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Uma pessoa que olhe para uma partitura e nunca tenha visto nada do género,
dificilmente, compreenderá o que lá se apresenta. Mesmo que considere o seu objecto
de admiração extremamente belo… quase como uma nova linguagem por descobrir.
Uma partitura é constituída por notas musicais e pela pauta. A pauta ou pentagrama
consiste num conjunto de 5 linhas onde são inseridas as notas musicais. Pode-se chamar
pentagrama porque é constituída por 5 linhas. Sem o pentagrama torna-se muito difícil
compreender um conjunto de notas musicais pois não se lhes conhece a altura, a
duração ou o compasso.
Qualquer músico lhe dirá que sem conhecer estes 3 elementos (altura das notas
musicais, duração ou compasso) muito dificilmente conseguirá tocar uma partitura
decentemente.
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Nota
No entanto existem algumas diferenças entre a acupunctura e a música. Em acupunctura
a pauta é invisível e não é pensada como sendo 5 linhas. É a disposição dos pontos de
acupunctura que nos permite saber se essa pauta imaginária está correcta ou não. Apesar
da pauta dever estar sempre presente ela nunca é visível aos olhos do leigo.
Além de ser invisível também não é única. Ou seja, em diferentes alturas do ensino em
acupunctura, podem usar-se pautas diferentes. Eu costumo usar 3 pautas diferentes, na
medida que os meus alunos evoluem nos seus conhecimentos. Evidentemente que
outros professores podem não concordar. Eu aprecio esta abordagem porque ajuda o
aluno a ganhar coerência e objectividade nos protocolos que faz.
Nos alunos que se encontram no 2º ano a pauta consiste unicamente em jogar com os
pontos em 3 níveis:
Pontos de órgão (assentimento e alarme) + pontos de acção geral (tónicos do yin, yang,
etc…) + pontos de tonificação ou dispersão do órgão envolvido. No fundo podemos
considerar uma pauta de 3 linhas. Obviamente que não se pensa na duração, altura ou
compasso.
O protocolo não necessita ser tão extenso. Por exemplo, se eu usar os pontos 23B, 6BP e
7R continuo a obedecer à pauta imaginária. Tenho um ponto de órgão do rim (23B) +
um ponto de acção geral para tonificar yin (6BP) e o ponto de tonificação do rim (7R).
Uma vez que esta pauta é só dirigida ao padrão clínico ela não nos diz nada sobre a
queixa principal do doente ou sobre outros sintomas secundários que possam ter
relevância. O protocolo usado (23B, 6BP, 7R) não nos consegue dizer se o paciente
sofre de lombalgia, problemas urinários, fraqueza dos membros inferiores, obstipação,
zumbidos ou outra queixa qualquer que possa estar associada aos sintomas relacionados
com o rim (tal como entendido na MTC).
Como tal, chega uma altura em que se é obrigado a passar para uma nova pauta de
forma a fazer o aluno evoluir nos seus conhecimentos de acupunctura. No 3º ano a nova
pauta possui 2 níveis sendo eles:
Pontos de queixa principal + pontos de padrão clínico.
Esta partitura é mais complicada que a anterior, apesar de ter uma pauta de 2 linhas,
unicamente. Na realidade a pauta anterior, ensinada aos alunos do 2º ano, encontra-se no
2º nível da pauta actual: pontos para o padrão clínico. O padrão clínico do exemplo era
o vazio de yin do rim.
Para facilitar os meus exemplos continuaremos com o mesmo padrão clínico de vazio
de yin. Para conseguirmos preencher a nova pauta com todas as “notas musicais”
precisamos saber qual a queixa principal. Neste caso o doente apresentava zumbidos
como queixa principal. Logo, aos pontos 23B, 6BP e 3R eu poderia adicionar 19ID e
2VB. Estes pontos encontram-se no ouvido e são sintomáticos para o tratamento de
problemas auditivos. Poderia traduzir o meu protocolo por:
1 – zumbidos (2VB, 19ID) – pontos da queixa principal;
2 – vazio de yin (6BP) do rim (23B – ponto de órgão) e 7R (ponto de tonificação) –
pontos do padrão clínico.
Se a queixa principal fosse lombalgia eu poderia usar os pontos 25B e 40B. Neste caso
os pontos 19ID e 2VB já não fariam sentido. Mudava a queixa principal mas a pauta na
qual se inserem as notas musicais da acupunctura continuaria a mesma.
A diferença é que começamos sempre a pensar na queixa principal. Uma das grandes
vantagens é que podemos seguir o mesmo modelo, na construção do protocolo de
acupunctura, que seguimos durante o diagnóstico. Assim é mais fácil ao aluno manter
uma objectividade clínica que lhe permita tratar o que é realmente relevante.
Deve ter reparado que o protocolo começou a ficar mais personalizado. Todos os
protocolos de acupunctura são personalizados (um problema para quem quer fazer
investigação cientifica em acupunctura). O objectivo final do curso de acupunctura é
garantir que o aluno é capaz de formular protocolos personalizados.
Desta forma somos conduzidos para uma nova pauta musical da acupunctura, também
ela ensinada no 3º ano. A nova pauta possui 3 níveis ou linhas:
Pontos de queixa principal + pontos de padrão clínico + pontos de sintomas relevantes.
Lembre-se que continuamos com o mesmo protocolo definido anteriormente: 2VB,
19ID, 23B, 6BP, 7R.
A nova pauta exige a adição de determinados pontos mas não obriga à remoção dos
pontos existentes. Se num paciente os sintomas de sudação nocturna forem muito
severos eu posso adicionar o ponto 6C. Noutro paciente em que a agitação mental é
muito severa posso adicionar o ponto extra yintang ou o ponto 24VG. Consigo fazer
pequenas adições ao protocolo que definam mais realisticamente o caso clínico que
tenho de tratar.
Este tipo de pauta é o mais comum nos livros de estudo de acupunctura. Alguns autores,
como Ganglin Yin, gostam de recorrer a uma pauta musical ainda mais complicada que
é a última pauta que se pode ensinar em acupunctura. Esta pauta só tem um nível. Falo
obviamente do protocolo personalizado. Antes de explicar, de forma muito sucinta,
como se podem fazer protocolos a este nível, sugiro uma passagem rápida por tudo
aquilo que foi falado.
Neste quadro adicionei mais 2 sintomas relevantes para dar uma ideia da diversidade
que os diferentes protocolos começaram a tomar. Quais as diferenças entre as pautas que
temos estado a usar e a pauta final que desejamos, o protocolo personalizado?
Em primeiro lugar os pontos do padrão clínico não precisam ser sempre os mesmos. Em
protocolos personalizados eles variam. Face à variedade de pontos e de sintomas é
possível alterar estes pontos numa vasta gama de situações.
Para dar uma pequena ideia do que se pode fazer, estudemos um dos protocolos dados
atrás: 23B, 6BP, 7R. Este era o protocolo base usado para o vazio de yin do rim (era o
protocolo mais simples). No entanto existem outras opções:
23B, 6BP, 2R caso existam sintomas muito fortes de calor.
23B, 6BP, 6R na presença de obstipação.
23B, 3VC, 6BP quando os sintomas urinários são mais intensos.
23B, 3R, 9R na presença de alguns sintomas de foro psiquiátrico.
Já imaginou para que poderia servir este protocolo? Se já estuda MTC, antes de ler o
resto, procure definir a queixa principal, o padrão clínico e os principais sintomas. Se
não estuda MTC esteja atento ao resto das respostas dadas a este texto. Assim poderá ler
como podemos analisar este protocolo.
BIBLIOGRAFIA
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pauta_(m%C3%BAsica)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nota