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I.

INTRODUÇÃO
A dinâmica populacional, pode ser definida como sendo a variação do número de indivíduos
numa determinada população. Por sua vez, essa variação no número de indivíduos pode ser
ocasionada por factores ecológicos, isto é, factores abióticos e bióticos, ou por factores internos
da própria população, ou seja, factores fisiológicos (CHAVES, 2013).

Uma população arbórea possui características que por sua vez contribuem na sua variação no
espaço e no tempo. Dentre essas características, destacam-se a natalidade, mortalidade, variação,
permanência, crescimento, entre outras. A natalidade e a mortalidade, podem variar em função
da densidade entre as plantas, pois quanto maior for a densidade, maior será a taxa de
mortalidade e menor a taxa de natalidade, como resultado da competição. O crescimento de uma
populaça é diferente do crescimento individual, pois, com o aumento da densidade entre as
plantas o crescimento individual tende a diminuir e o crescimento populacional tende a aumentar
até se atingir a capacidade de campo (SOARES, 2009).

Necessário se faz também em conhecer o padrão de distribuição das espécies em determinado


povoamento florestal, pois o modelo de distribuição demonstrado por cada organismo tem
diversas implicações para o seu estudo, assim como em estratégias de conservação. Ao escolher
o método de amostragem (sistemático, aleatório, ect) tem que levar em consideração o modelo de
distribuição de cada um deles. Ignorar esse aspecto significaria uma provável incorrecção na
obtenção de estimativas populacionais (CHAVES, 2013).

No entanto, para perceber o funcionamento da dinâmica de uma determinada floresta, é


necessário fazer o estudo da estrutura horizontal e vertical, através das categorias da população.
É nesse contexto que é feito o levantamento fitossociologico da vegetação, podendo-se colher
dados referentes a densidade, abundância, dominância, riqueza, índice de valor importância,
índice de valor cobertura, entre outros atributos da população.

Neste relatório, irão se apresentar os dados colhidos nas matas de Unango, seguida da devida
analise e interpretação dos parâmetros ecológicos.

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1.1. Problema
Em Moçambique estudos sobre fitossociologia das áreas florestais são bastante escassos e
superficiais. A título de exemplo, a principal base de dados existente para tomada de decisão em
termos de maneio florestal são os inventários realizados por (Marizol, 2007) e (Saket, 1994) que
são de cunho estratégico, de abrangência nacional e geralmente feitos em uma ocasião, atrelado
ao facto acima exposto, pouco tem sido feito para comprovar a precisão dos dados desses
levantamentos.
Utilizar dados desses inventários para tomar decisões de cunho táctico constituem um erro grave,
no delineamento de planos de maneio florestal.
Por outro lado, as florestas adjacentes as montanhas, tem experimentado um nível de
antropização muito acelerado devido a escassez de recursos florestais nas zonas mais acessíveis,
resultando do crescimento populacional que tem como consequência aumento da demanda nos
bens e serviços florestais.

1.2. Justificativa
É preciso realçar que o arboreto da Universidade Lúrio, para além de ser, uma área de
conservação e de estudos, tem muita semelhança com toda a floresta do monte Unango, dai que
os resultados encontrados podem ser extrapolados para floresta de montanha, a fim de propor
medidas de maneio para o mesmo.
O estudo poderá provavelmente despertar a sociedade civil da necessidade de conservação dos
ecossistemas de montanha devido a sua importância na manutenção da biodiversidade e
providência de bens e serviços para o suprimento das necessidades humanas. O estudo também
abrirá espaço para a realização de outros trabalhos relacionados

1.3. Objectivos

1.3.1. Geral
 Estudar a distribuição horizontal e a regeneração natural das espécies no arboreto da FCA
em Unango.

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1.3.2. Específicos
 Determinar os parâmetros fitossociológicos da estrutura horizontal;
 Determinar os índices de diversidade, dispersão e equitabilidade;
 Verificar a relação existente entre o diâmetro e o número de indivíduos presentes na área
de estudo, dentro do arboreto;
 Identificar as causas que levam a variação da regeneração natural dentro do arboreto da
FCA em Unango;

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II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Fitossociologia

2.1.1. Conceito de Fitossociologia


Não existe um conceito único para o termo fitossociologia, vários são os conceitos que diferentes
autores usam para explicar este termo e, no entanto, esses conceitos tem sempre algo em comum.
Uma definição que teve uma aceitação mundial, diz que a fitossociologia é um ramo da ecologia
que estuda as comunidades vegetais do ponto de vista florístico, ecológico, corológico e
histórico, isto segundo Martins (1989) citado por Chaves et al (2013).

Segundo Rodrigues e Gandolfi (1998) citado por Chaves (2013), a Fitossociologia é o ramo da
Ecologia Vegetal que procura estudar, descrever e compreender a associação existente entre as
espécies vegetais na comunidade, que por sua vez caracterizam as unidades fitogeográficas,
como resultado das interacções destas espécies entre si e com o seu meio.

Os estudos fitossociológicos tem como objectivo estudar as comunidades vegetais do ponto de


vista estrutural e florístico.

2.1.2. Importância da Fitossociologia


Sendo a fitossociologia uma ciência prática, ela é amplamente indispensável para a realização de
trabalhos de monitoramento da componente florística, pois é graças a parâmetros
fitossociológicos que pode ser feito o estudo da vegetação, de modo a avaliar o desenvolvimento
de certa floresta.

Segundo Andrade (2005), citado por Chaves (2013), no caso de ordenamento e gestão de
ecossistemas florestais, a fitossociologia contribui de forma muito significativa.

Segundo Soares (2009), a importância da fitossociologia também reside na relação que tem com
outras ciências ecológicas afins, podendo ser maior a sua contribuição quanto maior for os ramos
em que ela se integra. A fitossociologia serve de base para programas de gestão ambiental, como
nas áreas de maneio e recuperação de áreas degradadas.
Há também necessidade de considerar outras análises florísticas que permitem fazer
comparações dentro e entre formações florestais no espaço e no tempo, gerar dados sobre a

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riqueza e a diversidade de uma área, além de possibilitar a formulação de teorias, testar hipóteses
e produzir resultados que servirão de base para outros estudos (Chaves, 2013).

2.2. Levantamentos Fitossociológicos


Para poder fazer estudos fitossociológicos, é necessário ter conhecimentos da dinâmica de
populações vegetais, pois com essa base pode-se facilmente perceber o porquê da variação da
vegetação entre diferentes regiões, explicando através dos factores ecológicos, e internos da
população (SOARES, 2009).

Segundo Chaves (2013), a dinâmica populacional é a variação do número de indivíduos no


decorrer do tempo. Essa variação pode ser tanto influenciada por factores ambientais, como
também por organismos vivos e por aspectos fisiológicos da população.

As populações arbóreas apresentam certas características que quando conhecidas ajudam


bastante na compreensão da sua dinâmica, ou melhor no seu estudo fitossociológicos, pois
facilitam a interpretação de dados colectados no campo. A mortalidade, natalidade, distribuição
etária, distribuição espacial, potencial biótico e crescimento são umas das características que
facilmente se destacam numa população vegetal.

Além dessas características, existem também atributos da população que devem ser conhecidos
para que se possa fazer a descrição rigorosa da população, de modo a compreender o
desenvolvimento das populações ao decorrer do tempo. Em estudos fitossociológicos, estes
atributos da população são chamados de parâmetros fitossociológicos (SOARES, 2009).

A caracterização fitossociológica de uma floresta é auxiliada pela avaliação de diversos


parâmetros que  caracterizam a estrutura horizontal e vertical da mesma. Além de informações
exclusivamente qualitativas, como a composição florística da comunidade, os parâmetros
quantitativos assumem uma posição importante no estudo de um ecossistema florestal
(SIMÕES, 2015).

2.2.1. Estrutura Horizontal da Vegetação


Foi dito acima que a caracterização fitossociológica da vegetação era por sua vez auxiliada por
parâmetros que consistem em descrever e caracterizar a estrutura horizontal e vertical da

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vegetação. Segundo Simões (2015), falar da estrutura horizontal da vegetação, é falar da
organização e distribuição espacial dos indivíduos na superfície da terra.

Existem vários parâmetros utilizados para fazer a análise da estrutura horizontal da vegetação,
porém, descrever-se-á os principais, aqueles que não podem faltar em um estudo
fitossociológico. As estimativas dos parâmetros da estrutura horizontal incluem a riqueza,
frequência, a densidade, a dominância, e os índices do valor de importância e do valor de
cobertura de cada espécie amostrada (SIMÕES, 2015).

2.2.1.1. Riqueza de Espécies


A riqueza diz respeito ao número de espécies que pode ser encontrado em uma unidade amostral.
Se numa determinada área amostral tiver um número de individuo arboreos igual a (por
exemplo) 1000 e pertencerem a uma única espécie, a riqueza em espécies será de 1 (GOMES,
2004).

Ainda segundo Gomes (2004), a riqueza de espécies varia em função do tamanho da amostra,
onde quanto maior for o seu tamanho, maior será o número de espécies. Para determinar a
riqueza, basta contar as espécies colectadas.

2.2.1.2. Densidade
Simões (2015), define densidade como sendo o número de indivíduos que pode ser encontrado
em cada espécie ou conjunto de espécies que fazem parte de uma comunidade vegetal por
unidade de superfície. Existe no entanto dois tipos de densidade, nomeadamente:

 Densidade absoluta: É o número de indivíduos de uma mesma espécie por unidade de


espaço, geralmente por hectare.
 Densidade relativa: É o número de indivíduos de uma mesma espécie dividido pelo
número total de indivíduos, dado em percentagem (SIMOES, 2015).

Fórmulas:

Fonte da imagem: http://www.matanativa.com.br/levantamento-fitossociologico/


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Onde:

DA i = densidade absoluta da i-ésima espécie, em número de indivíduos por hectare;


n i = número de indivíduos da i-ésima espécie na amostragem;
N = número total de indivíduos amostrados;
A = área total amostrada, em hectare;
DR i = densidade relativa (%) da i-ésima espécie;
DT = densidade total, em número de indivíduos por hectare (soma das densidades de todas as
espécies amostradas) (SIMOES, 2015).

A densidade é um parâmetro muito importante, pois afecta directamente o crescimento, a


natalidade e a mortalidade das plantas. Quanto maior for a densidade entre as plantas, maior será
a taxa de mortalidade e menor será a taxa de natalidade e a taxa de crescimento individual.

2.2.1.3. Frequência
A frequência absoluta, é dada através da relação entre o número de parcelas amostrais em que
ocorrem indivíduos de determinada espécie e o número total de parcelas, dado em percentagem.
A frequência relativa, obtêm-se pela soma total das frequências absolutas, para cada espécie.

Fórmulas:

Fonte da imagem: http://www.matanativa.com.br/levantamento-fitossociologico/

Onde:

FA i = frequência absoluta da i-ésima espécie na comunidade vegetal;


FR i = frequência relativa da i-ésima espécie na comunidade vegetal;
u i = número de unidades amostrais em que a i-ésima espécie ocorre;
u t = número total de unidades amostrais;

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Depois de calcular a frequência das espécies nas parcelas amostrais, pode-se determinar se uma
espécie é constante (com frequência maior ou igual a 50%), comum (frequência que varia entre
10-49% ) e rara (com frequência menor ou iguala 10%). (GOMES, 2004).

Segundo Gomes (2004), a frequência é considerada um parâmetro não muito adequado para o
estudo da estrutura horizontal, pois varia em função do tamanho da amostra, da densidade e do
padrão de dispersão das espécies. A frequência é um descritor pouco adequado porque depende
não somente do tamanho da amostra como também da densidade e do padrão de dispersão das
espécies. Portanto, quanto mais ocorrerem agregados densos e espessos ou então ocasionalmente
e de pequeno porte, maior a variação da frequência quanto ao tamanho do amostrador.

2.1.2.4. Dominância
Cada espécie em um determinado povoamento florestal possui uma biomassa que influencia de
certa forma na comunidade. A dominância, é no entanto o parâmetro que expressa essa
influência, sendo por sua vez dividida em dominância absoluta e relativa. A dominância absoluta
é obtida através da soma das áreas basais (AB) dos indivíduos de uma mesma espécie, por
hectare. A dominância relativa corresponde à participação, em percentagem, em relação à área
basal total (SILVESTRE, 2009).

2.1.2.5. Índice de Valor Importância


Este parâmetro fornece uma informação fundamental para a análise da vegetação, pois informa a
importância ecológica de uma determinada espécie no que diz respeito a sua distribuição. Para a
sua determinação, basta somar os valores de abundância relativa, dominância relativa e
frequência relativa (SILVESTRE, 2009).

Fórmulas:

Fonte da Imagem: http://www.matanativa.com.br/levantamento-fitossociologico/

Onde:

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VI = Valor de Importância absoluto
VI% = Valor de Importância relativo
DR i = densidade relativa (%) da i-ésima espécie;
FR i = frequência relativa da i-ésima espécie na comunidade vegetal
DoR i = dominância relativa (%) da i-ésima espécie;

Ainda segundo Gomes (2004), quanto mais for o índice de importância, maior será a sua
importância ecológica. Esse índice é determinado para cada espécie.

2.1.2.6. Índice de Valor Cobertura


Tal como o índice de valor importância, o índice de cobertura nos dá uma informação sobre a
importância ecológica em termos de distribuição horizontal de determinada espécie, num
determinado povoamento, mas baseado apenas na densidade e abundância. Para o seu cálculo,
basta somar a densidade relativa e a abundância relativa.

Fórmulas:

Fonte da imagem: http://www.matanativa.com.br/levantamento-fitossociologico/


Onde:

DR i = Densidade relativa (%) da i-ésima espécie;


DoR i = Dominância relativa (%) da i-ésima espécie;
VCi Valor de cobertura
VCi% Valor de cobertura em (%).

2.1.2.7. Índice de Diversidade de Shannon


Segundo Simões (2015), o índice de diversidade de Shannon é calculado com base na relação
entre o número de indivíduos por espécie e o número total de indivíduos amostrados,
expressando um valor que combina os componentes riqueza e equitabilidade. Os valores do
índice de Shannon usualmente variam entre 1,5 e 3,5 e, em casos excepcionais, excedem 4,5.
Fórmula:

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Fonte da imagem: http://www.uff.br/ecosed/apostila
Onde:

H’ = Índice de Shannon-Weaver
ni = Número de indivíduos amostrados da i-ésima espécie.
N = número total de indivíduos amostrados.
S = número total de espécies amostradas.
ln = logaritmo de base neperiana.

2.1.2.8. Índice de Equitabilidade de Pielou

O índice de Equitabilidade de Pielou permite ver se as espécies são igualmente abundantes,


sendo que o seu valor varia de 0 a 1. Nesse caso, quanto mais o valor se aproximar de 1, maior
será a equitabilidade entre os indivíduos (SIMÕES, 2015 ).

O seu valor é determinado pela fórmula abaixo:

Onde:

Hmáx = ln(S).
J = Equitabilidade de Pielou
S = número total de espécies amostradas.
H’ = índice de diversidade de Shannon-Weaver.

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2.2.2. Estrutura Vertical da Vegetação Arbórea
O levantamento fitossociológico feito no arboreto da FCA baseou-se apenas na estrutura
horizontal da vegetação, porém, neste relatório irá se abordar apenas dos parâmetros da estrutura
horizontal.

Segundo Simões (2015), os parâmetros da estrutura vertical da vegetação são de grande


importância na análise da vegetação, pois nos dá uma ideia da importância da espécie,
considerando a sua participação nos estratos verticais que o povoamento apresenta.

Os estratos verticais encontrados na floresta podem ser divididos em: espécies dominantes,
intermediárias e dominadas. Aquelas espécies que possuírem um maior número de indivíduos
representantes em cada um desses estratos certamente apresentarão uma maior importância
ecológica no povoamento em estudo (SIMÕES, 2015).

Para determinar os parâmetros da estrutura vertical da vegetação, deve-se colectar dados


referentes a altura das árvores durante o levantamento fitossociológico no campo (SILVESTRE,
2009).

2.3. Regeneração Natural


No levantamento fitossociológico feito no arboreto, além de se colectar dados referentes a
estrutura horizontal, também colectou-se dados referentes a regeneração natural estabelecida e
não estabelecida.

Segundo Silvestre (2009), a regeneração natural consiste no levantamento dos descendentes das
plantas arbóreas. Os parâmetros para Regeneração Natural são calculados utilizando as mesmas
fórmulas que as utilizadas para árvores adultas, porém, considerando dados de árvores e parcelas
em regeneração.

A regeneração natural é calculada a partir das seguintes expressões matemáticas:

Arel+ Dorel+ CRTi


Rnat¿
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Fonte da imagem: http://www.matanativa.com.br/interpretacao-dos-indices-de-diversidade-de-
especies-obtidos-em-levantamento-fitossociologico/

Onde:

Rnat- regeneração natural;

Arel- Abundância relativa; Dorel- Dominância relativa/

CAT i = classe absoluta de tamanho da regeneração da i-ésima espécie;


CRT i = classe relativa de tamanho da regeneração da i-ésima espécie;
n ij = número de indivíduos da i-ésima espécie na j-ésima classe de tamanho;
N j = número total de indivíduos na j-ésima classe de tamanho;
N = número total de indivíduos da regeneração natural em todas as classes de tamanho.

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III. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Descrição da Área de Estudo

O estudo foi realizado no arboreto da Faculdade de ciências agrárias da Universidade Lúrio


Localizada no posto administrativo de Unango, que localiza-se no centro do Distrito de Sanga. O
posto adiministrativo de Unango dista 12 km da Sede Distrital de Malulu, a Norte, faz fronteira
com Posto Administrativo de Macaloge, a Sul com distrito de Lichinga através de uma linha
imaginária, a Este com distrito de Muembe através do rio Lucheringo e Oeste com Posto
Administrativo de Lucimbesse (RAPAU, 2014).

O Posto Administrativo de Unango apresenta uma extensão de 3000 km2 e contem 9 (nove)
comunidades: Nhamuedje, Mapudje, Miala, Malulu, Burundi, Cavago 1, Selenje, Ngongote,
Cazizi. Portanto, Unango não possui nenhuma localidade (RAPAU, 2014).

3.1. Características edafo - climáticas


3.1.1. Clima

Com duas estações uma quente e chuvosa que vai de Dezembro a Março, sendo Abril mês de
transição e outra seca e fria de Maio a Outubro, e Novembro sendo o mês de transição,

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fenómenos ocasionados pelo facto do distrito de Sanga estar sob a influência da zona de
convergência inter tropical (INE, 2013)

Anualmente o distrito de Sanga recebe uma precipitação pluvial variável entre 1000 a 1200mm
no extremo norte, ao longo dos rios Rovuma e Luchiringo, porém, nas zonas altas a precipitação
pode chagar a atingir os máximos de 2000 mm e com uma precipitação média mensal igual
243.4 mm (INE, 2013).

Nas zonas planálticas e na cordilheira de Sanga os valores médios das temperaturas variam entre
os 20 a 23º C, durante a estação quente e húmida, aumentando de 23 a 26º C, na faixa norte do
distrito, na zona das planícies ao longo do rio Rovuma (INE, 2013).

3.1.2. Solos

Constituindo a zona agro ecológica 10, os solos desta área são destacados pela elevada
fertilidade e grande potencial agrícola. Neste distrito são predominantes os solos argilosos,
vermelhos, profundos e bem drenados (INE, 2005).

3.1.3. Vegetação

Localizado na zona Zambesíaca o distrito de Sanga com principal destaque (zona Norte,
Nordeste e ao longo do Rio Rovuma), possuem uma vegetação esta constituída por formações de
Miombo decíduo seco. As planícies da Zona Norte do Posto Administrativo de Matchedje são
cobertas poimensas manchas de vegetação arbustiva com predominância para Brachystegia
utilis, enquanto a parte Sul do distrito é dominada por Brachystegia boehmii, B. spiciformis
(Messassa) e espécies do género Uapaca (Massuco) nas zonas planálticas e montanhosas da
Cordilheira de Sanga (MAE, 2005).

3.2. Amostragem
Como estratégia de facilitar o trabalho no campo, e colher os dados no mais curto tempo e obter
resultados confiáveis, a área de 1 ha foi dividida em 25 parcelas de 20mx20m (400 m2), onde
pelo método de amostragem sistemática, o estudo foi realizado em apenas 13 parcelas, o que
resultou em uma área amostral de 0,52 ha.

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Escolheu-se a amostragem sistemática, por esta garantir uma selecção perfeitamente equivalente
a população, podendo ser uma vantagem se os grupos dentro de um universo se distinguem,
evitando a necessidade de usar estratos.

100m

100 m

Figura 1: Ilustração da disposição das parcelas, onde as áreas pintadas representam as 13


parcelas em que foram feitos os estudos.

3.2.1. Colecta de Dados


Os dados foram colhidos no dia 15 de Setembro de 2017. Em cada canto de cada parcela
amostral (nas 13 parcelas), mediu-se 1 m2, onde foi feita a colheita de dados referente a
regeneração natural estabelecida e não estabelecida. A distância entre parcelas também foi de 20
m. O trabalho no arboreto foi realizado utilizando-se trenas de 50 metros e cordas para medir as
parcelas no terreno, fita de diâmetro para medir a circunferência a altura do peito (CAP) e a
regeneração natural. Os dados referentes ao CAP, nome vulgar e específico das espécies
colhidas, número da parcela, nome do colector, foram registados em fichas de campo.

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As espécies foram identificadas na medida em que se media o CAP, e para certas espécies que
não se conheciam os nomes específicos, foram tiradas fotos da sua estrutura macroscópica para a
posterior identificação através de manuais guias.

Para a regeneração natural, foram colectados dados nos 4 cantos de cada parcela, numa área de 1
m2 e plantas com menos de 5 cm e não maior que 10 cm de espessura.

Depois de serem colhidos os dados no campo, estes foram passados para uma planilha microsoft
excel, onde foram agrupadas as espécies e calculados os parâmetros da população.

3.2.2. Analise da vegetação Arbórea


Para estudar a vegetação arbórea da área amostrada, foram usados os seguintes parâmetros
fitossociológicos:

 Densidade ou Abundância;
 Dominância;
 Frequência;
 Riqueza das espécies;
 Índice de valor importância;
 Índice de valor cobertura;
 Índice de Shannon;
 Índice de Mc Guinnes;
 Índice de equitabilidade de Pielou e
 Estrutura diamétrica.

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IV. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. Estrutura horizontal

4.1.1. Riqueza
Foram amostradas 13 parcelas numa área de 0,52 hectares, envolvendo 326 indivíduos, e, tendo
agrupado os indivíduos de uma mesma espécie, verificou-se que a riqueza em espécies na área de
estudo é de 13 espécies. De uma forma nominal, a riqueza das espécies é: Uapaca nitida
(Massuco), Uapaca kirkiana (Massuco), Uapaca sansibarica (Massuco), Brachystegia
spiciformis (Messassa), Brachystegia boehmii (Ntufi), Annona senegalensis (Ata silvestre),
Piliostigma thoningii, Xeronphis obovata (Ndzodoca), Pericopsis angolensis, Acacia caffra
(Acacia), Cussonia arborea, Parinari curatellifolia (Ntubi), Syzygium guineense (Jambalão).

Segundo Ribeiro et al (2002), a riqueza do miombo Moçambicano varia de 12 a 24 espécies,


portanto, essa pouca diversidade em espécies encontrada na área de estudo, pode ter sido causada
pelas queimadas que anualmente passam no arboreto, o que acaba eliminando maior parte das
espécies, principalmente as que se encontram na fase de regeneração.

Um estudo realizado na encosta sul do monte Unango por Daude (2015), mostrou resultados
distintos, com uma riqueza de 38 espécies, no entanto, essa diferença de riqueza entre as duas
áreas de estudo deve-se a diferente de tamanho da amostra, visto que o número de espécies tende
a variar com a variação do tamanho da amostra.

4.1.2. Abundância
A tabela 1 abaixo, mostra a distribuição média da abundância absoluta e relativa de cada espécie.
Baseando-se nos dados da tabela, pode-se observar que as 5 espécies mais abundantes
representam mais de 90% do total da amostra, destacando: Uapaca kirkiana (Massuco) com 34
%, Uapaca nitida (Massuco) com 12.8 %, Brachystegia spiciformis (Messassa) com 25,7 %,
Brachystegia boehmii 12,5 % e Cussonia arborea Com 7%.

A espécie que apresentou maior abundância foi a Uapaca kirkiana (Massuco), representando
cerca de 34 % do total, com a uma média de 111 indivíduos por meio hectare.

Em seguida, a mais abundante é a Brachystegia spiciformis (Messassa), representando cerca de


25,7% do total, e com uma média de 84 indivíduos. Segundo Ribeiro et al (2002), o género

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Brachystegia é um dos mais predominantes das florestas de miombo, razão pela qual, nesse
estudo esse género foi um dos mais predominantes, pois ele se desenvolve bem nesse tipo de
ecossistema. As demais espécies mais abundantes (Uapaca nitida, Brachystegia boehmii e
Cussonia arborea) totalizam cerca de 32,3%, perfazendo em media 106 indivíduos.

Verificou-se também que nem todas as espécies possuem um número elevado de indivíduos,
sendo assim a abundância dessas espécies dentro do povoamento florestal é mesmo inferior. As 8
espécies que apresentaram menor abundância representam cerca de 10 % do total, e com uma
média de 25 indivíduos na área amostrada. No entanto, boa parte das espécies apresentam menor
abundância, sendo que as espécies com maior abundância representam a minoria.
Carriola & Neto (2003) nos seus estudos observaram que as 10 espécies mais abundantes
representam cerca de 40% da área basal total da floresta e, considerando as 25 espécies mais
abundantes, o total aumenta para 70%.
Tabela 1: Distribuição da Abundância absoluta e relativa das principais espécies do arboreto

N Espécies Abundância Abundância relativa


absoluta
1 Uapaca kirkiana 213.4 34.049
2 Uapaca nitida 80.76 12.883

3 Uapaca zanguebarica 15.33 2.454

4 Parinari curatelifolia 3.846 0.613

5 Annona senegalensis 5.769 0.920


Brachystegia spiciformis 161.5 25.767
7 Brachystegia boehmii 78.84 12.577
8 Cussonia arborea 44.23 7.055
9 Syzygium guinense 5.769 0.920
10 Pericarpus angolensis 1.923 0.307
11 Xeronphis obovata 7.692 1.227
12 Piliostigma thoningii 1.923 0.307
13 Acacia caffra 5.769 0.920

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4.1.3. Dominância
A área basal total é de 4.969 m2. É de referenciar que tal como na abundância, a Uapaca kirkiana
(Massuco) é também a espécie mais abundante, representando 47% do total, mas desta vez
seguida da Uapaca nitida (16,5%) e não da Brachystegia spiciformis (15%). A Brachystegia
spiciformis é mais abundante e menos dominante que a Uapaca nitida, pois apesar de ela ser
representada por um número maior de indivíduos, possui menor área basal, apresentando assim
menor dominância.

A seguir, as espécie mais abundante são: Brachystegia boehmii (9,1%) e Cussonia arborea
(4,8%). Sendo assim, verifica-se que as espécies mais abundantes são também as mais
dominantes, sendo que as do género Uapaca as mais dominante, representando 63,5% do total,
com uma área basal de 3,15 m2, e o resto das espécie preenchendo uma área basal de 1,8 m2.

As espécies com menor abundância também apresentaram menor dominância, apresentando


nesse caso 8,47 % com cerca de 0,42 de área basal. Nem todas as espécies do género Uapaca
por apresentaram maior dominância, portanto, a Uapaca zanguebarica é uma das espécies que
apresenta uma dominância menor, representando 1,4% do total. As espécies com maior
dominância, significa que elas ocupam maior área superficial que as que apresentam menor
dominância, pois, indivíduos que apresentam maior dominância, apresentam também maior
diâmetro e área basal, que é resultado de um bom crescimento.

Cariola & Netto (2003), num estudo fitossociológico, observaram que as 25 espécies dominantes
representaram cerca de 90% da área basal da floresta, sendo que as espécies menos dominantes
representam a minoria, no entanto, esse resultado não difere muito do obtido com os de este
estudo, onde temos as espécies mais dominantes representando cerca de 93 % o total da área
basal da área amostrada.

Tabela 2: Distribuição da Dominância absoluta e relativa.

N Nome Cientifico Dominância Absoluta Dominância Relativa


1 Uapaca kirkiana 4.40 46.05635
2 Uapaca nitida 1.58 16.49706
3 Uapaca zanguebarica 0.13 1.401471
4 Parinari curatelifolia 0.14 1.489993

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5 Annona senegalensis 0.02 0.253561
6 Brachystegia spiciformis 1.46 15.24033
7 Brachystegia boehmii 0.87 9.101196
8 Cussonia arborea 0.40 4.184563
9 Syzygium guinense 0.07 0.75188
10 Pericarpus angolensis 0.08 0.806946
11 Xeronphis obovata 0.04 0.374579
12 Piliostigma thoningii 0.01 0.092204
13 Acacia caffra 0.35 3.702412
Tabela de Distribuição da Dominância absoluta e relativa.
4.1.4. Frequência

Foi descrito na revisão bibliográfica que o valor da frequência diz se uma é rara, comum ou
constante. Olhando para o tabela 3 abaixo, verifica-se que duas espécies, a Uapaca kirkiana e
Brachystegia spiciformis, apresentam 100 % de frequência, ocorrendo assim em todas parcelas.
A Uapaca nitida, Brachystegia boehmii e cussonia arborea, apresentam uma frequência maior
que 50 %, portanto, são espécies constantes. A Uapaca zanguebarica, Parinari curatelifolia,
Annona senegalensis, Syzygium guinense e Xeronphis obovata, são espécies comuns na área
amostrada, pois possuem uma frequência menor que 49% e maior que 10%. As espécies raras
são Pericopis angolensis e Piliostigma thoningii, com uma frequência menor que 10%, e
ocorrem em apenas uma parcela amostral. Uma das razões da Uapaca kirkiana ser a espécie
mais frequente, é devido a seus frutos que são comidos pelos animais e em seguida dispersadas
as sementes para as demais partes da floresta, bem como a sua dispersão pelo vento.

Daude (2015), analisando a frequência do arboreto da FCA, obteve também 100% de frequência
da Uapaca kirkiana e da Brachystegia spiciformis tal como nesse estudo, no entanto, essas
espécies são usadas para produção de carvão vegetal, sendo a Brachystegia spiciformis a mais
usada. Coriola & Netto (2003), num estudo da estrutura horizontal, observaram que das 34
espécies levantadas, 6 ocorreram em todas as parcelas.

Embora todas as espécies incluídas no levantamento tenham sido observadas crescendo


espontaneamente no local, é notável a diferença entre as suas frequências, sendo algumas muito

20
comuns, e outras bastante raras. Isso se deve, provavelmente, a diferentes níveis de tolerância aos
ambientes e distúrbios antrópicos.

Tabela 3: Distribuição da frequência na área de estudo

Espécie Frequência Classificação

Uapaca kirkiana 100 Constante

Uapaca nitida 84,6 Constante

Uapaca Sansibarica 30,7 Comum

Brachystegia spiciformis 100 Constante

Brachystegia boehmii 84,6 Constante

Cussonia arborea 77 Constante

Piliostigma thoningii 7,7 Rara

Annona senegalensis 23 Comum

Pericopsis angolensis 7,7 Rara

Acacia caffra 23 Comum

Xeronphis obovata 15,3 Comum

Syzygium guineense 15,3 Comum

Parinari curatellifolia 15,3 Comum

Tabela de Distribuição da frequência na área de estudo

21
4.1.5. Índice de Valor Importância

Quanto ao índice de valor importância, que é a soma dos valores relativos da abundância,
dominância e frequência, verificou-se que as espécies que apresentaram valores elevados desses
três parâmetros fitossociológicos, são as mesmas que apresentam valores alto do IVI. A Uapaca
kirkiana, foi a espécie mais importante em termos de distribuição horizontal, pois ela é a mais
abundante, frequente e dominante de todas as espécies presentes na área amostrada, com um IVI
de 97,2 %. Em seguida, a Brachystegia spiciformis (58,1), destacando-se mais pela sua
abundância e frequência.

De uma forma geral, pode se dizer que os valores do índice de importância estão distribuídos da
mesma forma que nos parâmetros anteriormente apresentados sobre as espécies, onde as espécies
do género Uapaca, exceptuando a Uapaca sansibarica, apresentam maior importância ecológica
em termos de distribuição horizontal. As espécies que apresentam menor índice de valor
importância são: Syzygium guineense (4,3%), Piliostigma thoningii (1,7%), Xeronphis obovata
(4,2), Pericopsis angolensis (2,4), Parinari curatellifolia (4,7) e Annona senegalenis (5,1). Essas
espécies tem menor IVI porque primeiro elas apresentam menor número de indivíduos, menor
área basal e se encontram em poucas parcelas amostrais, apresentando assim menor importância
em termos de distribuição horizontal.

Eduardo (2016) no seu estudo observou que as espécies Pericopsis angolensis, Parinari
curatellifolia, Brachystegia spiciformis, Proteia sp. Brachystegia boehmii, Syzygium guineense,
Jubernadia globliflora, Uapaca sansibarica, Uapaca nítida, Terminalia sp, Brachystegia
spiciformis e Parinari curatellifolia, foram as espécies que se destacaram em termos da
abundância, frequência, dominância e consequentemente na importância ecologia em termos de
distribuição horizontal. Para Daude (2015) as espécies com maior IVI foram, a Uapaca kirkiana
e Brachystegia spiciformis, tal como neste estudo.

Gráfico: Distribuição do índice de valor importância das espécies.

22
Distribuição de IVI
IVI

97.21
Valor do IVI

58.11
43.85
36.15
24.4
9.12 8.57 5.12 4.5 4.3 4.23 2.43 1.71

na is a ii a a is e is ii
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a
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r ric lio
a ch B Ua An Pa Pe Pi
Br Especies

Gráfico de distribuição do índice de valor importância das espécies.

4.1.6. Índice de Valor Cobertura


A importância ecológica de uma espécie, pode também ser indicada pelo número de árvores por
hectare e pela área basal, nesse caso pela abundância e dominância. Na tabela 5 abaixo, estão
representados os valores dos índices de cobertura de cada espécie.

A espécie que apresenta maior cobertura é a Uapaca kirkiana (80,1%), pois ela apresenta uma
área basal de 2,29 m2 e 111 indivíduos, sendo por sua vez a espécie que ocupa maior área
superficial, e que apresenta maior número de indivíduos distribuídos na área amostrada. Este
resultado também coincide com os obtidos por Eduardo (2015).

A espécie com menor índice de cobertura é a Piliostigma thoningii (1,7%), pois ela apresenta
uma área basal de 0,005 m2 e apenas um individuo. A raridade dessa espécie pode causada pelo
microclima da região que pode não ser adequado a espécie, ou pelo solo que é muito difícil de
penetração, ou mesmo o solo não apresenta os nutrientes necessários para a devida nutrição da
espécie, entre outros factores.

23
Quanto a estrutura horizontal, analisando o IVC e IVI, observa-se que Uapaca kirkiana e a
Brachystegia spiciformis, apresentam maior importância em termos estruturais, pois estas
espécies apresentam maior área basal, o que as tornas as mais dominantes, maior abundância e
frequência, ocorrendo em todas parcelas amostrais e com maior número de indivíduos. Esse
resultado não difere muito do obtido por Eduardo (2016) e Daude (2014), pois as espécies de
maior importância nos seus estudos são as mesmas.

Gráfico: Distribuição dos índices do valor cobertura da área amostrada.

Distribuição de Indice de valor cobertura


IVC
80.1
Valor do IVC

41
29.38
21.67
11.24
3.85 4.62 1.17 2.1 1.67 1.6 1.1 0.309

na is da ii a a fra sis lia se ta sis gi


i
ik a rm iti h m o re a ric c a e n fo en v a e n in
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Br
Espécies

Gráfico de Distribuição dos índices do valor cobertura da área amostrada.

4.1.7. Índice de Diversidade de Shannon


O valor de índice de Shannon obtido na área amostrada é de 1,77, no entanto, esse valor se
enquadra no intervalo definido para o índice de Shannon. Sendo assim, podemos concluir que a
diversidade ecológica é baixa, já que se aproxima bastante do valor mínimo estabelecido para
este índice. A reduzida diversidade ecológica é devida principalmente a ocorrência de secas
prolongadas e de actividades antrópicas como as queimadas, que frequentemente ocorrem na
encosta sul do monte Unango, levando a morte de muitas plantas, principalmente as que se
encontram em regeneração natural.

24
Para Daude (2015), o índice de diversidade de Shannon foi de 2,67, o que indica uma
biodiversidade moderada.

4.1.8. Índice de Equitabilidade de Pielou


O índice de equitabilidade encontrado na área amostrada é de 0,69. Tendo esse valor, que é
maior que 50%, verifica-se que há uma certa equitabilidade não muito maior e nem menor,
portanto, uma equitabilidade moderada. As espécies estão distribuídas mais ou menos de forma
equitável sobre os indivíduos. Verifica-se também que há espécies dentro da área amostrada com
maior abundância que outras, fazendo com que não haja uma equitabilidade máxima e resulte em
uma distribuição não uniforme dos indivíduos entre as espécies.

4.1.9. Índice de Mc Guinnes


Este índice é também de muita importância, pois indica o padrão de distribuição das espécies em
um determinado povoamento florestal. Na tabela abaixo, estão representados os índices de
diferentes espécies, onde a Uapaca nitida, apresentou o maior valor, com 1,72 de índice de Mc
Guinnes, o que significa que apresenta tendência a agrupamentos. Esse agrupamento pode ser
causado pela dispersão de propágulos da planta mãe em áreas próximas, fazendo com as demais
plantas possam surgir agrupadas.

Verifica-se também que 5 espécies, nomeadamente, Parinari curatelifolia, Annona senegalensis,


Pericarpus angolensis, Piliostigma thonigii e Acacia caffra, apresentam um valor de índice de
Mc Guinnes menor que 1, o que significa que apresentam uma certa uniformidade na
distribuição espacial, distinguindo-se assim do resultado obtido por Eduardo (2016), com apenas
Parinari curatellifolia com uma distribuição uniforme.

Nesse estudo não foram encontradas espécies com uma distribuição aleatória, nem agrupadas.

Tabela: Padrão de distribuição espacial das espécies, segundo o valor do IGA.

Padrão de Distribuição Espacial das Espécies

25
Aleatório Uniformidade Agrupado Tendência a agrupamentos
Parinari curatellifolia Uapaca nitida
Annona senegalensis Uapaca sansibarica
Pericopsis angolensis Brachystegia boehmii
Acacia caffra Cussonia arborea
Piliostigma thoningii Syzygium guineense

Padrão de distribuição espacial das espécies, segundo o valor do IGA.

4.2. Regeneração Natural


Para a regeneração natural, foram colectados dados de regeneração estabelecida e não
estabelecida. Foram encontradas 7 espécies em regeneração distribuídas em 55 indivíduos, onde
em cada classe de regeneração ocorreram 6 espécies.

Num estudo feito na mesma floresta por Maurício (2016), mostrou que de todos indivíduos
levantados, 1862 pertencem a regeneração, dos quais 1271 pertencem a regeneração não
estabelecida e 591 a regeneração estabelecida, no entanto, essa grande diferença deve-se ao
tamanho da área amostrada que foi maior para o estudo desse autor e menor para este estudo.

4.2.1. Regeneração não estabelecida


Para a regeneração não estabelecida, foram encontradas 39 espécies em toda área amostrada,
onde a Brachystegia boehmii apresenta maior valor de regeneração, com 35,4% e representado
por 17 indivíduos. Das 7 espécies em regeneração, 6 são da classe de regeneração não
estabelecida, portanto, a Strychnos spinosa está na classe de regeneração estabelecida.

Gráfico 1: Distribuição da regeneração não estabelecida nas diferentes espécies.

26
Regeneraçao não estabelecida
140
120
100
80
60 RNrel
40 Freq. Relativa
A. relativa
20
N. Individuos
0
a da a ii is is a
kian iti aric h m r m e ns inos
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ak ac
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B

Gráfico de Distribuição da regeneração não estabelecida nas diferentes espécies.

4.2.2. Regeneração Estabelecida


A classe de regeneração estabelecida, engloba indivíduos com diâmetro maior que 5 cm e
inferior a 10 cm. Na área amostrada, ocorrem apenas 6 espécies em regeneração estabelecida,
encontrando-se 16 indivíduos. Verifica-se que a mesma espécie que apresentou maior
regeneração não estabelecida, é a mesma que apresenta maior regeneração estabelecida, pois ser
a Brachystegia boehmii apresenta propágulos que se desprendem facilmente da planta mãe e
originam novos indivíduos.

De acordo com Sitoe (2003) citado por Eduardo (2016), os géneros de Brachystegia e
Julbernardia, no miombo tem maior abundância, portanto, neste estudo verificou-se que o
género Brachystegia, foi um dos que teve maior abundância e dominância, e consequentemente
maior regeneração, exceptuando o género Julbernardia, que não faz parte da riqueza da área de
estudo.

Nem todas as espécies que ocorrem na área de estudo apresentaram regeneração, fala-se da
Cussonia arborea, Acacia caffra, Piliostigma thoningii, Parinari curatellifolia, Xeronphis
obovata e Syzygium guineense. Apesar da Brachystegia spiciformis ser uma das espécies mais
usadas pela comunidade de Unango na produção de carvão vegetal, ela apresentou maior
abundância e consequentemente maior regeneração.

27
Gráfico 2: Regeneração estabelecida das espécies na área amostrada.

Regeneração estabelecida
40
35
30
25
20
15
10 Regeneracao Natural
5 N. de parcelas
0 Numero de individuos
Uapaca zanguebarica
Uapaca kirkiana

Uapaca nitida

Strychnos spinosa
Pericopsis angolensis
Brachystegia spiciformis
Brachystegia boehmii

1 2 3 4 5 6 7

De uma forma geral, verificou-se que a regeneração das espécies da área amostrada é muito
inferior em relação ao número de árvores encontradas na mesma área. Portanto, isso deve-se ao
facto das árvores e arbustos apresentarem maior taxa de mortalidade na fase juvenil e uma certa
tolerância na fase adulta, como resultado das actividades antrópicas, das queimadas que
frequentemente ocorrem nas florestas de miombo, do prolongamento das secas, entre outros
factores, pois as plantas estão mais susceptíveis a esses factores nos seus estágios iniciais de
desenvolvimento.

4.3. Distribuição dos Indivíduos em Classes Diamétricas


Quanto a distribuição dos indivíduos em classes diamétricas, foram tomadas 4 classes
diamétricas, com uma amplitude de 10 cm. Olhando para o gráfico abaixo, verifica-se que mais
se destacou a classe que vai até 10 cm, e a que menos se destacou é a ultima que varia de 30-40
cm.

O gráfico apresenta uma inclinação em forma de j-invertido quando observado. Para Eduardo
(2016) e Daude (2015), o gráfico da estrutura simétrica e o número de indivíduos apresentou a
forma perfeita de j-infertido.

28
Gráfico 3: Distribuição dos indivíduos de acordo com a classe de diâmetro.

Distribuição dos individuos em


classes diametricas
Número de Indivíduos Número de Individuos
176

105

41

4
(0-10) (10-20) (20-30) (30-40)
Classes diamétricas (cm)
Gráfico de Distribuição dos indivíduos de acordo com a classe de diâmetro.

A forma de j-invertido apresentada pelo gráfico, nos faz entender que o maior número de
indivíduos se encontra nas classes diamétricas menores, ou seja, indivíduos com menor diâmetro
são mais abundantes que os de maior diâmetro dentro da área amostrada. De forma geral, as
árvores mais exploradas pela população para fins de produção de carvão e madeira, são aquelas
que apresentam maior DAP, fazendo com que indivíduos com maior DAP sejam menos
abundantes.

29
V. CONCLUSÕES
Depois de ser feito o levantamento de dados na área de estudo, dentro do arboreto dos campos da
FCA, e posteriormente a devida análise e interpretação, pode-se concluir que na área em estudo
ocorrem 13 espécies. As espécies com maior importância em termos de distribuição horizontal
na área de estudo são: Uapaca kirkiana (97,2%), Brachystegia spiciformis (58,1%), Uapaca
nítida (43,8%), Cussonia arborea (24,4%) e Brachystegia boehmii (36,1%).

O índice de diversidade de Shannon da área amostrada é de 1,77, o que significa que nesse
estrato da floresta ocorre pouca diversidade. O índice de equitabilidade de Pielou encontrado é
de 0,69, o que significa que os indivíduos não esta igualmente distribuídos entre as espécies, mas
sim estão distribuídos de maneira moderada.

Em relação a distribuição espacial das espécies, os valores encontrados do IGA indicam que as
espécies apresentam uniformidade e tendência a agrupamentos, onde a Uapaca nitida, Uapaca
sansibarica, Brachystegia boehmii, Cussonia arborea e Syzygium guineense apresentam uma
tendência a agrupamentos, e as restantes, cujo IGA é menor que 1 apresentam uma distribuição
uniforme.

No que diz respeito a regeneração natural, observou que na área amostrada ocorreram 55
indivíduos em regeneração, distribuídos em 7 espécies e nas duas classes de regeneração
(estabelecida e não estabelecida). As espécie são: Uapaca kirkiana, Uapaca nitida, Uapaca
sansibarica, Brachystegia boehmii, Brachystegia spiciformis, Pericopsis angolensis e Strychnos
spinosa. As espécies com maior regeneração são as mesmas que apresentaram maior IVI e, no
entanto, maior importância em termos de distribuição horizontal. As actividades antrópicas,
como a exploração de combustível lenhoso e queimadas descontroladas, são as principais causas
que levam variação da vegetação arborea, levando a morte certos indivíduos e facilitando a
regeneração de algumas espécies.

30
VI. RECOMENDAÇÕES
Recomenda-se que:

 A FCA de Unango passe a fazer actividades permanentes de maneio no arboreto, de


modo a acompanhar activamente o crescimento e desenvolvimento das árvores.
 A FCA possa fazer divisões do arboreto em estratos ou parcelas permanentes e bem
visíveis, de modo a facilitar estudos posteriores e facilitar as actividades de maneio;
 Se melhore as actividades que visam minimizar o impacto das queimadas, pois essas
eliminam boa parte das plantas em regeneração.
 Nos programas de extensão desenvolvidos pela FCA, possa se sensibilizar a comunidade
a fazer queimadas controladas e uso sustentável dos recursos florestais.
 Os estudantes de engenharia florestal apostem mais em pesquisas, sobretudo nas matas,
de modo a identificar problemas, suas causas e possíveis soluções.

31
VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Chaves, Alan Del Carlos Gomes et al. (2013). A importância dos levantamentos florístico e
fitossociológico para a conservação e preservação. Revista ACSC. Sao paulo.

CORAIOLA, Márcio; NETTO, Sylvio Pellico. (2003). Análise da estrutura horizontal de uma
Floresta estacional semidecidual localizadaNo município de cássia-mg. Curritiba

Daude, Ivan Abdul. (2015). Estrutura e diversidade da componente arbórea do arboreto na


encosta sul do monte unango distrito de sanga. Moçambique

EDUARDO, Vinódia Maurício. (2016). Avaliação do estado de degradação das florestas de


unango sede. Moçambique: 77Pp.

GOMES, Abílio Soares.(2004). Analise de dados ecológicos. (S.E). Niteroi. 30PP.

INE, I. N. (2013). Estatísticas do Distrito de Sanga. Sanga: Instituto Nacional de Estatística .

Simões, Marcelo Christovam. (2015). Informações obtidas de levantamentos fitossociológicos.


Disponível em: http://www.matanativa.com.br/blog/levantamentofitossociologico. Acesso aos
23/09/2017 pelas 20h:58.

SILVESTRE, Raul. (2009).Comparação da florística, estrutura e padrão Espacial em três


fragmentos de floresta ombrófila Mista no estado do paraná. (S.E) Curtiba. 89Pp.

SOARES, Paulo. (2009). Levantamento fitossociológico de regeneração natural em


reflorestamento misto no noroeste de Mato Grosso. (S.E). Cuibá. 50Pp.
RAPAU. (2014). Relatório das actividades desenvolvidas durante um ano, de Janeiro a
Dezembro 2014.

RIBEIRO, Natasha. (2002). Manual de silvicultura tropical. UEM. Maputo. 130p.

32
APÊNDICES
Tabela de cálculo de Índice de Shannon
N Especies N. Pi Ln Pi PixLnPi
Indivi
1 Uapaca kirkiana 111 0.3404 -1.07736718 -0.36683
9
2 Uapaca nitida 42 0.1288 -2.049227763 -0.26401
3
3 Uapaca 8 0.0245 -3.70745584 -0.09098
zanguebarica 4
4 Parinari curatelifolia 2 0.0061 -5.093750201 -0.03125
3
5 Annona senegalensis 3 0.0092 -4.688285093 -0.04314
6 Brachystegia 84 0.2576 -1.356080583 -0.34942
spiciformis 7
7 Brachystegia boehmii 41 0.1257 -2.073325315 -0.26076
7
8 Cussonia arborea 23 0.0705 -2.651403165 -0.18706
5
9 Syzygium guinense 3 0.0092 -4.688285093 -0.04314
10 Pericarpus 1 0.0030 -5.786897381 -0.01775
angolensis 7
11 Xeronphis obovata 4 0.0122 -4.40060302 -0.054
7
12 Piliostigma thoningii 1 0.0030 -5.786897381 -0.01775
7
13 Acacia caffra 3 0.0092 -4.688285093 -0.04314
Tota   326     1.769241
l

Tabela de regeneracao estabelecida

33
n A. CAT CAT RNre
N Nome Cientifico N i ab A. R F.A F.R i R l
15.
1 Uapaca kirkiana 2 2 3.8 3.6 3 5.7 0.58 12.5 7.28
2 Uapaca nitida 1 1 1.9 1.8 7.6 2.8 0.2 6.2 3.64
3 Uapaca zanguebarica 1 1 1.9 1.8 7.6 2.8 0.2 6.25 3.6
38. 14.
4 Brachystegia boehmii 7 5 13.4 12.7 4 2 2.0 43.7 23.6
Brachystegia 15. 5.7
5 spiciformis 3 2 5.7 5.4 3 1 0.8 18.7 9.9
6 Pericorpus angolensis     0 0 0 0 0 0 0
15.
7 Strychnos spinosa 2 2 3.8 3.6 3 5.7 0.5 12.5 7.2
1 29.090909 37.
  Total 6   30.7 3 100 1 4.6 100 55.4

Tabela de regeneração não estabelecida


N. A. Freq. Freq.
Nome Individ n A. relativ absolut Relativ CAT RNr
N Cientifico uos i absol a a a CATi R el
Uapaca 9.615 9.0909 30.7692 11.4285 2.836 16.0 12.1
1 kirkiana 5 4 3846 09157 3077 7143 3636 0657 7535
3.846 3.6363 15.3846 5.71428 1.418 8.00 5.78
2 Uapaca nitida 2 2 1538 63663 1538 5715 1818 3283 4644
Uapaca 1.923 1.8181 7.69230 2.85714 0.709 4.00 2.89
3 zanguebarica 1 1 0769 81831 7692 2857 0909 1642 2322
Brachystegia 1 32.69 30.909 84.6153 31.4285 44.0 35.4
4 boehmii 17 1 2308 09113 8462 7143 7.8 1806 5191
Brachystegia 23.07 21.818 38.4615 14.2857 3.545 20.0 18.7
5 spiciformis 12 5 6923 18198 3846 1429 4545 0821 0403
6 Pericorpus 2 2 3.846 3.6363 15.3846 5.71428 1.418 8.00 5.78

34
angolensis 1538 63663 1538 5715 1818 3283 4644
Strychnos
7 spinosa     0 0 0 0 0 0 0
70.909 192.307 71.4285 17.72 100. 80.7
  Total 39   75 0914 6923 7144 727 041 929

Tabela de parâmetros fitossociológicos

A. IVI IVC.
ID Especies N A.bs R DR F. Ab F. R Do.R .A Abs IVC. R

97.
Uapaca 34. 34.0 21
1 kirkiana 111 213.4 049 49 100 17.10 46.05 1 80.105 40.05

43.
Uapaca 80.76 12. 12.8 84.61 85
2 nitida 42 9 883 83 5 14.47 16.4 4 29.380 14.69

Uapaca 15.38 2.4 2.45 30.76 9.1


3 zanguebarica 8 5 54 4 9 5.26 1.4 19 3.855 1.92

Parinari 0.6 0.61 15.38 4.7


4 curatelifolia 2 3.846 13 3 5 2.631 1.4 35 2.103 1.05

Annona 0.9 0.92 23.07 5.1


5 senegalensis 3 5.769 20 0 7 3.94 0.25 21 1.174 0.58

58.
Brachystegia 161.5 25. 25.7 100.0 11
6 spiciformis 84 38 767 67 00 17.10 15.24 2 41.007 20.50

35
36.
Brachystegia 78.84 12. 12.5 84.61 15
7 boehmii 41 6 577 77 5 14.47 9.10 2 21.678 10.83

24.
Cussonia 44.23 7.0 7.05 76.92 39
8 arborea 23 1 55 5 3 13.15 4.18 8 11.240 5.61

Syzygium 0.9 0.92 15.38 4.3


9 guinense 3 5.769 20 0 5 2.63 0.98 04 1.672 0.83

Pericarpus 0.3 0.30 2.4


10 angolensis 1 1.923 07 7 7.692 1.31 0.80 29 1.114 0.55

Xeronphis 1.2 1.22 15.38 2.68. 4.2


11 obovata 4 7.692 27 7 5 0 0.37 33 1.602 0.80

Piliostigma 0.3 0.30 1.7


12 thoningii 1 1.92 07 7 7.692 1.31 0.09 15 0.399 0.19

0.9 0.92 23.07 8.5


13 Acacia caffra 3 5.76 20 0 7 3.94 3.71 70 4.623 2.31

29
100. 584.6 9.9
Total   326 626. 100 000 15 100 99.9 53 199.95 99.97

36
37

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