivencie diversas
situações durante o seu desenvolvimento, nunca esquecendo que a afetividade é a base de
todo o processo de desenvolvimento, principalmente o de ensino-aprendizagem.

                     Partindo da organização do EU, a criança pouco a pouco irá ampliando o seu


espaço. Sensação, percepção, cognição e afeto caminham lado a lado na trilha do
conhecimento humano. O homem é um ser social. As relações da criança no grupo são por
isso, importantes não só para a aprendizagem social, mas fundamental para a tomada de
consciência de sua personalidade. A confrontação com os amigos de turma, permite-lhes
constatar que é um entre outros e que, ao mesmo tempo, é igual e diferente deles. Através
da dinâmica psicomotora, pretendemos que as crianças percebam as reais potencialidades
de seu corpo, dando conta das possibilidades e dificuldades do mesmo, dividindo
experiências, nos pedindo ajuda e superando todas as questões que possam vir a prejudicar
um desenvolvimento psicomotor satisfatório. Este trabalho normalmente proporciona- lhes
uma melhor aceitação das diferenças, uma melhor percepção do seu próprio corpo, o prazer
do movimento pela brincadeira que pode despertar conseqüentemente um maior desejo no
ato de aprender.

                     O psicomotricista é um profissional que cuida do processo de afetividade,


pensamento, motricidade e linguagem, onde a dinâmica psicomotora auxilia no potencial de
relação pela via do movimento, incentiva o brincar e, amplia a possibilidade de
comunicação. Interagindo e articulando durante as atividades de grupo, a criança encontra
espaço para a sua própria expressão, permitindo transformações que resultam em uma
maior flexibilidade na relação consigo mesmo, com os amigos, os familiares e com os
diversos grupos com os quais ela se relaciona.

                     Uma das principais propostas deste trabalho na Educação Infantil, portanto é o


de criar espaços e oportunidades onde as crianças se vejam podendo realizar várias
atividades, sempre experimentando, pois acreditamos que é só assim que elas podem de
fato, tornar-se cada vez mais saudáveis, confiantes e autônomas.

Referência Bibliográfica:
JAKUBOVICZ, R. Avaliação, Diagnóstico e Tratamento em Fonoaudiologia:
Psicomotricidade, Deficiência de Audição, Atraso de Linguagem Simples e Gagueira
Infantil, RJ: Editora Revinter, 2002.

Março de 2007.

Barbara B. Valle Otoni


Fonoaudióloga especialista no conceito neuroevolutivo Bobath da Associação Pestalozzi de
Niterói, Psicomotricista do Grupo Movimento atuando no Centro Educacional Estação do
Aprender e Jardim de Infância Meu Sonho, com Educação Infantil.

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