Você está na página 1de 1

A cotovia e outras fbulas de Leonardo da Vinci

Triste o destino das lagartas: enquanto os demais insetos esvoaam, saltitam, correm e at cantam ao seu redor, elas tm que se contentar com uma silenciosa imobilidade... Mas aquela lagarta parada ali, sobre uma folha, no parece incomodar-se com tamanha injustia da Natureza. Ao contrrio, muito conformada com seu destino, ela inicia lenta e ondulante marcha at uma outra folha, aonde chegar tempos depois, cansada como se tivesse viajado quilmetros! Parece saber tambm o ofcio que lhe est destinado: tecer fios finssimos e com eles construir, em torno do prprio corpo, um abrigo. Assim, a lagarta pe-se a trabalhar sem nenhuma pena de si mesma. O tempo passa e eis que o casulo est pronto. Dentro dele, mais imobilidade e mais silncio do que nunca em toda a sua demorada vida de lagarta. E ela pensa: Que ir acontecer agora? A voz do instinto, ento, segredalhe que deve apenas esperar e, coisa que no muito difcil para uma lagarta, ter pacincia. Entrega-se, pois, a um profundo sono sem sonhos. Ao despertar, descobre que se transformara em outro inseto. Despe devagar o seu roupo de seda e, como se houvesse treinado a vida inteira para isso, sobe aos cus movendo com graa as asas leves e coloridas como delicados mosaicos.

Você também pode gostar