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Ipê-amarelo (Handroanthus au-

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reus) em Brasília, DF ´
Politicas ´
Publicas
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Politicas ´
publicas:
~
em busca de caminhos para a conservacao
, da biodiversidade

Eduardo Vélez-Martin
Demetrio Luis Guadagnin
Valério De Patta Pillar

A humanidade e o planeta vivem atual- tam a biodiversidade têm menor repercus-


mente um momento singular de suas his- são na mídia e no imaginário da socieda-
tórias. A expansão e a intensificação da de. O fato concreto é que a biodiversidade
agricultura, dos meios de transporte e da agoniza, e junto com ela perde-se também
indústria, e o uso maciço de combustíveis a sociodiversidade — a diversidade cultural
fósseis são forças motrizes de um modelo de produção e manutenção de variedades,
civilizatório perverso, com uma dinâmica raças, conhecimentos e práticas tradicio-
econômica que já ultrapassou a capacida- nais de uso dos recursos biológicos.
de de suporte da biosfera. O grau de trans- Desde a segunda metade do século XVIII
formação da natureza pela ação humana até o presente, a população humana au-
atingiu escala global, a ponto de se propor mentou dez vezes e as extinções de espé-
uma nova época no tempo geológico, o cies e ecossistemas atingiram uma pro-
Antropoceno, quando as principais mu- porção tão grande que já se configura o
danças observadas no planeta são aquelas sexto episódio de extinção em massa da
causadas pela humanidade. história da vida na Terra. A mudança no
A perda da biodiversidade e dos serviços uso do solo, a exploração excessiva de re-
ecossistêmicos e as mudanças climáticas cursos biológicos, a poluição, a introdução
são a face dramática das transformações de espécies exóticas e as mudanças climá-
em curso no mundo. Mas, embora sejam ticas são os principais fatores que causam
temas relacionados, os problemas que afe- a perda da biodiversidade. Mas o que a

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Conhecendo a Biodiversidade
sociedade tem que fazer para deter, ou ao de, além de manter uma agenda perma-
menos minimizar, o problema? nente de mobilização política, institucio-
Muito já foi discutido, e existe razoável nal, científica e de recursos financeiros em
grau de acordo sobre o caminho a seguir. prol da biodiversidade. No âmbito da CDB,
A Convenção sobre Diversidade Biológica a cada dois anos ocorre a Conferência das
(CDB), um tratado internacional da Orga- Partes (COP), na qual governos, sociedade
nização das Nações Unidas (ONU) em vi- civil e comunidade científica aprofundam
gor desde 1993, detalha as ações que de- discussões e propõem iniciativas. Entre as
vem ser tomadas. A CDB é um guia para iniciativas, destacam-se as Metas de Aichi,
os países que a ratificaram. Ela traz as di- um conjunto de vinte metas que integra
retrizes para conservação, uso sustentável o planejamento estratégico para o perío-
e repartição de benefícios da biodiversida- do de 2011-2020, e o Panorama Global da

Plenária de abertura da 12a Conferência


das Partes da Convenção sobre Diversidade
Biológica em 2014, na cidade de
Pyeongchang, Coréia do Sul

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Biodiversidade, um relatório técnico pe- forma dos distintos biomas — Amazônia,
riódico que sintetiza a situação e as ten- Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa
dências globais da biodiversidade. e Pantanal —, e da grande variação bioló-
gica dentro deles. Na Mata Atlântica, por
Biodiversidade, ciência e políticas pú- exemplo, é possível reconhecer tipos dis-
blicas tintos de florestas (estacional, ombrófila
Sem a produção de conhecimento cien- mista e ombrófila densa) e, para cada tipo
tífico e a participação dos cientistas não é florestal, observam-se também importan-
possível avaliar o estado da biodiversida- tes variações na ocorrência das espécies
de e suas tendências, nem propor e ava- desde o solo até a copa das árvores.
liar ações de conservação e remediação. A sociedade precisa ser capaz de produ-
O reconhecimento da importância de evi- zir e articular o conhecimento científico
dências científicas para orientar as deci- sobre a biodiversidade, de modo a for-
sões a favor da biodiversidade resultou na mular, orientar e realizar ações concretas
criação de uma iniciativa complementar de conservação. A contribuição da ciência
à CDB. Constituída em 2012 também no para a conservação da biodiversidade de-
âmbito da ONU, a Plataforma Intergover- pende da conjugação de múltiplos esfor-
namental sobre Biodiversidade e Serviços ços e iniciativas, especialmente na forma
Ecossistêmicos (IPBES) é uma comissão de de políticas públicas.
especialistas em biodiversidade que tem a Num conceito abrangente, entende-se
missão de revisar, avaliar e sintetizar o esta- por política pública qualquer conjunto de
do da arte do conhecimento científico e as orientações voltado à tomada de decisão
informações mais relevantes sobre a biodi- e à realização de ações concretas para re-
versidade e os serviços ecossistêmicos. solver questões que são de interesse co-
A tarefa de conhecer a biodiversidade mum da sociedade. Embora muitas polí-
é gigantesca, especialmente porque em ticas públicas necessitem da participação
cada região do planeta as espécies evoluí- do poder público, elas também podem ter
ram de maneiras diferentes e interagem caráter não estatal.
em condições ambientais próprias. No Bra- Por ser um bem comum, a biodiversida-
sil, a diversidade pode ser reconhecida na de depende fundamentalmente das polí-

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Conhecendo a Biodiversidade
Pesquisadores realizando estudos em campo

ticas públicas. No plano internacional ela A experiência brasileira com políticas pú-
é entendida como um bem de preocupa- blicas em prol da biodiversidade é relati-
ção comum da humanidade, sobre o qual vamente recente — apesar de não haver
prevalecem os direitos soberanos de cada um marco específico, verifica-se um au-
país. No Brasil, o artigo 225 da Constitui- mento das iniciativas a partir da década
ção Federal define o meio ambiente como de 1990. Casos de sucesso combinam-se
bem de uso comum do povo, impondo-se com inúmeras situações em que elas têm
ao Poder Público e à coletividade o dever sido episódicas, descontinuadas ou inexis-
de defendê-lo e preservá-lo para as futu- tentes. Sua conexão com o conhecimento
ras gerações. A biodiversidade é tratada científico produzido no Brasil tem tido al-
na doutrina jurídica brasileira como um tos e baixos. Muitas vezes, a visão limitada
bem de característica difusa, sem um pro- dos gestores e a pressão exercida por inte-
prietário determinado. Ela pertence à co- resses econômicos terminam apartando a
letividade, transcendendo o conceito de ciência dos processos decisórios, e a biodi-
bem público. versidade acaba prejudicada.

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Ainda que não se limitem a isso, as po- missos internacionais assumidos pelo país
líticas públicas necessárias para conser- destacam-se o Programa de Pesquisas
var a biodiversidade podem ser agrupa- Ecológicas de Longa Duração (Peld), o Sis-
das de acordo com seus objetivos: pro- tema Nacional de Pesquisa em Biodiversi-
teger ecossistemas, espécies e a diversi- dade (Sisbiota) e o Programa de Pesquisa
dade genética; promover o uso susten- em Biodiversidade (PPBio), realizados pelo
tável; reduzir as pressões diretas sobre Conselho Nacional de Desenvolvimento
a biodiversidade; e recuperar, quando Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Mi-
possível, ecossistemas e serviços ecos- nistério da Ciência, Tecnologia e Inovação
sistêmicos. (MCTI) (em alguns casos com participação
Como as principais causas de extinção de fundações estaduais de apoio à pesqui-
da biodiversidade são a perda, a fragmen- sa), bem como o Projeto de Conservação
tação e a degradação dos habitats, ações e Utilização Sustentável da Diversidade
de proteção de ecossistemas e espécies Biológica Brasileira (Probio I) e o Projeto
são fundamentais. É preciso identificar Nacional de Ações Integradas Público-Pri-
as áreas prioritárias, criar e manejar uni- vadas para Biodiversidade (Probio II), do
dades de conservação, e promover a con- Ministério do Meio Ambiente (MMA).
servação fora dessas unidades por meio
do uso da terra adequado. Todas essas A importância das unidades de conser-
ações dependem da gestão e do ordena- vação
mento territorial e da realização prévia de As unidades de conservação asseguram a
pesquisas, incluindo inventários, mapea- existência de porções do território onde a
mentos e monitoramentos, e estudos de conservação da biodiversidade e dos ser-
longo prazo que permitam diagnosticar as viços ecossistêmicos têm prioridade sobre
espécies e os habitats que devem ser ob- outros usos dos recursos e do espaço. Sua
jeto das ações de proteção. existência é tão importante que, no Brasil,
Entre os bons exemplos de políticas pú- uma legislação específica instituiu o Siste-
blicas que têm possibilitado articular pes- ma Nacional de Unidades de Conservação
quisa e proteção da biodiversidade e, ao da Natureza (SNUC), com normas para a
mesmo tempo, honrar parte dos compro- criação, implantação e gestão dessas uni-

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Conhecendo a Biodiversidade
dades. Já a CDB estabeleceu como 11ª protegidas deve buscar a representativida-
Meta de Aichi que 17% das áreas terres- de de ecossistemas e de espécies, de modo
tres mundiais importantes para a biodi- a complementar aquelas que já existem.
versidade estarão protegidas até 2020. O
compromisso internacional foi referenda- Áreas de Preservação Permanente e Re-
do em 2013 pela Comissão Nacional da serva Legal
Biodiversidade (Conabio), que aumentou Apesar de sua indiscutível importância,
a meta para 30% na Amazônia. Entretan- a proteção feita somente nas unidades de
to, com exceção desse bioma, onde as uni- conservação é insuficiente para proteger
dades de conservação já totalizam 27,5% as espécies e os ecossistemas. A biodiver-
do território, o déficit de proteção ainda sidade depende de paisagens nas quais os
é elevado: a Caatinga tem 10% do bioma remanescentes de áreas naturais mante-
protegido por unidades de conservação; o nham-se conectados, permitindo a disper-
Cerrado, 9,1%; a Mata Atlântica, 10,7%; o são das espécies e o intercâmbio de mate-
Pantanal, 5%; e o Pampa, somente 3,4%. rial genético entre suas populações.
A criação de novas unidades de conser- No Brasil, o principal instrumento jurídi-
vação é um processo que exige crescente co para garantir a conservação da biodi-
esforço e recursos. Os estudos de campo versidade fora de áreas protegidas é a Lei
feitos no Brasil vêm gerando informações de Proteção da Vegetação Nativa1, mais
sobre a distribuição da biodiversidade e conhecida como Código Florestal — um
as tendências de transformação do uso termo equivocado, uma vez que a lei não
da terra em regiões em que há lacunas de se refere apenas a florestas. Sua efetiva
informação, contribuindo para a definição aplicação permite colocar em prática ins-
de novas unidades. Com dados e critérios trumentos de proteção equitativos e dis-
científicos é possível maximizar o número tribuídos espacialmente, dentro do princí-
de habitats e espécies protegidos, minimi- pio de que todos os proprietários de terras
zando a área necessária e os custos econô- devem contribuir para a conservação da
micos e sociais. A criação de novas áreas biodiversidade e dos serviços ecossistê-

1 Lei nº 12.651, de 25 de Maio de 2012.

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micos. Essa lei exige, por exemplo, a deli- quer vegetação nativa, seja ela florestal ou
mitação de Áreas de Preservação Perma- não florestal.
nente e de Reserva Legal e sua declaração Áreas de Preservação Permanente (APPs)
no Cadastro Ambiental Rural por todos os são regiões do território ecologicamente
proprietários de imóveis rurais. Exige tam- importantes onde a vegetação nativa deve
bém autorização para a retirada de qual- ser mantida. As APPS incluem: faixas de

Combate ao desmatamento na Amazônia, exemplo de


uma política pública com resultados importantes

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Conhecendo a Biodiversidade
terra com largura variável no entorno de Meio Ambiente. Complementarmente, já
rios, lagoas, nascentes, olhos d´água pere- foram estabelecidos mais de 50 Planos de
nes e veredas; encostas com declividade Ação Nacional para a Conservação das Es-
superior a 45o, bordas de tabuleiros ou pécies Ameaçadas de Extinção (PANs). Es-
chapadas, topos de morros e locais com ses planos descrevem as ações prioritárias
altitude acima de 1.800 m; e tipos especí- para combater as ameaças que põem em
ficos de vegetação, como os manguezais e risco populações dessas espécies e seus
as restingas. ambientes naturais.
Já a Reserva Legal corresponde a um per-
centual obrigatório de vegetação nativa, O uso sustentável da biodiversidade
florestal ou não florestal, a ser mantido O bem-estar da humanidade depende de
em cada propriedade rural, com a pos- recursos biológicos, cujo uso deve ser susten-
sibilidade de sua exploração econômica tável e o acesso, socialmente justo. Estabele-
mediante manejo sustentável. Na Amazô- cer sistemas de aproveitamento econômico
nia, a Reserva Legal é de 20% em regiões da biodiversidade com essas características é
de campos, 35% em áreas de savanas ou um dos maiores desafios da atualidade.
80% em áreas com florestas. Em outros Os sistemas baseados em extrativismo
biomas, a porção de vegetação nativa que geralmente estão associados à sobre-ex-
deve ser mantida corresponde a 20% do ploração dos recursos biológicos, espe-
tamanho da propriedade. cialmente no caso da pesca e da explora-
Há ainda muitas situações que exigem ção madeireira, mas também no caso de
medidas adicionais de proteção, como o diversos recursos florestais não madei-
caso das espécies ameaçadas de extinção. reiros, incluindo a fauna, fibras, frutos e
A partir da aplicação de critérios científi- resinas. Em ecossistemas não florestais,
cos, essas espécies são classificadas de o pastoreio mal conduzido pode compro-
acordo com o grau de ameaça e incluídas meter a regeneração da vegetação her-
em listas revisadas periodicamente e re- bácea, degradar a qualidade do habitat,
conhecidas por portarias do Ministério do facilitar a invasão por espécies exóticas e

2 Lei nº 11.284, de 2 de Março de 2006.


3 Lei nº 11.428, de 22 de Dezembro de 2006.

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AMAZÔNIA

CAATINGA

CERRADO

PANTANAL

MATA
ATLÂNTICA

PAMPA
Biomas
Unidades de Consevação
Federais

Mapa das unidades de conservação


federais nos biomas brasileiros
(Fonte: ICMBio, 2015)

comprometer a produtividade econômica. florestais, no entanto, ainda carecem de


Nos biomas florestais, a Lei de Gestão de políticas públicas específicas.
Florestas Públicas2 e a Lei da Mata Atlânti- A ciência e os cientistas são fundamen-
ca3 são instrumentos reguladores impor- tais para identificar novos usos para os
tantes que, junto com a Lei de Proteção inúmeros recursos oferecidos pelos ecos-
da Vegetação Nativa, buscam disciplinar sistemas. São também essenciais para a
o uso e o manejo das florestas em áreas compreensão dos fatores responsáveis
públicas e privadas. Os ecossistemas não pela produtividade dos sistemas ecológi-

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Conhecendo a Biodiversidade
cos, para testar e desenvolver melhores Além disso, existe a possibilidade de cola-
práticas de manejo e exploração, para de- boração do conhecimento tradicional. Po-
terminar os limites sustentáveis de uso e vos indígenas e comunidades tradicionais
para auxiliar na resolução de conflitos. mantêm estreita interação com a biodiver-
O conhecimento científico possibilita o sidade, identificando espécies potencial-
desenvolvimento de novas técnicas de pro- mente úteis e desenvolvendo e protegen-
dução agropecuária e sua disseminação, do raças animais ou variedades de plantas
capazes de modificar em larga escala os cultivadas. Em um momento de rápidas
padrões de uso do solo em direção à sus- mudanças e grandes ameaças, é neces-
tentabilidade. Permite também ampliar a sário não apenas prospectar e proteger,
capacidade de sistemas de produção que mas também desenvolver rapidamente e
combinam agricultura e florestas. Em re- compartilhar novas raças, variedades, téc-
giões de campos e savanas, permite desen- nicas e conhecimentos capazes de auxiliar
volver e melhorar práticas de manejo pas- na adaptação das economias, das práticas
toril, de modo a aumentar a produção e, ao agropecuárias e das próprias comunidades.
mesmo tempo, proteger processos ecológi- O conhecimento científico também deve
cos, proporcionar serviços ecossistêmicos, embasar políticas públicas que lidem com
proteger espécies ameaçadas e criar paisa- as chamadas invasões biológicas, quando
gens com alto grau de conectividade. espécies são introduzidas em locais onde
O aproveitamento econômico de extratos não ocorrem naturalmente, ameaçando
e moléculas de microrganismos, plantas e a biodiversidade existente. É muito difícil
animais é outra oportunidade para o uso prever quais espécies podem ser tornar
sustentável da biodiversidade brasileira ob- invasoras e causar impactos econômicos
tida a partir da pesquisa científica. A recen- e ambientais negativos e graves. A me-
te atualização da legislação de acesso ao lhor estratégia nestes casos é a preven-
patrimônio genético e repartição de be- ção. Uma vez introduzida, a detecção e o
nefícios da biodiversidade representa um controle precoces oferecem as melhores
caminho promissor, com possibilidade de oportunidades de erradicação de espécies
geração de recursos econômicos adicio- invasoras. Se a espécie já está estabeleci-
nais para a conservação. da e disseminada, provavelmente serão

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necessárias ações de controle com ênfase e qualidade da vida humana, é promover
na redução dos danos econômicos ou am- modos sustentáveis de produção e con-
bientais. O conhecimento científico é fun- sumo. A sustentabilidade ocorre quando
damental para rever os antecedentes de a exploração da natureza é feita dentro
uma espécie como invasora, os fatores que de limites que não comprometem o seu
predispõem sua dispersão, colonização e funcionamento e sua perpetuação. Se é
estabelecimento nos ambientes invadidos, fato que as atividades humanas envolvem
e para o teste de alternativas de controle. impactos ambientais negativos, também é
A melhor forma de reduzir as pressões verdade que existem muitas ações capazes
diretas sobre a biodiversidade, compatibi- de identificar, minimizar e compensar esses
lizando conservação, produção econômica impactos, reduzindo os conflitos de uso.

Cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata), ave passeriforme com ocorrência na


fronteira do Brasil com a Argentina e o Uruguai. Integra a Lista Nacional Oficial
de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção (Portaria MMA no 444, de 17 de
Dezembro de 2014), na categoria criticamente em perigo

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Conhecendo a Biodiversidade
Planejamento ambiental de qualificar a tomada de decisões e de mi-
O planejamento ambiental é outro ele- nimizar os impactos sobre a biodiversidade.
mento importante nas políticas públicas Essa articulação de conhecimentos é va-
de conservação. O conhecimento do ter- liosa, por exemplo, para a produção de ele-
ritório permite identificar restrições e tricidade a partir dos recursos hídricos. As
oportunidades, e prognosticar os efeitos hidroelétricas podem ser uma alternativa
individuais e cumulativos das atividades sustentável caso seus impactos negativos se-
humanas, além de orientar o licenciamen- jam adequadamente equacionados. Na bacia
to ambiental dos empreendimentos. hidrográfica dos rios Taquari e Antas, no Rio
A definição de regiões com vocação am- Grande do Sul, o conhecimento científico
biental para a prática de determinadas permitiu identificar as prioridades de conser-
atividades econômicas, ou que têm maior vação de áreas naturais e de determinadas
sensibilidade ao impacto dessas atividades, espécies de plantas e animais. Combinando
permite que se elaborem os chamados zo- essas informações com os interesses múl-
neamentos ambientais. Várias regiões do tiplos das comunidades no uso do espaço,
Brasil já contam com zoneamentos ecoló- da água e dos recursos da bacia, foi possível
gico-econômicos, áreas definidas com base alocar os potenciais de aproveitamento hi-
nas potencialidades e fragilidades ambien- drelétrico, minimizando seus impactos nega-
tais, com regras específicas de uso que tivos. Foram definidos locais impróprios para
orientam a ocupação do espaço geográfico a construção de barragens, trechos mínimos
de forma ambientalmente correta. de rios que deveriam permanecer livres de
Outro instrumento de planejamento são barramento para possibilitar a reprodução
as avaliações ambientais estratégicas, estu- dos peixes, além dos locais onde esses em-
dos de impacto ambiental regionais direcio- preendimentos poderiam ser instalados, per-
nados para avaliar os efeitos conjuntos de mitindo harmonizar interesses distintos den-
determinadas atividades humanas, como tro da mesma bacia hidrográfica.
a construção de rodovias. Articular o licen- Há outras ações importantes para a con-
ciamento de empreendimentos individuais servação da biodiversidade, mas, de modo
com os instrumentos de planejamento re- geral, para que as políticas públicas relati-
gional constitui uma grande oportunidade vas à biodiversidade sejam eficazes, é pre-

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ciso que contemplem um conjunto diver- reorientar diretamente as forças motrizes
sificado de ações direcionadas a combater que frequentemente são as causas funda-
tanto as causas imediatas da perda da mentais da perda da biodiversidade. Além
biodiversidade, quanto suas causas mais disso, é necessário um arcabouço legal
fundamentais. É necessário que sejam in- apropriado e uma infraestrutura institu-
tegradas às políticas setoriais em agricul- cional que permitam implantar a legisla-
tura, pecuária, energia, produção indus- ção e conectar a tomada de decisões às
trial, transportes, mineração, urbanização, evidências científicas e aos mecanismos
saúde e educação, de modo que se possa de participação social.

Sugestões de leitura
A literatura especializada em políticas públicas sobre biodiversidade ainda é incipiente. O Mi-
nistério do Meio Ambiente disponibiliza publicações sobre biodiversidade no endereço eletrô-
nico http://www.mma.gov.br/publicacoes/biodiversidade. Muitas das publicações disponíveis
tratam de políticas públicas, como o “Quarto Relatório Nacional para a Convenção sobre Diver-
sidade Biológica’’ (2011), coordenado por Bráulio Ferreira de Souza Dias, e o estudo “Políticas
Públicas e Biodiversidade no Brasil’’ (2002), de autoria de Pedro Leitão, Sarita Albagali e Fábio
Leite. A revista científica Natureza & Conservação (http://www.naturezaeconservacao.com.br),
editada pela Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação, contém uma seção com
temas relacionados a políticas de conservação. A seguir, listamos alguns artigos científicos que
tratam de políticas de conservação da biodiversidade:
Gibbs, H.K., Rausch, L., Munger, J., Schelly, I., Morton, D.C., Noojipady, P., Soares-Filho, B., Barre-
to, P., Micol, L. & Walker, N.F. 2015. Brazil’s Soy Moratorium. Science 347: 377-378.
Soares-Filho, B., Rajao, R., Macedo, M., Carneiro, A., Costa, W., Coe, M., Rodrigues, H. & Alencar,
A. 2014. Land use. Cracking Brazil’s Forest Code. Science 344: 363-364.
Overbeck, G.E., Vélez-Martin, E., Scarano, F.R., Lewinsohn, T.M., Fonseca, C.R., Meyer, S.T., Mül-
ler, S.C., Ceotto, P., Dadalt, L., Durigan, G., Ganade, G., Gossner, M.M., Guadagnin, D.L., Lorenzen,
K., Jacobi, C.M., Weisser, W.W. & Pillar, V.D. 2015. Conservation in Brazil needs to include non-fo-
rest ecosystems. Diversity and Distributions 21: 1455–1460.

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Conhecendo a Biodiversidade
autores
Alberto Akama Ângelo Gilberto Manzatto
Museu Paraense Emílio Goeldi. Belém - PA Universidade Federal de Rondônia. Porto
albertoakama@museu-goeldi.br Velho - RO
manzatto@unir.br
Aldicir O. Scariot
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu- Antônio Fernandes dos Anjos
ária, Recursos Genéticos e Biotecnologia. Universidade Federal de Goiás. Goiânia - GO
Brasília - DF antonio.dosanjos.ufg@gmail.com
aldicir.scariot@embrapa.br
Beatriz Schwantes Marimon
Ana Carolina Borges Lins e Silva Universidade do Estado de Mato Grosso.
Universidade Federal Rural de Pernambu- Nova Xavantina - MT
co. Recife - PE biamarimon@unemat.br
anacarol@db.ufrpe.br
Ben Hur Marimon Junior
Ana Carolina Neves Universidade do Estado de Mato Grosso.
Universidade Federal de Minas Gerais. Nova Xavantina - MT
Belo Horizonte - MG bhmarimon@unemat.br
ananeves@gmail.com
Bruno Henrique Pimentel Rosado
Ana Sofia Sousa de Holanda Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazô- Rio de Janeiro - RJ
nia. Manaus - AM brunorosado@gmail.com
anasofiaufpa@gmail.com
Cátia Nunes da Cunha
André Marcio Araujo Amorim Universidade Federal de Mato Gross.
Universidade Santa Cruz. Ilhéus - BA Cuiabá - MT
amorim-uesc@gmail.com ufmtcnc@gmail.com

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autores

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