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MP investiga repasse de dinheiro da

prefeitura de São Gonçalo a igrejas


As igrejas deveriam oferecer serviços sociais como creches e
assistência médica e teriam recebido dinheiro para isso. Nossa equipe
foi às sedes dos projetos, mas não encontrou nenhum desses serviços.

Encontramos o templo da Assembléia de Deus, no bairro Coelho,


fechado. Segundo o Diário Oficial do município de São Gonçalo, lá
funcionou um posto de saúde, uma creche e espaço para cursos
profissionalizantes entre 2005 e 2006. Mas os moradores nunca
souberam de nada disso.

“Como você vê, não tem creche, não tem curso profissionalizante,
não tem nada”, mostra o morador Sérgio Gomes Moreira.

De acordo com o os relatórios do Tribunal de Contas do estado, a


igreja recebeu da prefeitura R$ 325 mil em dois anos para oferecer
os serviços. Mas não apresentou provas da realização dos cursos.

No bairro Itaoca, outra região da periferia de São Gonçalo, deveria


funcionar o projeto Crescer, com cursos profissionalizantes para
jovens e prestação de atendimento médico para a comunidade,
mas no endereço da sede do projeto só existe uma casa, onde
mora um pastor.

“Houve o pedido do projeto, mas fiquei doente e passei adiante”,


justifica o pastor Zilar de Souza Couto.

A assinatura do pastor Zilar de Souza Castro aparece numa


solicitação de pagamento enviada à prefeitura. Em outro
documento, os gastos com uma suposta folha de pagamento:
médicos, dentistas, nutricionistas e outros profissionais que dariam
os cursos. Mas também nesta comunidade, ninguém ouviu falar
nestes serviços.
“Eu moro aqui há 40 anos e nunca ouvi isso. Aqui não tem nada,
não tem curso”, diz um morador.

O pastor afirma que não recebeu o dinheiro. “Isso é coisa passada.


Não vou entrar em detalhes”, desconversa Zilar de Souza Couto.

Mas o Diário Oficial mostra que foram liberados R$ 25 mil por mês
para o projeto entre os meses de junho e dezembro de 2006. Total
de gastos: R$ 175 mil. Os contratos com as igrejas são objeto de
duas investigações no Ministério Público. Mas a procuradoria diz
que não consegue obter informações da prefeitura de São Gonçalo.

“O dinheiro certamente saiu dos cofres públicos, mas não sabemos


para onde foi”, aponta a promotora Renata Cavalcanti.

Para os moradores, ter os serviços perto de casa ainda é um sonho


distante. “Se tivesse o posto seria muito bom. Aqui é carente de
tudo”, garante um morador.

Apesar do que os moradores disseram e do que foi mostrado na


reportagem, a prefeitura de São Gonçalo afirmou que um
levantamento da Procuradoria Geral do Município mostrou que as
duas igrejas promoveram as ações sociais.

A prefeitura decidiu suspender os convênios depois que recebeu


denúncias de irregularidades, em outubro do ano passado. A
prefeitura informou ainda que instaurou um processo interno para
apurar o caso, e que se ficarem comprovadas as irregularidades,
os responsáveis terão que devolver o dinheiro.

O pastor Moises Figueiró Moreira, da Igreja Assembléia de Deus


Ministério da Reconciliação, não foi encontrado pela nossa
produção.
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