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Biodiversidade
Unidade II
A importância dos
indicadores para o gestor
Capítulo 1
A importância dos indicadores para
o gestor
Na Unidade I, abordamos o que significa biodiversidade. Apresentamos alguns padrões encontrados na
natureza de biodiversidade, de espécies em diferentes ecossistemas, bem como os fatores que podem
influenciar no aumento ou no decréscimo da biodiversidade. Foram apresentadas algumas hipóteses para
explicar a diferença da biodiversidade em áreas tropicais e temperadas.
Nesta unidade, falaremos sobre como mensurar a biodiversidade. Vimos que a biodiversidade é composta
por dois elementos: a riqueza de espécies (número de espécies) e a abundância (o número de indivíduos
de cada espécie). Abordaremos, então, técnicas de amostragem para se determinar a abundância de uma
determinada espécie em um ambiente, como também serão apresentados alguns índices de biodiversidade
utilizados em Ecologia para se mensurar a biodiversidade.
Quantificar a biodiversidade foi sempre um desejo dos ecólogos, principalmente em áreas de manejo e
conservação. Durante o tempo foram surgindo diferentes modelos matemáticos, coeficientes e índices para
que se pudesse mensurar a biodiversidade e ao mesmo tempo que esses valores pudessem ser comparados
temporalmente ou entre áreas diferentes.
Pode-se considerar que existem três principais razões que justificam o grande interesse demonstrado pelos
ecólogos na aplicação de meios eficazes para a quantificação da diversidade de espécies em comunidades
ecológicas (Magurran, 1988):
A diversidade de espécies pode ser medida considerando-se, sempre, um grupo bem definido de
organismos, como, por exemplo:
KREBS (1989), constitui uma etapa de grande importância na quantificação da diversidade de espécies
pelas seguintes razões:
Uma amostragem correta é muito importante na mensuração da diversidade porque a grande maioria
dos índices de diversidade empregados apresenta dois componentes: primeiro, a riqueza de espécies,
que se refere ao número de espécies presentes na comunidade estudada e, em segundo, a abundância
relativa das espécies, que se refere à forma como os indivíduos encontram-se distribuídos entre as
diferentes espécies presentes na comunidade estudada (HELTSHE & FORRESTER, 1983). A riqueza de
espécies apresenta uma forte tendência de crescer com o aumento da área amostrada e com o aumento
do número de indivíduos coletados. Outrossim, quanto mais indivíduos são incluídos na amostra, maior
se torna a possibilidade de ocorrer espécies raras nessa amostra. Essas tendências deixam claro que
o valor final assumido pela grande maioria dos índices de diversidade, que levam em consideração a
riqueza e a abundância relativa das espécies, sofrem influência do tamanho da amostra e, assim, o
método e a intensidade de amostragem utilizados podem introduzir erros estatísticos e ecológicos nas
comparações da diversidade entre comunidades, quando a metodologia e a intensidade de amostragem
não são padronizados, particularmente nos aspectos que se referem ao tamanho da amostra, método
de coleta de dados e tempo de coleta de dados (BROWER & ZAR, 1984).
Não só em estudos de diversidade, mas em outros estudos ecológicos, não se constitui em tarefa muito
fácil garantir com segurança total que a amostra tomada em um estudo constitui uma fiel representante
da comunidade estudada. Apesar dessa dificuldade inerente no processo de amostragem, pelo menos
algumas premissas de fundamental importância devem ser observadas, para contribuir para minimizar
erros estatísticos e ecológicos no estudo da diversidade. As premissas que devem ser consideradas são
(BROWER & ZAR, 1984):
Estabelecimento de um método de amostragem adaptado para
fornecer uma amostra aleatória da comunidade estudada
A medida da diversidade exige a identificação correta dos organismos coletados na comunidade estudada,
sempre que possível em nível de espécie. Em uma dada comunidade estudada, cuja identificação dos
organismos não seja possível devido à falta de conhecimento ou outros fatores, a identificação em nível
de “morfoespécie” ou mesmo em níveis taxonômicos superiores pode ser aceita (BROWER & ZAR, 1984).
A grande maioria dos métodos de medição da diversidade de espécies exige alguma forma de
quantificação da abundância relativa das espécies presentes na amostra da comunidade estudada. Essa
quantificação pode ser realizada das seguintes formas (HELTSHE & FORRESTER, 1983):
A escolha de uma técnica de amostragem depende de vários fatores, tais como os objetivos do levantamento,
tipos de informações prévias disponíveis, características da área a ser estudada e parâmetros de interesse que
serão obtidos através das estimativas. A rigor, existem dois grandes grupos de amostragem: a amostragem
aleatória - que pode ser irrestrita ou restrita - e a amostragem não-aleatória - que pode ser sistemática ou
seletiva (ODUM, 1986).
Tipos de amostragens
Uma vez definidas as faixas a serem amostradas em uma determinada vegetação, é sorteada
apenas a primeira unidade de amostra. As demais se sucedem a intervalos constantes,
definidos em função das características da vegetação em estudo, preferivelmente
Amostragem Sistemática
atravessando toda a extensão da área inventariada. A amostragem aleatória pode ser feita
em faixas regulares e de comprimento uniforme ou em faixas de tamanho e forma variados
(ODUM, 1986).
A distribuição espacial diz respeito ao arranjo das espécies vegetais em determinada área. LUDWIG & REYNOLDS
(1988) ressaltam que o estudo da distribuição espacial das espécies vegetais representa o primeiro passo para
o entendimento das florestas tropicais e para o estudo detalhado de seus componentes.
A distribuição espacial de espécies vegetais pode ser de três tipos (BEGON et al. 1996; LUDWIG & REYNOLDS, 1988):
Fonte: https://pt.khanacademy.org/science/biology/ecology/population-ecology/a/population-size-
density-and-dispersal
Um método bastante simples avalia a razão (I) entre a variância (s2) e a média (x) estimada da distribuição
de indivíduos (abundância) de uma população, conforme equação abaixo, onde: xi é o n° de indivíduos em
cada parcela, x é a média do n° de indivíduos por unidade amostral e N é o n° de unidades amostrais (LUDWIG
& REYNOLDS, 1988):
Cálculo do tipo de distribuição espacial
Onde: Onde:
• D < 1 Indica uma distribuição uniforme • I.G < 0 = numa distribuição uniforme
• I.D ~ 1 Indica uma distribuição aleatória • I.G ~
= 0 = numa distribuição aleatória
• I.D >= 1 Indica uma distribuição em agregados • I.G > 0 = numa distribuição em agregados
Pielou, 1969 Ludwig & Reynolds, 1969
Alguns fatores podem influenciar no tipo de distribuição espacial, como, por exemplo, o tipo de solo,
o tipo e tamanho das sementes, o tipo de dispersão das sementes, e a dispersão de predadores
específicos das sementes (LUDWIG & REYNOLDS, 1988).
Usa distâncias de plantas selecionadas para outra planta ou de pontos aleatórios para as plantas
adjacentes. Sua principal vantagem é evitar o efeito do tamanho da parcela (ODUM, 1986) (Figura 2).
Figura 2
Método das distâncias
Fonte: IFHT (2018), a partir de LIMA (2015).
Altura
Diâmetro
Distância
Os conhecimentos gerados a partir dos estudos de ecologia vegetal são uma ferramenta importante
para o conhecimento dos recursos vegetais de uma dada área e sua posterior utilização sustentável e
conservação.
No caso de populações animais, além do método de quadrantes, pode-se utilizar o método de marcação
e recaptura para definir uma população, quando esta é uma população móvel (ex. roedores, insetos,
morcegos, etc.) (ODUM, 1986).
Método de marcação e recaptura (Índice de Lincoln)
ATENÇÃO
Condições necessárias para aplicação do método:
1 https://gai.ifht.net.br/pluginfile.php/6636/mod_folder/content/0/documentos/uni-
dade2/artigo-1.pdf
2 https://gai.ifht.net.br/pluginfile.php/6636/mod_folder/content/0/documentos/uni-
dade2/artigo-2.pdf
Capítulo 5
Descritores quantitativos em
estudos de diversidade
Ao longo dos anos, uma ampla variedade de índices destinados a medir a diversidade de espécies e seus
componentes (riqueza, abundância e equabilidade) em comunidades ecológicas vem sendo proposta. No presente
texto, serão apresentados e discutidos, quanto à aplicação, aqueles que vêm sendo mais amplamente difundidos
e empregados nas práticas de análise, monitoramento e manejo ambiental (PEREIRA & HENRIQUE, 1996).
O índice de diversidade de Simpson foi o primeiro usado em ecologia, tendo sido proposto como uma
medida de diversidade em 1949, no conceituado periódico científico Nature. Ele fornece a probabilidade
de que dois indivíduos tomados ao acaso de uma amostra com N indivíduos e S espécies sejam
pertencentes à mesma espécie. Assim, quanto maior o valor assumido pelo índice, menor é a diversidade
de espécies estimada para a amostra (Ludwig & Reynolds, 1988).
O índice de diversidade de Simpson, foi proposto para ser utilizado em casos nos quais se trabalha com
comunidades infinitas, isto é, onde o número total de indivíduos na amostra é diferente do número total
de indivíduos na comunidade.
Essa é a situação mais comum quando se trabalha com estimativas da diversidade. É importante
ressaltar que a utilização de DS é apropriada para estimar a diversidade quando os dados coletados
apresentam-se na forma de contagem de indivíduos. O índice de Simpson é dado pela fórmula da Figura 3.
Onde:
Figura 3
Cálculo do índice de Simpson
Um inconveniente matemático do índice de diversidade proposto por Simpson é que ele fornece uma medida
inversa da diversidade, isto é, quanto maior o valor assumido pelos índices, menor é a diversidade (HELTSHE
& FORRESTER, 1983). Para contornar esse inconveniente, alguns autores preferem apresentar esses índices
das seguintes maneiras (Figura 4):
OU
Figura 4
Formas de apresentação dos índices
Índice de Diversidade de Shannon-Wiener (H’)
Onde:
Figura 5
Fórmula do índice Shannon-Wiener
Capítulo 6
Você pode ter achado estranho um monte de fórmula matemática numa disciplina de Biodiversidade e mais
especificamente num curso de MBA em Gestão ambiental. Mas, fica fácil agora entender como surgem
determinados termos como “redução da biodiversidade”, “modificação da biodiversidade” no processo de
Gestão ambiental, até mesmo essa terminologia fora aplicada em outras disciplinas deste curso. Isso porque
a Biodiversidade pode ser mensurada e analisada, permitindo fazer comparações com uma série histórica
temporal, ou comparações geográficas, ou seja, permitir saber qual área possui maior Biodiversidade. Como
Gestor do Ambiental deve-se conhecer ou até mesmo saber aplicar as ferramentas adequadas para se
detectar mudanças, variações, alterações na biodiversidade de uma área (HELTSHE & FORRESTER, 1983).
Imagine que você é um Gestor de uma Unidade de Conservação do tipo Reserva Biológica, cujo objetivo em
lei (Lei 9985/2000) é a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites,
sem interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação de
seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural,
a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais. Certamente, você precisará de parâmetros para
traçar objetivos e metas para alcançar esses objetivos.
Então é possível trabalhar com esses dados para a construção de gráficos ou mapas, por exemplo, que
permitam visualizar e acompanhar a biodiversidade. Vejamos alguns exemplos (Figuras 6 e 7):
Figura 6
Gráfico de quantidade de ocorrências
Fonte: http://www.icmbio.gov.br/sisbio/
estatisticas.html
Figura 7
Alvos de conservação para atualização das
áreas prioritárias para biodiversidade - Mapa de
ambientes aquáticos (Amazônia)
Fonte: http://www.terrabrasilis.org.br/
ecotecadigital/pdf/mapa-de-ambientes-
aquaticos-amazonia-al.pdf
ATENÇÃO
Assista o vídeo a seguir. Ele vai te ajudar a esclarecer o cálculo:
Vídeo 1
Estimativa do crescimento populacional utilizando o método aritmético e o método geométrico
Fonte: https://www.youtube.com/embed/jpaaqDUVBC8
Outro exemplo é o Projeto Hidrelétrico Belo Monte (Brasil) que foi construído no Rio Xingú, município de Altamira,
no Pará. A barragem é a terceira maior do mundo e já devastou uma extensa área de floresta tropical brasileira.
O projeto vai deslocar mais de 20 mil pessoas, ameaçando a sobrevivência das tribos indígenas Kayapó, que
dependem do rio.
Figura 8
Projeto Hidrelétrico Belo Monte (Brasil)
Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/usina-belo-monte.htm
Artigo publicado na Revista Forbes previa que Belo Monte não terá grandes benefícios econômicos se comparado
aos altos custos sociais e ambientais, tais como o desvio dos afluentes do Xingu, que impedirá a navegação e a
pesca local. Mas esta não é a única barragem no rio, o governo está planejando outras implementações locais.
O projeto é propriedade do consórcio Norte Energia, em sua maioria de propriedade do governo, a Vale também
tem cerca de 5% do mesmo e está sendo financiado pelo BNDES. Segundo os opositores do projeto, Belo Monte
será fonte de energia elétrica para as operações de mineração da Vale no Pará.
A violência também é uma característica deste conflito. Em 2014, 20 índios da Amazônia foram até o local da
barragem de Belo Monte para exigir compensação às comunidades indígenas. A polícia atirou neles com balas
de borracha e granadas de efeito moral, ferindo quatro deles (The Ecologist, 2014).
MATERIAL COMPLEMENTAR
1 http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:2ws_YJ_U40kJ:www.
acszanzini.net/wp-content/uploads/material/livros/Descritores%2520Quantitati-
vos%2520de%2520Riqueza%2520e%2520Diversidade%2520de%2520Esp%25C3%25A-
9cies.doc+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br
Capítulo 7
Você pode perceber que a biodiversidade pode ser mensurada e medida. Não é algo apenas conceitual e abstrato.
Pode ser utilizada como ferramenta para o manejo e a conservação de ecossistemas.
Há na literatura diferentes índices de diversidade que podem ser utilizados para determinar a diversidade em
uma comunidade biológica. Ecólogos estão interessados em medir a diversidade por diversas razões, sobretudo
por sua utilidade em Biologia da conservação e na avaliação ambiental (PEREIRA & HENRIQUE, 1996). Medidas
de diversidade de espécies são geralmente úteis para comparar padrões em diferentes locais ou em diferentes
gradientes, ou, ainda, em uma mesma área ao longo do tempo, como, por exemplo, ao longo de uma sucessão,
ou após um distúrbio. Além disso, a avaliação de espécies raras é útil para direcionar esforços de conservação. .
O interesse de ecólogos em explicar porque algumas áreas são mais ricas em espécies do que outras, ou porque
uma espécie é abundante em um local, mas rara em outro, tem estimulado pesquisas sobre diversidade de
habitats e largura de nicho. Nesses casos, as mesmas medidas para avaliação da diversidade de espécies podem
ser utilizadas.