O Segundo dia do simpósio do ano Paulino, promovido pela Família Paulina brasileira, teve uma temática variada e ampla, mas convergente, e os palestrantes da noite souberam muito bem conduzir os temas, obtendo o reconhecimento do público presente, cerca de 500 pessoas.O primeiro palestrante foi o prof. Dr. Paulo Nogueira, da UMESP (Universidade Metodista de São Paulo). Ele abordou o tema da desigualdade no contexto de Paulo, procurando fazer uma leitura associada à realidade mundial e brasileira de hoje. Segundo ele o contexto de Paulo, o império Romano, era profundamente desigual, no que se assemelha à realidade de hoje. Entretanto, naquele tempo, os problemas eram maiores, apenas 3% da população podia ser considerado de classe alta, enquanto os demais pertenciam à plebe urbana ou rural. As possibilidades de ascensão social eram reduzidíssimas e a maioria da população era composta por escravos. Nogueira disse que “Paulo é o maior símbolo de igualdade na Sagrada Escritura” e que esse simbolismo do Apóstolo está sintetizado em Gl 3,20: “não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Jesus Cristo”. Há controvérsias quanto a essa questão em Paulo, alguns teólogos destacam pontos que levam a crer que Paulo não aplicasse totalmente essa idéia de igualdade em sua prática. Mas o palestrante afirmou que Paulo era uma pessoa de vínculos com culturas diferentes, de formação diversificada, se voltava a realidades muito diversas entre si, e tinha uma personalidade complexa e, por isso, é natural que haja certa ambigüidade. Entretanto, segundo ele a ação simbólica angular de Paulo em prol da igualdade era a idéia de filiação divina, todos somos filhos de Deus. Na prática e na pregação de Paulo está aí o ponto de partida para a superação de toda discriminação ou preconceito ético e religioso. Tendo isso por base, o apóstolo procurava levar seus seguidores à vivência social igualitária, no que tange a trabalho, gênero, religião, cultura e economia. O segundo palestrante, Professor Dr. Pedro Lima de Vasconcelos iniciou sua fala dizendo que seu tema, embora amplo e complexo, já teve suas bases dadas pelo palestrante anterior, pois trata-se de temas convergentes. Diversidade, liberdade e ecumenismo em Paulo têm como base a idéia de igualdade e respeito pelas diferenças controvérsias, devido abordadas por Nogueira. Mas também é um tema sobre o qual há muitas à complexidade de personalidade e cultura do próprio Paulo e à complexidade dos contextos a que ele se dirigia. Paulo era um pregador apaixonado e isso o levava, às vezes, a não ser muito “delicado”. Ao se voltar para contextos ligados aos ídolos, que segundo o Apóstolo, levavam à morte, ele não era tão tolerante, pelo contrário, rejeitava-os e exortava as pessoas a se voltarem ao Deus vivo e verdadeiro. A tolerância do Apóstolo e o respeito pela diversidade era mais voltada para o interior do cristianismo, com seus grupos diversos desde aquela época. Ele, por exemplo, respeitava os grupos que queriam uma fé cristã mais identificada com o judaísmo e suas práticas, mas exigia que também fosse respeitado por esses grupos na sua missão junto aos pagãos, que tinham outras formas de viver a fé, sem a exigência do cumprimento da lei e realização da circuncisão, como queriam os judaizantes. Portanto, segundo Vasconcelos, para Paulo “a liberdade não é apenas mais um tema, mas uma dimensão de sua missão na prática, questão de vida ou morte”. Ele era um apaixonado defensor da liberdade e da diversidade no interior do cristianismo nascente, que já lidava com o problema da intolerância e, por isso, Paulo, sofre muito e foi perseguido em função da defesa que fazia da liberdade e da pluralidade religiosa e cultural. A segunda rodada do simpósio foi concluída com as perguntas do público, as quais foram muito pertinentes e demonstraram o bom nível de interesse das pessoas presentes pelos temas abordados. Diácono Jakson Ferreira de Alencar, ssp.