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Associagdo Portuguesa de Gedlogos Geonovas, n.° 16, pp. 5 a 22, 2002 Novos Conceitos em Vulcanologia: Erupgiées, Produtos e Paisagens Vulcdnicas Joao Cartos Nunes Universidade dos Agores — Departamento de Geociéneias, Rua da Mae de Deus, Apartado 1422. 9501-801 Ponta Delgada, Email: jenunes@notes.uac-pt Resumo: A nomenclatura vuleanolégica, em especial aquela associada ao estudo do vuleanismo explosivo, sofreu uma evolugo muito signticativa nas dtimas décadas. Apresentar uma revisio dessa nomenclatura é 0 propésito central do presente trabalho. Os diferentes estilos que ‘araclerizam as erupgSes vulednieas si0, de acordo com a classificagio de G. Walker: havaiano, estromboliano, vuleaniano, sub-pliniano, pliniano, ‘ultrapliniano, surtsciano e freatopliniano. A classificagio dos produtos vulednicos faz-se segundo diferentes perspectivas, designadamente em furt~ ‘Gio da sua composigdo quimica (cf. basaltos, dacitos, riolitos), caracteristicas morfo-texturais (cf. ese6ria, pedra pomes) ¢ génese (cf. escoadas lévieas, pioctastos de queda, escoadas piroclisticas e escoadas de lama). A morfologia vulcinica é composta por um vasto conjunto de formas, ‘que inclui ediffcios de grandes dimensées (e.g. vulodes em escudo ¢ estratovuledes), cones vulednicos monogenéticos (e.g. cones de escéri ‘cones de tufos), formas efusivas (e.g. domos e coulées) ¢ diversos miero-relevos e estruturas vuledinicas. Palavras-chave: vulodes, erupgies, estilos eruptivos, modelado vulcanico, rochas vulednicas. Abstract: The vast volcanologic nomenclature, especially that related with the explosive voleanism, has undertaken a significative evolution during the last decades, The present state-of-the-art of that nomenclature is the main purpose of this work. In compliance with G. Walker classification system, the eruptive styles are: hawaiian, strombol Voleanie products can be classified in several ways, namely textural features (cf. scoria and pumice) and gen , vulcanian, sub-pli ‘accordance 10 the chemical composition (cf. basalts, dacites, rhyolites), morpho is of the rocks (ef. lava flows, fall tephra, pyroclastic flows and mud flows). Several forms ‘compose the voleanic landscape, which includes major volcanic edifices (. li fn, ultraplinian, surtseyan and phreatop! shield voleanoes and stratovoleanoes), monogenetie cones (e.g. scoria and tuff cones), effusive forms (e.g. domes and coulées) and several small edifices and volcanic structures. Key-words: volcanoes, eruptions, eruptive styles, volcanic landscapes, volcanic rocks. 1. Introdugio As ciéncias vulcanolégicas conheceram, nas iltimas décadas, avangos muito significativos, sob variados aspectos, para 0 que contribuiram, entre outros factores, um maior interesse pelos fendmenos vulcdnicos, a instala- gio de observatdrios na proximidade de alguns dos mais importantes vuledes activos do globo e uma consciencia- lizagio da necessidade de medidas de minimizagao dos impactos negativos associados ao vulcanismo. Dessa evo- lugao, patente na publicagao de numerosos artigos ¢ livros da especialidade, resultou a inclusio no léxico da moderna Vulcanologia de uma variada série de novos ter- mos e de designagdes ou, ainda, a reestruturagio de alguns dos conceitos tradicionais e classicos. O presente trabalho tem, assim, o propésito de pro- mover uma revisio dos principais conceitos em ‘Vulcanologia, na perspectiva de que possa constituir uma ferramenta de apoio aos docentes e discentes da area das Ciéncias da Terra, em geral e da Geologia, em particular. Dado o cardcter essencialmente didactico do presente tra- balho, optou-se por elaborar um texto isento de referén- cias bibliograficas (pelo menos de um modo sistemético), tornando, porventura, menos fastidiosa a sua leitura ¢ consulta. Deste modo, a presente abordagem, necessaria- mente suméria e no exaustiva, deve ser complementada com a leitura da bibliografia indicada. Finalmente, pro- curou utilizar-se uma linguagem simples, embora no desprovida do rigor cientifico exigivel num texto desta natureza e, na estruturagiio do trabalho recorreu-se, fre- quentemente, a uma esquematizacao dos diferentes con- ceitos analisados, que foram agrupados em trés capitulos principais: erupcies, produtos € paisagens vulcinicas. 2. ErupgGes Vulednicas A classificagio das erupgdes vulcinicas revela-se uma tarefa dificil e complexa, uma vez que, frequente- mente, estas so caracterizadas pela ocorréncia de dife- rentes tipos de fenémenos, que podem surgir ao mesmo tempo, ou intercalados num curto espago de tempo, em locais distintos de um dado aparelho vulcanico. Aten- dendo a esta complexidade, torna-se mais facil e verosi- mil caracterizar os varios tipos de actividade que ocorrem durante uma erupgio, o que pode ser feito segundo dife- rentes perspectivas ¢ tendo em conta diversos factores. Assim: a) a actividade vuleanica pode ser classificada como efusiva ou explosiva. Na actividade efusiva Joie Carlos Nunes predomina a emissio de escoadas lévicas (Foto 1), nos flancos de um edificio vulcanico principal. enquanto que nas erupgdes explosivas sio emiti- A actividade secundaria, em fungio do posicio- dos predominantemente materiais piroclésticos ¢ namento dos centros emissores no vuleo pr gases a grande velocidade (Foto 2). pal, pode ser (Figuras 1 ¢ 2): 4) a actividade vulcdnica pode envolver, ou nao, + terminal ou sub-terminal, consoante haja extrusio gua exterior a0 magma. Nao envolvendo 4gua a partir de centros emissores localizados no topo exterior a0 magma, diz-se subaérea, enquanto do cone, ou muito proximo deste, respectiva- que, se hé interacgao com Agua, a actividade vul- mente (incluindo no interior duma cratera ter- Anica pode ser classificada em: minal); + hidrovulcfnica (também designada de freato- magmitica ou hidromagmética — Foto 3): trata-se de uma actividade explosiva, resultante de uma interacgao directa magma/lava-4gua, quer esta seja 4gua subterranea ou Agua superficial, incluindo égua do mar, mete6rica, hidrotermal ou de um ago; + freitica: quando se dé a vaporizagao de 4gua sub- terrinea existente em forages rochosas (vulca- nicas ou nao), pelo facto destas terem sido aquecidas por uma fonte de calor (e.g. magma em ascengio/movimento). Assim, nestas erupges explosivas néo hé contacto directo entre 0 magrpa e a agua e, do mesmo modo, nao hé emis- sio de material magmatico: dé-se, apenas, a frag- mentagao € a projeccao das rochas de cobertura/ Jenvolventes, em consequéncia da brusca e vio- lenta vaporizagao da 4gua; + sub-glacial: quando ocorre sob importantes massas de gelo (e.g. vales ou calotes glaciares). Frequentes na Islandia, estas erupgies sio res- ponsdveis pela formacao de jokulhlaups, ou seja, “torrentes de égua glaciar”, de caudal importante ¢ de significativo poder destrutivo. , - - ©) & actividade vuledinica classifica-se, em fungao M#1~Tipos de actividade valeinica ee ——_ do tipo de conduta emissora, em centrada ou sors Danita fissural. A actividade centrada dé-se a partir de condutas genericamente tubulares, gerando edifi- cios vulcdnicos cénicos de maiores ou menores dimensées, enquanto que na actividade fissural a lava € emitida a partir de fissuras eruptivas mais ‘ou menos extensas (Foto 4). d) a actividade vulcinica diz-se monogenética, se ccessa apés um tinico episédio eruptivo, em geral de curta duragao (alguns meses a anos). Pelo contrério, designa-se por poligenética, quando uma sucessio de diferentes epis6dios vulcanicos centrados e/ou fissurais, durante um perfodo de tempo de alguns milhares a dezenas de milhar de. ‘anos, origina um edificio vuleanico de grandes dimensdes (Foto 5). ©) a actividade vulcanica denomina-se secundaria (também chamada de adventicia, satélite ou para- Fig. 2~Tipos de actividade vulcdnica adventicia na Montanha do Pico rs " (Agores); T — terminal ou sub-terminal; L — lateral; E — ex- sita), quando 0 centro emissor (vent) se localiza ctntrica. In: Nunes (1999). Novos Conceitos em Vulcanologia: Erupgdes, Produtos e Paisagens Vulednicas + lateral, se a extrusio se di nos flancos do cone de varios pardmetros, tais como: 1) a magnitude da fase alimentada por intrusGes magmiticas (e.g. sis- _ eruptiva, determinada em fungao do volume total emitido; tema filoniano), frequentemente dispostas a0 2) 0 poder dispersivo, definido pela area coberta por longo de um conjunto de fracturas radiais ao edi-_piroclastos de queda; 3) a intensidade, dependente da ficio vuleanico; altura da coluna eruptiva; € 4) potencial destrutivo da + excéntrica, tal como no caso anterior, mas em _erup¢o, definido pela rea abrangida pela isopaca de que a ascensio magmitica se processa ao longo 1 metro. Apresenta-se, de seguida, uma caracterizagio de fissuras no directamente interligadas 4 con- suméria de cada um daqueles tipos de actividade vul- duta de alimentagio central do vulcdo. Neste cf caso, a presenga de fracturas controladas pela tecténia local/regional favorecem essa extrusio exc€ntrica da lava; + intra-caldeira (Foto 6), quando 0 centro emissor esté implantado no interior de uma depressio vulednica de grandes dimensdes (e.g. caldeira). ) de acordo com a classificagio de Grorce WALKER, a actividade vulednica pode ser: havaiana, i) havaiana (do arquipélago do Hawai, EUA): do- minantemente efusiva, com a emissio de volumes significativos de escoadas lavicas basdlticas, mui- tas vezes a partir de fissuras cruptivas (Figura 4); sobretudo na fase inicial das erupgoes, hi extrusio de pequenos volumes de depésitos piroclésticos, sob a forma de “repuxos Ié (lava ou fire fountains) e de acumulagoes de ultrapliniana, surtseiana e freatopliniana. Esta classificagao, proposta inicialmente em 1973, spatter; formacio de vuledes em escudo (shield volcanoes), lagos de lava e extensos mantos lavicos; identifica © caracteriza (qualitativa e quanti- tativamente) diferentes estilos eruptivos, reto- mando algumas das designagdes clissicas pro- postas em 1908 por A. Lackorx para as erupgdes vulcfnicas (cf. “havaianas, estrombolianas, vulcanianas e peleanas”). Na classificago de G Waker (Figura 3), a distin- io entre os diferentes estilos eruptivos é feita em funcao to) SURTEEWN | PHREATMLNIN fa | arn pone wa ye Koon / Fig. 4~ Representagso esquemstica da atividade havaiana aa In: Krarrt € KRarrr (1975). Fragmentation (F2%) ii) estromboliana (de Stromboli, Itélia): moderada- mente explosiva, caracterizada por varias explo- © sdes discretas ¢ intermitentes, sem uma coluna ‘eruptiva permanente (e em geral inferior a 500 m de altura); caracterfstica de magmas bisicos; pro- Jecgao de bombas ¢ de Lapilli escoriéceos (com trajectéria balistica — Foto 7); formago de cones de escérias (scoria cones) ¢ escoadas lavicas associadas; iti) vuleaniana (de Vuleano, Itélia): maior explo- sividade na sua fase inicial, com a formagao de uma brecha de explosdo associada & desobstrugao da conduta, selada por um rolhao (plug) formado durante uma fase eruptiva ante- rior; projecgao de grandes blocos/bombas; coluna eruptiva de 10 a 20 km de altura (Figura 5), resul- tante de repetidas e continuas explosdes de Explosiveness pe pene Height of eruption column > Fig. 3 ~ Classificagio da actividade vulesinica proposta| por G Wauxer. In: Cas ¢ Wascur (1987).

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