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DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE Bauhinia cheilanta (Bong).

Steud, (FABACEAE:
CAESALPINOIDEAE) EM UM FRAGMENTO DE FLORESTA ESTACIONAL
DECIDUAL EM MONTES CLAROS, MG.
Thaíse de Oliveira Bahia1, Leonardo Queiroz de Oliveira2, Matheus Lopes Souza2, Hisaias de
Souza Almeida3, Anne Priscila Dias Gonzaga4, Maria das Dores Magalhães Veloso 3, 5, Yule
Roberta Ferreira Nunes5. (1 Laboratório de Ecologia e Propagação Vegetal, Universidade
Estadual de Montes Claros - UNIMONTES, Campus Universitário Prof. Darcy Ribeiro, CP
126, CEP 39401-089; 2 Graduação em Ciências Biológicas - UNIMONTES; 3 Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Lavras – UFLA; 4.
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Universidade de Brasília – UnB; e-
mail: thaise_bio@yahoo.com.br)
Termos para indexação: distribuição espacial, agregação, Bauhinia cheilanta, Mata Seca,
autocoria.

Introdução
A distribuição espacial das espécies consiste na forma como os indivíduos estão
distribuídos numa dada área (Ricklefs, 2003). Geralmente, o padrão espacial dentro de uma
população descreve o espaçamento de um individuo em relação ao outro, variando desde um
arranjo agregado, no qual os indivíduos são encontrados em grupos discretos, a um
espaçamento uniforme, em que os indivíduos mantêm uma distancia mínima entre si. Entre
esses extremos, encontra-se a dispersão aleatória, ou ao acaso (Silva, 2006). Alguns fatores
bióticos e abióticos influenciam os padrões de distribuição espacial de plantas, dentre eles, o
tipo de dispersão de sementes, o tipo de solo, a competição, a disponibilidade de luz, dentre
outros (Budke et al., 2004).
As plantas que possuem mecanismos de dispersão próprios, chamadas autocóricas,
dispersam suas sementes apenas a curtas distâncias, principalmente ao redor da planta-mãe.
Há plantas com dispersão zoocórica, nas quais as sementes são dispersas por animais. As
anemocóricas, que dispersam suas sementes através do vento, estas últimas bastante
representativas nas Florestas Tropicais Secas. Assim, o conhecimento dos processos de
distribuição espacial das espécies nas florestas é importante para compreender os mecanismos
ecológicos que regem a diversidade natural (Vieira & Scariot, 2006).
Os mecanismos ecológicos das Florestas Estacionais Deciduais (Matas Secas) em toda a
sua área de ocorrência ainda são poucos estudados, especialmente quando se trata de algumas
espécies como é o caso da B. cheilantha que ocorre, predominantemente, neste tipo
fisionômico. O conhecimento gerado a partir de estudos como de regeneração, banco de
sementes, fenologia, distribuição, dispersão, biomassa, entre outros, pode dar subsídios para
planos de recuperação e manejo para esse tipo de floresta, que é constantemente ameaçada
pela ação antrópica (Vieira & Scariot, 2006). Portanto, este trabalho teve como objetivo
investigar o modelo de distribuição espacial dos indivíduos B. cheilantha em um fragmento
de Floresta Estacional Decidual, em Montes Claros, MG, relacionando o padrão de
distribuição com as características ecológicas desta espécie.

Material e Métodos
Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. (Fabaceae: Caesalpinioideae), segundo Oliveira-
Filho (2006), é considerada espécie muito rara. Seu porte é arbóreo, atingindo até 6 m de
altura. No Brasil é encontrada nos estados do nordeste, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul, no corredor seco diagonal formado pela Caatinga e Cerrado. Para este estudo
foi selecionado um fragmento de Floresta Estacional Decidual (Mata Seca Calcária)
localizado a aproximadamente 10 km da cidade de Montes Claros, no muncicípio de Montes
Claros, norte de Minas Gerais (16°38’52,4”S e 43°53’15,2”W), com altitude variando entre
787 e 798 m. Este remanescente possui uma área total de aproximadamente 1,5 ha,
contornado por pastagem. A vegetação local sofreu diversas ações antrópicas, principalmente
o corte seletivo e atividades agropastoris, e encontra-se em diferentes níveis de regeneração.
Para obtenção dos dados de distribuição espacial foram utilizadas parcelas e sub-
parcelas alocadas para o levantamento florístico e estrutural da comunidade arbórea e da
regeneração natural (veja Nunes et al., 2008). No levantamento do estrato arbóreo foram
confeccionadas 13 parcelas 400 m2 cada, correspondendo a uma área de 0,52 ha. Neste estrato
os indivíduos de B. cheilantha com DAP (diâmetro a altura do peito, a 1,3 m do solo) ≥ 5 cm
foram marcados e contados. Dentro de cada parcela foram demarcadas sub-parcelas de 5 × 5
m para a amostragem do estrato das arvoretas, onde indivíduos de B. Cheilantha com
tamanho ≥ 1,0 cm de DAS (diâmetro à altura do solo) e com DAP < 5,0 cm foram contados; e
sub-parcelas de 2 × 2 m, para amostragem do estrato dos juvenis, onde os indivíduos da

espécie com altura ≥ 10 cm e DAS <1,0 cm foram considerados (Figura 1) (Nunes 2005; Pinto
& Hay 2005).
Figura 1. Esquema da configuração das parcelas 20 × 20 m (estrato arbóreo), 5 × 5 m (estrato das
arvoretas) e 2 × 2 m (estrato dos juvenis) utilizadas no levantamento florístico e estrutural de um
fragmento de Floresta Estacional Decidual em Montes Claros, MG.

As coletas dos dados foram realizadas durante os meses de maio e junho de 2005.
Posteriormente foi calculada a densidade absoluta (número de indivíduos por hectare), esse
índice avalia o grau de participação da espécie na composição vegetal (Silva, 2006). Para
avaliar o padrão de distribuição espacial da espécie, utilizou-se o Índice de Distribuição
Espacial de Poisson através da seguinte fórmula: D = σ2/m, sendo σ a variância e m a média
de indivíduos pelo total de parcelas, quando D<1 é uniforme, quando o D=1 a distribuição é
aleatória e quando D>1 é agregada. Para constatar a significância do Índice de Poisson foi
calculado o valor de qui-quadrado seguindo a expressão: X²= Σ(fo-fe)2/fe. Sendo fo a
freqüência observada de indivíduos por parcela e fe a freqüência esperada dos mesmos.

Resultados e Discussão
Foram amostrados na área um total de 189 indivíduos de B. cheilantha distribuídos
diferentemente entre os estratos arbóreo, arvoretas e juvenis (Figura 2), sendo
respectivamente 40 árvores, 88 arvoretas e 61 são juvenis. Apesar do número de indivíduos
do estrato das arvoretas ter sido maior do que juvenis, pode-se perceber, através da densidade
absoluta (tabela 1), que há uma proporção normal de indivíduos regenerantes em relação aos
outros estratos (Barreira et al., 2002).

Figura 2. Comparação do número de indivíduos por parcelas de acordo com o estrato arbóreo-
arbustivo.
Algumas das parcelas são mais densamente ocupadas do que outras como é o caso das
parcelas 3, 4 e 5 nos três estratos avaliados. Isto indica certa agregação destes indivíduos,
onde os regenerantes se desenvolvem próximos aos adultos. A agregação é influenciada
fortemente pelos diversos fatores e depende da resposta de cada espécie, como o tipo de
dispersão das sementes, distâncias das árvores matrizes, das condições ambientais como luz e
características do solo, relações fitossociológicas, heterogeneidade de recursos, microhábitats,
como manchas no solo com de condições de estabelecimento para a espécie em estudo (Lima-
Ribeiro & Prado 2007).

Tabela 1. Comparação da distribuição dos indivíduos de Bauhinia cheilantha por estrato. Ni= o
número de indivíduos em cada parcela, DA= o número de indivíduos por hectare, D= Índice de
Poisson (índice observado), X²= Qui-quadrado.
Ni DA (ind/ha¹) D X²
Árvores 40 76,9 21,99 26,43
Arvoretas 88 2.738,4 466,23 132,34
Juvenis 61 11.730,8 410,82 343,06
De acordo com o Índice de Dispersão de Poisson a distribuição tende a agregado nos
três estratos, sendo D de agregação maior nas arvoretas, seguido do estrato dos regenerantes
(juvenis) e a menor tendência a agregação nos adultos (arbóreo). Para os três estratos o qui-
quadrado foi de 26,43; 132,34 e 343,06, para as árvores, arvoretas e juvenis, respectivamente,
para todos o p< 0,001. A variação entre o número de indivíduos vai do 0 a 8 indivíduos no
estrato arbóreo, do 0 a 23 no estrato das arvoretas e de 0 a 24 no dos juvenis, sendo assim, a
distribuição agregada é observada sempre que, em parcelas semelhantes, o número de
indivíduos varia muito de uma parcela para outra, de modo que em algumas parcelas não se
encontra nenhum indivíduo e em outras um número expressivo (Budke et al., 2004). Segundo
Odum (1988) populações agregadas precisam ter amostras maiores e bem planejadas, pois,
amostras pequenas tendem a dar resultados bastante diferentes com densidade baixa ou alta
demais, o que também foi notado em Budke et al. (2004).
O resultado encontrado pode ser explicado parcialmente pela própria dispersão
autocórica da espécie, já que espécies do gênero Bauhinia apresentam esse tipo de dispersão
(Vaz & Tozzi, 2003). Deste modo, as sementes tendem a se desenvolver próximas a planta
matriz, determinando assim o padrão agregado de distribuição. A partir disso, pode-se inferir
que a agregação se dá de modo que um indivíduo adulto fica circundado por indivíduos
jovens e juvenis. Os indivíduos que apresentam distribuição agregada tem predisposição a
formar grupos, indicando que pode haver uso comum de recursos, ou seja, não há competição
por espaço ou luz (Ricklefs, 2003; Antonini & Nunes-Freitas, 2004) Além disso, como a
população localiza-se em Mata Seca Calcária e esse tipo de fisionomia naturalmente é
fragmentada, então a luz não se torna um fator limitante para o crescimento da espécie
(Ivanauskas & Rodrigues, 2000). Várias plantas do cerrado também apresentam distribuição
agrupada, como a Qualea paviflora MART. e Vernonia aurea MART. ex. DC (Lima-Ribeiro
& Prado 2007; Souza & Coimbra 2005).

Conclusões
A espécie Bauhinia cheilanta (Bong). Steud apresentou padrão de distribuição
espacial agregado, provavelmente influenciado pelo modo de dispersão autocórico
característico da espécie.

Referências Bibliográfica
BARREIRA, S; SCOLFORO, J. R. S.; BOTELHO, S. A. & MELLO, J. M.. Estudo da estrutura
da regeneração natural e da vegetação adulta de um cerrado senso stricto para fins de manejo
florestal. Scientia Forestalis. n. 61, p 64-78. 2002.

BUDKE, J. C.; GIEHL, E. L. H.; ATHAYDE, E. A. & ZACHIA, R. A. Distribuição espacial de


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IVANAUSKAS, M. N. & RODRIGUES, R. R..Floristica e Fitossociologia de remanescentes de


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NUNES, Y. R. F., D’ÂNGELO-NETO, S. & VELOSO, M. D. M. 2008 Relatório técnico final:


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PINTO , J. R. R. & HAY . J. D V. Mudanças florísticas e estruturais na comunidade arbóreas de


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SOUZA, J. P. & COIMBRA, F. G. Estrutura populacional e distribuição espacial de Qualea
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