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Curso

Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporâneas

Título do projeto
Comunicação, digital literacy e participação política: inter-relações, reciprocidades e
determinações

Autor
Jussara Borges

Linha de pesquisa
Cibercultura

Caracterização do Problema
A democracia original grega era fundada no debate público e na participação
direta do cidadão nas decisões coletivas. Essa experiência de democracia direta era
possível numa polis pequena, como a Atenas do V século a.C, onde viviam cerca de 30
mil cidadãos. O crescimento populacional e a complexidade dos problemas coletivos no
Estado moderno levaram ao atual modelo de democracia representativa, na qual o eleito
deve representar o eleitor. A representatividade, no entanto, afastou a esfera civil do
campo de decisão. O Estado democrático moderno configura-se num ente profissional,
burocrático e autônomo da sociedade. Some-se a isso, no Brasil, a “cultura” do
patrimonialismo, a partir da qual, muitas vezes, assiste-se à apropriação do Estado por
interesses privados, transformando o governo em fonte de favores e corrupção. Essas e
outras questões têm levando a discussões sobre alternativas ao desenvolvimento da
democracia.
Com a chegada da Internet e suas possibilidades de acesso à informação e
comunicação, alguns pesquisadores acreditam que esta nova configuração da sociedade
contemporânea proporciona um momento no qual se pode reviver o sentido político da
democracia direta, considerando a Internet como uma nova ágora digital (Candido, 1996;
Burke; Ornstein, 1999). Este trabalho, entretanto, segue numa linha de raciocínio
diferenciado, acreditando que as possibilidades apontam não para o restabelecimento de
uma democracia direta, mas para o alargamento da democracia.
Esse alargamento, de acordo com Bobbio (2007, p. 145 e 155) está relacionado
com: a) “a progressiva extensão dos direitos políticos, isto é, do direito de participar, ao
menos com a eleição de representantes, da formação da vontade coletiva”; b) “integração
da democracia representativa com a democracia direta”, e c) “instituição e exercício de
procedimentos que permitem a participação dos interessados nas deliberações de um
corpo coletivo a corpos diferentes daqueles propriamente políticos”. Uma observação
mais atenta dos elementos propostos por Bobbio nos permite observar que o alargamento
da democracia está sustentado no fortalecimento da participação.
O conceito e o peso da participação política nas sociedades democráticas, no
entanto, oscilaram profundamente ao longo da história. Mais recentemente, novos valores
relacionados à cibercultura também competem na conformação do que é participação
política. Esses valores têm suas raízes no movimento contestatório da década de 1960,
mas vão se intensificar no final do século XX fortemente amparados pelas facilidades de
acesso à informação e comunicação propiciadas pela Internet. As formas de ser e fazer
que se desenvolvem ou intensificam a partir desse contexto vêm sendo chamadas de
cibercultura, um contexto que valoriza práticas de colaboração, interação e participação.
Portanto, mais que observar o uso de ferramentas disponibilizadas pelas tecnologias para
a participação política, esta pesquisa está interessada em diferentes compreensões,
habilidades, atitudes e formas de participação que podem estar sendo criadas e/ou
transformadas no contexto da cibercultura.
Organizações da sociedade civil, que no século XX ocuparam um papel
importante na articulação e promoção de direitos civis, devem estar sendo afetadas pelas
mudanças. No entanto, não se sabe como a cultura digital influencia sua participação
política; se houve mudança no entendimento de participação ou na forma como ela se
efetiva. Além disso, embora a Internet e as tecnologias correlatas forneçam um
ferramental propício ao incremento da participação política, há atualmente outros fatores
que condicionam o fenômeno, como a existência de condições materiais, a
disponibilização de informação qualificada, a existência de condições instrumentais,
cultura cívica e competências para atuar e interagir no ciberespaço.
Esse último condicionante – as competências - compõe os interesses de
investigação desta pesquisa. Observa-se que embora autores de correntes diversas
concordem que a cultura digital exija novas habilidades, letramentos ou competências,
não se observa um consenso quanto à terminologia. Além disso, a discussão sobre as
competências ainda é periférica nas pesquisas que as mencionam e não esclarecem quais
seriam. Eyman (2005) defende o termo digital literacy por ser literacy uma prática sócio-
historicamente situada, com um modificador que permite fazer a distinção entre aquelas
práticas que são culturalmente localizadas dentro da cultura impressa e aquelas
localizadas na cultura digital.
De acordo com revisão de literatura realizada por Aviram e Eshet-Alkalai (2006),
o conceito de digital literacy é frequentemente relacionado com a combinação de
habilidades técnicas, cognitivas e socioemocionais para efetuar transações e resolver
problemas em ambientes digitais. Fleming (2004) lembra que o conceito para literacy é o
de uma forma de competência para lidar com recursos codificados que mediam a
linguagem, suas regras de uso e a cultura construída com e em torno dela. Assim, cabe
questionar se o contexto da cibercultura estaria promovendo ou mesmo demandando
novas competências para a atuação das organizações da sociedade civil.
As questões levantadas acima podem ser sumarizadas com os seguintes problemas
que norteiam esta pesquisa:
Quais os conceitos e as formas de participação política praticados pelas
organizações da sociedade civil atualmente? Os valores da cibercultura estão impactando
nessas práticas? Quais novas competências estão sendo promovidas e/ou demandadas
para atuar nesse contexto?

Fundamentação Teórica do Problema


A participação política na democracia
Num regime democrático há “um conjunto de regras de procedimento para a
formação de decisões coletivas, em que está prevista e facilitada a participação mais
ampla possível dos interessados” (Bobbio, 1997, p. 12). O conceito e a extensão dessa
participação, no entanto, variaram de acordo com o contexto histórico e a perspectiva
teórica adotada.
No conceito grego original, a democracia é concebida para ser exercida em praça
pública, na ágora, onde cada cidadão pode – e deve – confrontar sua opinião diretamente
com a dos demais. As decisões que dizem respeito à coletividade são, assim, resultado da
vontade da maioria; e produzidas graças à discussão e deliberação pública a qual
qualquer cidadão tem acesso. O direito político à participação, no entanto, é exclusivo do
cidadão da época, à exclusão de mulheres, escravos e estrangeiros. “A igualdade política
determinava-se, positivamente, pela relação do cidadão ao todo do qual fazia parte e,
negativamente, pela desigualdade social na qual ela estava ancorada.” (Rosenfield, 2006,
p. 8).
Com a emergência do Estado moderno, a ampliação da dimensão territorial, a
população numerosa e a complexidade dos problemas públicos nos novos Estados,
impossibilitam a democracia direta e, portanto, impõe-se o governo por representação.
Para Rosenfield (2006), a democracia sofre um deslocamento de sentido, pois
independente do espaço público dos cidadãos, é o Estado que passa a estruturar e
controlar a sociedade de fora. Em outras palavras, ocorre uma transferência da tomada de
decisões de um processo direto público para um centro de poder situado acima da
sociedade. Com isso, “a democracia pode inclusive vir a significar uma mera aparência
de participação política, embora o seu sentido originário seja precisamente o de uma
efetiva participação dos indivíduos nos assuntos públicos” (Rosenfield, 2006, p. 13).
O entendimento hodierno de Rosenfield encontra eco nas reflexões de teóricos da
democracia dos séculos XVII e XVIII, como Rousseau e Bentham. Para Bentham, a
participação englobava o voto pelo sufrágio universal e um eleitorado que exercesse
algum controle sobre seus representantes. Isso implicava um eleitorado portador de
opinião quanto às políticas de seu interesse e de interesse geral e que pudesse reportá-la a
seus representantes.
Já nas teorias de J. S. Mill e Rousseau, a participação tem funções mais amplas e
ocupa papel central para o estabelecimento e manutenção do Estado democrático. Por
isso, Pateman (1992) a eles se refere como teóricos da democracia participativa.
Toda a teoria política de Rousseau apóia-se na participação individual
de cada cidadão no processo político de tomada de decisões, e, em sua
teoria, a participação é bem mais do que um complemento protetor de
uma série de arranjos institucionais: ela também provoca um efeito
psicológico sobre os que participam, assegurando uma inter-relação
contínua entre o funcionamento das instituições e as qualidades e
atitudes psicológicas dos indivíduos que interagem dentro delas.
(Pateman, 1992, p. 35)
Em oposição a estes autores tidos como “clássicos” por Shumpeter, na primeira
metade do século XX estará em formação a teoria democrática contemporânea, reunindo
teóricos como o próprio Schumpeter, Berelson, Dahl e Sartori. De forma geral, o
entendimento de participação entre os quatro autores pode ser sintetizado na escolha
daqueles que tomam as decisões. Essa escolha deve se dar por sufrágio universal, através
de eleições periódicas e livres, nas quais os líderes (elite) competem pelos votos do povo.
O nível de participação desejável é aquele que faz a máquina eleitoral funcionar.
Observa-se, portanto, que eles rejeitaram o ideal democrático da máxima participação por
não verem possibilidade empírica de realização e por temerem a própria desestabilização
do sistema democrático gerada por uma participação “acima do desejável”.
Com Cole, à influência de Rousseau, a participação retoma um papel central não
só na política, mas ele pensa numa sociedade participativa. Para ele, a sociedade “é um
complexo de associações que se mantêm unidas pelas vontades de seus membros” (Cole,
1920 apud Pateman, p. 53). Cole acredita que a liberdade do indivíduo está condicionada
à sua capacidade de participar da tomada de decisão em todas as associações ou grupos
dos quais faz parte, como no local de trabalho; e são nesses ambientes familiares que o
indivíduo desenvolve e exercita as “características democráticas” para interagir num
sistema democrático em larga escala.
Portanto, o conceito, os níveis e mesmo a necessidade de participação política
popular não encontram unanimidade entre os estudiosos da democracia. Da mesma
forma, observando-se a evolução da prática participativa ao longo da história, vê-se que
foi uma evolução lenta e permeada por muitas disputas. Se na Antiguidade grega, o
direito à participação se estendia a todo cidadão, o conceito de cidadão era restrito, como
se viu. Já na Idade Média, a tomada de decisão política estava nas mãos da nobreza e do
alto clero, mas já no final da Era Medieval observa-se uma pressão crescente dos grandes
proprietários, banqueiros e comerciantes mais ricos para ter voz nessas decisões. Nos
séculos seguintes, paulatinamente a burguesia vai ganhando espaço no cenário político e
acaba por conquistar o direito político a todos que tinham propriedade ou bons
rendimentos.
Já no século XIX, a Revolução Industrial leva à formação de um proletariado
urbano, à concentração das pessoas nas cidades, ao aperfeiçoamento dos meios de
comunicação, a maior acesso à educação e à informação. Todos são elementos que,
conjugados à luta por espaço nas esferas de decisão, levaram a classe assalariada a
conquistar o direito à participação política, embora não sem restrições (Dallari, 2004). A
conquista e alargamento de direitos políticos para determinados grupos (mulheres,
analfabetos, negros) encontrou organização mais tarde a partir de associações, que são
um fenômeno que caracteriza a democracia moderna. Assim, ao longo do século XX,
vêem-se muitas constituições ocidentais garantindo o sufrágio universal.
A conquista do sufrágio universal, no entanto, não significa a linha de chegada da
participação política. O senso comum da participação política no século XXI inclui
diversificadas formas de intervenção que fazem do voto condição básica, mas insuficiente
de participação. Ilustrando essa concepção atual, Dallari (2004, p. 42) coloca que “a
participação através de eleições não deve ser excluída, devendo, porém, ser considerada
num quadro mais amplo, que inclui outras formas de participação”. Conforme já
mencionado, ao tratar dos elementos para o desenvolvimento da democracia, Bobbio
(2007) também os relacionou ao fortalecimento da participação.
Com a chegada da Internet e suas possibilidades de acesso à informação e
comunicação, alguns pesquisadores acreditam que nesta nova configuração da sociedade
contemporânea, a democracia encontra terreno profícuo para ser fortalecida pela
ampliação dos meios de participação e “pelo fato de a informação ser amplamente
distribuída e os fluxos de informação não poderem mais ser controlados a partir do
centro” (Akutsu; Pinho, 2002, p.3). King (2006) salienta que a comunicação é
fundamental nos processos democráticos e as TICs oferecem a possibilidade da
interatividade em tempo real. Há, por fim, a possibilidade do diálogo, superando o
monólogo dos meios de comunicação de massa. Portanto, na visão de vários autores, isso
possibilita o genuíno debate político (Silva; Silva, 2006).
Coleman (1999) enfatiza que as TICs podem mudar as relações no processo de
comunicação de uma maneira sem precedentes e quebrar a forma de governar e ser
governado. No Brasil, de acordo com Wilson Gomes1, os programas de governo
eletrônico não oferecem meios de participação efetivos e são caracterizados por alta dose
de intransparência. Ainda assim, ele reconhece que a Internet oferece possibilidades reais
de mudança dessa situação, a partir de sua potencialidade para o controle social, o

1
Comunicação de Wilson Gomes, professor da Faculdade de Comunicação/UFBA, no Ciclo de
Cibercultura – Tecnologia, Sociedade e Cultura no Século XXI, em Salvador, em 24 de outubro de 2007.
“constrangimento” dos governantes e a transparência dos governos. Todas essas
ponderações destacam possibilidades de uso político da Internet. De fato a introdução
dessa nova plataforma tecnológica
[...] faz ressurgir fortemente as esperanças de modelos alternativos de
democracia, que implementam uma terceira via entre a democracia
representativa, que retira do povo a decisão política, e a democracia
direta, que a quer inteiramente consignada ao cidadão. Estes modelos
giram ao redor da idéia de democracia participativa e, nos últimos dez
anos, na forma da democracia deliberativa, para a qual a internet é
decididamente uma inspiração (Gomes, 2005a, p. 218).
Neste processo podemos observar a democracia deliberativa como um passo que
vai além da democracia representativa, em direção a um governo com maior
possibilidade de participação política do cidadão (Luchmann, 2002). A democracia
deliberativa possui formas de participação do cidadão no processo decisivo que vão além
da escolha de seus representantes.
Como a democracia deliberativa propicia uma maior participação, sua
implementação exige que a esfera civil da sociedade legitime os segmentos da esfera
pública, na apresentação, problematização e representação de interesses sociais. Isto se
daria por meio de aglomerações eletrônicas ou dos clássicos associativismos populares,
como associações de classes, de bairro e de comunidades de interesse. A nova
configuração das formas de relacionamento entre o Estado e a sociedade, da qual as TICs
são parte essencial, sugere que o cenário contemporâneo se delineia não para uma
retomada de uma democracia clássica, direta, mas para a transição da democracia
representativa para a democracia deliberativa, consultiva e cogestionável (Souza; Borges,
2007).
Mais recentemente novos elementos vão juntar-se a esse contexto e produzir
repercussões sociais importantes. Trata-se da combinação de técnicas informáticas com
processos de comunicação mediados por computador que potencializam formas de
publicação facilitadas, compartilhamento e organização de informação, além da
ampliação de espaços para interação entre os participantes do processo (Primo, 2008).

A cibercultura e a cultura participativa


Para Lévy (1999, p. 17), cibercultura especifica “o conjunto de técnicas (materiais
e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se
desenvolvem juntamente com o crescimento de ciberespaço”. O ciberespaço, por sua vez,
diz respeito não apenas à infraestrutura material de comunicação digital, mas também às
informações que essa estrutura abriga e faz circular, assim como os seres humanos que
navegam e alimentam essas informações (Lévy, 1999, p. 17).
O ciberespaço é um ecossistema complexo onde reina a interdependência
entre o macro-sistema tecnológico (a rede de máquinas interligadas) e o
micro-sistema social (a dinâmica dos usuários), construindo-se pela
disseminação da informação, pelo fluxo de dados e pelas relações sociais
aí criadas. [...] (Lemos, 2007, p. 137)
Para Norris (2001), a cibercultura propicia um espaço público propício para redes
progressivas e movimentos sociais que cresceram na contracultura dos anos 1960, como
aqueles que promovem os direitos homossexuais, direitos civis, feministas e ambientais.
De fato, desde a criação da internet – a base técnica e operacional do ciberespaço -, se
multiplicam os grupos que se apropriam da plataforma para fortalecer articulações já
existentes e criar novas. São redes de desenvolvedores de software livre, redes de
pesquisadores das mais diversas especialidades, redes sociais com interesses diversos.
Há mais de dez anos Lévy (1999, p. 194) vem defendendo que o “nervo do
ciberespaço não é o consumo de informações ou de serviços interativos, mas a
participação em um processo social de inteligência coletiva”. No entanto, práticas que
substanciem essa afirmação só se tornaram evidentes no Brasil em período recente, a
exemplo dos wikis - em que cada usuário redige e comenta um determinado termo
acessível a todos os outros que o lêem, e podem também contribuir com alterações - e de
espaços de construção coletiva como o MySpace, Youtube, blogs, redes de celulares.
Todos são elementos nos quais a inteligência coletiva é estimulada pela troca de
informações à distância, com grande velocidade, por grupos de pessoas em um ambiente
multidirecional de comunicação, baseado no paradigma da comunicação de muitos para
muitos (Cavalcanti; Nepomuceno, 2007).
Para Primo (2008, p. 102), as principais repercussões sociais da Web 2.02 estão na
potencialização dos processos de trabalho coletivo, das trocas afetivas, da produção e
2
Web 2.0 é um termo criado em 2004 pela empresa estadunidense O'Reilly Media para designar uma
segunda geração de comunidades e serviços, tendo como conceito a "Web como plataforma", envolvendo
wikis, aplicações baseadas em folksonomia, redes sociais e tecnologia da informação. Embora o termo
tenha uma conotação de uma nova versão para a Web, ele não se refere à atualização nas suas
especificações técnicas, mas a uma mudança na forma como ela é encarada por usuários e desenvolvedores,
ou seja, o ambiente de interação que hoje engloba inúmeras linguagens e motivações. (Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Web_2.0)
circulação de informações, além da construção social de conhecimento. Assim, as
possibilidades de interação propiciadas pelos meios eletrônicos, nos quais, muitas vezes,
o indivíduo é convidado a opinar, a intervir, parecem levá-lo a assumir uma postura mais
proativa perante a informação, criticando-a, refazendo-a e interagindo com o produtor e
com outros usuários.
Por isso, para Jenkins (2009), o próximo estágio da evolução é de uma cultura de
interação para a cultura participativa. O autor estuda o envolvimento dos fãs com
diferentes produtos midiáticos - como Survivor, Matrix e Harry Potter – através da
tecnologia, para evidenciar uma mudança cultural em curso: um indivíduo que não se
contenta mais em consumir um produto, mas quer poder modificá-lo, criar a partir dele,
reinventá-lo, fazer parte.
A expressão cultura participativa contrasta com noções mais antigas
sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez
de falar sobre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de
papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes
interagindo de acordo com um conjunto de regras, que nenhum de nós
entende por completo (Jenkins, 2009, p. 28)
Pode-se especular, portanto, o reflexo da cultura participativa em outros fóruns de
interação, como os de participação política. Para Scheer (1997 apud Garcia, 2005) “do
cruzamento desta arquitectura entre sociedades da comunicação, informação e comutação
nascerá uma outra sociedade, a virtual, onde as configurações e os mecanismos políticos
terão necessariamente que ser diferentes”.
Assim, o argumento é de que o movimento em torno de conceitos como a Web
2.0, a inteligência coletiva e a própria cultura em torno dos meios digitais pode estar
conduzindo para a formação de um cidadão mais participativo perante as diversas
questões que o cercam, entre elas as questões políticas. Nesse sentido, a democracia
eletrônica deixa de ter o Estado como seu principal indutor – como aparece em boa parte
das iniciativas em torno do conceito – e coloca o cidadão como protagonista do processo.
Isso vai ao encontro do entendimento de democracia eletrônica de Lévy (1999, p. 186,
grifo nosso):
[...] a difusão de propagandas governamentais sobre a rede, o anúncio
dos endereços eletrônicos dos líderes políticos, ou a organização de
referendos pela Internet nada mais são do que caricaturas de democracia
eletrônica. A verdadeira democracia eletrônica consiste em encorajar,
tanto quanto possível – graças às possibilidades de comunicação
interativa e coletiva oferecidas pelo ciberespaço – a expressão e a
elaboração dos problemas da cidade pelos próprios cidadãos, a auto-
organização das comunidades locais, a participação nas deliberações por
parte dos grupos diretamente afetados pelas decisões, a transparência das
políticas públicas e sua avaliação pelos cidadãos.
Observa-se que a compreensão de Lévy apresenta convergência com a segunda e
terceira proposições de Bobbio para a extensão da democracia: a integração da
democracia representativa com a democracia direta e práticas participativas nas esferas
sociais em que o indivíduo atua.
No entanto, Otfried Jarren3 lembra que embora todos possam potencialmente
disponibilizar conteúdos na Internet, fica para o usuário a incumbência de se achar no
meio disso tudo. Para ele as competências para atuar e interagir no ciberespaço são
elevadas e a formação não está distribuída de forma igualitária intra e entre nações, o que
implica em limitações para participação política.

Competências digitais
O exercício da cidadania no século XXI sugere um indivíduo que interage a partir
do meio digital. A intensificação e ampliação da globalização da política, da economia,
da quebra de fronteiras na disseminação de culturas, a explosão e mercantilização da
informação condicionaram o exercício da cidadania plena ao alcance de novos patamares
de riqueza, educação e acesso a serviços e produtos. Gónzalez de Gomez (2006) afirma
que “todas essas questões ora políticas, ora teóricas, ora técnicas, passam hoje – de modo
necessário se não de modo suficiente – pela questão da informação e das tecnologias de
comunicação e informação”.
O uso pleno das redes digitais envolve a aplicação de competências diversas como
habilidades motoras para usar as ferramentas tecnológicas, a navegação em ambientes, a
competência em informação (information literacy), a comunicação, a publicação até a
completa aplicação da tecnologia para o desenvolvimento de uma ampla gama de
atividades humanas. É importante compreender que a relação com os dispositivos para a
comunicação foi recentemente reconfigurada e consequentemente, as possibilidades e as
exigências de competências também (Ribeiro, 2007).

3
Comunicação de Otfried Jarren, professor do Instituto de Publicidade e Pesquisas em Mídia (Suíça), no
Ciclo de Cibercultura – Tecnologia, Sociedade e Cultura no Século XXI, em Salvador, em 24 de outubro de
2007.
Para Gilster (1997, p. xii) “A tecnologia demanda de nós um senso de
possibilidades, uma disposição para adaptar nossas habilidades para uma nova mídia
evocativa, imaginativa. E esse é o coração da competência digital. Nossa experiência com
a Internet será determinada pela forma como nós dominaremos essas competências-
chave.” 4
As competências digitais podem ser definidas como um conjunto de competências
requeridas para exercer um completo comando sobre a produção de significado e
conhecimento potencialmente propiciados pela Internet. Os usuários precisam se sentir
familiarizados com uso de softwares, precisam localizar informação útil, mas mais do que
isso, para a Internet funcionar como um meio de expressão individual e comunicação
social, é necessário um conjunto de competências para atuar efetiva e criativamente tanto
como produtores como consumidores, como “falantes” e ouvintes, no contexto social que
eles querem participar (Murdock; Golding, 2004). Demo cita uma definição de Martin e
utiliza a expressão “alfabetização digital”, mas com um conceito muito aproximado
daquele tratado aqui:
Alfabetização digital como consciência, atitude e habilidade dos
indivíduos de apropriadamente usar ferramentas digitais e facilidades
para identificar, acessar, manejar, integrar, avaliar, analisar e sintetizar
recursos digitais, construir novo conhecimento, criar expressões de mídia
e comunicar-se com os outros, no contexto de situações específicas da
vida, com o objetivo de capacitar ação social construtiva; e refletir sobre
tal processo. (Martin, 2006 apud Demo, 2007)
De acordo com revisão de literatura realizada por Aviram e Eshet-Alkalai (2006),
o conceito de digital literacy é frequentemente relacionado com a combinação de
habilidades técnicas, cognitivas e socioemocionais para efetuar transações e resolver
problemas em ambientes digitais. Também é apresentado como um tipo especial de
atitude que possibilita aos usuários agirem intuitivamente em ambientes digitais, e fácil e
efetivamente acessarem a grande quantidade de conhecimento estocado nesses ambientes.
Eshet-Alkalai (2004) propôs um esquema conceitual de digital literacy, arguindo
que ele cobre a maioria das habilidades que os usuários empregam em ambientes digitais.
O esquema compreende 5 tipos de habilidades:

4
Tradução livre de: “Technology demands of us a sense of possibilities, a willingness to adapt our skills to
an evocative new medium. And that is the heart of digital literacy. Our experience of the internet will be
determined by how we master its core competences”
a) Photo-visual literacy – com a evolução dos ambientes digitais baseados em texto
para ambientes baseados em elementos gráficos, é necessário empregar habilidades
cognitivas para “usar a visão para pensar”. Em outras palavras, esta habilidade está
relacionada com a capacidade de “ler” e entender instruções e mensagens que são
mostradas em formato visual-gráfico. Os recentes jogos de computador, cujas
instruções são todas dadas por meio de símbolos e ícones, são exemplos do
ambiente de uso dessa habilidade;
b) Reproduction literacy – trata-se da habilidade de criar novos significados e novas
interpretações pela combinação de fragmentos de textos, imagens ou sons pré-
existentes. Essa habilidade mostra-se essencial em dois campos principais: redação
– onde uma sentença pré-existente pode ser reorganizada e rearranjada para criar
um novo significado; e na arte, onde uma peça de áudio ou vídeo pode ser editada e
manipulada para criar um novo trabalho de arte;
c) Branching literacy – é a habilidade para manter-se orientado e não perder-se no
ciberespaço enquanto navega através de diversos domínios do conhecimento, apesar
dos intricados atalhos disponíveis. Também está relacionada com a habilidade de
criar modelos mentais, mapas de conceitos e outras formas de representação
abstrata da estrutura da rede, que ajuda o usuário a superar problemas de
desorientação em ambientes de hipermídia;
d) Information literacy – com o crescimento exponencial da informação disponível, os
usuários precisam saber selecionar a informação útil daquela falsa, irrelevante ou
preconceituosa. Pessoas competentes em informação são críticas e sempre
questionam a validade da informação
e) Sócio-emotional literacy – inclui as habilidades para compartilhar não só
conhecimento formal, mas também sentimentos através dos meios de comunicação
digital, identificar pessoas mal intencionadas em uma sala de bate-papo e evitar
armadilhas, como vírus. Desde que o uso do ciberespaço envolva aspectos sociais e
emocionais, os usuários precisam de habilidades para “entenderem as regras do
jogo”.

A sociedade civil organizada


A livre associação é critério que caracteriza a atual democracia. Nas palavras de
Bobbio (2007, p.152) “a democracia dos modernos é pluralista, vive sobre a existência, a
multiplicidade e vivacidade das sociedades intermediárias”. São os grupos segmentados –
associações de mulheres, negros, ecológicos - que se tornaram os protagonistas da vida
política na sociedade democrática. Além da atuação em si, eles contribuem para ampliar
as formas de participação política, emprestando-lhe um novo/renovado caráter de ação: a
busca por informações, a militância, as discussões, as manifestações de opinião, as
marchas, a avaliação dos representantes, a pressão sobre os políticos etc.
As organizações da sociedade civil no Brasil vêm atuando em diversas frentes e
formatos: cooperativas, pastorais da Igreja, sindicatos, movimentos sociais (de negros, de
mulheres, de homossexuais, direitos humanos, meio ambiente etc.). Usualmente são
iniciativas direcionadas por atores sociais e organizações que orientam suas práticas no
sentido da democratização da sociedade, atuando em mediações políticas, pedagógicas e
informacionais. Para Bodstein (1997, p. 9) a Sociedade da Informação traz na sua
essência uma sociedade civil mais organizada e fortalecida:
Não há processo de desenvolvimento de direitos sem compromissos
democráticos explícitos em torno da redução da iniqüidade social, o
que certamente implica o fortalecimento da sociedade civil e de suas
formas plurais de organização, permitindo a emergência de novas
identidades e de novas representações em torno da questão social.
Essas organizações, que costumam ter uma forte tradição na constituição de
parcerias e redes, podem incorporar a tecnologia para atingir seus objetivos, organizar
canais que dêem voz ao cidadão individual e também para otimizar o trabalho em
cooperação. Elas, que já usam o conceito de rede, podem apropriar-se da rede
tecnológica. “É nestes recônditos da sociedade, seja em redes eletrônicas alternativas,
seja em redes populares de resistência comunitária, que tenho notado a presença dos
embriões de uma nova sociedade lavrados nos campos da história pelo poder da
identidade” (Castells, 2003. p. 444)
É esse contexto que vai propiciar a emergência de milhares de iniciativas
voluntárias de grupos da sociedade que - a despeito da existência de procedimentos
institucionalizados de atuação política - se organizam em prol de objetivos comuns e
buscam novas formas de participação. Por essas e outras razões as organizações da
sociedade civil constituem o corpus de observação empírica para este trabalho.

Justificativa
Dado que compreender a cultura digital é parte dos interesses atuais da área de
Comunicação, esta pesquisa pretende contribuir com o entendimento de um elemento
significativo desta cultura: a influência que exerce sobre a participação política. Além
disso, o termo “participação” vem sendo empregado em múltiplos contextos e emergiu
como um conceito dominante, embora cercado de expectativas nem sempre
convergentes:
As corporações imaginam a participação como algo que podem iniciar
e parar, canalizar e redirecionar, transformar em mercadoria e vender.
As proibicionistas estão tentando impedir a participação não
autorizada; as cooperativistas estão tentando conquistar para si os
criadores alternativos. Os consumidores, por outro lado, estão
reinventando o direito de participar da cultura, sob suas próprias
condições, quando e onde desejarem. Esse consumidor, mais poderoso,
enfrenta uma série de batalhas para preservar e expressar seu direito de
participar (Jenkins, 2009, p. 228).
Portanto, entender a influência do contexto na evolução da participação política e
como esta é compreendida e exercida por organizações da sociedade civil pode ajudar-
nos a lançar luz sobre os caminhos e entraves que as sociedades democráticas têm
encontrado no seu desenvolvimento político.
Ao mesmo tempo, a questão das competências digitais pode representar um novo
condicionante para a participação política. A sociedade atual, cada vez mais alicerçada
nas tecnologias digitais, vem excluindo os que não dominam a cultura digital, motivo por
que estudar as competências digitais faz parte das pesquisas dos interessados em cultura
contemporânea.
Além disso, o conceito de competências digitais apresenta-se ainda fragmentado
na literatura. Mesmo o modelo conceitual de Eshet-Alkalai, acima resumido, é
considerado pelo próprio autor apenas como um primeiro passo para transformar um
discurso emergente (mas até agora principalmente orientado pela prática e pela intuição)
em um discurso mais integrado e teórico, mas ainda está longe de ser adequado (Aviram,
Eshet-Alkalai, 2006).
Assim, de uma forma geral, os assuntos aqui tratados são, do ponto de vista
teórico, relativamente recentes e as informações disponíveis encontram-se pouco
sistematizadas. Desse modo, não havendo uma teoria sedimentada, o estudo justifica-se
por estruturar uma questão teórica e socialmente relevante em um problema de pesquisa,
levantar informações a respeito e as estruturar, contribuindo para a formação de uma base
teórica e empírica para a questão.

Objetivos
A partir dos elementos anteriormente desenvolvidos, os objetivos de pesquisa
deste trabalho podem ser explicitados em:
1) Compreender a evolução da participação política e a influência que recebe da
cibercultura, a partir dos conceitos e formas de participação política praticados pelas
organizações da sociedade civil em Salvador-Bahia;
2) Verificar quais competências digitais estão sendo promovidas e/ou demandadas por
essas organizações para atuar no contexto da cibercultura.

Metodologia e Estratégia de Ação


A operacionalização da pesquisa foi organizada em cinco fases que se
complementam e, em alguns casos, ocorreram concomitantemente:
Fase 1: Aprofundamento teórico e análise da relação e influências entre os
conceitos de democracia, participação política, cibercultura, organizações da sociedade
civil e competências digitais.
Os conceitos e suas vinculações serão levados à discussão, primeiramente nos
encontros do grupo de pesquisa (Gepicc), em seguida em eventos científicos da área. O
objetivo é que essas discussões levem ao constante aprimoramento do entendimento
participação política, cibercultura e suas imbricações. Tão logo se tenha maturidade
suficiente sobre o assunto, pretende-se a publicação de capítulo em livro ou artigo
científico que abarque a temática.
Fase 2: Levantamento e seleção das organizações da sociedade civil como objeto
a se verificar os objetivos propostos.
O ambiente da pesquisa é a cidade de Salvador, capital do Estado da Bahia que,
historicamente, concentra organizações da sociedade civil atuando em frentes múltiplas
de defesa de direitos civis e mediações políticas. Dada a quantidade e diversidade dessas
organizações, a proposta é fazer uma seleção a partir do banco de dados do Cadastro
Nacional de Entidades (CNE) 5 do Ministério da Justiça. De acordo com a Portaria SNJ nº
24, de 11 de outubro de 2007, é obrigatório o registro no CNE/MJ para as entidades
declaradas de Utilidade Pública Federal (UPF)6, as entidades qualificadas como
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP)7, além das Organizações
Estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil. A partir do Relatório Eletrônico de
Prestação de Contas que cada organização disponibiliza no CNE, serão utilizados os
seguintes critérios de seleção:

5
Banco de dados e demais informações disponíveis em http://www.mj.gov.br/cne
6
De acordo com Teixeira (2008, p. 88), as declarações de utilidade pública “têm um caráter político, pois
dependem da apresentação de projeto de lei e de sua aprovação no plenário (Assembleia Legislativa e
Câmara de Vereadores).” No caso federal, as declarações são concedidas pelo Presidente da República
através de decreto.
7
Lei 9.790, de 1999.
a) Organizações cuja finalidade possa ser enquadrada como de mediação social, à
exclusão daquelas, portanto, que têm fins educacionais, de prestar serviços de saúde
ou financiadoras de projetos;
b) Organizações que responderem afirmativamente quanto à sua contribuição para
ampliação da democracia e fortalecimento da cidadania no Questionário para
Avaliação da Inserção Social8. Com a aplicação desses dois primeiros critérios
pretende-se selecionar aquelas organizações que, para além de prestação de serviços,
podem ter atuação política;
c) Organizações que já atuavam em 1995, ano da entrada da internet comercial no
Brasil. Com este requisito procura-se ter acesso a informações sobre as mudanças nas
competências demandadas pela inserção das TICs.
Com a aplicação desses requisitos, chega-se a 51 organizações, conforme Quadro
1:
ACOPAMEC - ASSOCIAÇAO DAS COMUNIDADES PAROQUIAIS DE MATA
ESCURA E CALABETÃO acopamec@atarde.com.br
APAE DE SALVADOR www.apaesalvador.org.br
ASSOCIAÇÃO BAHIANA DE RECUPERAÇÃO DO EXCEPCIONAL
abre.ba@terra.com.br
ASSOCIAÇÃO BAIANA DE DEFICIENTES FÍSICOS - ABADEF
abadfba@yahoo.com.br
ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE PENA DOURADA www.terreiromokambo.org.br
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO FAMILIAR E
SOCIAL www.isba.com.br
ASSOCIAÇÃO CENTRO SOCIAL FRATERNIDADE BAHIANA a3co@oi.com.br
ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO CONJUNTO SANTA LUIZA
http://luizamahin.sites.uol.com.br
ASSOCIAÇAO DE PAIS E AMIGOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM
DISTURBIOS... - EVOLUÇÃO www.evolucao.org.br
ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DE DEFICIENTES AUDITIVOS DO ESTADO
DA BAHIA apadaba@gmail.com
ASSOCIAÇÃO DOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS DOS INSTITUTOS E
CAIXAS DE PREVIDÊNCIA... selmamoraes@tutopia.com.br
ASSOCIAÇÃO E CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL MARIA DOLORES
leonidia_souza@hotmail.com
ASSOCIAÇÃO EDUCATIVA E CULTURAL MARIA EMÍLIA

8
Este Questionário faz parte do Relatório Eletrônico de Prestação de Contas
zairapimenta@colegionsconceicao.com.br
ASSOCIAÇÃO MOVIMENTO JOÃO DE BARRO - MOVIMENTO JOÃO DE
BARRO9 macfroes@terra.com.br
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO csm@atarde.com.br
ASSOCIAÇÃO PESTALOZZI DE SALVADOR
PESTALOZZIBA@TERRA.COM.BR
ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA E CULTURAL DA BAHIA nadja@ucsal.br
CASA DE SANTA MARIA
CASA PIA E COLÉGIO DOS ORFÃOS DE SÃO JOAQUIM casapia@uol.com.br
CENTRO DE PESQUISA E ASSISTÊNCIA EM REPRODUÇÃO HUMANA
www.ceparh.com.br
CENTRO ESPIRITA CAMINHO DA REDENÇAO www.mansaodocaminho.com.br
CENTRO ESPÍRITA DEUS, LUZ E VERDADE secretaria.cedlv@yahoo.com.br
CENTRO ESPÍRITA UNIÃO, AMOR E LUZ www.ceual.org.br
CENTRO PROJETO AXÉ DE DEFESA E PROTEÇÃO A CRIANÇA E AO
ADOLESCENTE www.projetoaxe.org.br
CLUBE DE MÃES DO BAIRRO DE PERNAMBUES cmaespernambues@terra.com.br
COMUNIDADE FRANCISCANA DA BAHIA convento@atarde.com.br
CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS MERCEDARIAS MISSIONÁRIAS DO
BRASIL 1981 www.cimmbrasil.com.br
FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO ESTADO DA BAHIA www.feeb.com.br
FUNDAÇÃO "FRANCO GILBERTI" www.fundacaofrancogilberti.org.br
FUNDAÇÃO CENTRO BRASILEIRO DE PROTEÇÃO E PESQUISA DAS
TARTARUGAS MARINHAS www.projetotamar.org.br.
FUNDAÇÃO CLEMENTE MARIANI www.fcmariani.org.br
FUNDAÇÃO INSTITUTO FEMININO DA BAHIA ana@institutofeminino.org.br
FUNDAÇÃO INSTITUTO SÃO GERALDO fundacaosaogeraldo@ig.com.br
FUNDAÇÃO JOSE SILVEIRA juridico@fjs.org.br
FUNDAÇÃO LAR HARMONIA www.larharmonia.org.br
FUNDAÇÃO ODEBRECHT www.fundacaoodebrecht.org.br
GRUPO DE APOIO À CRIANÇA COM CÂNCER DE SALVADOR
www.gaccbahia.org.br
GRUPO DE APOIO À PREVENÇÃO A AIDS DA BAHIA - GAPA-BA
www.gapabahia.org.br
INSTITUTO DE CEGOS DA BAHIA www.institutodecegos.org.br
INSTITUTO DE ORGANIZAÇÃO NEUROLÓGICA DA BAHIA
ionba@atarde.com.br
INSTITUTO DE PERMACULTURA DA BAHIA www.permacultura-bahia.org.br
INSTITUTO GUANABARA
INSTITUTO HERCÍLIA MOREIRA luci_maria@ig.com.br
INSTITUTO SOCIAL DAS MEDIANEIRAS DA PAZ ismep@ig.com.br
LIGA BAHIANA CONTRA O CÂNCER www.lbcc.org.br
MONTE TABOR CENTRO ITALO-BRASILEIRO DE PROMOÇÃO SANITÁRIA

9
Única OSCIP que atendeu a todos os critérios. Todas demais são UPFs
www.hsr.com.br
NÚCLEO DE APOIO AO COMBATE DO CÂNCER INFANTIL - NACCI
www.nacci.org.br
ORGANIZAÇÃO DE AUXÍLIO FRATERNO www.oaf.org.br
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA www.scmba.com.br
SOCIEDADE BENEFICENTE CULTURAL AFRO-BRASILEIRA SÃO JORGE
omilougi@hotmail.com
UNIDADE DE ONCO-HEMATOLOGIA PEDIÁTRICA ERIK LOEFF
www.erikloeff.org.br
Quadro 1: Organizações selecionadas para a pesquisa empírica
Fonte: Pesquisa da autora a partir do CNE do Ministério da Justiça

Fase 3: Estudo de campo nas organizações selecionadas.


Serão utilizados três instrumentos de coleta de dados: roteiro de entrevista, a ser
realizada individualmente com os gestores de cada organização; formulário para
levantamento de informações a partir dos sítios eletrônicos, quando existirem; observação
sistemática da organização a ser visitada e de documentos a serem coletados. Os
documentos fornecidos pelas organizações e as informações disponíveis em seus
respectivos sítios na Internet possibilitarão confrontar, atualizar e complementar as
informações obtidas durante as entrevistas. Além disso, com o formulário para
levantamento de informações pretende-se observar se as organizações utilizam seus sítios
eletrônicos para prestar informações de utilidade pública, se oferecem ferramentas de
participação (como fóruns de debate, enquetes etc.) e também qual a interatividade
propiciada (organização-cidadão, cidadão-organização, cidadão-cidadão).
Nessa fase, a pesquisa caracteriza-se como um estudo de natureza qualitativa, na
medida em que busca descrever os conceitos relacionados à participação política e as
práticas existentes no contexto em que ocorrem, sendo analisadas numa perspectiva
integrada. O contato direto do pesquisador com a realidade estudada objetiva uma visão
holística da questão, considerando que os fatos sociais são sempre complexos, históricos,
estruturais e dinâmicos. Essa interação busca também compreender as concepções e
ações a partir da perspectiva do sujeito enquanto agente envolvido com participação
política (Godoy, 1995).
A entrevista com roteiro semiestruturado permite que, embora não haja a
imposição de uma ordem rígida de questões, o pesquisador tenha um roteiro com as
perguntas fundamentais a fazer. Estabelece-se, então, o que Galtung (apud Viegas, 1999,
p. 132) chama de ambiente formal não estruturado de pesquisa, que é aquele onde “o
pesquisador organiza os elementos do estímulo, estabelecendo padrões conforme a
natureza do objeto e a finalidade da pesquisa, mas ‘fica à espreita’ da resposta. Essa deve
ser aleatória e sem interferência do pesquisador”. Optou-se pela abordagem a partir de
entrevistas como instrumento mais adequado para esta pesquisa em razão dos seguintes
motivos:
• representar o meio mais garantido de obtenção de respostas, uma vez que outros
instrumentos têm um baixo nível de retorno e pretende-se alcançar 100% da amostra;
• atingir qualquer segmento da população, ou seja, qualquer pessoa independente de seu
nível de instrução terá condições de responder, pois pode retornar a questão, caso não
a compreenda;
• permitir maior flexibilidade na obtenção de informações, uma vez que há uma maior
interação entre entrevistado e entrevistador;
• criar uma atmosfera que permita ao entrevistador informações mais sinceras, já que se
pode estabelecer um ambiente de cordialidade e confiança;
• propiciar a percepção de elementos que não poderiam ser observados pela linguagem
escrita, como a entonação da voz e o tempo de resposta, por exemplo.
Fase 4: Análise qualitativa dos dados coletados nas organizações.
As falas, sempre que autorizado, serão gravadas e, em seguida, transcritas e os
dados tratados. De acordo com o caráter qualitativo não se pretende o uso de
instrumentos e técnicas estatísticas sofisticadas na análise dos dados e sim inferências a
partir das falas dos entrevistados.
Fase 5 – Utilização da abordagem de observação participante em organizações a
serem selecionadas a partir das etapas anteriores para aprofundar a verificação das
competências digitais demandadas e promovidas (segundo objetivo da pesquisa), seguida
de análise e redação dos resultados.
Durante esse processo será desenvolvida a redação da tese, seguida de revisão e
finalizando por sua defesa pública.

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