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A EXPANÇÃO DA FRONTEIRA MONOCULTORA DA CANA E A MECANIZAÇÃO

X MECANISMOS COMPENSATÓRIOS

Por Denise de Mattos Gaudard (*)

Em setembro de 2007, cerca de 180 pesquisadores participaram de um workshop


no Instituto de Botânica, em São Paulo, se propondo a traçar um mapa que indique
as áreas prioritárias para ações de conservação e de restauração da biodiversidade
em território paulista.

Este é um momento bastante crítico, afinal diversas novas usinas de cana-de-


açúcar estão em acelerado processo de aprovação para a instalação e inicio de
operação no estado. Em contrapartida, os movimentos ambientalistas tem feito
pressão para que o governo do estado e o Governo federal contribuam para que se
elabore um mapa integral de áreas prioritárias e vincule os respectivos
licenciamentos à verbas compensatórias advindas das novas usinas. Para que se
possa definir onde investir, este grupo de pesquisadores ligados à ESAQ-USP estão
“correndo contra o tempo” para delimitar estas áreas de preservação permanente
ou mesmo, que tenham de ser restauradas

A criação de novas usinas assim como a vertiginosa expansão da cultura de cana de


açúcar é um fato irreversível, Teme-se nova sanha de desmatamentos
desordenados e devastadores, resta pouco para destruir, apenas 13% das áreas
florestais ainda existem, principalmente no estado de São Paulo

Existe um mecanismo da legislação brasileira, chamado reserva legal, que


determina a destinação de 20% das propriedades particulares para atividades de
produção menos impactantes. Embora exijam espécies nativas e não seja permitido
o corte raso, essas áreas permitem, por exemplo, a criação de áreas de manejo
florestal.

Exemplificando um exemplo de compensação seria a oriunda pela expansão e pela


implantação de novas usinas de cana-de-açúcar terão que considerar, por exemplo,
os impactos proporcionais por cada ano de ano da lavoura de cana para os
pequenos produtores, que acabarão ficando com o ônus da recuperação.

As usinas deveriam ser obrigadas a cumprir a lei tambem em relação a seus


cortadores de cana que estão trabalhado em sua grande maioria em condições
adversas e passam a ficar desempregados quando a usina adota a mecanização
como forma de produção. Neste caso os mesmos mecanismos compensatórios
tambem deveriam existir através da implantação e o incremento de programas de
capacitação destes trabalhadores que acabam sendo as maiores vitimas do avanço
das colheitadeiras.

Cada maquina colheitadeira já desemprega mais de 87 trabalhadores e já fazem


35% do serviço em São Paulo, já ocupando o lugar de 250 mil lavradores, segundo
dados da ÚNICA. Da forma que vem sendo feito, sem as Usinas sequer oferecerem
algum tipo de opção, capacitação e ou treinamento para estes trabalhadores,
poderá se esperar mais um caos social, através de um novo êxodo rural muito mais
intenso e rápido do que ocorreu nos anos 60 e 70. Como a maioria não vai querer
voltar para seus níveis de rendimento anteriores, nem boa patê dos migrantes vão
quere retornar às suas cidades no Norte e Nordeste, permanecerão no Sudeste, em
busca de empregos melhores. A imensa maioria acabará engordando os cinturões
periféricos das pequenas e médios municípios paulistanos, onde desses
desempregados acabarão sem nenhuma perspectivas, para amais uma fator de
exclusão social e provavelmente acabarão na marginalidade. Boa parte mal sabe ler
ou estão com a saúde precarizada pelo árduo trabalho repetitivo que são obrigados
a ter nas lavouras de cana.

Uma das melhores opções para uso de mecanismos compensatórios já teria


respaldo na Lei 4.870/65, que se refere, entre outros parâmetros, à criação de
instrumentos de formação e capacitação dos cortadores que eventualmente não
sejam aproveitados pela implantação das maquinas colheitadeiras, no avanço da
mecanização da lavoura da cana paulista (onde a mecanização avança mais rápido,
tornando-se total ate 2025).

Esta é uma das possibilidades que deveriam ser seriamente consideradas pelas
entidades representantes dos usineiros e principalmente, pelos respectivos
governos. Estes poderiam criar convênios com ONGs, Sindicatos de Trabalhadores
Rurais e Entidades acadêmicas para que estes assumam logisticamente a criação e
incremento de cursos de formação e capacitação direcionados para estes
trabalhadores. Estes cursos poderiam ser financiados / viabilizados por um fundo
criado com base na arrecadação de recursos pagos pelas usinas, com base na Lei
4.870/65 (PAS) e administrado em convênio fiscalizatório conjunto pelo MPF, MT e
as respectivas entidades cadastradas. Ou seja, há recursos mais do que suficientes
e formas de evitar mais esta grande tragédia anunciada.

(*) Denise de Mattos Gaudard é Consultora de gestão Consultora de Gestão


Empresarial e Socioambiental, sediada no Rio de janeiro. Coordenadora e
Pesquisadora da Ong AÇUCAR-ÉTICO (http://www.sucre-ethique.org/-Quem-
somos), com foco na pesquisa sobre as relações sociais, ambientais e trabalhistas
entre cortadores de cana e as usinas do setor sucroalcooleiro. Participa de outros
projetos que viabiliza a implantação da gestão de resíduos conjugado com coleta
seletiva de óleo vegetal usado feita por associações e ou cooperativas
de catadores urbanos (junto a prefeituras e entidades parceiras). Escreve
artigos sobre Mercado Créditos de Carbono, MDL e afins no Portal CONPET -
PETROBRÁS/MME e em varias outras mídias nacionais, eletrônicas e escritas.

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