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EXTORSÃO
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Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, bem assim qualquer um pode ser sujeito
passivo, podendo haver dupla subjetividade passiva quando a violência ou grave ameaça é
empregada contra uma pessoa, visando à obtenção da vantagem de outra, que acede ao
desígnio do agente.
Penso que, também em relação à extorsão, que não é mais que uma espécie de
constrangimento ilegal, tais pessoas não podem também ser sujeitos passivos, por faltar-
2 – Direito Penal II – Ney Moura Teles
36.2 TIPICIDADE
A ameaça deve ter idoneidade para intimidar, ainda que não venha efetivamente a
atemorizar a vítima, porque a resistência desta não elimina a tipicidade do fato,
transmudando-o apenas da forma consumada para a tentada. Porém deve ser
potencialmente intimidatória, grave, por sua própria natureza.
A norma não exige que a ameaça seja da causação de mal injusto e grave, bastando,
portanto, que ela seja grave. Indiferente, portanto, que o mal prometido seja ilícito. Tem-se
como exemplo de ameaça grave a revelação de um segredo que afete a reputação da vítima,
como a narração, a outrem, da prática passada de um adultério, de um encontro amoroso,
de incesto, de homossexualismo, da sua condição de usuário de drogas ou portador do
vírus HIV, bem assim de fatos que afetem a reputação comercial da empresa da vítima.
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O tipo exige que, em razão da conduta do agente, a vítima faça, tolere que se faça ou
deixe de fazer alguma coisa. Nas três hipóteses, portanto, é necessário um comportamento
da vítima, ao qual ela não estava obrigada. Exsurge aí, a violação da liberdade individual.
A conduta exigida da vítima será positiva quando ela faz o que o agente deseja.
Assim, quando ela entrega ao agente determinada quantia em dinheiro ou um bem de
valor econômico. Difere a extorsão do roubo, neste ponto, pelo comportamento da vítima.
No roubo a coisa lhe é tirada, subtraída, pouco importando que a vítima até facilite
ou não se oponha à subtração. Seu comportamento é, por isso, indiferente. O agente é
quem subtrai. Na extorsão, contudo, é imprescindível o comportamento da vítima que,
coagida, acaba por entregar seus valores.
A vítima pode, por fim, ser compelida a tolerar que se faça algo. Ameaçada, assiste
inerte ao agente rasgar a nota promissória por ele mesmo firmada e representativa de uma
dívida licitamente contraída por ele.
O agente deve agir com dolo e com o fim especial de obter indevida vantagem
econômica. Este fim específico é que distingue a extorsão do delito de constrangimento
ilegal. Realiza o agente a conduta com o objetivo de que lhe seja proporcionada – com a
vítima fazendo, tolerando que se faça ou deixando de fazer alguma coisa – uma vantagem
econômica indevida.
A vantagem deve ser econômica. Sendo de outra natureza não se aperfeiçoa o delito
patrimonial, configurando, por exemplo, o crime de constrangimento ilegal.
Além de econômica deve ser indevida, no sentido de ser injusta ou ilícita. Ou seja,
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deve ser uma vantagem à qual o agente não tinha direito. Sendo justa a vantagem
reclamada pelo agente, cometerá exercício arbitrário das próprias razões, do art. 345 do
Código Penal.
Por essa razão, o dolo do agente deve abranger a ilicitude da vantagem. Deve ele ter
consciência de que não lhe assiste o direito de exigi-la da vítima e se agir por erro quanto a
este elemento do tipo não terá havido dolo, remanescendo a punibilidade como prática do
crime do art. 345 do Código Penal.
A extorsão é crime formal. O tipo descreve conduta e resultado, mas não exige a
produção deste para sua consumação. Assim, consuma-se quando a vítima faz, tolera que
se faça ou deixa de fazer aquilo que o agente quis. Não quando o agente obtém a indevida
vantagem econômica que, aliás, nem precisa ser obtida, como, aliás, consta da Súmula 96,
do Superior Tribunal de Justiça: “o crime de extorsão consuma-se independentemente da
obtenção da vantagem indevida”.
Assim, se apenas um executa a extorsão, a mando de outrem, não incide essa causa de
aumento de pena.
Entre extorsão e estelionato há pontos comuns, mas uma diferença gritante. Neste
a vítima é ludibriada a permitir que o agente obtenha uma indevida vantagem econômica,
na extorsão é compelida, forçada, obrigada. Eis a diferença: a violência ou grave ameaça
que impõem o constrangimento, inocorrentes no estelionato, havendo aí engodo.