Você está na página 1de 13

4(1):1-13, jan/jun 2008

© Copyright 2008 by Unisinos

Uma Dicksoniaceae fértil no Eoceno da


Ilha King George, Península Antártica
Michele Bertoli Cunha, Tânia L. Dutra
Programa de Pós-Graduação em Geologia, UNISINOS. Av. Unisinos, 950, 93022-000, São Leopoldo, RS. chelecunha@gmail.com,
tdutra@unisinos.br
Nelsa Cardoso
Curso de Pós-Graduação em Geociências e Centro de Investigação do Gondwana, UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 9500, Cx. P. 15.001,
91.501-970, Porto Alegre, RS. nel_paleobot@yahoo.com.br

RESUMO
Uma pínula fértil é identificada para a Ilha King George, arquipélago das Shetland do Sul, norte da Península Antártica. Preservada por sua face
adaxial, mostra segmentos falcados a triangulares, contendo um único soro ovalado, visível na porção superior e marginal, preservado de modo
tridimensional. Este conjunto de caracteres permitiu associá-la com as pínulas terminais de Dicksonia L. Hérit (Dicksoniaceae). Trata-se da primeira
ocorrência de uma forma fértil do gênero para a ilha e para o Cenozóico da Península Antártica, onde tipos relacionados eram conhecidos apenas por
frondes estéreis e esporos dispersos. Embora freqüentes durante o Cretáceo em outras ilhas ocidentais da Península, para o Cenozóico são exclusivos
da Ilha King George. A amostra provém de um dos raros níveis da ilha em que o retrabalhamento dos grãos evidencia a presença de um contexto
lacustre, sujeito à chegada cíclica de pequenos rios efêmeros, representativos de intercalações vulcanoclásticas restritas, em uma espessa sucessão
de lavas basálticas e andesíticas atribuídas à Formação Viéville Glacier, Grupo Point Hennequin, de idade Eoceno. A tafoflora associada compõe-se de
outros tipos de fetos, angiospermas variadas dominadas por Nothofagus e coníferas podocarpáceas e araucariáceas. Hoje as Dicksoniaceae são fetos
arborescentes que habitam as florestas úmidas das elevações criadas após a separação do Gondwana.

Palavras-chave: Dicksoniaceae, Ilha King George, Península Antártica, Eoceno Médio.

ABSTRACT
A FERTILE DICKSONIACEAE IN THE EOCENE BEDS OF KING GEORGE ISLAND, ANTARCTIC PENINSULA. A fertile pinnule is described to King George Island,
South Shetland Islands, northern Antarctic Peninsula. Preserved by its adaxial side, it shows a straight raquis that bears alternate and falcate
segments where a unique oval and marginal sori appears in the upper margin, tridimensionally preserved. These morphological characters
allow the association of this form with the modern genus Dicksonia L. Hérit. (Dicksoniaceae). It is the first record of fertile ferns of this genus
to this island and to the Cenozoic of Antarctic Peninsula, where it was only known by sterile fronds and dispersed spores. Dicksonia related
forms were registered on other islands of the western Antarctic Peninsula during the Lower Cretaceous and after the beginning of the
Cenozoic, are exclusive from the King George Island. The sample comes from restricted levels composed by reworked volcanic grains deposited
in shallow lakes, in a thick lava succession that was attributed to the Viéville Glacier Fm., Point Hennequin Group and considered as Eocene in
age. The associated taphoflora is composed of other kinds of ferns, angiosperms dominated by Nothofagus, and Araucariaceae and Podocarpaceaea
conifers. Nowadays Dicksonia is a relictual tree fern that grows in the rain forests coincident with the highlands created by the Gondwana
drift-apart.

Key words: Dicksoniaceae, King George Island, Antarctic Peninsula, Middle Eocene.

INTRODUÇÃO nentes modernos onde o grupo não é re- CONTEXTO GEOLÓGICO E


gistrado (Kubitzki, 1990). ASSEMBLÉIAS
Fósseis de pteridófitas (senso stricto ou O presente trabalho trata da ocorrência TAFOFLORÍSTICAS DA ILHA
Euphyllophytina) são conhecidos na An- de uma pina fértil com características que KING GEORGE
tártica desde o Permiano, tanto entre os indicam sua associação aos fetos arbores-
macrofósseis, como por esporos, e tor- centes da Família Dicksoniaceae. Trata-se O primeiro registro de restos de plan-
nam-se abundantes a partir do Triássico do primeiro registro de estruturas repro- tas para a Ilha King George foi feito
com morfologias similares às encontradas dutivas deste grupo em depósitos do Pa- por Orlando (1963) com material pro-
nas famílias Dipteridaceae, Marattiaceae, leógeno da Ilha King George, arquipélago veniente da localidade conhecida como
Matoniaceae e Dicksoniaceae (Millay e das Shetland do Sul, Península Antártica, Morro dos Fósseis (Fossil Hill), na Pe-
Taylor, 1990; Rees, 1990, 1993; Yao et al., embora em ilhas mais ao sul, tenham sido nínsula Fildes, extremo sudoeste da ilha
1991; Delevoryas et al. 1992; Galtier e Taylor, já descritas para níveis do Albiano e Aptia- (Figura 1). A partir daí, essa área foi vi-
1994; Morel et al. 1994; Cantrill, 1995). Hoje, no (Cantrill e Nagalingum, 2005; Nagalin- sitada por pesquisadores de diferentes
contudo, a Antártica é o único dos conti- gum e Cantrill, 2006; Césari, 2006). países e muitos outros fósseis vegetais
Uma Dicksoniaceae fértil no Eoceno da Ilha King George, Península Antártica

Figura 1. Mapa de localização e áreas fossilíferas da Ilha King George.


Figure 1. Map of King George Island with the main fossiliferous areas.

(macro e microrrestos) foram coletados Um conjunto significativo de dados de 2004) e é aqui reproduzida com algumas
e estudados, em que pese alguns se li- idade absoluta, favorecidos pelo caráter modificações resultantes de novos traba-
mitarem apenas a um primeiro registro vulcânico das litologias, permitiu calibrar lhos de campo (Figura 2). Foram ainda
das ocorrências (Zastawniak, 1981; Rös- as ocorrências fitofossilíferas, bastante di- consideradas as afinidades composicionais
ler et al., 1985; Troncoso, 1986; Lyra, ficultada pelo complexo contexto tectôni- e sua comparação com outras tafofloras
1986; Czajkowski e Rösler, 1986; Pal- co e estrutural da Ilha King George, resul- da própria Península Antártica e das baci-
ma-Hedt, 1987; Rohn et al., 1987; Du- tado dos processos de subducção que afe- as do Hemisfério Sul. A partir disso, a
tra, 1989; Birkenmajer e Zastawniak, taram a região desde o final do Mesozóico pínula fértil aqui descrita foi atribuída à
1989; Torres, 1990; Torres e Méon, 1990; (Birkenmajer et al., 1986a, 1986b; Birken- Formação Vieville Glacier, Grupo Point
Li e Shen, 1990; Cao, 1992, 1994; Zas- majer, 2001; Wang e Shen, 1994). Além Hennequin, de Birkenmajer (1981, 2001).
tawniak, 1994; Li, 1994; Dutra et al., disso, a cobertura da maior parte dos ní- A sucessão fitofossilífera é sucedida no
1996; Dutra e Batten, 2000; Hunt e veis pelo gelo e sua remobilização durante tempo pelo aparecimento das primeiras
Poole, 2003; Boardman e Dutra, 2005). o verão, formando depósitos de morena, evidências de queda nas temperaturas, ates-
Trabalhos mais completos que busca- ampliou esta dificuldade, fazendo com que tadas por depósitos de tilitos indicativos
ram correlacionar, de modo mais am- níveis inteiros e seus restos de planta fos- da presença de gelo alpino, identificados na
plo e sistemático, os níveis com plan- sem conhecidos apenas por depósitos ex própria baía do Almirantado e na baía King
tas foram realizados por Birkenmajer e situ. Na deposição do Monte Wawel, na George, mais ao norte (Canile et al., 2007).
Zastawniak (1989), Torres (1990), Baía do Almirantado, de onde provém o Segundo os autores, corresponderiam ao
Zhou e Li (1994a, 1994b) e Dutra material aqui descrito, este contexto é ainda final do Eoceno Médio e, provavelmente,
(1997). Demonstraram a presença de mais destacado. uma única flora empobrecida, identificada
floras diversificadas e distribuídas, do- Uma proposta para sua ordenação, uti- em níveis in situ do topo do Monte Wawel
minantemente, entre o final do Cretá- lizando as relações das camadas fossilífe- represente a tentativa de recolonização da
ceo e o Eoceno Médio (Dutra, 2001, ras com os depósitos vulcânicos e de flu- ilha pela vegetação (Zastawniak et al., 1985;
2004). xos de gravidade, foi feita por Dutra (2001, Birkenmajer et al., 2005).

2
Michele Bertoli Cunha, Tânia L. Dutra, Nelsa Cardoso

Figura 2. Proposta de ordenação dos eventos e tafofloras na Ilha King George e sua relação com os eventos deposicionais e as
idades radiométricas (modificado de Dutra, 2004). A amostra estudada provém da tafoflora de Dragon Glacier (em vermelho).
Figure 2. Ordination of the tafofloras on the King George Island and its relation with depositional events and radiometric ages
(modified from Dutra, 2004). The studied sample is part of the Dragon Glacier taphoflora (in red).

CARACTERÍSTICAS afinidades higrófitas que se desenvolvem característico das florestas da “Mata com
MORFOLÓGICAS E e caracterizam as florestas úmidas das zo- Araucária” e da “Mata Atlântica” (Gomes
TAXONOMIA DAS FORMAS nas tropicais e subtropicais do Hemisfério et al., 2000; Mantovani et al., 2005; Fun-
MODERNAS DE FETOS Sul. Com a inclusão das Lophosoriaceae, dação Biodiversitas, 2007).
ARBORESCENTES com quem compartilham inúmeros aspec- Um conjunto de caracteres marca a afi-
tos, sua distribuição se amplia para toda a nidade entre as Dicksoniaceae. Nos tipos
Smith et al. (2006), em recente revisão das região Neotropical, desde a Ásia oriental arborescentes, as frondes são, em geral,
pteridófitas modernas, a qual levava em até as Américas (Tryon e Tryon, 1982; bipinadas (o caráter tripinado é aludido por
con-ta aspectos morfológicos e os novos Gullan e Walsh, 1985; Mueller-Dombois Smith et al., 2006), com a ráquis apresen-
da-dos oriundos das análises molecula- e Fosberg, 1998; Wolf et al., 1999). tando um sulco adaxial característico. As
res, agru-param os fetos arborescentes de Seu gênero mais característico é Dickso- pínulas estéreis são grandes e de arquitetu-
pteridófitas na Ordem Cyatheales. Das 8 nia L´Hér., que engloba 22 das espécies, ra anadrômica, com nervura simples, al-
famílias propostas, Dicksoniaceae (C. Presl, com distribuição similar à da família. Na gumas vezes bifurcada, enquanto as fér-
1836) Bower, a mais abundante e ampla- América do Sul e Central, ocorre ao longo teis são reduzidas e mais vascularizadas.
mente distribuída, incluiria ainda as Lopho- da costa do Pacífico e em áreas voltadas Os soros são arredondados e grandes,
soriaceae, consideradas como um grupo in- para o Atlântico entre as latitudes de 20º e alimentados por uma única veia, com re-
dividualizado por Tryon e Tryon (1982). Para 30º S (Figura 3), acompanhando as eleva- ceptáculo globoso e pouco elevado e, na
Soltis et al. (2002) e Korall et al. (2006), os ções submetidas à clima oceânico (Hoff- maior parte das vezes, com inserção aba-
fetos que compartilham este hábito de vida man, 1982; Tryon e Tryon, 1982). No Bra- xial e marginal (caráter presente também
constituem um clado monofilético e bem sil, é representado por D. sellowiana Hook., em Calochlaena), uma característica diag-
estabelecido de fetos leptosporangiados. forma de grande expressão no sul, mas nóstica importante, já que menos comum
A família Dicksoniaceae abrange seis que se estende até o sudeste, em Minas em outros grupos de fetos (Tryon, 1978;
gêneros e cerca de trinta e oito espécies de Gerais e Espírito Santo, como elemento Tidwell e Ash, 1994). As paráfises são

Gœa - Journal of Geoscience, vol. 4, n. 1, jan/jun 2008, p. 1-13. 3


Uma Dicksoniaceae fértil no Eoceno da Ilha King George, Península Antártica

curtas, o indúsio é bivalvo ou em forma


de taça, glabro ou com pequeno pedún-
culo. Os esporos são arredondados ou
tetraédricos, homosporos, aclorofilados,
triletes laevigate, com a marca trilete sem
reentrâncias. Os gametófitos são epíge-
os, clorofilados, obcordados ou cordado-
alongados e, por vezes, espessados cen-
tralmente (Collinson, 2001).

O REGISTRO PRETÉRITO DE
FETOS ARBORESCENTES

Comparando resultados das análises


moleculares com as informações proveni- Figura 3. Distribuição moderna do gênero Dicksonia L´Hérit, modificado de Tryon e
entes do registro fóssil, Soltis et al. (2002) Tryon (1982), com os novos dados levantados (veja texto).
sugeriram que as baixas taxas de evolução Figure 3. Modern distribution of Dicksonia L´Hérit, modified from Tryon e Tryon
(1982), updated with the new data herein commented (see text).
molecular observadas tornam os fetos ar-
borescentes verdadeiros “fósseis vivos
moleculares”. Esta afirmação corrobora os
resultados de Tidwell e Ash (1994), que
afirmam não haver muitas diferenças en-
tre as formas de pteridófitas mesozóicas e
as encontradas entre os tipos modernos,
especialmente aqueles característicos das fa-
mílias Marattiaceae, Guaireaceae, Osmun-
daceae e Gleicheniaceae. As morfologias
estáveis mantidas pelo grupo ao longo do
tempo permitiriam associar, com certa se-
gurança, os fósseis às formas vivas, um
aspecto só perturbado talvez pelos novos
dados que as propostas filogenéticas vêm
introduzindo nestas comparações (Smith
et al., 2006).
Para Skog (2001), a separação inicial dos
fetos leptosporangiados deve ter ocorri-
do no Triássico, originando Matoniaceae- Figura 4. Distribuição dos fósseis de Dicksoniaceae entre o final do Paleozóico e
Dipteridaceae-Schizeaceae por um lado e Cenozóico, evidenciando sua primeira ocorrência nas altas latitudes do Sul e a
rápida conquista das áreas setentrionais (latitudes negativas representam o
Cyatheaceae-Dicksoniaceae por outro. Hemisfério Sul), baseada em Skog (2001). Pontos verdes representam os dados
Neste último clado, as Dicksoniaceae com- originais do autor, e os vermelhos, dados compilados neste trabalho, incluindo o
põem o mais antigo registro, iniciado na referente à forma aqui descrita.
parte média do Triássico nas altas latitu- Figure 4. Past distribution of fossils related to Dicksoniaceae between the end of
the Paleozoic and the Cenozoic periods, showing their first appearance in southern
des do Hemisfério Sul (Figura 4). As nu- high latitudes and their rapid worldwide distribution, including northern areas,
merosas formas fósseis encontradas per- modified from Skog (2001). The green dots represent the original data and the red
mitem supor uma história evolutiva an- ones the fossil record compiled in this paper, including the new form herein described.
terior (Retallack, 1980; Smith et al., 2006;
Pryer e Smith, 2007). A partir do Jurássi-
co, tornam-se cosmopolitas e distribuí- Thom e Kylikipteris Harris (Harris, 1961; Tidwell e Nishida, 1993; Soltis et al., 2002).
ram-se em ambos os hemisférios (Spor- Kimura e Tsujii, 1984; Van Konijnen- Contudo, os climas mais secos vigentes
ne, 1970; Tryon e Tryon, 1982; Hill, 1987; burg-van Cittert, 2002). na época e a necessidade de água para a
Van Konijnenburg-van Cittert, 2002). Durante o Mesozóico, habitaram as reprodução mantiveram sua preferência
Entre os macrofósseis, a família é repre- zonas quentes e úmidas do Pangea, não pelos locais próximos a pântanos, terra-
sentada por Dicksonia e pelas formas ex- diferindo muito em termos adaptativos ços fluviais e substratos de florestas (Van
tintas Coniopteris Brongn, Eboracia H.H. das formas modernas (Vakhrameev, 1991; Konijnenburg-Van Cittert, 2002). No

4
Michele Bertoli Cunha, Tânia L. Dutra, Nelsa Cardoso

entanto, algumas parecem ter aceitado ção da margem do Pacífico (Del Valle e O gênero Culcita permanece sem regis-
contextos mais estressantes, como baías Rinaldi, 1993; Willan e Hunter, 2005). tro até o momento para áreas da Antártica.
salobras, ou ter adotado estratégias opor- Representativos deste contexto são os O conjunto da flora nas áreas da Pe-
tunistas e colonizado ambientes subme- depósitos de idade jurássica de Hope nínsula mostra que os fetos arborescen-
tidos a vulcanismo, junto com Dipteri- Bay, na costa oriental da Península conti- tes caracterizaram o estrato inferior das
daceae e Schizeaceae, uma resposta adap- nental, com registro de formas variadas florestas de Nothofagus e Podocarpaceae
tativa manifestada pela presença de pinas de Coniopteris (C. lobata e C. murrayana, durante o Mesozóico (Dusén, 1908;
mais coriáceas (Friis e Pedersen, 1990). C. cf. hymenophylloides). Outros grupos Case, 1988; Torres e Méon, 1993; Doktor
No Cenozóico, Marattiaceae, Matoni- de fetos, como Cladophlebis e várias Sphe- et al., 1996; Dutra et al., 1996; Dutra,
aceae e Dipteridaceae, antes dominantes, nopteris, compõem a assembléia pterido- 2004). A partir do Cenozóico, aparecem
quase desaparecem, dando lugar a Dick- fítica em uma flora dominada por pteri- também as Araucariaceae e outras angi-
soniaceae, Lophosoriaceae, Gleicheniace- dospermas e coníferas (Gee, 1989; Ocie- ospermas mais diversificadas (Li , 1994;
ae e Osmundaceae. Schizeaceae, que teve pa, 2004; Birkenmajer e Ociepa, 2008). Dutra, 2002).
sua ocorrência reduzida no final do Cre- Nesse contexto estão incluídas as ilhas Esses elementos formam ainda hoje
táceo, retorna, no Neógeno, com uma oceânicas do contexto de fore-arc. Na Ilha uma associação típica das floras patagôni-
distribuição mais ampla do que a de seus Alexander (70º S), a mais austral delas, os cas e da Australásia, oferecendo suporte à
aparentados modernos (McIver e Basin- restos de planta correspondem ao Eocre- proposta de Skottsberg (1949) sobre o
ger, 1993; Macphail et al., 1994). Já Dick- táceo e mais uma vez os fetos são repre- papel da Antártica como centro de ori-
sonia tornou-se quase exclusiva do He- sentados por Coniopteris (cf. C. frutiformis gem e dispersão para os elementos que
misfério Sul (Collinson, 2001). Espo- Douglas de Cantrill e Nagalingum, 2005), hoje possuem distribuição austral. Com
ros relacionados ao gênero são freqüen- junto com Gleicheniaceae e Matoniaceae isto concordam Duane (1996) e Torres e
tes a partir do Paleoceno Superior na (Nagalingum e Cantrill, 2006). Na ilhas Méon (2006), embora as últimas defen-
Austrália (Dettmann, 1963; Macphail et Livingston e Snow, a deposição se divide dam uma maior similaridade com as flo-
al., 1994), Nova Zelândia (Mildenhall, entre níveis desta mesma idade e os re- ras americanas.
1980) e América do Sul (Berry, 1938; presentativos do final do Cretáceo, onde
Menendez, 1971; Romero, 1978; Argui- foram registradas Sergioa austrina Césari) MATERIAL E MÉTODOS
jo e Romero, 1981). e Dennstaedtia rajmahalenis (Askin, 1983;
No Hemisfério Norte, as Dicksonia- Torres et al., 1997; Cantrill, 1997a; Césari O exemplar utilizado nesse estudo foi
ceae são representadas especialmente pelo et al. 1999; Césari et al., 2001; Césari, 2006; coletado durante as expedições do Pro-
gênero Coniopteris, cuja ocorrência, mes- Leppe et al., 2007). A presença associada grama Antártico Brasileiro (PROAN-
mo no Ártico, manteve-se até o Eoceno de Osmundaceae, Marattiaceae e Cyathea- TAR) e provém dos níveis basais do
(Kvacek e Manum, 1993; Boyd, 1990; ceae (Cyathea tyrmensis Krassilov), as últi- Monte Wawel, junto ao Pontal Henne-
Wing, 1998; Collinson, 2001; Van Kro- mas representadas por frondes com es- quin (coordenadas 62°07’S a 62º05´30"S
nijnenburg-Van Cittert, 2002, Figura 4). poros in situ, sugerem condições de calor e 58°24’ a 58º18´W; Figura 5), aflorantes
Na China, os fetos tornam-se comuns a e umidade para o final do Mesozóico na no setor oriental da Baía do Almiranta-
partir da base do Cretáceo (Skog, 2001; Península, semelhantes àquelas que hoje do (Figura 1).
Wang, 2002). existem nas áreas altas dos cinturões tro- A cobertura pelo gelo (Glacial Dra-
picais e subtropicais (Cantrill, 1997b; Cé- gon) e o conhecimento dos fósseis ape-
REGISTRO NA PENÍNSULA sari et al., 2001). nas em blocos rolados nos depósitos de
ANTÁRTICA Com menor expressão, as Dicksonia- morena fizeram com que as assembléias
ceae são ainda registradas na Ilha Seymour, com plantas fossem aí tratadas por lon-
As pteridófitas arborescentes são re- no setor de back-arc (Dusén, 1908; go tempo de modo informal, como
gistradas em áreas da Península Antártica Case,1988). “Dragon Glacier Plant Beds” por Zasta-
desde o Triássico, ou seja, concomitante- As Lophosoriaceae são registradas no wniak (1981), “Dragon Glacier Flora”
mente aos seus mais antigos registros Cretáceo Inferior da Ilha Livingston, an- por Hunt e Poole (2003), ou, simples-
mundiais. Entre elas estavam as Dickso- tecedendo seu registro em outras áreas mente, como “tafofloras” (Dutra, 2004).
niaceae, cuja ocorrência já era conhecida do mundo (Cantrill, 1997b). Frondes As temperaturas mais elevadas que ca-
desde o início do século passado (Cope- bastante completas, provavelmente rela- racterizaram o verão 2006-2007 permiti-
land, 1939). cionadas com a família e ainda não estu- ram avaliar seu posicionamento na su-
A distribuição coincide com as áreas dadas de modo sistemático, foram iden- cessão e confirmar sua atribuição aos ní-
que, durante grande parte do Mesozói- tificadas recentemente pelas expedições veis mais basais do Monte Wawel, inclu-
co, estiveram sujeitas ao soerguimento brasileiras (campanha 2006-2007) em ní- ídos por Birkenmajer (1981) na Forma-
causado pela formação do arco tectôni- veis do Cretáceo Superior da Ilha Nelson ção Viéville Glacier, Grupo Point Hen-
co, resultante dos processos de subduc- (Dutra et al., 2007). nequin (Figuras 2 e 6).

Gœa - Journal of Geoscience, vol. 4, n. 1, jan/jun 2008, p. 1-13. 5


Uma Dicksoniaceae fértil no Eoceno da Ilha King George, Península Antártica

Essa unidade é composta por suces-


sivos derrames de lavas basálticas e an-
desíticas (Birkenmajer, 1981; Pereira et al.,
2003), com intercalações muito restritas
de material vulcânico retrabalhado, mas
contém uma das mais diversificadas ta-
fofloras da ilha. A presença associada de
marcas de ondulação simétrica e icnofós-
seis de invertebrados apóia a proposta
de uma deposição sub-aquosa em lagos
restritos e efêmeros feita por Birkenma-
jer (1981). Conjuntos granodecrescentes
e cíclicos de tufitos dão suporte à infe-
rência da chegada de pequenos deltas.
Idades K-Ar, obtidas nas lavas superio-
res desta unidade, forneceram valores
entre 44-47 Ma (Birkenmajer et al., 1986a;
Pankhurst e Smellie, 1983; Smellie et al.,
1984).
As impressões de pteridófitas ocorrem
em tufitos amarelados que contêm ainda
outros fragmentos de plantas. A mescla
de elementos que viviam em áreas próxi-
mas e de outros de áreas mais distais ao
lago (ramos e sementes de podocarpáce- Figura 5. Foto dos níveis de lava e depósitos de morenas do Monte Wawel, Baía do
as e restos de angiospermas) e a falta de Almirantado. A seta vermelha indica os níveis com fósseis de onde provém a amostra
descrita. A linha tracejada em amarelo marca a posição original do gelo do Dragon
uma orientação preferencial estão de acor- Glacier no verão, e a linha contínua, aquela do verão 2006-2007.
do com a influência deltaica aludida. As Figure 5. Volcanic beds and reworked moraine deposits that compose the Mount
gimnospermas foram preliminarmente Wawel exposition, at Admiralty Bay. The red arrow indicates the provenance of the
abordadas por Fontes e Dutra (2007). O fossil samples (Dragon Glacier taphoflora). The yellow dotted line marks the original
ice margin of the Dragon Glacier in previous normal summers and the continuous line
conjunto está preservado por carboniza- in 2006-2007 summer season.
ção (charcoal) e impressões, com evidênci-
as de oxidação. Os soros mantêm a tridi-
mensionalidade original, indicando seu
rápido recobrimento e provável caráter
imaturo.
O exemplar foi registrado fotografica-
mente e por desenho em câmara clara aco-
plada a microscópio estereoscópico. A
determinação dos caracteres taxonômicos
utilizou análises comparativas com for-
mas fósseis previamente descritas e com
tipos modernos de exicatas do Herbário-
folheário do Laboratório de História da
Vida e da Terra (LaViGæ), da UNISINOS,
e do Laboratório de Paleontologia da
UFRGS. A nomenclatura utilizada na
descrição das características diagnósticas
são as de Tryon e Tryon (1982), Collin-
son (2001) e Smith et al. (2006).
A amostra está depositada no Museu Figura 6. Arcabouço geológico (modificado de Birkenmajer, 1981) da sucessão do
Monte Wawel e a localização das camadas com plantas.
de Paleontologia, seção Antártica (NIT- Figure 6. Geological framework (modified from Birkenmajer, 1981) of the Mount
Geo), da Universidade do Vale do Rio Wawel succession and the location of Dragon Glacier taphoflora.
dos Sinos, sob o código ANTF.

6
Michele Bertoli Cunha, Tânia L. Dutra, Nelsa Cardoso

SISTEMÁTICA de uma pínula apical, pinatífida e assi- de 1,2 mm de comprimento e 0,9 mm


PALEONTOLÓGICA métrica, com 17 mm de comprimento de largura, tridimensionalmente preser-
e 8 mm de largura na base, ráquis retilí- vado, aparece em posição marginal e
Divisão PTERIDOPHYTA nea e destacada, lenhosa e de curso reto, superior em cada segmento, de posição
Classe FILICOPSIDA aparentemente sulcada, com 0,5 mm de mais proximal à costa na base da pínula
Subclasse POLYPODIIDAE largura, preservada como contraparte da do que nos segmentos apicais.
Ordem POLYPODIALES impressão original. Segmentos alter-
Família Dicksoniaceae Bower nos, inseridos em ângulos quase retos DISCUSSÃO
Gênero Dicksonia L´Hérit. 1788 e fundidos por toda a base na ráquis da
pínula, incisos até próximo à costa ape- As características presentes, tais como
Dicksonia sp. nas na base, fundindo-se superiormen- os segmentos alternos, inteiros, de for-
te, triangulares ou falcados (margem ma falcada e a posição marginal dos sori,
Material estudado. ANTF 26-014, frag- superior côncava e inferior convexa), permitem associar a forma estudada às
mento de pínula fértil proveniente dos medindo em média 3 mm de compri- Dicksoniaceae sensu Tryon e Tryon (1982).
níveis de base do Monte Wawel, baía do mento e 2 mm de largura, com ápice Entre os representantes modernos da fa-
Almirantado, Ilha King George. agudo, base truncada e margem inteira. mília, demonstram maior identidade com
Repositório. Museu de Paleontologia da Nos poucos segmentos onde a vena- Dicksonia, Cibotium e Culcita, embora os
UNISINOS, seção Antártica. ção foi parcialmente preservada, apenas dois últimos gêneros, segundo Smith et
Horizonte estratigráfico. Formação uma veia central é visível e, ocasional- al. (2006), tenham sido segregados em
Vieville Glacier, Grupo Point Hennequin mente, também uma única ramificação famílias independentes.
(Birkenmajer, 1981). superior que chega à base do soro. Um Cibotium Kaulfuss, caracterizado pela
Descrição. Fragmento da face adaxial único soro globoso a ovóide, com cerca posição marginal dos soros, é descartado

Figura 7. Pínula fértil de Dicksonia sp. (amostra ANTF 26-014) e os caracteres morfológicos
utilizados na designação a este gênero, como os soros ovalados de disposição marginal
(seta), segmentos alternos e inteiros, falcados, pouco dissecados, com venação fraca,
costa retilínea e destacada, com um sulco aparente. Escala: 0,5 cm.
Figure 7. Fertile pinnule of Dicksonia sp. (ANTF 26-014) showing the morphological Figura 8. A mesma pínula em câmara
characters used in this designation, like the ovate and marginally positioned sori clara. Escala: 0,5 cm.
(arrow), alternate simple and entire, falcate segments, with weak veins, and the Figure 8. The same pinnule in camera
prominent and straight costa. Scale bar: 0.5 cm. lucida. Scale bar: 0.5 cm.

Gœa - Journal of Geoscience, vol. 4, n. 1, jan/jun 2008, p. 1-13. 7


Uma Dicksoniaceae fértil no Eoceno da Ilha King George, Península Antártica

nesta análise pela presença de receptácu-


los muito desenvolvidos, ausentes na
forma aqui abordada.
A comparação com Culcita C. Presl se
deve às nervuras simples e bifurcadas,
pínulas simples e inteiras e a posição dos
soros, que é ainda mais tipicamente mar-
ginal do que em Dicksonia. No entanto
em Culcita, a presença de pínulas com
ápices agudos e de forma falcada como
as aqui presentes estão ausentes. Além
disto, a falta de registro deste gênero para
a Antártica e sua moderna distribuição
em áreas preferencialmente tropicais e se-
tentrionais (Skog, 2001) torna igualmente
menos aprovável esta associação. Mas o
caráter incompleto da pínula aqui pre-
servada e a ausência de pinas estéreis não
permitem descartar completamente esta
afinidade, dados os soros grandes e re-
niformes e a aparente presença de um
sulco na ráquis. Este último caráter, de-
fendido por Tryon e Tryon (1982) como
exclusivo de Culcita, está presente, igual-
mente em Lophosoria e Calochlaena. Em Figura 9. Foto da extremidade apical de uma pina fértil de Dicksonia sellowina
que pese esta suposta exclusividade, não Hook. A. face adaxial da pínula, mostrando a natureza coriácea da lâmina foliar,
venação mais suave e a vista de um único soro de inserção marginal (seta); B. face
impediu que aqueles autores incluíssem abaxial da pínula com os vários soros, cada um deles alimentado por uma ramificação
Culcita entre as Dicksoniaceae (Tryon e da veia principal. Escala: 0,5 cm
Tryon, 1982; Tryon e Lugardon, 1991; Figure 9. Apical part of a fertile pinnule in extant Dicksonia sellowina Hook. A.
Grin, 2008). adaxial surface showing the coriaceous nature of leaf lamina, weak venation and, in
general, one sorus visible in upper and marginal position; B. abaxial view showing
Como veremos, a posição marginal the pinnate venation pattern and many sori located at the tip of each secondary
dos soros no exemplar aqui descrito se vein (red arrow). Scale bar: 0.5 cm
deve mais ao condicionamento deposici-
onal e de preservação da pínula, que a um
caráter original das pínulas. almente nas mais distais, para uma posi- das pínulas e a disposição dos soros se
Deste modo, a afinidade aqui expres- ção marginal e superior, que acaba por aproximam muito das características pre-
sa com a Família Dicksoniaceae e com o expô-los também na face adaxial dos seg- sentes nas pínulas apicais de D. sellowiana
gênero Dicksonia, parece razoável e su- mentos da pínula (Figuras 9A, B). O ta- da América Central e do Sul (Figuras 9A,
portada pelas características presentes, manho expressivo dos soros contribui B) e, em menor expressão, de D. fibrosa
tais como, os segmentos falcados fundi- igualmente para que isto ocorra. Uma si- da Nova Zelândia, com quem se parece
dos a base da costa, em geral reta, lenho- tuação análoga parece ter ocorrido no or- principalmente pelo caráter regular do
sa e com sulco mediano. Uma outra gran- ganismo fóssil (Figuras 7 e 8). comprimento das pínulas ao longo da
de parte do grupo possui pínulas esfe- A forma dos segmentos e sua dispo- ráquis. Com D. antarctica, da Austrália,
nopteróides e recairia no gênero Coniop- sição na pínula, a margem inteira, a au- divide o fato de serem, entre as formas
teris (Van Konijnenburg-Van Cittert e sência de receptáculos bem desenvolvidos vivas, as que possuem os soros de dis-
Morgan, 1999). e, finalmente, o tamanho expressivo e a posição mais marginal. Porém faltam,
É importante salientar ainda que a forma dos soros, que sugere que o indú- no material estudado, os lobos bem des-
porção preservada refere-se a um contra- sio envolvia completamente os esporân- tacados na margem dos segmentos, co-
molde da face adaxial, onde normalmen- gios e paráfises, são os outros argumen- incidentes com a terminação das nervu-
te os soros estão ausentes. Contudo, a tos para a afinidade proposta. ras e a venação saliente em ambas as fa-
observação de frondes modernas de D. A pequena porção preservada impe- ces das pínulas.
sellowiana permitiu avaliar que os nume- de, no momento, avançar além disto, No registro fóssil, a morfologia pre-
rosos soros abaxiais de cada segmento da embora possibilite algumas comparações sente compartilha caracteres com Dickso-
pínula migram gradativamente e, especi- com táxons modernos. A morfologia nia patagonica Berry (Berry, 1938) do Eoce-

8
Michele Bertoli Cunha, Tânia L. Dutra, Nelsa Cardoso

no do rio Pichileufú, na Patagônia argen- OUTROS REGISTROS DE tas nas altas latitudes no início do Ceno-
tina, igualmente portadora de soros gran- DICKSONIACEAE PARA A ILHA zóico e o conhecimento sobre a paleoflora
des e arredondados que nascem em fron- KING GEORGE E ÁREAS do norte da Península Antártica. Em que
des pinatífidas e frondes estéreis com ner- PRÓXIMAS pese sua pequena representação e o caráter
vação simples e bifurcada. As ilustrações fragmentário do espécime, a presença de
do trabalho de Berry (1938) são, contudo, Na Ilha King George, de onde provém parte de uma fronde fértil garante sua as-
de baixa resolução, e Collinson (2001) a forma aqui descrita, existem inúmeras sociação com os tipos de hábitos arbores-
sugere a revisão, desta forma, à luz das evidências da presença de Dicksoniaceae, centes e de afinidades mesófilas que carac-
novas análises filogenéticas. mas restritas à Península Fildes (Figura 1). terizam hoje as áreas elevadas e de clima
Na mesma Ilha King George de onde Para o Pontal Half Three, única localidade oceânico dos flancos ocidental e oriental
provém o material descrito, mas em áreas reconhecidamente cretácica (Shen, 1994), do Hemisfério Sul e, em especial, com os
da Península Fildes (Fossil Hill), Troncoso foram descritos esporos de Cyatheaceae, tipos presentes no gênero Dicksonia.
(1981) descreveu brevemente uma pínula Gleicheniaceae, Dicksoniaceae e outras for- As dificuldades encontradas no esta-
estéril de segmentos falcados que associou mas de afinidade incerta (Cao, 1992, 1994). belecimento de suas relações com os gru-
ao material de Berry (1938). Apesar de seu No Pontal Price, em camadas de carvão pos modernos se assemelham muito
caráter igualmente fragmentado e reduzi- provavelmente de mesma idade, a assem- àquelas que têm permeado a própria in-
do a uma única pínula, é aquele de morfo- bléia é semelhante, com Cyathidites sp. (Di- dividualização das distintas formas de
logia mais próxima a do exemplar estuda- cksoniaceae), Cyatheacidites sp. e Kuklispori- pteridófitas modernamente, ampliadas
do e confirma a presença de restos da fa- tes sp. (Dutra et al., 1996). no registro pelas preservações parciais.
mília em níveis do Paleógeno da ilha. Con- Já nos níveis do Morro dos Fósseis Por essas razões e até que novas infor-
siderada representativa do Paleoceno pelo (Fossil Hill), de idade Eoceno basal, são mações e mais amostras sejam identifica-
autor, a deposição do Morro dos Fósseis é registradas as frondes estéreis de Dickso- das nos níveis da Ilha King George, onde
atualmente considerada representativa do nia patagonica Berry (Troncoso, 1986) já outros grupos de pteridófitas são abun-
Eoceno basal (Hunt e Poole, 2003; Dutra, comentadas, e Gleichenia, Thyrsopteris she- dantes, não foi proposta uma classificação
2004, Figura 2) nii e Alsophila antarctica (Cyatheaceae), des- mais específica. Entre as numerosas espé-
Na Baía do Almirantado (Figura 1), critas por Zhou e Li (1994b). Torres e cies do gênero Dicksonia, a pínula aqui pre-
onde se situam os níveis aqui tratados, as Máeon (2006) acrescentaram ainda Davallia sente aproxima-se de D. sellowiana Hook,
pteridófitas estão restritas à microflora e e Asplenium. Finalmente, a presença de além de guardar semelhanças com outras
apenas tipos relacionados às Cyatheaceae Lophosoria antartica é indicada, tanto para espécies de distribuição austral moderna.
foram identificados (Stuchlick, 1981), jun- este local, como para a Baía Rocky (ex- Auxilia na interpretação desta associação,
to ao Pontal Thomas (Figura 2). Pontal Suffield), por Torres (1990), Cao a presença de esporos relacionados com a
Outra forma de Dicksoniaceae que (1994) e Torres e Méon (1993). Família Dicksoniaceae na Ilha King Geor-
compartilha alguns caracteres comuns Na microflora, ocorrem esporos dis- ge, tanto para o final do Cretáceo, como
com a pínula aqui descrita é o referido a persos de Cyatheacidites (Dicksoniaceae para o Paleógeno basal, embora não prove-
Coniopteris sp. para a Ilha Alexander, por s.l.), acompanhados de tipos relaciona- nham dos mesmos níveis aqui estudados.
Cantrill e Nagalingum (2005). Contudo, dos com Lophosoriaceae e Gleicheniace- Formas férteis de pteridófitas já eram
esta forma apresenta muitas veias bem ae (Torres, 1990; Torres e Méon, 1990; conhecidas no registro das ilhas mais ao
marcadas e, por se tratar de pínulas esté- Zhou e Li, 1994b). A associação feita por sul da Península Antártica desde o início
reis, são de difícil comparação. Zhou e Li (1994b) de Dicksonia patagoni- do Cretáceo (Césari, 2006).
Cyathea tyrmensis Krassilov (Cyathea- ca e Thyrsopteris spp. às Cyatheaceae, uma O material aqui descrito corresponde ao
ceae), descrita por Césari et al. (2001) para postura também adotada por outros es- primeiro registro de pteridófita com soros
o Cretáceo Superior da Ilha Livingston, tudiosos que trabalharam com a flora da in situ para a Ilha King George e para estra-
corresponde a uma pina fértil, mas pos- ilha, pode ser a razão da aparente abun- tos do Cenozóico na Península Antártica.
sui soros de inserção abaxial e pínulas de dância desta família entre os restos e da Sua ocorrência na tafoflora da base da
morfologia distinta das aqui abordadas. necessidade de uma revisão dos tipos pte- Formação Mount Wawel, em um interva-
Desta mesma ilha provém o registro ridofíticos presentes, principalmente di- lo cuja presença de icnofósseis e de retraba-
de Sergioa austrina Césari, que além das ante das novas propostas filogenéticas. lhamento de grãos vulcânicos atesta um
frondes estéreis e férteis, contém esporos raro momento de interrupção da intensa
de Cyatheacidites (Césari, 2006). As pínu- CONCLUSÕES atividade vulcânica, é igualmente significa-
las alongadas e lobadas, de forma falcada tiva. A riqueza de restos preservados nes-
e com apenas um soro por lobo, a tor- A identificação de uma forma de pteri- tas camadas comprova uma fase em que,
nam o elemento com maior número de dófita da Família Dicksoniaceae para a Ilha associada ao clima ameno, as condições se
aspectos comuns com a forma aqui estu- King George em níveis do Eoceno permi- tornaram suficientemente calmas e propí-
dada. te ampliar a área de ocorrência destas plan- cias para que a vegetação pudesse se estabe-

Gœa - Journal of Geoscience, vol. 4, n. 1, jan/jun 2008, p. 1-13. 9


Uma Dicksoniaceae fértil no Eoceno da Ilha King George, Península Antártica

lecer. Sua idade sugere e confirma a presen- BIRKENMAJER, K.; DELITALA, M.C.; Cretaceous freshwater lake deposits from
NAREBSKI, W.; NICOLETTI, M.; President Head, Snow Island, South
ça de um intervalo de aumento nas tem-
PETRUCCIANI, C. 1986a. Geochronology Shetland Islands. The Antarctic region:
peraturas globais no final do Paleoceno e and migration of Cretaceous through Geological evolution and processes. In:
início do Eoceno reconhecido em várias Tertiary plutonic centers, South Shetland INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON
partes do globo (Wing et al., 2005) e que, Islands (West Antarctica): subduction and ANTARCTIC EARTH SCIENCES, 7,
hot spot magmatism. Bulletin of the Polish Sienna. Proceedings, p.1017-1022.
nas áreas periféricas da Antártica, mantém- Academy of Sciences, Earth Sciences, CANTRILL, D.J.; NAGALINGUM, N.S. 2005.
se até o final do Eoceno Médio. 34(3):243-255. Ferns from the Cretaceous of Alexander
O ecossistema pretérito corresponden- BIRKENMAJER, K.; DELITALA, M.C.; Island, Antarctica: Implications for
te, com Dicksoniaceae e outros tipos de NAREBSKI, W.; NICOLETTI, M.; Cretaceous phytogeography of the Southern
PETRUCCIANI, C. 1986b. Geochronology Hemisphere. Review of Palaeobotany and
fetos, gimnospermas (Podocarpaceae e of Tertiary island-arc volcanics and Palynology, 137:83-103.
Araucariaceae) e angiospermas diversifi- glacigenic deposits, King George Island South CAO, L. 1992. Late Cretaceous and Eocene
cadas com Nothofagus, sugere uma simi- Shetland Islands (West Antarctica). Bulletin palynofloras from Fildes peninsula, King
laridade de requisitos ecológicos com aque- of the Polish Academy of Sciences, Earth George Island (South Shetland Island),
Sciences, 34(3):257-273. Antarctica. In: Y. YOSHIDA (org.), Recent
les existentes nas áreas do sul da Cordi- BIRKENMAJER, K.; GAZDZICKI, A.; Progress in Antarctic Earth Science.
lheira dos Andes e Austrália oriental e, KRAJEWSKI, K.P.; PRZYBYCIN, A.; Tokyo, Terra Scientific Publishing
uma vez mais, apóia o papel exercido pela SOLECKI, A.; TATUR, A.; HO Il YOON. Company, p. 363-369.
Antártica na dispersão dos elementos que 2005. First Cenozoic glaciers in West Antarctica. CAO, L. 1994. Late Cretaceous palynoflora
Polish Polar Research, 26(1):3-12. in King George Island of Antarctic, with
hoje compõem a vegetação subtropical e BIRKENMAJER, K.; OCIEPA, A.M. 2008. references to its paleoclimatic significance.
temperada do Hemisfério Sul. Plant-bearing Jurassic strata at Hope Bay, In: S. YANBIN (org.), Stratigraphy and
Antarctic Peninsula (West Antarctica): Palaeontology of Fildes Peninsula, King
geology and fossil-plant description. Studia George Island, Antarctic. Beijing,
AGRADECIMENTOS Geologica Polonica, 128:5-96. Monograph Science Press, p. 51-83.
BIRKENMAJER, K.; ZASTAWNIAK, E. 1989. CASE, J.A. 1988. Paleogene Floras from
Ao CNPq/PROANTAR pelo apoio Late Cretaceous-Early Tertiary floras of King Seymour Island, Antarctic Peninsula. In:
logístico às coletas e pelo suporte finan- George Island, West Antarctic: their R. FELDMANN; M.O. WOODBURNE
stratigraphic distribution and palaeoclimatic (orgs.), Geology and Paleontology of
ceiro à realização das atividades e à aquisi- significance. In: J.A. CRAME (org.), Origins Seymour Island, Antarctic Peninsula.
ção de equipamentos (Proc. 557357/ and Evolution of the Antarctic Biota. London, Memoir of the Geological Society of
2005-5). À Anamaria Stranz e Thyers The Geological Society, Special Publication, America, Colorado, 169, p. 489-498.
Wilberger, respectivamente, pelo auxílio 47, p. 227-240. CÉSARI, S.N. 2006. Aptian ferns with in situ
BOARDMAN, D.; DUTRA, T.D. 2005. Upper spores from the South Shetland Islands,
na confecção dos mapas e registro foto- Paleocene?- Lower Eocene fossils related to Antarctica. Review of Palaeobotany and
gráfico do material. Araucariaceae from King George Island, Palynology, 138:227-238.
Antarctic Peninsula. In: INTERNATIONAL CÉSARI, S.N.; PARICA, C.; REMESAL, M.;
REFERÊNCIAS ORGANIZATION OF PALEOBOTANICAL SALANI, F., 1999. Paleoflora del Cretácico
CONFERENCE, 7, Bariloche. Abstracts, p. 86. Inferior de península Byers, Islas Shetland del
BOYD, A. 1990. The Thyra Flora: towards an Sur, Antártida. Ameghiniana, 36(1):3-22.
ARGUIJO, M.; ROMERO, E.J. 1981. Analisis understanding of the climate and vegetation CÉSARI, S.N.; REMESAL, M.; PARICA, C.
biostratigráfica de las formaciones porta- during the Early Tertiary in the High Artic. 2001. Ferns: a paleoclimatic significant
doras de tafofloras terciárias. In: CON- Review of Palaeobotany and Palynology, component of the Cretaceous flora from
GRESSO GEOLÓGICO ARGENTINO, 8, 62:189-203. Livingston Island, Antarctica. Associación
Buenos Aires, p. 691-717. CANILE, F.M.; ROCHA-CAMPOS, A.C.; DOS Paleontológica Argentina, 7:45-50.
ASKIN, R. 1983. Tithonian (Uppermost SANTOS, P.R.; ANELLI, L.E. 2007. COLLINSON, M.E. 2001. Cainozoic fern and
Jurassic) – Barremian (Lower Cretaceous) Weathered Eocene basalts (Mazurek Point their distribution. Brittonia, 53(2):173-235.
spores, pollen and microplankton from the
Formation) overlain by early Oligocene COPELAND, E.B. 1939. Fern evolution in
South Shetland Islands, Antarctica. In: R.L.
glacigenic diamictites (Krakowiak Glacier Antarctica. Philippine Journal of Science,
OLIVER; P.R. JAMES; J.B. JAGO (orgs.),
Member, Polonez Cove Formation) record 70(2):157-189.
Antarctic Earth Science. Australian
of change from mild to glacial conditions CRAME, J.A; PIRRIE, D.; RIDING, J.B.;
Academy of Science, Washington,
in West Antarctica. XV SIMPÓSIO BRA- THOMSON, M.R.A. 1991. Campanian-
Cambridge University Press, p. 295-297.
SILEIRO SOBRE PESQUISA ANTÁRTI- Maastrichtian (Cretaceous) stratigraphy of
BERRY, E.W. 1938. Tertiary flora from the Rio
Pichileufú, Argentina. Special Papers of The CA, Instituto de Geociências, USP, São the James Ross Island area, Antarctica.
Geological Society of America, 2:1-140. Paulo. Programa e Resumos, p. 66. Journal of the Geological Society of
BIRKENMAJER, K. 1981. Lithostratigraphy of CANTRILL, D.J. 1995. The occurrence of London, 148:1125-1140.
the Point Hennequin Group (Miocene the fern Hausmannia Dunker in the CZAJKOWSKI, S.; RÖSLER O. 1986. Plantas
vulcanics and sediments at King George Cretaceous of Alexander Island, Antartica. fósseis da Península Fildes, ilha King George
Islands, Antarctica). Studia Geologica Alcheringa, 19:243-254. (Shetland do Sul): Morfografia das impres-
Polonica, 72:59-73. CANTRILL, D.J. 1997a. The pteridophyte sões foliares. Anais da Academia Brasilei-
BIRKENMAJER, K. 2001. Mesozoic and Ashicaulis livingstonensis (Osmundaceae) ra de Ciências, 58:99-100.
Cenozoic stratigraphic units in parts of the from the Upper Cretaceous of Williams DELEVORYAS, T.; TAYLOR, T.N.; TAYLOR,
South Shetland Islands and Northern Point, Livingston Island, Antarctica. New E.L. 1992. A marattiatalean fern from the
Antarctic Peninsula (as used by the Polish Zealand Journal of Geology and Triassic of Antarctica. Review of Palaeobotany
Antarctic Programmes). Studia Geologica Geophysics,40:315-323. and Palynology, 74:101-107.
Polonica, 118:5-188. CANTRILL, D.J. 1997b. Floristic of Lower DEL VALLE, R.A.; RINALDI, C.A. 1993.

10
Michele Bertoli Cunha, Tânia L. Dutra, Nelsa Cardoso

Structural features of the northeastern DUTRA, T.L.; WILBERGER, T.P.; IANNUZZI, HUNT, R.J.; POOLE, I. 2003. Paleogene West
sector of the Antarctic Peninsula. In: JOR- R.; SANDER, A.; TREVISAN, C.; Antarctic climate and vegetation history
NADAS DE COMUNICACIONES SOBRE KERKOHOFF, M. 2007. A new flora to the in light of new data from King George Island.
INVESTIGACIONES ANTÁRTICAS, 2, Rip Point (Nelson Island, Antarctic Geological Society of America, Special
Instituto Antártico Argentino, Resumos, Peninsula) resulting from the XXV Brazilian Paper, 369:395-412.
p. 261-267. Expedition (2006-2007): age and KIMURA, R.; TSUJII, M. 1984. Early Jurassic
DETTMANN, M.E. 1963. Upper Mesozoic paleoclimatic inferences. In: SIMPÓSIO plants in Japan. Part I. Transactions
microfloras from south-eastern Australia. BRASILEIRO SOBRE PESQUISA, XV, Ins- Proceedings of the Paleontological Society
Proceedings of the Royal Society of Victoria, tituto de Geociências, USP, São Paulo, Pro- of Japan, 133:265-287.
77:1-148. grama e Resumos, p. 12-13. KORALL, P.; PRYER, K.M.; METZGAR, J.S.;
DOKTOR, M.; GAZDZICKI, A.; JERZMANSKA, ELLIOT, D. 1988. The James Ross Basin, SCHNEIDER, H.; CONANT, D.S. 2006.
A.; PÖREBSKI, S.J.; ZASTAWNIAK, E. 1996. northern Antartic Peninsula. In: CON- Tree ferns: monophyletic groups and their
A plant-and-fish assemblage from the Eocene GRESSO GEOLÓGICO CHILENO, 5, San- relationships as revealed by four protein-
La Meseta Formation of Seymour Island tiago, Comunicaciones, p. 226. coding plastid loci. Molecular Phylogenetics
(Antarctic Peninsula) and its enviromental FONTES, D.; DUTRA, T.L. 2007. Fósseis de and Evolution, 39:830-845
implications. Palaeontologia Polonica, podocarpáceas na Ilha King George, Penín- KUBITZKI, K. 1990. The families and genera
55:127-146. sula Antártica. In: CONGRESSO BRASILEI- or vascular plants. Vol. 1. Pteridophytes and
DUANE, A.M. 1996. Palynology of the Byers RO DE PALEONTOLOGIA, 20, Búzios, gymnosperms. Berlin, Springer-Verlag, 493 p.
Group (Late Jurassic-Early Cretaceous) of Anais, p. 142 KVACEK, Z.; MANUM, S.B. 1993. Ferns in the
Livingston and Snow islands, Antarctic FRIIS, E.M.; PEDERSEN, K.R. 1990. Structure Spitsbergen Paleogene. Palaeontographifica
Peninsula: its biostratigraphical and of the Lower Cretaceous fern Onychiopsis Abt. B, Palaophytol, 136:47-70.
palaeoenvironmental significance. Review of psilotoides from Bornholm, Denmark. LEPPE, M.; MICHEA, W.; MUÑOZ, C.; PAL-
Palaeobotany and Palynology, 91:241-281. Review of Palaeobotany and Palynology, MA-HELDT, S.; FERNANDOY, F. 2007.
DUSÉN, P. 1908. Über die tertiäre flora der 66:47-63. Paleobotany of Livingston Island: the first
Seymour-Insel. Wissenschaftliche Ergebnisse FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS. 2007. Revisão report of a Cretaceous fossil flora from
der Schwedischen Südpolar-Expedition 1901- das listas vermelhas da flora e da fauna Hannah Point. In: INTERNATIONAL
1903. Lithographisches Institut des ameaçadas de extinção de Minas Gerais (Lis- SYMPOSIUM ON ANTARCTIC EARTH
Generalstabs, Bd 1-3(3):1-127. ta vermelha da flora de Minas Gerais), SCIENCES, 10, U.S. Geological Survey and
DUTRA, T.L. 1989. A tafoflora terciária do Biodiversitas, Belo Horizonte, 69 p. Dispo- The National Academies, Short Research
Pontal Block, Baia do Almirantado, Ilha nível em http://www.biodiversitas.org.br; Paper, p. 1-4
Rei George (Arquipélago das Shetland do acesso em 01/06/2008. LI, H. 1994. Early Tertiary fossil flora from
Sul, Península Antártica). Acta Geológica GALTIER, J.; TAYLOR, T.N. 1994. The first Fildes Peninsula of King George Island,
Leopoldensia, 12(28):45-90. record of the ferns form the Permian of Antarctica. In: Y. SHEN (org.). Stratigraphy
DUTRA, T.L. 1997. Composição e história Antarctica. Review of Palaeobotany and and Palaeontology of Fildes Peninsula,
da vegetação do Cretáceo e Terciário da Palynology, 83:227-239. King George Island, Antarctica. Beijing,
ilha Rei George, Península Antártica. Por- GEE, C.T. 1989. Revision of the Late Jurassic/ State Antarctic Committee Monograph, n.
to Alegre, Universidade Federal do Rio Early Cretaceous flora from Hope Bay, 3, p. 133-171.
Grande do Sul Tese de Doutorado, 481 p. Antarctica. Palaeontographica B, 213(4- LI, H.; SHEN, Y. 1990. A primary study of
DUTRA, T.L. 2001. Paleoflora da ilha 25 de 6):149-214. Fossil Hill flora from Fildes Peninsula of
Mayo, Península Antártica: contribuição à GRIN, 2008. Germplasm Resources Information King George Island, Antarctica. Acta
paleogeografia, paleoclima e para a evolução Network. National Genetic Resources Paleontologica Sinica, 29(2):147-153.
de Nothofagus. Asociación Paleontologia Program. United States Department of LYRA, C. 1986. Palinologia dos sedimentos
Argentina, Publicação Especial, 8:29-37. Agriculture-USDA, Online Database, National terciários da Península Fildes, ilha Rei
DUTRA, T.L. 2002. Araucariaceae in Antarctica Germplasm Resources Laboratory, Beltsville, George (Ilhas Shetland do Sul, Antártica) e
with special foccus in the King George Island Maryland. Disponível em http://www.ars- algumas considerações paleoambientais.
(South Shetland Islands, Northern Antarctic grin.gov; acesso em 20/05/2008. Anais da Academia Brasileira de Ciências,
Peninisula) fossil record. In: THE GOMES, G.S.; PUCHALSKI, A.; SILVA, J.Z.; 58:137-147.
ARAUCARIACEAE: ARAUCARIACEAE MANTOVANI, M.; DOS REIS, M.S. 2000. MACPHAIL, M.K.; ALLEY, N.; TRUSWELL,
SYMPOSIUM, Auckland, International Estrutura Demográfica de populações na- E.M.; SLUITER, I.R. 1994. Early Tertiary
Dendrological Society, New Zealand. turais do xaxim (Dicksonia sellowiana vegetation: evidence from pollen and spores.
Proceedings and Abstracts, p. 45. (Presl.) Hooker) em Floresta Ombrófila In: R.S. HILL (org.), History of Australian
DUTRA, T.L. 2004. Paleofloras da Antártica Mista no sul do Brasil. In: CONGRESSO vegetation: Cretaceous to Recent. Washing-
e sua relação com os eventos tectônicos e NACIONAL DE BOTÂNICA, 51, Resu- ton, Cambridge University Press, p. 189-261.
paleoclimáticos nas altas latitudes do sul. mos, p. 85-86. MANTOVANI, M.; PUCHALSKI, Â.;
Revista Brasileira de Geociências, GULLAN, P.; WALSH, N. 1985. Ferns and MANTOVANI, A.; REIS, M.S. dos. 2005. Ocor-
3(34):401-410. Fern Allies of the Upper Yarra Valley e rência natural de xaxim (Dicksonia sellowiana
DUTRA, T.L.; BATTEN, D.J. 2000. Upper Dandenong Ranges. National Herbarium of (Presl.) Hooker) em diferentes condições edafo-
Cretaceous floras of King George Island, West Victoria, Department of Conservation, climáticas no Estado de Santa Catarina. In:
Antarctica, and their palaeoenvironmental and Forests and Lands, Sidney, 60 p. CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA,
phytogeographic implications. Cretaceous HARRIS, T.M. 1961. The Yorkshire Jurassic 56, Curitiba. Resumos em CD.
Research, 21:181-209. Flora, I. London, British Museum of Natu- McIVER, E.E.; BASINGER, J.F. 1993. Flora of
DUTRA, T.L.; LEIPNITZ, B.; FACCINI, U. ral History, 212 p. the Revenscrag Formation (Paleocene),
F.; LINDENMAYER, Z. 1996. A non HILL, C.R. 1987. Jurassic Angiopteris southwestern Saskatchewan, Canada.
marine Upper Cretaceous interval in West (Marattiales) from North Yorkshire. Review Palaeontographica Canadensis, 10:1-167.
Antarctica (King George Island, Northern of Palaeobotany and Palynology, 51:65-93. MENENDEZ, C.A. 1971. Floras terciarias de la
Antarctic Peninsula). South American HOFFMANN, 1982. A Flora Silvestre de Chi- Argentina. Ameghiniana, 8(3-4):357-371.
Mesozoic Correlations –IGUS- 381 Project le, zona austral. Fundación Claudio Gay, MILDENHALL, D.C. 1980. New Zealand Late
News, 5:21-22. Santiago, 258 p. Cretaceous and Cenozoic plant biogeography:

Gœa - Journal of Geoscience, vol. 4, n. 1, jan/jun 2008, p. 1-13. 11


Uma Dicksoniaceae fértil no Eoceno da Ilha King George, Península Antártica

as contribution. Paleogeography, Palaeoclimatology, Zealand, 10:31-63. SOLIANI JR., E.; KAWASHITA, K.;
Palaeoecology, 31:197-233. RIDING, J.B.; CRAME, J.A. 2002. Aptian to FENSTERSEIFER, H.C.; HANSEN, M.A.F.;
MILLAY, M.A.; TAYLOR, T.N. 1990. New Coniacian (Early–Late Cretaceous) TROIAN, F.L. 1988. K-Ar Ages of the
fern stems from the Triassic of Antarctica. palynostratigraphy of the Gustav Group, Winkel Point Formation (Fildes Peninsula
Review of Palaeobotany and Palynology, James Ross Basin, Antarctica. Cretaceous Group) and Associated Intrusions, King George
62:41-64. Research, 23(6):739-760. Island, South Shetland Islands, Antarctica.
MOREL, E.M.; ARTABE, A.E.; GANZULA, ROHN, R.; RÖSLER, O.; CZAJKOWSKI, S. Série Científica Instituto Antártico Chileno,
D.G.; BREA, M. 1994. Las plantas fosiles 1987. Fildesia pulchra gen. et sp. nov. - 38:133-139.
de la Formacion Monte Flora, en Bahia Folha fóssil de Terciário Inferior da Penín- SOLTIS, P.S.; SOLTIS, D.E.; SAVOLAINEN,
Botanica, Peninsula Antártica, Argentina. sula Fildes, Ilha Rei George, Antártica. Bo- V.; CRANE, P.R.; BARRACLOUGH, T.G.
1. Dipteridaceae. Ameghiniana, 31:23-31. letim do Instituto de Geociências da Uni- 2002. Rate heterogeneity among lineages
MUELLER-DOMBOIS, D.; FOSBERG, F.R. versidade de São Paulo, Série Científica, of tracheophytes: Integration of molecular
1998. Vegetation of the tropical Pacific 18:11-16. and fossil data and evidence for molecular
islands. New York, Springer-Verlag 733 p. ROMERO, E.J. 1978. Paleoecologia y living fossils. Proceedings of National
NAGALINGUM, N.S.; CANTRILL, D.J. 2006. paleofitogeografia de las tafofloras del Academy of Science, 99(7):4430-4435.
Early Cretaceous Gleicheniaceae and Cenofítico de Argentina y Areas Vecinas. SPORNE, K.R. 1970. The Morphology of
Matoniaceae (Gleicheniales) from Alexander Ameghiniana, 15(1-2):209-227. Pteridophytes; The Structure of Ferns and
Island, Antarctica. Review of Palaeobotany ROMERO, E.J.; ARGUIJO, M.H. 1981. Análisis Allied Plants. London, Hutchinson
and Palynology, 138:73-93. bioestratigráfico de las tafofloras del Cretácico University Library, 192 p.
OCIEPA, A.M. 2004. Current state-of-the-art Superior de Austrosudamerica. In: ROMERO, STUCHLICK, L. 1981. Tertiary pollen spectra
in studies on Jurassic flora from Antarctica E.J. e ARGUIJO, M.H (ed.). Cuencas from the Excurra Inlet Group of Admiralty
(Stan wiedzy o jurajskiej florze z obszaru sedimentarias del Jurásico y Cretácico de Bay, King George Island (South Shetland
Antarktyki). Volumina Jurassica, 2:151-156. América Del Sur, Comité Sudamericano del Islands, Antartica). Studia Geologica
ORLANDO, H.A. 1964. XI: 4. The fossil flora Jurásico y Cretácico. Buenos Aires, 2:393- Polonica, 72:109-130.
of the surroundings of Ardley Peninsula 406. TIDWELL, W.D.; ASH, S.R. 1994. A review
(Ardley Island), 25 de Mayo Island (King RÖSLER, O.; FENSTERSEIFER, H.; CZAJKOWSKI, of selected Triassic and Early Cretaceous
George Island), South Shetland Islands. In: S. 1985. Ocorrência de plantas fósseis de idade ferns. Journal of Plant Research, 107:417-
R.J. ADIE (ed.), Antarctic Geology, terciária em rochas vulcanoclásticas na escarpa 442.
Amsterdam, North Holland Publication ocidental da Península Fildes, Ilha Rei George, TIDWELL, W.D.; NISHIDA, H. 1993. A new
Company, pp. 629-636. Antártica. Paleobotânica Latinoamericana, fossilized tree fern stem, Nishidacaulis burgii
PALMA-HELDT, S. 1987. Estudio palinológico 7(1):8. gen. et sp. nov., from Nebraska, South
en el Terciario de las Islas Rey Jorge y SANTOS, P.R. dos; ROCHA-CAMPOS, A.C.; Dakota, USA. Review of Palaeobotany and
Brabante, Território Insular Antártico. Série TROMPETTE, R.R.; UHLEIN, A.; GIPP, Palynology, 78:55-67.
Científica del Instituto Antarctico Chileno, M.; SIMÕES, J.C. 1994. Review of Tertiary TORRES, G.T. 1990. Etude paleobotanique
36:56-71. glaciation in King George Island, West du Tertiare de les Isles Roi George et
PANKHURST, R.J.; SMELLIE, J. 1983. K-Ar Antarctica: preliminary results. Pesquisa Seymour, Antarctique. France, Laboratoire
Geochronology of the South Shetland Antártica Brasileira, 2:87-99. de Paléobotanique et Evolution de Végétaux
Islands, Lesser Antarctica: apparent lateral SHEN, Y. 1994. Subdivision and correlation - L’Université Claude Bernard Lyon, These
migration of Jurassic to Quaternary island of Cretaceous to Paleogene volcano- de Doctorat, 290 p .
arc volcanism. Earth and Planetary Science sedimentary sequence from Fildes TORRES, G.T.; MÉON, H. 1990. Estudio
Letters, 66:214-222. Peninsula, King George Island, Antarctica. palinológico preliminar de Cerro Fósil,
PEREIRA, F.; DUTRA, T.L.; ALMEIDA, In: Y. SHEN (org.), Stratigraphy and Península Fildes, Isla Rey Jorge, Antártica.
D.P.M. 2003. Ambientes vulcânicos asso- Palaeontology of Fildes Peninsula, King Série Científica del Instituto Antártico Chi-
ciados à paleoflora no Cretáceo e Terciário George Island, Antarctic. Beijing, leno, 40:21-39.
da Ilha Rei George, Antártica. In: L.R. Monograph Science Press, n. 3, p. 1-36. TORRES, G.T.; MÉON, H. 1993. Lophosoria
RONCHI;F.J. ALTHOFF (orgs.), Caracte- SKOG, J.E. 2001. Biogeography of Mesozoic del Terciario de isla Rey Jorge y Chile Cen-
rização e modelamento de depósitos mi- leptosporiangiate ferns related to extant tral: origen y dispersión en el hemisfério
nerais. São Leopoldo, Editora Unisinos, p. ferns. Brittonia, 2(53):236-269. Sur. Série Científica del Instituto Antártico
387-410. SKOTTSBERG, C. 1949. Influence of the Chileno, 43:17-30.
PRYER, K.M.; SMITH, A.R. 2007. Phylogenetic Antarctic Continent on the vegetation of TORRES, G.T.; MÉON, H. 2006. Revision de
reconstruction of leptosporiangiate ferns. Tree southern lands. In: PACIFIC SCIENCE pteridophytes du Mesozoique et du Cenozoique
of Life web Page. Disponível em http:// CONGRESS, 7, New Zealand, Proceedings, de la Peninsule Antarctique, des iles Shetland
tolweb.org/tree?group=Filicopsida 5:92-99. du Sud et de la Patagonie. In: A LIFE OF FERNS
econtgroup=Embryophytes; acesso em 02/ SMELLIE, J.L.; PANKHURST, R.J.; THOMSON, AND GYMNOSPERMS WORKSHOP,
11/2007. M.R.A.; DAVIES, R.E.S. 1984. The geology Montpellier, France. Abstracts, p. 26-27.
REES, P.M. 1990. Palaeobotanical contributions of the South Shetland Islands: VI. Stratigraphy, TORRES, G.T.; BARALE, G.; MÉON, H.;
to the Mesozoic geology of the northern geochemistry and evolution. Scientific Reports PHILIPPE, M.; THÉVENARD, F. 1997.
Antarctic Peninsula region. London, Royal of The British Antarctic Survey, 87:1-85. Cretaceous flora from Snow Island (South
Holloway and Bedford New College, University SMITH, A.R.; PRYER, K.M., SCHUETTPELZ, Shetland Islands, Antarctic) and their
of London, Tese de Doutorado, 285 p. E.; KORALL, P.; SCHNEIDER, H.; WOLF, biostratigraphic significance. In: C.A. RICCI
REES, P.M. 1993. Dipterid ferns from the P.G. 2006. A classification of extant ferns. (org.), The Antarctic Region: Geological
Mesozoic of Antarctica and New Zealand Taxon, 55(3):705-731. Evolution and Processes. Siena, Terra
and their stratigraphical significance. SOLIANI JR., E.; BONHOMME, M.G. 1994. Antarctica Publication, p.1023-1028.
Palaeontology, 36:637-656. New evidence for Cenozoic resetting of K- TRONCOSO, A. 1986. Nuevas órganos-
RETALLACK, G.J. 1980. Middle Triassic Ar ages in volcanic rocks of the northern especies en la tafoflora terciaria inferior de
megafossil plants and trace fossils from portion of the Admiralty bay, King George Peninsula Fildes, Isla Rey Jorge, Antártica.
Tank Bully, Canterbury, New Zealand. Island, Antarctica. Journal of South Série Científica del Instituto Antártico Chi-
Journal of the Royal Society of New American Earth Sciences, 7(1):85-94. leno, 34:23-46.

12
Michele Bertoli Cunha, Tânia L. Dutra, Nelsa Cardoso

TRYON, R.M. 1978. Proposal to conserve the WILLAN, R.C.R.; HUNTER, M.A. 2005. ZASTAWNIAK, E. 1981. Tertiary leaf flora
name Dicksoniaceae. Taxon, 27(5-6):554-555. Basin evolution during the transition from from the Point Hennequin Group of King
TRYON, R.M.; TRYON A.F. 1982. Ferns and continental rifting to subduction: Evidence George Island (South Shetland Island,
Allied Plants, with Special Reference to from the lithofacies and modal petrology Antarctica); Preliminary Report. Studia
Tropical America. New York , Springer- of the Jurassic Latady Group, Antarctic Geologica Polonica, 72:97-108.
Verlag, 557 p. Peninsula. Journal of South American ZASTAWNIAK, E. 1994. Upper Cretaceous
TRYON, A.F.; LUGARDON, B. 1991. Spores Earth Sciences, 20:171-191. leaf flora from the Blaszyk moraine (Zamek
of the Pteridophyta. New York, Springer- WING, S.L. 1998. Late Paleocene-Early Formation), King George Island, South
Verlag, 648 p. Eocene floral and climatic change in the Shetland Islands, West Antarctica. Acta
VAKHRAMEEV, V.A. 1991. Jurassic and Bighorn Basin, Wyoming. In: M.P. Paleobotanica, 34:119-163.
Cretaceous floras and climates of the Earth. AUBRY; S. LUCAS; W.A. BEERGREN ZASTAWNIAK, E.; WRONA, R.; GAZDZICKI,
Cambridge, Cambridge University Press, (orgs.), Late Paleocene-Early Eocene A.; BIRKENMAJER, K., 1985. Plant
318 p. climatic and biotic events in the marine remains from the top part of the Point
VAN KONIJNENBURG-VAN CITTERT, J.H.A. and terrestrial realms. New York, Columbia Hennequin/Group (Upper Oligocene), King
2002. Ecology of some Late Triassic-Early University press, p. 380-400. George Island (South Shetland Islands,
Cretaceous ferns in Eurasia. Review of WING, S.L; HARRINGTON, G.J.; SMITH, Antarctica). Studia Geologica Polonica,
Palaeobotany and Palynology, 119:113-124. F.A.; BLOCH, J.I.; BOYER, D.M.; 81:143-164.
VAN KONIJNENBURG-VAN CITTERT, FREEMAN, K.H. 2005. Transient floral ZHOU, Z.; LI, H. 1994a. Some Late Cretaceous
J.H.A.; MORGAN, H.S. 1999. The Jurassic change and rapid global warming at the plants from King George Island, Antarctica.
Flora of Yorkshire. Londres, The Paleocene-Eocene Boundary. Science, In: Y. SHEN (org.), Stratigraphy and
Paleontological Association, 134 p. 310:993-996. Palaeontology of Fildes Peninsula, King
WANG, Y. 2002. Fern ecological implications WOLF, P.G.; SIPES, S.D.; WHITE, M.R.; George Island, Antarctic. Beijing,
from the Lower Jurassic in Western Hubei, MARTINES, M.L.; PRYER, K.M.; SMITH, Monograph Science Press, n. 3, p. 91-105.
China. Review of Palaeobotany and A.R.; UEDA, K. 1999. Phylogenetic ZHOU, Z.; LI, H. 1994b. Early Tertiary Ferns
Palynology, 119:125-141. relationships of the enigmatic fern families from Fildes Peninsula, King George
WANG, Y.; SHEN, Y. 1994. Rb-Sr isotopic dating Hymenophyllopsidaceae and Lophosoriaceae: Island, Antarctica. In: Y. SHEN (org.).
and trace element, REE geochemistry of Late evidence from rbcL nucleotide sequences. Stratigraphy and Palaeontology of Fildes
Cretaceous volcanic rocks from King George Plant Systematics and Evolution, Peninsula, King George Island, Antarctic.
Island, Antarctica. In: SHEN, Y.B. (org.), 219:263-270. Beijing, Monograph Science Press, n. 3,
Stratigraphy and Palaeontology of Fildes YAO, X.; TAYLOR, T.N.; TAYLOR, E.L. 1991. p.181-194.
Peninsula, King George Island, Antarctic. Silicified dipterid ferns from the Jurassic of
Beijing, Monograph Science Press, n. 3, p. Antarctica. Review of Palaeobotany and Submetido em: 01/03/2008
109-131. Palynology, 67:353-362. Aceito em: 10/06/2008

Gœa - Journal of Geoscience, vol. 4, n. 1, jan/jun 2008, p. 1-13. 13

Você também pode gostar