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FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET

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Escrevinhação n. 764
BREVES MEDITAÇÕES SOBRE UM PROPÓSITO1
Redigido em 12 de junho de 2009, São João de Sahagun, 10ª
Semana do Tempo Comum.

Por Dartagnan da Silva Zanela2

"A democracia é apenas a substituição


de alguns corruptos por muitos
incompetentes". (Bernard Shaw)

- - - - - - - + - - - - - - -

Nestas breves laudas nos propomos a tecer

algumas considerações e, a partir dessas, apontar algumas

possíveis reflexões sobre o relatório de implementação do

projeto “Democracia e Escola” do professor PDE Josué Carlos

dos Santos, Tutor do GTR – Grupo de Trabalho de Rede – que

integramos.

Conforme solicitação do preclaro professor,

procuramos ser francos no uso das palavras para que, deste

modo, possamos, mesmo que modestamente, contribuir para o

desenvolvimento do intento do referido senhor com seu

projeto. Aliás, cremos piamente que não há possibilidade de

um indivíduo exercer o ofício professoral sem que este

procure agir com sinceridade e franqueza.

1
Ensaio apresentado junto ao GTR (Grupo de Trabalho de Rede) com
vistas a participar da discussão sobre DEMOCRACIA E ESCOLA.
2
Mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela UEPG, Especialista em
Pedagogia Escolar pelo IBPEX, graduado em licenciatura em História
pela UNICENTRO. Professor da Faculdade Campo Real e da Rede Pública
Estatal do Paraná.

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Infelizmente, o fingimento não apenas toma

conta de nossa sociedade, como também faz parte

(fundamental, diga-se de passagem) de nosso sistema

educacional. Quando nos é solicitado para que avaliemos

algo estão nos pedindo para que sejamos francos e apontemos

as fortalezas e as fraquezas do que está diante de nossas

vistas ou simplesmente para que sejamos simpáticos e

apresentemos as mais dissimuladas palavras para agradar o

autor e os demais? Por mais que a regra em nossa sociedade

seja a segunda, recusamo-nos em viver fora da vereda

primeira.

Ainda sobre esse ponto, caberia aqui o

apontamento de uma questão sucinta e, por isso mesmo,

fundamental. Como é possível falar em regime democrático em

uma sociedade onde as pessoas tem medo de ser verdadeiras

e, para sobreviverem em suas medíocres alcovas existenciais

recorrem a todo o momento a encenações histriônicas,

dissimulações (depre)cívicas? Vivemos em uma sociedade que

cultiva um ambiente onde todos acabam se perdendo em si

mesmos e, deste modo, não mais sabendo o que realmente elas

são e o que elas deveriam realmente fazer de suas vidas.

Por isso, sejamos mais modestos e perguntemos: como é

possível falar em educação em uma sociedade com essa

feição?

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E, creio eu, que seja esse o ponto em que as

reuniões organizadas pelo professor SANTOS revelam esse

ethos da sociedade brasileira. Visualizamos isso ao longo

de seu sucinto relatório onde é possível perceber a

presença de duas palavras chave que resumiriam os problemas

apontados pela comunidade escolar, as quais seriam:

responsabilidade e disciplina.

Doravante, caberia indagar quais seriam as

medidas práticas para a edificação do senso de

responsabilidade e a noção de disciplina e autodisciplina

nos educandos? Em nenhum momento, nas duas laudas do

relatório do professor SANTOS encontramos a apresentação do

estabelecimento de metas a serem cumpridas pela Instituição

de Ensino como também não há o apontamento dos responsáveis

pela implementação dessas e muito menos o estabelecimento

de um prazo para a sua feitura. Trocando em miúdos: o que o

grupo decidiu fazer após a reunião? Quem irá fazer e como

irá realizar? Qual o compromisso assumido pela comunidade

escolar e qual o prazo para se verificar os resultados

obtidos com o projeto?

Modelo operacional
Meta a ser Responsável Prazo Resultado
realizada obtido
x.x.x.x.x.x.x. x.x.x.x.x.x.x. x.x.x.x.x.x.x. x.x.x.x.x.x.

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Não estávamos presente, obviamente, nesta

reunião em questão, todavia, podemos imaginar a referida

reunião. Com grande probabilidade todos se reuniram,

posaram de bons moços e distintas senhoras, falaram dos

problemas da escola, do sexo dos anjos e da conjuntura dos

planetas, porém, não saíram da reunião comprometidos com

nada objetivo, com a realização de algo (como, aliás,

acontece na maioria das reuniões em Instituições de Ensino,

não é mesmo?). Em fim, todos fingiram muito bem,

provavelmente falaram bonitinho, mas provavelmente, não

haverá um resultado satisfatório se não houve o

estabelecimento de parâmetros práticos para a realização

dos objetivos do projeto que, como já havíamos apontado em

ensaio anterior, são deveras vago e imprecisos, diga-se de

passagem.

Por essa razão que julgamos a necessidade de um

claro estabelecimento de parâmetros que tornem possível e

visível o que se deseja realizar para não cairmos no erro

secular que infecta nossa sociedade e que, nas últimas

décadas, vem se pervertendo mais e mais. Exemplo gritante

do que estamos tentando chamar a atenção é a total

incompreensão que boa parte de nossos alunos tem do que

seja um direito e o que vem a ser um dever, conforme

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apontamento do relatório apresentado para nós (SANTOS;

2009).

Ora, quais são os parâmetros objetivos que uma

Instituição de Ensino apresenta para os educandos sobre

essas duas categorias? Não estamos falando de trololó vazio

em sala de aula, mas sim, de elementos que levem o

indivíduo a visualizar e compreender o que seja um e outro.

Quando ele, o aluno, cumpre com os seus deveres, o que a

Instituição de Ensino lhe proporciona? E quando o aluno não

cumpre de modo algum com os seus deveres, o que o Colégio

lhe oferta? Somente a meditação, franca, sobre essas duas

questões em muito auxiliaria na melhora da qualidade de

nosso sistema educacional.

Mas não paremos por aqui. Vamos um pouquinho

mais longe. Há no ambiente escolar a presença de um

espírito público? Isso mesmo: os professores, funcionários

e pais colocam em primeiro lugar os seus deveres frente a

Comunidade Escolar ou as suas reivindicações (que eles

entendem por direitos)? Eis aí outras questões que julgamos

que sejam muito interessantes. Se não é porque até os dias

hodiernos não aprendemos, e nos recusamos a aprender, o que

nos ensina aquele velho brocardo latino que diz VERBA

MOVENT, EXEMPLA TRAHUNT3.

3
Do latim: As palavras movem, os exemplos arrastam.

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Quando os alunos estão apenas se vendo como

portadores de direitos sem ser agente de nenhuma

responsabilidade, caberia a pergunta: com quem eles

aprenderam isso? Ora, não é isso que toda a patacoada

marxista ensina como sendo uma atitude crítica, a de

reivindicar o que você imagina ser seu por direito? Não

somos nós educares que ensinamos que tudo no mundo que não

que está em consonância com essa corrente político-

ideológica é injusto? Não somos nós que ensinamos que se

deve cobrar do tal do “sistema” que este deve atender todas

as nossas ansiedades? Pois é, mas nos esquecemos às escolas

são parte do dito sistema. Olha não é à toa que as coisas

estão do jeito que estão. Todos querem ser servidos, mas

poucos desejam abnegadamente servir o próximo.

Quando se toca na responsabilidade da família

pela educação moral de seus filhos temos aí um elemento de

suma importância em vista do cenário atual que vivemos. É

sim, responsabilidade da família que ela dê as bases morais

para os seus filhos viverem de maneira reta, porém, tanto o

sistema educacional como a indústria cultural vêem-se

impregnadas até a medula por valores materialistas,

relativistas, niilistas, hedonistas e céticos que criam um

imenso obstáculo para a edificação de uma formação moral

sólida. Some-se a isso ao desdém de muitos pais para com as

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suas obrigações enquanto genitores e tcha tcha tcha! Temos

o que está diante de nossas vistas. Ué! Não? Então reflita

sobre os valores que são ensinados nas Escolas modernas e

compreenderá com maior clareza o problema que se desenha

entre nós e a tenra geração que está sob nossa tutela.

Ah! E não nos esqueçamos que a educação formal

em nossa sociedade é compulsória e que essa obrigatoriedade

de modo algum reflete a sentimento da sociedade brasileira.

Aliás, pensemos nisso: se a educação não fosse mais

compulsória, mas sim, facultativa e as instituições

voltassem a ter o poder de puder devidamente os alunos que

não desejam cumprir com os seus deveres, como será que

seria a educação? Olha, provavelmente aqueles que estariam

na escola fariam o melhor possível e os que não estariam

também.

Por fim, devemos parar de ficar dando ênfase na

“discussão do exercício da democracia dentro do espaço

escolar” (SANTOS; 2009), e começarmos a criar condições

objetivas para que os mancebos vejam e vivam o que é esse

tal de governo do povo, pelo povo e para o povo criado por

Péricles e Clístines, caso contrário, continuaremos a ver a

educação como uma fabriqueta de homens massa que tiranizam

a vida em nome de bandeiras que nem eles mesmos acreditam.

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Para realmente construirmos um ambiente

permeado com valores democráticos em uma escola é

fundamental que paremos com esse fingimento existencial, a

começar, com esse fingimento que encenamos para nós mesmos.

A partir desse ponto arquimédico poderemos olhar realmente

para a nossa verdadeira em face de assim, agirmos de

maneira firme, como um exemplo que irradiará o que

desejaremos ensinar.

E é só.

Pax et bonum.
Site: http://professordartagnan.tk
Blog: http://zanela.blogspot.com

REFERENCIAS:
SANTOS, Josué Carlos. Relatório da Implementação do projeto
na escola. 2009. Disponível na Internet: http://e-
escola.pr.gov.br

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