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19/01/2005 - 19h35

Califórnia retoma pena de morte e executa preso – (caso


de pena de morte que gera polémica)

Por Natalia Martín Cantero São Francisco (EUA), 19 jan (EFE).- A execução de Donald
Beardslee na Califórnia, a primeira decidida pelo governador Arnold Schwarzenegger,
aponta para um endurecimento da política num estado que raramente aplica a pena de
morte.
Beardslee, assassino confessou a morte de duas mulheres em 1981, foi o primeiro
preso executado nos três últimos anos na Califórnia, estado com maior número de
prisioneiros no corredor da morte (640, mais do que no Texas), mas que raramente
aplica a pena de morte.
A execução de Beardslee, veterano da Força Aérea dos EUA de 61 anos, aconteceu na
prisão de San Quintín, ao norte de São Francisco.
As autoridades declararam-no morto às 08.29 GMT (06.29, horário de Brasília) da
quarta-feira, cerca de meia hora depois de ter recebido uma injecção letal. Entre as 30
pessoas que testemunharam sua execução - 13 delas representantes da imprensa - não
havia nenhum familiar, segundo os porta-vozes da prisão.
Segundo eles, Beardslee, que passou os seus últimos momentos com a sua advogada e
uma religiosa, rejeitou o direito de escolher a última refeição e só ingeriu um suco de
uva.
Schwarzenegger tinha decidido pela execução dele algumas horas antes, quando
resolveu negar o perdão ao réu. O governador disse em comunicado: "os tribunais
afirmaram a culpa e a sentença de Beardslee, e nada em seu requerimento indica que ele
não compreendesse a gravidade das suas acções".
"Não acredito que as provas apresentadas justifiquem o perdão neste caso", acrescentou
o governador republicano em referência ao relatório de um especialista que apontava
que o preso sofria danos cerebrais desde seu nascimento.
Segundo esse relatório, uma lesão que Beardslee sofreu quando era jovem, quando foi
atingido pelo tronco de uma árvore e ficou vários dias em coma, piorou um problema
que, segundo o médico, incapacitava-o de tomar decisões em situações de stress.
No entanto, a decisão do governador era prevista, pois o ex-actor negou há um ano o
perdão a outro preso condenado pela morte de quatro pessoas em 1983, num caso que
gerou muita polémica.
Em seguida, um tribunal de apelações decidiu retardar a execução daquele réu, que
alegou que seu caso não tinha sido investigado adequadamente e que existiam indícios
de que a polícia manipulou as provas para mostrar sua culpa.
A Suprema Corte dos Estados Unidos também não actuou em favor de Beardslee.
Os advogados dele apresentaram duas alegações ao máximo tribunal americano: a
primeira referente aos jurados que o declararam culpado, que de acordo com a defesa
estiveram injustamente influenciados.
A segunda se referia ao método como ele seria executado, com a injecção letal,
classificando-o de "cruel e incomum", pois frequentemente é aplicado de forma
incorrecta e prolonga a agonia.
Antes, os advogados de Beardslee tinham alegado que, quando disparou contra Stacey
Benjamin, de 19 anos, e afogou Patty Geddling, de 23, há cerca de 25 anos, o
condenado tinha uma doença mental agravada pelos danos cerebrais citados.
A defesa também questionou a validade do processo judicial contra o réu, pois
enquanto Beardslee prestava depoimento seu então advogado estava lendo a revista
gastronómica "Bon Appetit".

Naquele momento o réu estava em liberdade condicional por sua participação em outro
homicídio no estado do Missouri. Ele confessou a culpa dos dois assassinatos e recebeu
a sentença de pena de morte em 1984.
Assim, Beardslee se tornou o 11º preso executado na Califórnia desde que restaurou o
cumprimento da pena de morte, em 1978.
Sua execução causou consternação entre os setores da população californiana que se
opõem à pena e, na noite de terça-feira, esses grupos chegaram a protestar nas portas do
presídio.
Algumas horas antes de morrer, Beardslee agradeceu através de seu advogado a esses
ativistas, cerca de 400 pessoas que carregavam cartazes com a frase "Não matem em
meu nome".

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