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Publicado no D. O. E.

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o 1ribunal Pleno

PROCESSOTC N.O 01961/07

Objeto: Prestação de Contas Anuais


Relator: Auditor Renato Sérgio Santiago Melo
Responsável: Luiz Waldvogel de Oliveira Santos
Advogado: Dr. Carlos Roberto Batista Lacerda
Procurador: Dr. André Luiz de Oliveira Escorei

EMENTA: PODER EXECUTIVO MUNICIPAL - ADMINISTRAÇÃO


DIRETA - PRESTAÇÃO DE CONTAS ANUAIS - PREFEITO -
ORDENADOR DE DESPESAS- APRECIAÇÃO DA MATÉRIA PARA FINS
DE JULGAMENTO - ATRIBUIÇÃO DEFINIDA NO ART. 71, INCISO U,
DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA PARAÍBA, E NO ART. 1°,
INCISO I, DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N. 18/93 - Falhas na °
elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias - Incorreta fixação da
reserva de contingência na Lei Orçamentária Anual - Ausência de
equilíbrio entre receitas e despesas da Comuna - Existência de déficit
financeiro para liquidar as despesas de curto prazo - Carência de
realização de diversos procedimentos de licitação - Contratação de
profissional para serviço típico da administração pública sem a
realização do devido concurso público - Falta de empenhamento,
pagamento e contabilização de parte das obrigações patronais
devidas à Previdência Social - Divergência entre os valores dos
créditos adicionais suplementares abertos informados no SAGRES e os
consignados na PCA - Apresentação de dados inconsistentes no
SAGRES - Diferença de saldo na conta específica do FUNDEF -
Pagamento de salários inferiores ao mínimo nacionalmente
estabelecido - Transgressão a dispositivos de natureza constitucional,
infraconstitucional e regulamentar - Eivas que comprometem a
regularidade das contas de gestão - Necessidade imperiosa de
aplicação de penalidade. Irregularidade. Fixação de prazo para
transferência de recursos. Aplicação de multa. Assinação de lapso
temporal para pagamento. Recomendações. Representações.

PRESTAÇÃO DE CONTAS DO ORDENADOR DE


Vistos, relatados e discutidos os autos da
DESPESAS DO MUNICíPIO DE ASSUNÇÃO/PB, SR. LUIZ WALDVOGEL DE OLIVEIRA SANTOS,
relativa ao exercício financeiro de 2006, acordam, por maioria, os Conselheiros integrantes
do TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DA PARAÍBA, em sessão plenária realizada nesta
data, vencidos parcialmente a proposta de decisão do relator e os votos dos Conselheiros
Antônio Nominando Diniz Filho e Antônio Cláudio Silva Santos, no tocante à imputação do
débito referente a despesas não comprovadas com assessoria jurídica, na conformidade do
voto de desempate do Conselheiro Presidente Arnóbio Alves Viana, em:
PROCESSOTC N.o 01961/07

1) Com fundamento no art. 71, inciso II, da Constituição do Estado da Paraíba, bem como
no art. 1°, inciso I, da Lei Complementar Estadual n.O 18/93, JULGAR IRREGULARES as
referidas contas.

2) FIXAR o lapso temporal de 30 (trinta) dias para que o Chefe da Comuna de Assunção/PB,
Sr. Luiz Waldvogel de Oliveira Santos, faça retornar à conta-corrente específica do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação - FUNDEB pertencente ao Município, com recursos de outras fontes, a importância
de R$ 1.315,89 (um mil, trezentos e quinze reais e oitenta e nove centavos), concernente à
diferença apurada na conta-corrente do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério - FUNDEF.

3) APLICAR MULTA ao Chefe do Poder Executivo da Urbe, Sr. Luiz Waldvogel de Oliveira
Santos, no valor de R$ 2.805,10 (dois mil, oitocentos e cinco reais e dez centavos),
com base no que dispõe o art. 56, inciso II, da Lei Complementar Estadual
°
n. 18/93 - LOTCE/PB.

4) ASSINAR o prazo de 60 (sessenta) dias para pagamento voluntário da penalidade ao


Fundo de Fiscalização Orçamentária e Financeira Municipal, conforme previsto no art. 3°,
°
alínea "a", da Lei Estadual n. 7.201, de 20 de dezembro de 2002, cabendo à Procuradoria
Geral do Estado da Paraíba, no interstício máximo de 30 (trinta) dias após o término daquele
período, velar pelo seu integral cumprimento, sob pena de intervenção do Ministério Público
Estadual, na hipótese de omissão, tal como previsto no art. 71, § 4°, da Constituição do
°
Estado da Paraíba, e na Súmula n. 40, do ego Tribunal de Justiça do Estado da
Paraíba - TJ/PB.

5) FAZER recomendações no sentido de que o Alcaide, Sr. Luiz Waldvogel de Oliveira Santos,
não repita as irregularidades apontadas nos relatórios da unidade técnica deste Tribunal e
observe, sempre, os preceitos constitucionais, legais e regulamentares pertinentes.

6) Com fulcro no art. 71, inciso XI, c/c o art. 75, caput, da Constituição Federal, COMUNICAR
à Delegacia da Receita Federal do Brasil, em Campina Grande/PB, acerca da falta de
recolhimento de parte das contribuições previdenciárias devidas pelo empregador, incidentes
sobre as folhas de pagamento do Poder Executivo Municipal de Assunção/PB, no exercício
financeiro de 2006.

7) Também com base no art. 71, inciso XI, c/c o art. 75, cabeça, da Lei Maior, ENCAMINHAR
cópias das peças técnicas, fls. 956/972 e 1.704/1.725, do parecer do Ministério Público
Especial, fls. 1.727/1.739, e desta decisão à augusta Procuradoria Geral de Justiça do Estado
da Paraíba para as providências cabíveis.

Presente ao julgamento o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas


Publique-se, registre-se e intime-se.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 01961/07

TCE - Plenário Ministro João Agripino

João Pessoa, 12 de novembro de 2008

Auditor

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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 01961/07

Tratam os presentes autos da análise das Contas do Município de Assunção/PB, relativas ao


exercício financeiro de 2006, de responsabilidade do Prefeito e Ordenador de Despesas,
Sr. Luiz Waldvogel de Oliveira Santos, apresentada a este ego Tribunal em 27 de março de
2007, mediante o Ofício n.o 048/2007, fi. 02.

Os peritos da Divisão de Auditoria da Gestão Municipal VI - DIAGM VI, com base nos
documentos insertos nos autos, emitiram o relatório inicial de fls. 956/972, constatando,
sumariamente, que: a) as contas foram apresentadas no prazo legal; b) o orçamento foi
aprovado através da Lei Municipal n.O 156/2005, estimando a receita em R$ 6.075.200,69,
fixando a despesa em igual valor e autorizando a abertura de créditos adicionais
suplementares até o limite de 100% do total orçado; c) as Leis Municipais n.o 164 e 167/06
permitiram a abertura de créditos adicionais especiais, no montante de R$ 105.000,00;
d) durante o exercício, foram abertos créditos adicionais suplementares e especiais, nos
valores de R$ 1.758.730,57 e R$ 90.949,78, respectivamente; e) a receita orçamentária
efetivamente arrecadada no período ascendeu à soma de R$ 4.477.657,20; f) a despesa
orçamentária realizada atingiu a quantia de R$ 4.764.752,80; g) o somatório da Receita de
Impostos e Transferências - RIT atingiu o patamar de R$ 3.701.576,02; h) a Receita
Corrente Líquida - RCL alcançou o montante de R$ 4.477.657,20; e i) a cota-parte recebida
do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério - FUNDEF somou R$ 507.609,42.

Em seguida, os técnicos da DIAGM VI destacaram que os dispêndios municipais


evidenciaram, sinteticamente, os seguintes aspectos: a) as despesas pagas com obras e
serviços de engenharia totalizaram R$ 375.755,44, sendo R$ 4.500,00 quitados com recursos
federais, R$ 52.890,79 liquidados com recursos estaduais e R$ 318.364,65 custeados com
recursos próprios; e b) os subsídios do Prefeito e da vice-Prefeita foram fixados,
respectivamente, em R$ 5.000,00 e R$ 2.500,00 mensais, através da Lei Municipal n.O 09,
de 20 de setembro de 2004.

Quanto aos gastos condicionados, verificaram os analistas desta Corte que: a) o Município
despendeu com saúde a importância de R$ 579.754,89 ou 15,66% da RIT; b) as despesas
com pessoal da municipalidade, já incluídas as do Poder Legislativo, alcançaram o montante
de R$ 1.993.857,31 ou 44,53% da RCL; c) a aplicação em manutenção e desenvolvimento
do ensino atingiu o valor de R$ 992.676,17 ou 26,82% da RIT; e d) a despesa com recursos
do FUNDEF na remuneração dos profissionais do magistério alcançou o montante de
R$ 320.732,25, representando 63,18% da cota-parte recebida no exercício.

Ao final de seu relatório, os inspetores da unidade técnica apresentaram, de forma resumida,


as irregularidades constatadas, quais sejam: a) incompatibilidade de informações entre o
Relatório de Gestão Fiscal - RGF do segundo semestre do período e a Prestação de Contas
Anuais - PCA; b) inconsistências na Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO; c) incorret
fixação da reserva de contingência na Lei Orçamentária Anual - LOA; d) ausência e
equilíbrio entre receitas e despesas, ocasionando déficit orçame~;po vai
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

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R$ 287.095,60; e) déficit financeiro para liquidar as obrigações de curto prazo na quantia de


R$ 196.886,67; f) realização de despesas sem licitação na importância de R$ 390.027,97;
g) carência de empenhamento, pagamento e contabilização de parte das obrigações
patronais devidas ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS na soma de,
aproximadamente, R$ 84.875,62; h) incoerência entre as informações apresentadas no
Sistema de Acompanhamento da Gestão dos Recursos da Sociedade - SAGRES MUNICIPAL e
na PCA, notadamente no tocante ao valor dos créditos adicionais suplementares e especiais
abertos no exercício; i) apresentação de dados incorretos no SAGRES MUNICIPAL,
especialmente quanto aos pagamentos dos subsídios da vice-Prefeita; j) diferença, na soma
de R$ 3.611,15, verificada na movimentação financeira da Conta FUNDEF n.O 58.021-X;
k) pagamento de salários abaixo do mínimo nacionalmente estabelecido; I) realização de
despesas não comprovadas com assessoria jurídica no montante de R$ 15.600,00; e
m) realização de gastos excessivos com combustíveis na quantia de R$ 11.948,81.

Devidamente citados, fls. 974/975 e 1.646/1.647, o Prefeito Municipal de Assunção/PB,


Sr. Luiz Waldvogel de Oliveira Santos, e o Contador da Comuna, Dr. Djair Jacinto de Morais,
apresentaram contestações, fls. 981/1.643 e 1.649/1.701, respectivamente. O primeiro
argumentou, em síntese, que: a) o encaminhamento de novo demonstrativo das despesas
com pessoal, devidamente retificado, elide a divergência de informações entre o RGF e a
PCA; b) a documentação acostada aos autos elimina as pendências detectadas na LDO; c) a
reserva de contingência foi equivocadamente fixada na LOA, mas a dotação não chegou a
ser utilizada durante a execução do orçamento; d) a situação identificada no balanço
orçamentário do Município representa uma das hipóteses da execução orçamentária do setor
público, não se podendo falar em irregularidade; e) o déficit financeiro não constitui
nenhuma mácula, além da diferença indicada ser irrisória, representando cerca de 4% da
receita orçamentária arrecadada; f) as despesas com limpeza urbana e com motoristas não
fazem parte do rol dos gastos que necessitam de licitação, g) os procedimentos Iicitatórios
acostados aos autos reduzem os dispêndios não licitados para cerca de 1% das despesas
orçamentárias do exercício, justificando a exclusão da mácula; h) as obrigações patronais
pagas no exercício totalizaram R$ 221.255,47, ao passo que, as quitações de parcelamentos
assumidos por gestões passadas somaram R$ 97.764,53, perfazendo um total de recursos
enviados ao INSS no montante de R$ 319.020,00, superior ao indicado como devido no
exercício pelos técnicos do Tribunal; i) a divergência constatada no SAGRES MUNICIPAL
possivelmente foi oriunda de um equívoco do setor de contabilidade; j) os créditos adicionais
abertos no exercício totalizaram R$ 1.910.230,35, sendo R$ 1.758.730,57 de créditos
suplementares para o Poder Executivo, R$ 60.550,00 dos mesmos créditos para o Poder
Legislativo e R$ 90.949,78 de créditos especiais abertos para o Poder Executivo, conforme
informado na PCA; k) as despesas com subsídios da vice-Prefeita informadas no SAGRES
MUNICIPAL realmente apresentaram algumas inconsistências, mas os pagamentos foram
efetuados à pessoa de direito, Sra. Zélia Salvador Uchida, conforme documentação em
anexo; I) a diferença financeira na conta do FUNDEF não existe, haja vista que a quantia de
R$ 1.315,89 foi utilizada para o pagamento de tarifas bancárias cobradas na Conta Corrente
n.O 10.219-9 - FOPAG, enquanto que a importância de R$ 2.295,26 serviu para quitar as
retenções ocorridas nas folhas de pagamento do magistério e dos funcionários ligados o
ensino fundamental; m) os valores pagos a alguns contratados referem-se a seo-ees-,

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TRIBUNALDECONTASDO ESTADO

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prestados não específicos e esporádicos, cujas remunerações são definidas pela


complexidade da tarefa designada, bem como para atender necessidade urgente e
emergencial; n) os serviços jurídicos contratados não se limitavam a ações de precatórios,
existindo o acompanhamento das várias querelas judiciais do Município, além da orientação
dos atos administrativos, inclusive de forma oral; e o) os veículos da Secretaria Municipal de
Educação, utilizados durante as férias escolares, atenderam a diversas pessoas, conforme
declaraçõesem anexo, ao passo que os acompanhamentos das pendênciasjurídicas da Urbe
pelos advogados comprovam os deslocamentos dos veículos para as cidades de Patos/PB e
de João Pessoa/PB.

Já o Contador, Dr. Djair Jacinto de Morais, por sua vez, alegou, resumidamente, que: a) as
despesas com pessoal contabilizadas na PCAforam as mesmas consignadas no RGFdo 2°
semestre do período, enquanto que a RCLfoi retifica com a inclusão das receitas originadas
de convênios; b) a divergência entre os valores dos créditos adicionais suplementares
consignados na PCA e os informados no SAGRESMUNICIPAL corresponde a importações
involuntárias realizadas pelo programa SAGRES;e c) as alegações do setor jurídico servem
para as demais irregularidades detectadas.

Encaminhados os autos à unidade de instrução, os seus analistas emitiram o relatório de


fls. 1.704/1.725, onde consideraram elidida a eiva concernente à incompatibilidade de
informações entre o RGF - 2° semestre e a PCA. Em seguida, reduziram o montante das
despesas não licitadas de R$ 390.027,97 para R$ 284.698,60, diminuíram a diferença
financeira na conta do FUNDEFde R$ 3.611,15 para R$ 1.315,89, retificaram o valor das
despesas excessivas com combustíveis de R$ 11.948,81 para R$ 3.824,20, como também
consideraram parcialmente sanadas as inconsistências na Lei de Diretrizes
Orçamentárias - LDO. Ao final, mantiveram in totum o seu posicionamento exordial
relativamente às demais irregularidades.

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, ao se pronunciar sobre a matéria,


fls. 1.727/1.739, opinou pelo (a): a) declaração do atendimento parcial dos requisitos de
gestão fiscal responsável, previstos na Lei Complementar Nacional n.o 101/2000; b) emissão
de parecer favorável à aprovação das contas; c) julgamento regular com ressalvas das
despesas sem licitação e fora da finalidade do FUNDEF, sem imputação de débito;
d) assinação de prazo para recondução dos valores do FUNDEF,aplicados em finalidade
diversa, à conta específica e vinculada à manutenção e desenvolvimento do ensino
fundamental e valorização do magistério; e) aplicação de multa ao Alcaide, por
descumprimento da lei de licitações e pelo pagamento de salário abaixo do piso nacional;
f) recomendação de diligências no sentido de prevenir a repetição das falhas acusadas no
exercício de 2006; e g) comunicação à Receita Federal dos fatos relacionados às
contribuições previdenciárias para as providências a seu cargo.

Solicitaçãode pauta, conforme fls. 1.740/1.741 dos autos.

É o relatório.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

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Após análise minuciosa do conjunto probatório encartado aos autos, constata-se que as
contas apresentadas pelo Prefeito Municipal de Assunção/PB, Sr. Luiz Waldvogel de Oliveira
Santos, relativas ao exercício financeiro de 2006, revelam diversas máculas remanescentes.
Entrementes, em que pese o posicionamento dos peritos do Tribunal, impende comentar,
inicialmente, que as despesas excessivas com combustíveis, no montante de R$ 3.827,20,
devem ser desconstituídas, haja vista que os parâmetros utilizados não atendem ao disposto
na resolução desta Corte que disciplina o controle dos gastos com combustíveis, peças e
serviços dos veículos e máquinas pelos Poderes Executivo e Legislativo Municipais
(Resolução Normativa RN - TC n.o OS/2005), que passou a vigorar a partir do dia 01 de abril
°
de 2006, na sua atual redação dada pela Resolução Normativa RN - TC n. 01/2006.

Com efeito, o suposto excesso foi calculado em virtude da distância entre as cidades de João
Pessoa/PB e Assunção/PB, considerando a realização de uma viagem por semana, durante
os meses de maio a dezembro de 2006, quando deveria levar em conta as planilhas dos
consumos mensais de combustíveis dos veículos pertencentes ao Poder Executivo Municipal,
bem como os seus efetivos percursos.

Por outro lado, os técnicos do Tribunal constataram inconsistências nos aspectos formais da
°
Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO (Lei Municipal n. 138/2005), mesmo tendo sido
emitido o ALERTA TC - GAB/USP - N.o 43/2005, em 31 de outubro de 2005, fi. 125, haja
vista que a autoridade responsável deixou de apresentar os seguintes documentos: a) Anexo
de Riscos Fiscais (ARF); b) mensagem de encaminhamento do projeto da LDO ao Poder
Legislativo; e c) comprovação da realização de audiência pública. Assim, existiu o
descumprimento ao estabelecido no art. 50, § 10, da Resolução Normativa RN - TC
°
n. 07/2004, com a redação dada pela Resolução Normativa RN - TC n. OS/2006, c/c o °
art. 48, parágrafo único, da Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF, in verbis:

Art. 5° - (omissis)

§ 1° - Cópia autêntica da LDO e seus anexos. conforme disposto no inciso


II, § 2°, art. 35 do ADCT/CF combinado com os artigos 165, § 20 da CF, 166
da CE, e 40 da LRF, com a devida comprovação de sua publicação no veículo
de imprensa oficial do município, quando houver, ou no Diário Oficial do
Estado, deve ser enviada ao Tribunal, até o quinto dia útil do mês
subseqüente à sua publicação, acompanhada da correspondente mensagem
de encaminhamento ao Poder Legislativo, e da comprovação da realização
de audiência pública prevista no artigo 48 da LRF.

Art. 48. (omissis)

P
Parágrafo único. A transparência será assegurada também mediante
incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante
os processos de elaboração e de discussão dos planos, lei de diretriz
orçamentárias e orçamentos. (grifos inexistentes no origi I)
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Quanto à fixação incorreta da reserva de contingência na Lei Orçamentária Anual (Lei


Municipal n.o 156/2005), no valor de R$ 289.295,28, equivalendo a 4,76% da Receita
Corrente Líquida - RCLprevista, os analistas do Tribunal evidenciaram que, mesmo após a
emissão do ALERTA TC - GAB/USP- N.o 06/2006, de 27 de março de 2006, fi. 234, o
percentual estabelecido permaneceu superior ao previsto no art. 20 da LDO. Tal
inconformidade caracteriza flagrante transgressão ao disciplinado no art. 165, § 2°, da
Constituição Federal, bem como ao disposto no art. 5°, inciso lII, alínea "b", da Lei
Complementar Nacional n.O 101/2000, respectivamente, verbo ad verbum:

Art. 165. (omissis)

1-( ...)

§ 2° A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades


da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o
exercício financeiro subseqüente, orientará a elaboração da lei orçamentária
anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a
política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento.

Art. 5°. O projeto de lei orçamentária anual, elaborado de forma compatível


com o plano plurianual, com a lei de diretrizes orçamentárias e com as
normas desta Lei Complementar:

1-( ...)

III - conterá reserva de contingência, cuja forma de utilização e montante,


definido com base na receita corrente líquida, serão estabelecidos na lei de
diretrizes orçamentárias, destinada ao:

a) (vetado)

b) atendimento de passivos contingentes e outros riscos e eventos fiscais


imprevistos. (grifos nossos)

Também detectaram os especialistas do Tribunal a ausência de equilíbrio entre as receitas e


as despesas da Comuna, ocasionando déficit na execução orçamentária, na importância de
R$ 287.095,60, bem como gerando déficit financeiro, no montante de R$ 196.888,67. Com
efeito, importa notar o não atendimento da principal finalidade pretendida pelo legislador
ordinário, através da inserção no ordenamento jurídico tupiniquim da festejada Lei de
ResponsabilidadeFiscal- LRF,qual seja, a implementação de um eficiente planejamento por
parte dos gestores públicos, com vistas à obtenção do equilíbrio das contas por eles
administradas, conforme estabelece o seu art. 10, § 10, verbum pro verbo:

{)
~,
PROCESSOTC N.o 01961/07

Art. 10. (omissis)

§ 10 A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e


transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de
afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de
resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no
que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da
seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de
crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e
inscrição em Restos a Pagar.

No que se refere ao tema licitações, faz-se necessário alguns comentários preliminares. Para
as despesas pagas com assessoria jurídica, em favor dos advogados Ors. José Neto Freire
Rangel e Josildo Oiniz Albuquerque, ambas no valor de R$ 15.600,00, totalizando, assim,
R$ 31.200,00, o Prefeito Municipal alegou em sua defesa a realização das Inexigibilidades de
Licitação n.Os 04 e OS/2006, fls. 1.433/1.451. Contudo, em que pese o posicionamento dos
inspetores do Tribunal, acerca da necessidade de licitação, entendo que o gestor deveria ter
providenciado o devido concurso público para a contratação dos referidos profissionais,
tendo em vista que as atribuições a serem desempenhadas não configuraram atividades
extraordinárias que necessitam de técnicos altamente habilitados nas suas respectivas áreas,
sendo, portanto, trabalhos rotineiros da Comuna.

Neste sentido, cabe destacar que a ausência do certame público para seleção de servidores
afronta os princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade administrativa e da
necessidade de concurso público, devidamente estabelecidos na cabeça e no inciso Il, do
art. 37, da Carta Constitucional, verbatim:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade. moralidade. publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:

I -(omissis)

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação


prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com
a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração; (grifos ausentes no texto original)

Abordando o tema em disceptação, o insigne Procurador do Ministério Público de Contas


Or. Marcílio Toscano Franca Filho, nos autos do Processo TC n.o O 91/03 epilogou e
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forma bastante clara uma das facetas dessa espécie de procedimento adotado por grande
parte dos gestores municipais, senão vejamos:

Não bastassem tais argumentos, o expediente reiterado de certos


advogados e contadores perceberem verdadeiros "salários" mensais da
Administração Pública, travestidos em "contratos por notória especialização",
em razão de serviços jurídicos e contábeis genéricos, constitui burla ao
imperativo constitucional do concurso público. Muito fácil ser profissional
"liberal" às custas do erário público. Não descabe lembrar que o concurso
público constitui meritório instrumento de índole democrática que visa
apurar aptidões na seleção de candidatos a cargos públicos, garantindo
impessoalidade e competência. JOÃO MONTEIRO lembrara, em outras
palavras, que só menosprezam os concursos aqueles Que lhes não sentiram
as glórias ou não lhes absorveram as dificuldades. (nossos grifos)

Em relação às despesas com o transporte de água potável, na importância de R$ 27.000,00,


a defesa apresentou o Convite n.o 05, homologado no dia 18 de janeiro de 2006,
fls. 1.062/1.093, sendo contratado o licitante vencedor Sr. Antônio Lisboa Rodrigues, com a
proposta mensal de R$ 3.000,00, totalizando no exercício R$ 33.000,00. Também foram
anexados os empenhos em nome do citado credor na soma de R$ 22.850.00,
fls. 1.094/1.247 e 1.251/1.273. Assim, constata-se que deixaram de ser apresentadas notas
de empenhos na importância de R$ 4.150,00, além do Sistema de Acompanhamento da
Gestão dos Recursos da Sociedade - SAGRES MUNICIPAL ter sido incorretamente
alimentado, pois apresentou como executor dos serviços pessoa diversa da contratada,
Sr. Aluízio Leite da Silva, fls. 789/791. Contudo, as despesas estão devidamente acobertadas
pela licitação acima mencionada.

Para os dispêndios com promoções de eventos musicais, no montante de R$ 100.904,00, o


interessado apresentou 03 (três) procedimentos de inexigibilidade de licitação para as
contratações de palcos e de bandas, que realizaram shows no Município durante todo o
exercício financeiro de 2006, mas não os informou no SAGRES MUNICIPAL, como também
não demonstrou que os contratados possuíam exclusividade com os artistas que
participaram dos eventos, em flagrante desrespeito ao preconizado no art. 25, inciso lII, da
°
Lei de Licitação e Contratos Administrativos (Lei Nacional n. 8.666/93).

Os procedimentos acostados aos autos foram os seguintes: a) Inexigibilidade de Licitação


n.O 06, ratificada em 20 de abril de 2006, fls. 1.400/1.415, que possuiu como contratado
HEMERSON KERLL DE MEDEIROS DANTAS, com a finalidade da apresentação de bandas
musicais, palco e sonorização, para as festividades realizadas pela Comuna de Assunção/PB
durante o exercício de 2006, no valor total de R$ 80.000,00. Os empenhos somaram
R$ 75.900,00 e referem-se as contratações das bandas SOLTEIRÕES DO FORRÓ,
FORROZÃO TERRA NOVA, GATA BRONZEADA, FORROZÃO KARKARA, FARROZÃO ARUAN ,
BANDA GRAFITI, BANDA PREFIL, BANDA PALOV; b) Inexigibilidade de Licitação n.o 07,
ratificada em 21 de junho de 2006, fls. 1.416/1.432, para a apr entação da

{J
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 01961/07

AFRODITE e do cantor AMAZAN E BANDA, nas festividades do São Pedro no mês de julho
daquele ano, tendo sido contratada a empresa HM PROMOÇÕES E EVENTOS LTDA., pela
quantia de R$ 15.000,00 e empenhado o mesmo valor; e c) Inexigibilidade de Licitação
°
n. 08, ratificada no dia 20 de junho de 2006, fls. 1.275/1.290, para os serviços de
sonorização para a ilha do forró, durante os festejos juninos, sendo contratada a empresa
ARUANDA PROMOÇOES E EVENTOS LTDA., pelo valor de R$ 3.500,00. Em nome desta
empresa também existiu o pagamento da importância de R$ 6.500,00 referente ao show da
BANDA GARANHÕES DO FORRá, bem como ao aluguel do palco, do som e da iluminação,
para as festividades do final do ano de 2005, cujos dispêndios foram empenhados e quitados
no mês de janeiro de 2006, porém estão abaixo do limite previsto na legislação para a
realização de licitação.

Quantos aos serviços de processamento de dados da Secretaria Municipal de Saúde, também


apontados pelos peritos do Tribunal como não licitados, no montante de R$ 10.940,00, o
Prefeito enviou a Inexigibilidade de Licitação n.O 09, ratificada em 20 de junho de 2006,
fls. 1.452/1.462, com base no art. 25, inciso II, c/c o § 10, todos da Lei Nacional
°
n. 8.666/93, sendo contratada a empresa Luiz Carlos de Melo - ME pela importância mensal
de R$ 840,00, totalizando R$ 10.080,00. Contudo, as tarefas a serem desenvolvidas não se
enquadram em nenhuma das hipóteses previstas no art. 13, c/c o art. 25 da citada lei, como
também o procedimento de inexigibilidade de licitação não foi informado no SAGRES.
Importante frisar que o valor empenhado para o credor foi de R$ 13.280,00, existindo
dispêndios nos elementos de despesa 30 (R$ 1.500,00), 36 (R$ 10.940,00) e 39
(R$ 840,00), mas só foram considerados sem licitação pelos técnicos desta Corte de Contas
os constantes no elemento 36 - Serviços de Terceiros Pessoa Física (R$ 10.940,00).

No tocante às despesas com serviços de consultoria para a geração de folhas de pagamento,


GFIP e RAIS anual, os analistas do Tribunal apontaram como não licitado o somatório de
R$ 13.700,00. Já o Prefeito enquadrou os pagamentos ocorridos como decorrentes da
Inexigibilidade de Licitação n.O 03, homologada em 11 de janeiro de 2006, fls. 1.463/1.474,
embasada no art. 13, inciso I, c/c o art. 25, inciso II, da Lei Nacional n.O 8.666/93. A
empresa contratada foi Info Express Equipamentos e Serviços de Informática Ltda., pelo
valor mensal de R$ 1.200,00, totalizando R$ 14.400,00, mas nenhuma informação acerca do
procedimento foi repassada para o SAGRES. Feitas estas observações, evidencia-se que os
serviços são típicos do setor de pessoal e não podem ser enquadrados nas hipóteses de
inexigibilidade de licitação previstas no art. 25 da Lei de Licitações e Contratos
Administrativos. Ademais, as despesas não licitadas totalizaram R$ 14.950,00, sendo
R$ 13.700,00 no elemento de despesa 35 - Serviços de Consultoria e R$ 1.250,00 no
elemento 39 - Serviços de Terceiros Pessoa Jurídica, e não R$ 13.700,00 como apontado no
relatório inicial.

Também foram consideradas como não licitadas pelos especialistas desta Corte as despesas
com serviços de treinamento e capacitação de professores e de profissionais que trabalham
na gestão pública, no valor de R$ 15.200,00. No exercício de 2006, as despesas empenhad
em favor da empresa CEI - Consultoria Educacional Integrada, totalizaram R$ 41.905, O,
sendo que a quantia de R$ 1.000,00 descrita na Nota de Empenho n.o 54, de 10 de ;":;lrrmfPn......

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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 01961/07

de 2006, está relacionada aos serviços de consultoria e assessoria realizados nos meses de
novembro e dezembro de 2005, devendo, portanto, aquele valor ser excluído da soma das
despesas relacionadas a fatos ocorridos no exercício de 2006.

No que diz respeito ao saldo restante, R$ 40.905,40, constata-se a existência de duas


modalidades de despesas, sendo a primeira, no valor de R$ 33.705,40, relacionada aos
serviços de treinamento e capacitação de professores e de profissionais que trabalham na
gestão pública, estando, contudo, a importância de R$ 25.705,40 devidamente acobertada
pelas licitações na modalidade Convites n.Os 10 e 16/2006, respectivamente, para a
capacitação de professores, R$ 16.150,00, e para o treinamento de profissionais que
trabalham na gestão pública do Poder Executivo, R$ 9.555,40.

Portanto, permanece o pagamento sem licitação na quantia de R$ 8.000,00, realizado


°
através da Nota de Empenho n. 2389, de 25 de julho de 2006, com a finalidade da quitação
da primeira parcela do curso de formação continuada dos professores da educação de jovens
e adultos. Já para os dispêndios com consultoria e assessoria permanente, que durante o
exercício totalizaram R$ 7.200,00, evidencia-se que tais gastos não ultrapassaram o limite
previsto na legislação específica, não existindo a obrigatoriedade da realização de licitação.

Em relação aos pagamentos efetuados durante o exercício à Clínica DR. WANDERLEY,


R$ 10.991,00, constata-se que foram realizados exames em pessoas carentes da Comuna,
em diversos meses do ano, não sendo razoável, portanto, enquadrar aquelas despesas
imprevisíveis como sujeitas a procedimento Iicitatório, exceto nos casos daqueles exames
rotineiros e com um número de pessoas a serem previamente beneficiadas, o que não ficou
comprovado nos autos.

Após estes esclarecimentos, verifica-se a contratação de profissionais para serviços típicos da


administração pública sem a realização de concurso público, no valor de R$ 31.200,00, bem
como a ausência de certames Iicitatórios no montante de R$ 108.653,60, equivalendo a
9,15% da despesa Iicitável do período CR$ 1.187.426,44) e a 2,41% da despesa
orçamentária do Poder Executivo CR$4.504.636,81).

Acerca da matéria, é necessário realçar que a licitação é o meio formalmente vinculado que
proporciona à Administração Pública melhores vantagens nos contratos e oferece aos
administrados a oportunidade de participar dos negócios públicos. Quando não realizada,
representa séria ameaça aos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência, bem como da própria probidade administrativa.

Nesse diapasão, traz-se à baila pronunciamento da ilustre representante do Ministério


Público junto ao Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, Ora. Sheyla Barreto Braga de
Queiroz, nos autos do Processo TC n.O 04981/00, in verbis:

A licitação é, antes de tudo, um escudo da moralidade e da étíc


administrativa, pois, como certame promovo o pelas enti~~
PROCESSOTC N.o 01961/07

governamentais a fim de escolher a proposta mais vantajosa às


converuenoas públicas, procura proteger o Tesouro, evitando
favorecimentos condenáveis, combatendo o jogo de interesses escusos,
impedindo o enriquecimento ilícito custeado com o dinheiro do erário,
repelindo a promiscuidade administrativa e racionalizando os gastos e
investimentos dos recursos do Poder Público.

Com efeito, deve ser enfatizado que a não realização dos devidos procedimentos Iicitatórios
exigíveis vai, desde a origem, de encontro ao preconizado na Lei Maior, especialmente o
disciplinado no art. 37, inciso XXI, verbo ad verbum:

Art. 37. (ornlssís)

1-(...)

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,


compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação
pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com
cláusulas que estabeleçam obrigação de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as
exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do
cumprimento das obrigações. (grifo nosso)

É importante salientar que as hipóteses infraconstitucionais de dispensa e inexigibilidade de


licitação são taxativas e estão disciplinadas na Lei Nacional n.o 8.666, de 21 de junho de
1993. Neste contexto, deve ser destacado que a não realização do certame, exceto nos
restritos casos prenunciados na reverenciada norma, é algo que, de tão grave, consiste em
crime previsto no art. 89, do próprio Estatuto das Licitações e dos Contratos Administrativos,
verbum pro verbo:

Art. 89 - Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei,


ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à
inexigibilidade:

Pena- detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.

Parágrafo Único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo


comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-
se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder
Público.

Ademais, consoante previsto no art. 10, inciso VIII, da já mencionada


Branco - Lei Nacional n.o 8.429, de 2 de junho de 1992 -, a di
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTe N.o 01961/07

procedimento de licitação consiste em ato de improbidade administrativa que causa prejuízo


ao erário, verbatim:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao


erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda
patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens
ou haveres das entidades referidas no art. 10 desta lei, e notadamente:

1-( ...)

VIII - frustrar a licitude de processo Iicitatório ou dispensá-lo


indevidamente; (grifamos)

Corroborando com o supracitado entendimento, reportamo-nos, desta feita, à manifestação


do eminente representante do Parquet especializado, Dr. Marcílio Toscano Franca Filho, nos
autos do Processo Te n.o 04588/97, ipsis /itteris.

Cumpre recordar que a licitação é procedimento vinculado, formalmente


ligado à lei (Lei 8.666/93), não comportando discricionariedades em sua
realizaçãoou dispensa. A não realizaçãode procedimento Iicitatório. fora das
hipóteses legalmente previstas. constitui grave infração à norma legal.
podendo dar ensejo até mesmo à conduta tipificada como crime. (grifo
ausente no original)

Igualmente inserida no grupo das irregularidades constatadas na instrução do feito, tem-se a


falta de empenhamento, pagamento e contabilização de parte das contribuições
previdenciárias patronais devidas pelo Poder Executivo ao Instituto Nacional do Seguro
Social - INSS. Contudo, é importante destacar que no exercício sub examine as obrigações
patronais do Poder Executivo junto ao INSS ascenderam, aproximadamente, ao montante de
R$ 284.431,37 e não R$ 306.131,09 como apontado pelos inspetores do Tribunal, haja vista
que o percentual de 21% deve ser aplicado sobre R$ 1.354.435,09, sendo R$ 1.032.926,00
referente ao somatório das despesas registradas com vencimentos e vantagens fixas e
R$ 321.509,09 respeitante a contratações por tempo determinado, fls. 664/665 e 673/686, e
não em cima de R$ 1.457.767,09 como destacado na instrução do feito.

Além disso, ficou comprovado que os responsáveis pelas finanças do Poder Executivo
Municipal contabilizaram e recolheram obrigações patronais devidas ao INSS no exercício
financeiro de 2006 na importância de R$ 221.255,47, equivalendo a 77,79% do total
relacionado àquele exercício, como também quitaram parcelamentos de exercícios anteriores
no montante de R$ 97.764,53, contabilizados como PRINCIPAL DA DÍVIDA CONTRAUAL
RESGATADO - ELEMENTO DE DESPESA 71. Assim, o Poder Executivo Municipal deixou
empenhar, recolher e contabilizar, contribuições previdenciárias, parte patronal, na ~~~
aproximada de R$ 63.175,90, cabendo, por conseguinte, representação à Dele~r~lct.
PROCESSOTC N.o 01961/07

Receita Federal do Brasil, em Campina Grande/PB, a quem compete à fiscalização dos


citados pagamentos.

A eiva em análise, além de provocar inúmeros reflexos negativos nas contas, representa
séria ameaça ao equilíbrio financeiro e atuarial que deve perdurar nos sistemas
previdenciários, com vistas a resguardar o direito dos segurados em receber seus benefícios
no futuro, desrespeitando o disposto no art. 195, inciso I, alínea "a", da Carta Constitucional,
c/c o art. 22, incisos I e II, alínea "a", da Lei Nacional n.o 8.212/91 (Lei de Custeio da
Previdência Socia!), respectivamente, senão vejamos:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e
das seguintes contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da


lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou


creditados. a qualquer título. à pessoa física que lhe preste serviços. mesmo
sem vínculo empregatício;

Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social,


além do disposto no art. 23, é de:

I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou


creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e
trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o
trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos
habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de
reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo
tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da
lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou
sentença normativa.

11 - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da


Lei n,o 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do
grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos
ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas,
no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos:

a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o


risco de acidentes do trabalho seja considerado leve; (grifos nossos)

Em seguida, restou evidenciada pelos peritos deste Sinédrio de Contas Corte a existência
informações divergentes entre o Sistema de Acompanhamento da Gestão dos Recursesõã .....
PROCESSOTC N.O 01961/07

Sociedade - SAGRES MUNICIPAL e a Prestação de Contas Anuais - PCA. Com efeito, o


SAGRES informa que os Decretos n.os 01 e 21/2006 foram nos valores, respectivamente, de
R$ 15.660,00 e de R$ 506.958,67, enquanto que a PCA demonstra que aqueles somaram
R$ 15.510,00 e R$ 419.628,21, existindo, portanto, uma diferença de R$ 87.480,46 a maior
no sistema informatizado do Tribunal de Contas.

Do mesmo modo, mencionaram os técnicos do Tribunal que o SAGRES MUNICIPAL foi


alimentado com dados inconsistentes nos pagamentos dos subsídios da vice-Prefeita,
Sra. Zélia Salvador Uchida, haja vista que a credora informada foi a Sra. Josefa Leal de Melo,
fls. 822/823. Contudo, o Prefeito Municipal de Assunção/PB, Sr. Luiz Waldvogel de Oliveira
Santos, anexou cópias das notas de empenhos, dos cheques e dos recibos de pagamento de
salário daquela autoridade municipal, durante o exercício financeiro de 2006,
fls. 1.539/1.574, demonstrando que a beneficiária foi efetivamente a Sra. Zélia Salvador
Uchida.

Quanto à diferença financeira detectada na conta-corrente específica do Fundo de


Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério - FUNDEF, na importância de R$ 1.315,89, constata-se que no dia 31 de agosto
de 2006 foi transferida a quantia de R$ 21.920,94 da conta do específica do fundo para a
conta FOPAG da Urbe, tendo sido pago o valor de R$ 19.777,05. Ademais, os históricos das
notas de empenhos apresentadas pela defesa, fls. 1.581/1.588, com o intuito de esclarecer a
diferença encontrada pelos analistas do Tribunal, demonstram que as tarifas bancárias
descontadas da Conta Corrente n.o 10.219-9 - FOPAG, no período de 20 de setembro a 20
de dezembro de 2006, fls. 1.577/1.580, possuíram diversas fontes de recursos e referem-se
a um período posterior aos dos débitos ocorridos para quitar os encargos bancários. Assim,
deve o gestor providenciar a devolução da importância de R$ 1.315,89 para a conta-corrente
específica do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação - FUNDEB pertencente ao Município.

No que diz respeito ao pagamento de remuneração mensal com valores abaixo do salário
mínimo a alguns servidores contratados sem a realização de prévio concurso público para as
atividades típicas da administração pública, conforme documentação de fls. 688/693, em que
pese os argumentos do Chefe do Poder Executivo Municipal de Assunção/PB, constata-se, o
descumprimento ao estabelecido no art. 7°, inciso IV, c/c o art. 39, § 3°, ambos da
Constituição Federal, in verbis.

Art. 7° - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:

I- (omissis)

IV - salário rrurumo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de


atender a suas necessidadesvitais básicas e às de sua família com morado,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
PROCESSOTC N.O 01961/07

previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder


aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

Art. 39. (...)

§ 30 Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no


art. 70, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX,
podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a
natureza do cargo o exigir. (nosso grifo)

°
Nesse sentido, transcrevemos a Súmula n. 27 do colendo Tribunal de Justiça do Estado da
Paraíba - TJ/PB, que veda, de forma peremptória, o pagamento de salários abaixo do
mínimo nacionalmente unificado, verbo ad verbum:

Súmula 27 do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba: É obrigação


constitucional do Poder Público remunerar seus servidores, ativos e inativos,
com piso nunca inferior ao salário mínimo nacional unificado, instituído por
Lei Federal.

Outrossim, cabe destacar que até mesmo para aqueles que possuem remuneração variável,
fixada por comissão, peça, tarefa ou outras modalidades, a obrigatoriedade de se pagar o
mínimo legal vigora, conforme preceitua o art. 10, da Lei Nacional nO 8.716, de 11 de
outubro de 1993, que dispõe sobre a garantia do salário mínimo e dá outras providências,
verbum pro verbo:

Art. 10 - Aos trabalhadores que perceberem remuneração variável, fixada


por comissão, peça, tarefa ou outras modalidades, será garantido um salário
mensal nunca inferior ao salário mínimo.

Em termos de dispêndio não comprovado, encontra-se no rol das máculas destacadas na


instrução do feito os gastos com assessoria jurídica em favor do Dr. Josildo Diniz
Albuquerque, no valor de R$ 15.600,00. Com efeito, o citado profissional patrocinou a defesa
pessoal do Prefeito em procedimento administrativo instaurado no âmbito do Ministério
Público Especial, fi. 1.637, quando quem deveria arcar com os gastos era a pessoa física
beneficiada, no caso, o Sr. Luiz Waldvogel de Oliveira Santos, e não o Município. Ademais,
nos ofícios assinados pelo Chefe do Poder Executivo Municipal e encaminhados à
Coordenadoria Geral dos Programas de Transporte, Saúde do Escolar e EJA, bem como à
Promotora de Justiça da Comarca de Taperoá/PB, fls. 1.639/1.640, consta apenas um
carimbo contendo o nome do citado profissional, não evidenciando a realização de quaisquer
trabalhos jurídicos para a Comuna de Assunção/PB.
PROCESSOTC N.o 01961/07

Assim sendo, evidencia-se flagrante desrespeito aos pnnopios básicos da pública


administração, haja vista que não constam nos autos os elementos comprobatórios da
efetiva realização de seus objetos. Concorde entendimento uníssono da doutrina e
jurisprudência pertinentes, a carência de documentos que comprovem a despesa pública
consiste em fato suficiente à imputação do débito, além das demais penalidades aplicáveis à
espécie.

o artigo 70, parágrafo único, da Carta Magna, dispõe que a obrigação de prestar contas
abrange toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde,
gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União, os Estados
ou os Municípios respondam, ou que, em nome destes entes, assuma obrigações de
natureza pecuniária.

Importa notar que imperativa é não só a prestação de contas, mas também a sua completa
e regular prestação, já que a ausência ou a imprecisão de documentos que inviabilizem ou
tornem embaraçoso o seu exame é tão grave quanto a omissão do próprio dever de
prestá-Ias, sendo de bom alvitre destacar que a simples indicação, em extratos, notas de
empenho, notas fiscais ou recibos, do fim a que se destina o dispêndio não é suficiente para
comprová-lo, regularizá-lo ou legitimá-lo.

Nesse contexto, merece transcrição o disposto no artigo 113, da Lei de Licitações e


Contratos Administrativos - Lei Nacional n. o 8.666/93 -, que estabelece a necessidade do
administrador público comprovar a legalidade, a regularidade e a execução da despesa,
verbatim:

Art. 113. O controle das despesas decorrentes dos contratos e demais


instrumentos regidos por esta Lei será feito pelo Tribunal de Contas
competente, na forma da legislação pertinente, ficando os órgãos
interessados da Administração responsáveis pela demonstração da
legalidade e regularidade da despesa e execução, nos termos da
Constituição e sem prejuízo do sistema de controle interno nela previsto.
(grifo ausente no original)

Nesse sentido, dignos de referência são os ensinamentos dos festejados doutrinadores


J. Teixeira Machado Júnior e Heraldo da Costa Reis, in Lei 4.320 Comentada, 28 ed, Rio de
Janeiro: IBAM, 1997, p. 125, Ipsis tãteris:

Os comprovantes da entrega do bem ou da prestação do serviço não


devem, pois, limitar-se a dizer que foi fornecido o material, foi prestado o
serviço, mas referir-se à realidade de um e de outro, segundo as
especificações constantes do contrato, ajuste ou acordo, ou da própria ei
que determina a despesa.
PROCESSOTC N.o 01961/07

Além disso, os princípios da legalidade, da moralidade e da publicidade administrativas,


estabelecidos no artigo 37, caput, da lei Maior, demandam, além da comprovação da
despesa, a efetiva divulgação de todos os atos e fatos relacionados à gestão pública.
Portanto, cabe ao ordenador de despesas, e não ao órgão responsável pela fiscalização,
provar que não é responsável pelas infrações, que lhe são imputadas, das leis e
regulamentos na aplicação do dinheiro público, consoante entendimento do ego Supremo
Tribunal Federal - STF, in verbis.

MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO.


CONTAS JULGADAS IRREGULARES. APUCAÇÃO DA MULTA PREVISTA NO
ARTIGO 53 DO DECRETO-LEI 199/67. A MULTA PREVISTA NO ARTIGO 53
DO DECRETO-LEI 199/67 NÃO TEM NATUREZA DE SANÇÃO DISCIPUNAR.
IMPROCEDÊNCIA DAS ALEGAÇÕES RELATIVAS A CERCEAMENTO DE
DEFESA. EM DIREITO FINANCEIRO, CABE AO ORDENADOR DE DESPESAS
PROVAR QUE NÃO É RESPONSÁVEL PELAS INFRAÇÕES, QUE LHE SÃO
IMPUTADAS, DAS LEIS E REGULAMENTOS NA APUCAÇÃO DO DINHEIRO
PÚBUCO. COINCIDÊNCIA, AO CONTRÁRIO DO QUE FOI ALEGADO, ENTRE
A ACUSAÇÃO E A CONDENAÇÃO, NO TOCANTE À IRREGULARIDADE DA
UCITAÇÃO. MANDADO DE SEGURANÇA INDEFERIDO. (STF - Pleno - MS
20.335/DF, ReI. Ministro Moreira Alves, Diário da Justiça, 25 fev. 1983, p. 8)
(grifo nosso)

Visando aclarar o tema em disceptação, vejamos parte do voto do ilustre Ministro Moreira
Alves, relator do supracitado Mandado de Segurança:

Vê-se, pois, que em tema de Direito Financeiro, mais particularmente, em


tema de controle da aplicação dos dinheiros públicos, a responsabilidade do
Ordenador de Despesas pelas irregularidades apuradas se presume. até
prova em contrário, por ele subministrada.

A afirmação do impetrante de que constitui heresia jurídica presumir-se a


culpa do Ordenador de despesas pelas irregularidades de que se cogita, não
procede, portanto, parecendo decorrer, quiçá, do desconhecimento das
normas de Direito Financeiro que regem a espécie. (grifamos)

Já o eminente Ministro Marco Aurélio, relator na Segunda Turma do STF do Recurso


Extraordinário n.? 160.381jSP, publicado no Diário da Justiça de 12 de agosto de 1994,
página n.O 20.052, destaca, em seu voto, o seguinte entendimento: "O agente público não
só tem que ser honesto e probo, mas tem que mostrar que possui tal qualidade. C o
mulher de César."
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 01961/07

Em total consonância com aludida conclusão, reproduzimos a lição do insigne representante


do Ministério Público Especial, Dr. Marcílio Toscano Franca Filho, nos autos do Processo
TC n.O 04588/97, verbo ad verbum:

Há menção nos autos de processamento irregular da despesa pública sob a


forma de realização de dispêndios sem hábil comprovação documental.
Acerca de tal expediente merece destaque o fato de que despesa pública
passa obrigatoriamente pelas fases de empenho, liquidação e pagamento.
Após o empenho, vem a liquidação da despesa, ocasião em que, do
montante empenhado, deverá ser quantificado com exatidão o crédito do
fornecedor através da documentação hábil (nota fiscal, recibo, atesto etc).
Por fim, tem-se o efetivo pagamento. Sublinho que a insuficiência
documental na comprovação de despesa pública é bastante para a
imputação do débito referente à despesa irregular, além das demais
penalidades aplicáveis à espécie.

Diante do contexto, merece destaque o fato de que, dentre outras irregularidades e


ilegalidades, inclusive práticas danosas ao Erário, quatro das máculas encontradas nos
presentes autos constituem motivo de emissão, pelo Tribunal, de parecer contrário à
aprovação das contas do Prefeito Municipal de Assunção/PB, conforme disposto nos itens
"2", "2.2", "2.5", "2.9" e "2.10", do Parecer Normativo PN - TC - 52/2004, ipsis /itteris:

2. Constituirá motivo de emissão, pelo Tribunal, de PARECERCONTRÁRIOà


aprovação de contas de Prefeitos Municipais, independentemente de
imputação de débito ou multa, se couber, a ocorrência de uma ou mais das
irregularidades a seguir enumeradas:

( ) ...
2.2. não pagamento efetivo do salário mínimo nacionalmente unificado;

( ) ...
2.5. não retenção e/ou recolhimento das contribuições previdenciárias aos
órgãos competentes (INSS ou órgão do regime próprio de previdência,
conforme o caso), devidas por empregado e empregador, incidentes sobre
remunerações pagas pelo Município;

( ...)
2.9. incompatibilidade não justificada entre os demonstrativos, inclusive
contábeis, apresentadosem meios físico e magnéticos ao Tribunal;

2.10. não realização de procedimentos Iicitatórios quando legalm nte


exigidos;
PROCESSOTC N.o 01961/07

Por fim, ante as diversas transgressões a disposições normativas do direito objetivo pátrio,
decorrentes da conduta implementada pelo Chefe do Poder Executivo da Comuna de
Assunção, Sr. Luiz Waldvogel de Oliveira Santos, resta configurada a necessidade imperiosa
de aplicação da multa de R$ 2.805,10 - valor atualizado pela Portaria n.o 039/06 do
TCE/PB -, prevista no art. 56, inciso lI, da Lei Orgânica do TCE/PB - Lei Complementar
Estadual n.O18, de 13 de julho de 1993, in verbis:

Art. 56 - O Tribunal poderá também aplicar multa de até Cr$ 50.000.000,00


(cinqüenta milhões de cruzeiros) aos responsáveis por:

I - (omissis)

II - infração grave a norma legal ou regulamentar de natureza contábil,


financeira, orçamentária, operacional e patrimonial;

Ex positis, proponho que o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba:

1) Com base no art. 71, inciso I, c/c o art. 31, § 1°, da Constituição Federal, no art. 13, § 1°,
da Constituição do Estado da Paraíba,e no art. 1°, inciso IV, da Lei Complementar Estadual
n.O 18/93, EMITA PARECER CONTRÁRIO à aprovação das contas do Prefeito Municipal de
Assunção/PB, Sr. Luiz Waldvogel de Oliveira Santos, relativas ao exercício financeiro de
2006, encaminhando-o à consideração da ego Câmara de Vereadores do Município para
julgamento político da referida autoridade.

2) Com fundamento no art. 71, inciso lI, da Constituição do Estado da Paraíba, bem como
no art. 1°, inciso I, da Lei Complementar Estadual n.O 18/93, JULGUE IRREGULARES as
contas do Ordenador de Despesas da Comuna no exercício financeiro de 2006, Sr. Luiz
Waldvogel de Oliveira Santos.

3) IMPUTE ao Prefeito Municipal de Assunção/PB, Sr. Luiz Waldvogel de Oliveira Santos, o


débito no valor de R$ 15.600,00 (quinze mil e seiscentos reais), referente a despesas não
comprovadas com assessoriajurídica pagas ao Dr. Josildo Diniz Albuquerque.

4) ASSINE o lapso temporal de 60 (sessenta) dias para recolhimento voluntário aos cofres
públicos municipais do montante imputado, sob pena de responsabilidade e intervenção do
Ministério Público Estadual, na hipótese de inércia, tal como previsto no art. 71, § 4°, da
Constituição do Estado da Paraíba, e na Súmula n.o 40 do colendo Tribunal de Justiça do
Estado da Paraíba- TJ/PB.

5) FIXE o prazo de 30 (trinta) dias para que o Chefe da Comuna de Assunção/PB, Sr. L ....
Waldvogel de Oliveira Santos, faça retornar à conta-corrente específica do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização os roflssíonae ~b
PROCESSOTC N.O 01961/07

Educação - FUNDEB pertencente ao Município, com recursos de outras fontes, a importância


de R$ 1.315,89 (um mil, trezentos e quinze reais e oitenta e nove centavos), concernente à
diferença apurada na conta-corrente do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério - FUNDEF.

6) APLIQUE MULTA ao Chefe do Poder Executivo da Urbe, Sr. Luiz Waldvogel de Oliveira
Santos, no valor de R$ 2.805,10 (dois mil, oitocentos e cinco reais e dez centavos),
com base no que dispõe o art. 56, inciso lI, da Lei Complementar Estadual
n.O 18/93 - LOTCE/PB.

7) DETERMINE o prazo de 60 (sessenta) dias para pagamento voluntário da penalidade ao


Fundo de Fiscalização Orçamentária e Financeira Municipal, conforme previsto no art. 3°,
alínea "a", da Lei Estadual n.? 7.201, de 20 de dezembro de 2002, cabendo à Procuradoria
Geral do Estado da Paraíba, no interstício máximo de 30 (trinta) dias após o término daquele
período, velar pelo seu integral cumprimento, sob pena de intervenção do Ministério Público
Estadual, na hipótese de omissão, tal como previsto no art. 71, § 4°, da Constituição do
Estado da Paraíba, e na Súmula n.o 40, do ego Tribunal de Justiça do Estado da
Paraíba - TJ/PB.

8) FAÇA recomendações no sentido de que o Alcaide, Sr. Luiz Waldvogel de Oliveira Santos,
não repita as irregularidades apontadas nos relatórios da unidade técnica deste Tribunal e
observe, sempre, os preceitos constitucionais, legais e regulamentares pertinentes.

9) Com fulcro no art. 71, inciso XI, c/c o art. 75, caput, da Constituição Federal,
COMUNIQUE à Delegacia da Receita Federal do Brasil, em Campina Grande/PB, acerca da
falta de recolhimento de parte das contribuições previdenciárias devidas pelo empregador,
incidentes sobre as folhas de pagamento do Poder Executivo Municipal de Assunção/PB, no
exercício financeiro de 2006.

10) Também com base no art. 71, inciso XI, c/c o art. 75, cabeça, da Lei Maior, ENCAMINHE
cópias das peças técnicas, fls. 956/972 e 1.704/1.725, do parecer do Ministério Público
Especial, fls. 1.727 1.739, e desta decisão à augusta Procuradoria Geral de Justiça do Estado
da Paraíbapar as p,;nCias cabíveis.

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