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HISTÓRIAS DA ‘DUQUE1’ A PARTIR DE SEUS IMPRESSOS: A ESCOLA

COMPLEMENTAR DUQUE DE CAXIAS – 1930 A 1945

Dra. Terciane Ângela Luchese


Mestranda Roseli Maria Bergozza
Programa de Pós-Graduação em Educação
Universidade de Caxias do Sul

“A missão do educador é cultivar. Ele será o lavrador que, com o auxílio dos seus conhecimentos,
deverá amanhar os campos, às vezes áridos e pedregosos, dos entendimentos:
deverá semear para que, na primavera e no outono, desabrochem flores e surjam
os frutos benéficos da integridade física, moral e intelectual que desperta para a vida.”
(‘O Educador’, da complementarista e redatora-chefe do jornal Centelha,
Wanda Zanellato, do 2º. Ano,1933).

Considerações iniciais

No início da década de 1930, a paisagem urbana de Caxias do Sul passou a contar


com a presença das normalistas da ‘Duque’. Desfilavam pela rua central da cidade,
advindas de diferentes localidades, em pequenos grupos, conversando calmamente ou
por vezes, de forma alvoroçada. Vestiam uma saia encobrindo os joelhos na cor azul
marinho, camisa branca e gravata preta com monograma da escola gravado. Nos ombros
a pelerine e, na cabeça, a boina azul marinho2. Elegantes, eram as futuras mestras e,
desde já, alçavam destaque na comunidade.
As escolas complementares tinham por finalidade a preparação de candidatos ao
magistério público primário. Inicialmente, pelo Decreto n. 1479, de 26 de maio de 1909,
ele seria ministrado apenas na Capital do Estado, com o intuito de desenvolver o ensino
primário e preparar candidatos ao magistério primário elementar. Com o passar do
tempo, algumas escolas complementares foram sendo abertas no interior do Estado. Foi
em 1930 que Caxias do Sul passou a contar com esse benefício público.
Através do Decreto n. 4491, de 28 de fevereiro de 1930, do Governo do Estado,
foi criada a Escola Complementar Duque de Caxias. No entanto, sua efetiva instalação
deu-se em 15 de junho do mesmo ano. Foi nomeado como primeiro diretor o professor
Alfredo Aveline, logo depois substituído pela professora Maria Amorim.

1
A comunidade referia-se e ainda refere-se à Escola Normal Duque de Caxias, como sendo “a Duque”.
Expressão que será utilizada no decorrer do texto.
2
Descrição produzida a partir do que está referendado como uniforme escolar no Jornal “Centelha” –
Órgão das Alunas da Escola Complementar de Caxias, publicação mensal, página 3, ano I, número II de
26 de maio de 1932.
Este artigo tem como objeto de estudo a Escola Complementar Duque de Caxias
no período de 1930, data de sua criação e instalação, até 19453. A base empírica
principal são os impressos veiculados por essa instituição entre os anos de 1932 a 1945,
além de utilizar livros de atas, correspondências, fotografias e outros documentos
escritos do acervo do atual Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendonza.
Trata-se do resultado parcial de pesquisa em andamento.
Os impressos constituem-se numa importante fonte para a história das instituições
escolares e para pensarmos a cultura escolar instituída e instituinte nesses espaços. Eles
ultrapassam o caráter informativo e situam-se na condição de materialidade formativa e
é nesse sentido que são tomados na presente análise. Como referenda Werle, a imprensa
educacional ou imprensa periódica pedagógica caracteriza-se pela

[...] possibilidade de (a) captar vozes ausentes em outros documentos,


usualmente encontrados em instituições escolares; (b) ser um espaço em
que acontecimentos locais e nacionais são captados, transformados e
produzidos por reflexões, modulações e reinterpretações, e, ao mesmo
tempo, "publicizados" em diferentes círculos sociais; e (c) constituir-se
em instrumento de formação, afirmação e regulação coletiva (WERLE,
2007, p. 83).

Consideramos que a circulação desses impressos nos permitem ver indícios do


cotidiano escolar, dos ritos, das práticas, dos valores, das idéias, das relações de poder-
saber das normalistas e de seus professores, naquele determinado momento histórico.
Ressaltando a importância dos impressos, especialmente daqueles redigidos pelos
alunos, Catani e Sousa destacam que

[...] A investigação acerca de tais materiais em muito pode contribuir


para o enriquecimento da compreensão dos processos da vida escolar
em termos da história do seu cotidiano, da ação dos atores educativos
(alunos, pais e professores) e das próprias práticas pedagógicas, muitas
vezes satirizadas nesses materiais. Trata-se de um dos poucos
dispositivos capazes de tornar visíveis as vozes dos alunos na tradução
de como aprendem e recriam configurações da situação de ensino
(CATANI e SOUSA, 1999, p. 17).

Tomando essa perspectiva, consideramos para essa análise os números existentes


de três diferentes impressos dessa instituição. Dois deles, o ‘Centelha’ e ‘A Voz da

3
A delimitação temporal de 1945 justifica-se, pois é desse ano o último impresso encontrado no acervo
do Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendonza. Consideramos também que a partir de 1946,
pelo Decreto Lei n. 8530, de 02 de janeiro de 1946, em que foi publicada a Lei Orgânica do Ensino
Normal, transformações decorreram na organização escolar.
Mocidade’ eram produzidos por estudantes da escola, o outro, ‘Folha da Escola’ foi
fundado pela diretora e ex-aluna da instituição, Rosalba Hyppolito.

1 - Primeiros anos da ‘Duque’

As Instituições formadoras de professores surgem em várias regiões do estado,


por iniciativa do Presidente da Província, Getúlio Vargas, que através do Decreto nº.
4.277 de 13 de março de 1929, regulamentou o ensino normal e complementar. O
governo percebia a importância de abrir novas instituições estatais de ensino destinadas à
formação de professores, que a partir de 1927 são instaladas em várias cidades,
utilizando-se como modelo a de Porto Alegre. Neste sentido, Louro corrobora ao
informar que:

Ao assumir a presidência do Estado, Getúlio afirmava serem as suas


principais preocupações: vias de comunicação e educação para o povo.
Assim, com Osvaldo Aranha como Secretário do Interior, pôs em
execução um plano, anteriormente elaborado, no sentido de melhor
atendimento do interior quanto a professores formados, pela criação das
escolas complementares. (LOURO, 1986, p. 60).

A instalação de Escolas Complementares era, ainda, um projeto do governo de


Borges de Medeiros, com o Regulamento da Instrução Pública, pelo Decreto 3.898 de 4
de outubro de 1927, abriu a possibilidade de criação de outras escolas; principalmente
no interior do estado, não mais sendo competência exclusiva da Escola Complementar de
Porto Alegre, como havia sido determinado pelo Decreto nº 1.479, de 26 de maio de
1909. Mesmo com a possibilidade de instalação destas novas escolas, elas passam a ser
instituídas a partir de 1929. São instaladas escolas complementares em Pelotas,
Cachoeira, Passo Fundo, Alegrete, Santa Maria, e Caxias do Sul.
A conquista da Escola Complementar de Caxias fez-se especialmente pela
mobilização da Intendência e do Conselho Municipal, que buscaram, junto ao Governo
Estadual, dar a ver as vantagens que ela acarretaria para a instrução regional. Em seu
relatório de 1929, o Intendente Queiroz conclamava pelo apoio do Conselho Municipal
e expunha as motivações para querer um Colégio Complementar em Caxias.

Escola Complementar O patriótico Governo do Estado empenhado


como está em disseminar a instrução pública , o mais possível, dando
um golpe de morte no analfabetismo, um dos maiores males dos povos
nos tempos que correm, cogita de fundar, Escolas Complementares em
diversos municípios do Estado.
Caxias, embora não conste dessas cogitações, Sr. Conselheiros, é uma
localidade que não pode deixar de pugnar, por um melhoramento dessa
ordem, não só pela sua importância como município produtor comercial
e industrial, como também e principalmente porque neste particular,
está muito mal aquinhoado pois não temos um estabelecimento de
ensino secundário, que mereça bem esse título.
Além disso Sr. Conselheiros bem sabem o alcance que teria um
estabelecimento dessa natureza aqui, que atrairia para essa cidade um
sem número de famílias dos municípios vizinhos, da campanha, que
aqui encontrariam, um bom estabelecimento de instrução, clima e
condições de vida idênticas às suas, preferindo portanto Caxias a
qualquer outra localidade serra-abaixo, para a educação de seus filhos e
filhas e quantos resultados daí decorrentes?
Entendo que poderíamos tomar a dianteira oferecendo ao Estado o
terreno para nele ser levantado o edifício, destinado a uma boa escola
complementar, dispomos aqui de ótimos elementos com os quais seria
provido o quadro de professores, dando assim função a esses
profissionais, que talvez estejam, há muito tempo, esperando uma vaga,
para aplicar os seus conhecimentos, em prol da instrução da mocidade.
Se não fizermos isso, podeis estar certos que mais dia, menos dia, um
outro município de nossa região o fará e com isso, teremos afastada,
talvez para sempre esta belíssima oportunidade. Deixo, pois mais esta
sugestão, à vossa esclarecida inteligência, tino prático e sadio
patriotismo.4

A Escola Complementar Duque de Caxias foi criada em 28 de fevereiro de 1930.


Porém, a escola foi instalada no dia 15 de Junho de 1930, na avenida Júlio de Castilhos,
no centro da cidade. O inspetor escolar Alfredo Aveline assumiu interinamente a direção
até a chegada, em 05 de julho, de Maria Amorim.
A ata de instalação da escola, redigida por Demétrio Niederauer, cita a presença
de várias autoridades civis, militares e eclesiásticas, demonstrando a importância do
acontecimento. No documento, a primeira assinatura, é a do Intendente Municipal
Thomaz Beltrão de Queiroz5, um dos articuladores que tornou possível a criação e a
instalação do ensino público complementar em Caxias do Sul, como já citado.
Previa a legislação que a Escola Complementar teria um diretor e tantos professores
quantos fossem necessários. O diretor era de livre nomeação e demissão do Presidente
do Estado. Quando a nomeação recaísse num dos professores, o indicado acumularia as
funções, percebendo, além dos seus vencimentos, a gratificação correspondente ao
cargo de diretor. Os lugares de professores do curso complementar seriam providos por
concurso. Poderia também o governo, quando julgasse conveniente, contratar
4
Relatório apresentado ao Conselho Municipal pelo Intendente Thomaz Beltrão de Queiroz referente ao
período de 1928. AM.3 – 026A. AHRGS.
5
Thomaz Beltrão de Queiróz, natural de Apodí Rio Grande do Norte, foi nomeado pelo governo do
estado, empossado em 12 de outubro de 1928, e faleceu em 4 de outubro de 1930, foi o último intendente
de origem lusa indicado ,sendo substituído pelo então Vice- Intendente Cel. Miguel Muratore.
profissionais de reconhecida competência, tanto para o ensino complementar quanto
para o elementar.
Os primeiros professores empossados conforme correspondência expedida6 em
16 de junho 1930 para o diretor geral da Instrução Pública:

Conforme comuniquei a Vª.Sª por fonograma, a Escola Complementar


foi instalada, ontem, às 10 horas, tendo assistido ao ato as autoridades
civis militares e eclesiásticas, o agente consular italiano, o corpo docente
do Colégio Elementar e um grupo de alunas, os diretores dos Colégios
particulares, e representantes de todas as classes sociais.
Dei posse aos professores que se achavam presentes: Demetrio
Niederauer, Cristina Queiroz, Adir Lima Ribeiro, Dr. Dario Sant’Anna e
Dina Paranhos.
Por edital, abri a matricula com o prazo de dez dias. Os exames de
admissão terão inicio a 26 do corrente. Alfredo Aveline7

O período de matrículas foi encerrado, conforme registros encontrados, apenas no


dia 10 de julho de 1930, com autorização da Secretaria do Interior. Inscreveram-se 42
alunos, 39 do sexo feminino, e 3 do masculino. Os primeiros alunos aprovados e
matriculados8, na primeira instituição oficial e pública para formação de professores
primários, na cidade de Caxias do Sul, foram: Alba Marques Vianna, Alzerinda
Almeida, Aracy Rath de Moraes, Adelina Censi, Anice Koff, Clélia Andreazza, Celuta
Torres, Consuelo Sambaquy, Dinorah Badia, Dulcy Cardoso, Eugênia Fischer, Genny
Nora, Gedy Salerno, Ida Adélia Tronchini, Ilka Fontana, Isaura Rossi, Yole Imerita
Festugatto, Joanna Maria Dal Ponte, Lourdes Rosa Machado, Lélia Gonçalves Porto,
Lucita Fonseca, Lygia Costamilan Rosa, Laura H. Cavalcanti, Lorencita Santina
Chiaradia, Lola Amália Stahleker, Laio Prestes Soares, Lila H. Cavalcati, Marieta de
Calazans, Norberto de Filippis, Naura da Silva, Nélson Schimitt, Rosalba Hyppolito,
Suely Ernestina Bascu, Yvone Rossi, Marilia Mariot Niederauer, Jandyra Guerreiro,
Genny Bertelli, Elisa Rossi, Jurema Soares Ramos, Celina Aguiar Gay, Cenyra Amorim,
Maria Saraiva do Nascimento.
A regulamentação estabelecida em 1909, pelo Decreto n. 1479, previa que os
exercícios de prática do ensino seriam executados no colégio elementar em anexo. Seria

6
Nas transcrições de fontes primárias, documentos e textos antigos, opto por não manter versão original,
serão feitas correções de impressão e atualização ortográfica.
7
Correspondência expedida por Alfredo Aveline ao Diretor Geral da Instrução Pública em 16/06/1930.
Livro de correspondências expedidas número: 01 p. 01. Acervo do Instituto Estadual de Educação
Cristóvão de Mendoza.
8
Livro de matrículas de 1930 a 1943 da Escola Complementar de Caxias. Acervo do Instituto Estadual de
Educação Cristóvão de Mendoza
composto de uma aula mista e de duas para cada sexo, segundo o grau de adiantamento,
cada uma com a frequência máxima de 50 alunos e com a mínima de 25. Neste colégio
exercitar-se-iam os alunos do curso complementar dirigidos pelo professor de pedagogia.
Prescrevia que o ensino complementar compreenderia o ensino de: Português -
gramática, redação e composição. Francês - regras essenciais da gramática estudadas
praticamente, tradução e exercícios de conversação. Geografia geral, cartografia do
Brasil e cosmografia. História universal e especialmente do Brasil. Matemática -
aritmética, estudo completo, álgebra até equações do 2º grau inclusive, geometria a três
dimensões. Direito pátrio - noções de direito constitucional da União e do Estado.
Ciências - elementos de ciências físico-químicas e de história natural com aplicação às
indústrias e à agricultura. Pedagogia - sua história, educação física, intelectual e moral,
metodologia e prática de ensino. Escrituração mercantil. Noções de higiene. Trabalhos
manuais. Desenho e músicas. Ginástica sueca. Essas matérias seriam distribuídas em três
séries.
A primeira diretora nomeada foi Maria Amorim que assumiu o cargo em 05 de
julho de 1930, permanecendo como diretora até 1936, neste mesmo ano, em janeiro,
conjuntamente com o Curso Primário do antigo Colégio Elementar José Bonifácio,
passou a funcionar nas novas instalações, à Rua Visconde de Pelotas nº 556, onde
atualmente está a Escola de Ensino Fundamental Presidente Getulio Vargas.
No ano de 1931, a escola passou a funcionar ocupando dois prédios, na Rua
Pinheiro Machado, 2281 e 2295, no centro da cidade, em cinco de maio foi instalado o
curso para aulas de prática das alunas da escola complementar, a professora Wanda
Falcão Maia assumiu essa turma, conseqüentemente em 1932 foi instalado o segundo
ano do curso de aplicação com a regência de Elfrida Kinieling da Cunha. Essas classes
de aplicação receberam o nome de “aulinha infantil Coronel Miguel Muratore9”.
Ainda no ano de 1931, foram abertas as inscrições para os exames de admissão,
apresentaram-se 42 candidatos. No entanto, apenas 31 alunas obtiveram aprovação. A
escola ficou com o primeiro ano composto por: 31 alunas matriculadas por terem sido
aprovadas no exame de admissão; outras 19 mediante atestado das Complementares e
mais 12 alunas repetentes. Contava, então, no primeiro ano com um total de 62 alunos.
Para o segundo ano, 13 alunas foram promovidas pela Escola, 4 eram ouvintes, 2 alunas

9
Miguel Muratore é o nome escolhido. Porém ressaltamos que neste período ele exercia o cargo de
prefeito, desde outubro de 1930 até o ano de 1935, isto de certa forma denota a aproximação entre o poder
político local e a direção da escola.
promovidas pelo Sevigné, 2 alunas pela Normal e uma aluna pelo São José. Portanto
para o segundo ano, 22 alunas. Segundo o Relatório enviado para o Diretor Geral da
Instrução Pública, pela diretora Maria Amorim, “[...] iniciou, pois, a Escola o seu
segundo ano letivo com o bonito número de 84 alunas, todas do sexo feminino”10.
Interessante ressaltar e, inclusive apontar, para estudos posteriores, a elevada taxa de
repetência e evasão.
No mesmo relatório de 1931, é bastante consistente a mobilização por parte do
poder político, em atender as solicitações feitas pela Escola:

O edifício em que funcionava a Escola tornou-se insuficiente para esse


número de alunos e sem o conforto e higiene necessários para um
estabelecimento de ensino, por esse motivo a direção apelou para o
prefeito Coronel Miguel Muratore, no sentido de ser conseguido outro
edifício mais espaçoso e mais adaptado. Prontamente atendida essa
solicitação, pelo esforçado prefeito, foi posto à disposição da escola um
sobrado na rua Pinheiro Machado, para onde a escola se transferiu no dia
20 de março [...] Como lembrança dessa inauguração, junto abaixo uma
fotografia tirada por ocasião da formatura dos alunos em frente do
edifício[...]11

Outra evidência aparece quando a diretora, explicando que para o segundo ano do
complementar, “[...] em que se iniciam os conhecimentos de Pedagogia, tornou-se
imprescindível a criação de uma classe infantil, onde pudessem os alunos fazer a prática
pedagógica, sem os inconvenientes de sair fora do edifício[...]”12. Aquela turma infantil
criada a partir de então, teve como seu patrono, o Coronel Miguel Muratore.
No ano de 1932, a primeira turma de 16 alunas-mestras concluíram o curso
complementar, num acontecimento social de grande relevância para Caxias. Na ata
redigida por Irma Valiera13 secretária da escola, constam nomes de destaque no cenário
político, econômico e educacional, da época.

Ata de entrega dos diplomas de alunas-mestras às alunas da Escola


Complementar de Caxias que concluíram o curso complementar no
ano letivo de 1932.
Aos vinte e cinco dias do mês de março de 1933, na sede do Recreio
da Juventude, foram conferidos títulos de alunas-mestras de acordo
com os artigos 110 e 111 do Regulamento do Ensino Complementar

10
Relatório referente ao ano de 1931. Livro de correspondência expedida, pág. 20. Acervo do Instituto
Estadual de Educação Cristóvão de Mendonza.
11
Ibidem, p.21.
12
Ibidem, p.21
13
Irma Valieira foi secretária da Escola . Faleceu em acidente aéreo em 1950.
e Normal aprovados pelo Decreto n. 4277 de 13 de março de 1929, às
seguintes alunas que concluíram o curso complementar da Escola
Complementar de Caxias.
Com a nota de plenamente:
1º - Consuelo Sambaqui (6,9 = 7,0)
2º - Dulci Cardoso (5,9 = 6,0)
3º - Eugenia Fischer (5,8 = 6,0)
4º - Isaura Rossi (5,6 = 6,0)
5º - Lulia Peixoto Oliveira (8,2)
6º - Lygia Costamilan Rosa (7,0)
7º - Lourdes Machado (6,4)
8º - Rosalba Hyppolito (7,1)
Com a nota simplesmente:
1º - Anice Koeff (5,3 = 5,0)
2º - Ilka Fontana (4,65 = 5,0)
3º - Iole Festugato (4,1 = 4,0)
4º - Jurema Ramos (4,9 = 5,0)
5º - Laurencita R. Chiaradia (5,5 = 5,5)
6º - Loanda de Calasans (4,5 = 4,5)
7º - Suely Bascú (5,5)
8º - Yone Rossi (5,4 = 5,0)14.

A formatura das primeiras complementaristas revestiu-se de grande solenidade. O


jornal Centelha publicou uma descrição do acontecimento:

Ás 8 horas foi rezada uma missa em ação de graças, na qual foi feita
solenemente a entrega dos anéis pela paraninfa Srta. Maria Amorim,
muito estimada diretora daquele estabelecimento, sendo assistida por
todas as alunas da escola, autoridades civis e militares, bem como grande
número de convidados. A noite, no salão do “Recreio da Juventude”,
reunidos, Prefeito Municipal Cel. Miguel Muratore, representando o Dr.
João Carlos Machado, Secretário do Interior; Dr. Eurico Lustosa, Juiz de
Comarca, nesta cidade, representando o Dr. Desembargador André da
Rocha, Presidente do Superior Tribunal do Estado; Dona Maria Luiza
Rosa Cruz, diretora do Colégio Elementar, representando o Diretor Geral
de Instrução Pública, Srta. Maria Amorim, paraninfa, famílias e
cavalheiros que fizeram cerimoniosa recepção às novas alunas mestras,
que logo entoaram o “Hino da Escola Complementar”. Após, receberem
os diplomas, as 16 professoras prometeram, sob juramento,
desempenharem com verdadeiro amor e abnegação, a nobre e delicada
missão que se dedicaram e conservarem sempre presente ao espírito a
responsabilidade e a grandeza de sua tarefa. Em seguida, falou a oradora
da turma, Srta. Lourdes Machado. [...]15

As primeiras alunas formadas pela Escola Complementar Duque de Caxias eram


na sua maioria caxienses, mas, como podemos observar no quadro abaixo, algumas eram
naturais de outros municípios e importante ressaltar que, Rosalba Hyppolito e Ligia

14
Livro de registro de diplomas e formaturas de 1932. Acervo do Instituto Estadual de Educação
Cristóvão de Mendonza.
15
Jornal Centelha, Ano II, N. I, 01/05/33, p. 04.
Costamilan Rosa, foram diretoras da escola posteriormente. Rosalba Hyppolito
permaneceu na direção de 1943 a 1953 e Ligia Costamilan Rosa de 1953 a 1960.

QUADRO 01 – Primeiras alunas formadas em 1932 pela ‘Duque’


Normalista formada Procedência
1º Consuelo Sambaqui Caxias do Sul
2º Dulci Cardoso São Francisco de Paula
3º Eugenia Fischer Buenos Aires
4º Isaura Rossi Caxias do Sul
5º Lulia Peixoto Oliveira Caxias do Sul
6º Lygia Costamilan Rosa Caxias do Sul
7º Lourdes Machado Garibaldi
8º Rosalba Hyppolito Caxias do Sul
9º Anice Koeff Caxias do Sul
10º Ilka Fontana Flores da Cunha
11º Iole Festugato Caxias do Sul
12º Jurema Ramos São Francisco de Paula
13º Laurencita R. Chiaradia Caxias do Sul
14º Loanda de Calasans Santa Maria
15º Suely Bascú Caxias do Sul
16º Yone Rossi Caxias do Sul
Fonte: acervo do Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendonza.

Em anos subseqüentes, as alunas continuaram afluindo de diversos municípios,


entre os quais: Flores da Cunha, Antônio Prado, Garibaldi, Bento Gonçalves, São
Francisco de Paula, São Sebastião do Caí, dentre outros, conforme previra o Intendente
Queiroz, em seu relatório.
Em 1936 a escola passa a ocupar um prédio que foi especialmente construído
pelo poder público, para receber a nova Escola Complementar. O local existe até os
dias atuais e abriga a Escola Estadual de Ensino Fundamental Presidente Getúlio
Vargas no centro da cidade.
A Escola Normal Duque de Caxias também, ocupou um espaço central, em
todas as suas instalações, até o ano de 1961, quando passou a funcionar no bairro
Cinqüentenário, juntamente com a Escola Estadual Cristóvão de Mendoza, atualmente,
Instituto Estadual de Educação.
Em 1943, o nome de Escola Complementar, desaparece para dar lugar a Escola
Normal, em conformidade com o decreto n° 810 de junho de 1943. O regime ginasial foi
implantado na escola em junho de 1943, mas só foi designado o primeiro Inspetor
Federal em 1944, Marcos Batista Ribeiro, como consta na documentação do acervo.
Segundo registros o corpo de professores para este novo regime estava assim
constituído:
QUADRO 02 – Disciplinas e respectivos professores do Ginásio em 1943
Disciplina Professor (a)
Português Antonio Segatto
Latim Guilherme Francisco Stringari
Francês Lucy Brach
Inglês Lygia Rodrigues Pereira
Matemática Lourencita Chiaradia
Ciências Dr. Demétrio Niederauer
História Elfrida Kinieling da Cunha
Geografia Iole Festugatto
Música Dina Braghirolli
Desenho Dr. Dario Granja Sant’Anna
T. Manuais Dina Luz Paranhos
E.Física Claúdia Sartori
E. Doméstica Lygia Costamilan Rosa
Fonte: acervo Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendonza

Com a Lei Orgânica do Ensino Normal de dois de janeiro 1946, foi mantida a
ligação entre os cursos de Formação de Professores Primários e Ginasial16. Porém, só em
15 de março de 1947 começou a funcionar o Curso de Formação de Professores
Primários da Escola Duque. De acordo com os registros escolares, durante os três anos
de curso, as disciplinas ministradas foram aquelas a seguir relacionadas. Cabe ressaltar
que Religião passa a constar nos registros como matéria ministrada a partir de 1954.

16
Na ata nº 8 do livro de Atas de Conclusão de Curso de 1949 até 1956 consta “[...] de acordo com o
Decreto Estadual de nº 2.329 de 15 de março de 1947 no seu artigo nono, combinado com ao Artigo 36
da Lei Orgânica do Ensino Normal nº 8.530 de 02 de janeiro 1946, constatou-se os seguintes resultados:
( segue nomes e médias obtidas das concluintes).
QUADRO 03 - Disciplinas ministradas durante os três anos do Curso de
Formação para Professores Primários implantado em 1947
Matéria 1ª série 2ª série 3ª série
Português e Literatura X X X
Matemática X
Estatística Aplicada à Educação X
Biologia Geral X
Biologia Educacional X
Física e Química X
Puericultura e Higiene X
Anatomia e Fisiologia Humana X
Higiene e Educação Sanitária X
História e Filosofia da Educação X
Iniciação à Educação X
Fundamentos da Psicologia Geral X
Psicologia Educacional X X
Sociologia Geral X
Sociologia Educacional X
Didática e Prática Primária X X
Desenho e Artes Aplicadas X X X
Música e Canto X X X
Educação Física e Jogos X X X
Fonte: acervo Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendonza.

O livro de registro “Termo de Visitas” foi redigido por Alfredo Aveline, em 18


de setembro de 1931, como inspetor escolar:

[...]tive o prazer de assistir uma aula de prática que muito me


satisfez, especialmente pelo método claro e intuitivo usado e pelo
carinho com que são tratados os pequeninos alunos. Acompanhei
os trabalhos durante a sabatina de aritmética e observei bem a
ordem e a disciplina mantidas, bem como a vigilância exercida
para que as alunas não pudessem dar, nem receber auxílio. [...] O
corpo docente tem sabido mostrar-se à altura das
responsabilidades que lhe cabem, como preparadores de
professores futuros. [...]É me grato deixar consignado,neste
termo, que das visitas que fiz a esta Escola, levo a melhor das
impressões17.

Os inspetores escolares fiscalizavam o trabalho pedagógico realizado nas


instituições educativas, e remetiam relatórios aos superiores, dentro da hierarquia das
secretarias e da estrutura do Estado do Rio Grande do Sul. O papel do inspetor não era

17
Livro de registros nº 1 para Termos de Visitas de 1930 a 1939 p.1, Acervo do Instituto Estadual de
Educação Cristóvão de Mendonza
só o de fiscalização, mas sim de orientação, lembrando as direções e professores das
instituições, de seguir os regulamentos e normas vigentes no período.
No livro dos Termos de Inspeção, tendo a frente o logotipo da Instrução Pública,
confeccionado pela livraria Selbach & Cia de Porto Alegre, sob o número 250/100, teve
seu termo de abertura redigido em 10 de agosto de 1940, pela então diretora Rosalba
Hyppolito. Estendendo-se até 1962, os relatos dão conta dos inúmeros (e ‘ilustres’)
visitantes recebidos pela instituição nesse período, dentre eles: embaixadores18,
representantes de outros países, diretores de Escolas Normais, caravanas de normalistas
deste Estado e de outros, além diversos técnicos em educação.
Em relatório referente ao ano de 1933 e enviado à Instrução Pública, foi possível
encontrar uma descrição das atividades proporcionadas às alunas-mestras. Relatou a
diretora Maria Amorim:

Seguindo as novas práxis pedagógicas, vem cumprindo esta


escola o seu programa de visitas e excursões, aos sábados, fora do
expediente. Foram visitadas pelas alunas do curso complementar,
os seguintes locais: Orfanato, Hidráulica, Curtume Caxiense,
Gabinete de análise, Sociedade Vinícola, Fábrica de produtos
químicos Veronese, fabrica metalúrgica Abramo Eberle, Parque
Centenário, e pela classe infantil: Hospital Santo Antonio, em
construção, Tipografia Mendes, Moinho Andreazza, Colégio
Elementar, Grupo Municipal, uma chácara, um açougue, um
tambo, um aviário,com incubadoras artificiais. [...] em cinco de
outubro tivemos a honrosa visita do General Mauricio Cardoso,
em companhia do Coronel Poggi de Figueireddo e de seu ajudante
de ordens: Tte Filicissimo de Azevedo Aveline. Assistiram
ensaios de bailados e exercícios calistênicos preparatórios para a
Semana da Raça, e apreciaram uma pequena exposição de
trabalhos manuais 19.

Através deste relato verifica-se que as saídas de campo, entendidas como novas
práticas pedagógicas, foram promovidas com freqüência. Corrobora neste sentido a
redação da aluna Consuelo, registrada em livro específico para este fim:

Como é do programa da escola, fizemos sábado uma visita a


estabelecimentos industriais desta cidade, tendo desta vez, recaído

18
Visita do Embaixador do Canadá em 19.10.1944. Livro de registros para Termos de Inspeção p.04
Acervo do Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendonza. Roy Nasch em 29.03.1945, Adido
Cultural do Consulado Americano.(Ibidem, p.05) Acervo do Instituto Estadual de Educação Cristóvão de
Mendonza.
19
Livro nº 1 para registro de correspondência expedida p .83 e 84. Acervo do Instituto Estadual de
Educação Cristóvão de Mendonza.
a escolha na adiantada fábrica de tecidos de seda dos srs
Pizzamiglio e Cia. [...] passamos imediatamente à seção das
máquinas, onde estão instaladas a urdideira, a roca ou
enrroladeira[...] em nossa visita tivemos ocasião de assistir a
fabricação de alguns lenços, colchas[...]20

As saídas aos sábados eram uma prática freqüente, conforme o relato feito pelo
aluno Hugo Daros:

Como de costume esta escola dedica-se a excursões que se


realizam em sábados, ou em outros dias marcados pela Diretora a
estabelecimentos agrícolas, industriais e públicos. Realizou-se
hoje, a primeira excursão do ano letivo[...] a Hidráulica Municipal
[...] Dr. Dario Sant’Anna nos guiou até os tanques de decantação
e nos explicou o seguinte: esta água que vedes, é captada do
Arroio Dal Bó a uns 800 metros distantes da casa dos filtros. No
local de captação foi construído um açude que acumula mais ou
menos um milhão de metros cúbicos de água[...]21

As práticas pedagógicas voltadas a possibilidade de envolver os alunos na


observação e experimentação, tornando os estudos mais próximos da realidade foram
inspirações produzidas no ensejo do movimento renovador da educação. A fotografia a
seguir apresenta a primeira turma de alunas-mestras em visitação:

20
Livro de “ Redações II ano, de 1931 a 1937. Redação elaborada por Consuelo Sambaquy em 18 de
abril de 1931. Acervo do Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendonza
21
Redação elaborada por Hugo Daros em 05 de abril de 1933. Acervo do Instituto Estadual de Educação
Cristóvão de Mendonza
Imagem 01 - Escola Complementar Duque de Caxias. Fotografia em frente à fabrica de tecidos
de Matheus Zanella e Cia, em Caxias do Sul, aos 30/09/1930. Assinalada com o n. 1 uma das
proprietárias da fábrica, com o n. 2 a diretora da escola, Maria Amorim, o n. 3 sem identificação
e as demais, todas alunas do 1º ano do Colégio Complementar. Fonte: Fotografia de F. Gianella,
A3279. Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

A ‘Duque’ foi importante na formação de professores, mas desempenhou papel


central também ao oferecer oportunidades para os chamados professores leigos de terem
a formação para a docência. Alice Gasperin, em suas memórias autobiográficas,
registrou sua experiência com o Colégio Complementar que buscou depois de anos já
lecionando:

A freqüência no Colégio Complementar era livre, para os que lecionavam. E


gratuita, paga pelo Estado. Só iria prestar os exames. O empecilho era a
distância. [...] Fui à Caxias, falei com uma família, acertei lugar, fiz a inscrição
e arranjei o programa. [...] Fiz então o exame de admissão, elaborados pela
Secretaria de Educação do Estado. Tive sorte, saí-me regularmente bem em
tudo. Fomos aprovados 27 dos 110 candidatos. [...] Comecei a estudar o
programa da Escola Complementar com freqüência livre. Trabalhava
regularmente na minha escolinha. Uma ou duas vezes por semana ia a Bento,
para as aulas particulares do professor Faccenda. [...] ia para Caxias para
prestar exames. Prestávamos três exames durante o ano letivo: em maio, agosto
e dezembro. Somavam os resultados e tiravam a média, que era a nota final.
[...] Foi um grande esforço para mim passar de ano para ano, sem freqüentar o
curso, mas só prestando exames. No dia em que a diretora do Colégio
Complementar leu os nomes dos aprovados, o meu estava incluído.
(GASPERIN, 1984, p. 135 a 137).

Assim como Gasperin, muitos outros professores buscaram aperfeiçoamento


didático-pedagógico. Havia, no processo escolar, uma nova possibilidade de
qualificação regional e pública.
2 - A ‘Duque’ contada pelos seus impressos

Encontramos na escola, três títulos diferentes de impressos e um total de treze


exemplares. Cronologicamente, o primeiro número é de abril de 1932, e o último de
novembro de 1945. Nestes treze anos os periódicos da Duque circularam com os
seguintes nomes: Centelha, Folha da Escola, e A Voz da Mocidade. O conteúdo
veiculado, o formato e a estrutura interna dos jornais são diferenciados. Não temos até o
presente momento nenhuma informação acerca da quantidade total de números, sua
distribuição e período em que realmente circulou.

QUADRO 04 – Impressos da ‘Duque’ – 1932 a 1945 – acervo analisado


Título do Data Ano dos Quantidade Forma de Número de
impresso exemplares de exemplares exposição páginas de
disponíveis cada
exemplar
Centelha 1932 a Ano I e II 07 Impresso 04
1933
Mensal
Folha da 1939 a Ano I e II 04 (01 volume Datilografado Variado –
Escola 1940 comemorativo) entre 8 e
Mensal 16.
A Voz da 1945 Ano I 02 Datilografado Variado –
Mocidade Mensal entre 5 e 7

Enquanto dispositivo de circulação de idéias, disseminação de modelos


pedagógicos, de aspectos da cultura escolar, os impressos encontrados, até o presente
momento permitem inferir que houve inconstância na sua produção e circulação.
No entanto, aqueles impressos que foram preservados permitem compreender as
representações dos alunos acerca das atividades escolares e dos professores, as
experiências de socialização e, de certa forma, o ‘modelo’ de formação docente.

2.1 – O Jornal ‘Centelha’

O jornal Centelha era uma publicação mensal, de impressão tipográfica. Custava


300 réis, os exemplares encontrados possuíam quatro páginas, exceto o de novembro de
1932. Denominado “orgam das alunas da Escola Complementar Duque de Caxias”,
apesar da escola ter alunos, inclusive na própria comissão fiscal do jornal, foi o primeiro
impresso estudantil da escola. Em 1932 a redatora-chefe era Consuelo Sambaquy e a
redatora secretária Maria Sartori. Na comissão fiscal Lourencita Chiaradia, Jurema
Ramos, Sonia Guimarães, Cenira Amorim, Natilla Mesquita da Costa e Walter More.
Em 1933, outros complementaristas tornaram-se responsáveis pelo Centelha. A razão da
mudança foi assim expressa:

Visando dar continuação aos desígnios da precedente diretoria,


principalmente da sua redatora-chefe, cuja ausência ocasionada pela
terminação do curso, não podemos deixar de lamentar, procuraremos
levar avante este órgão tão necessário ao nosso desenvolvimento
intelectual e que serve de estímulo às vocações literárias, que por acaso,
tendam surgir entre nós.22

Wanda Zanellato passou a ser a redatora chefe, Hugo Daros como redator
secretário. A comissão fiscal formada por Marcella D’Andréa, Silvia Amoretty, Hilda
Zugno, Yolanda Zanelatto, Rosaria Donatelli e Walter More. E, interessante ressaltar
que, mesmo denominando-se como um órgão das alunas, havia rapazes que integravam
a redação.
O objetivo de sua criação / circulação foi expresso na apresentação do número I,
como sendo “[...] órgão exclusivo das alunas da Escola Complementar, não visa
triunfos, nem a consagração de artistas, mas apenas o desenvolvimento e o estímulo de
algumas vocações jornalísticas ou literárias.”23 O nome escolhido – Centelha – tem sua
justificativa explicitada, também, na primeira edição:

Achamos acordado dar-lhe o nome de “Centelha”, porque como a


palavra significa, “partícula luminosa que ressalta de um corpo
incandescente” do mesmo modo nossas idéias, quais fogos fátuos,
brilham momentaneamente nas mentalidades aquecidas pelo calor
ardente despertado pela nobre e espinhosa missão [...].24

Tinha, ainda, como objetivo ser um instrumento integrador entre os alunos,


professores, e com a própria comunidade. As páginas eram utilizadas para divulgar
textos informativos, produções dos próprios alunos acerca de estudos realizados,
“planos de lição”, receitas, sínteses e ou comentários de obras literárias, notícias do
Círculo de Pais e Professores, acontecimentos sociais da escola. Chama atenção que o
impresso veiculava conteúdos humorísticos como piadas, trocadilhos, diálogos,

22
Jornal Centelha, ano II, n.I, 01/05/33, p. 01.
23
Jornal Centelha, ano I, n, I, 21/04/32, p. 01.
24
Jornal Centelha, ano I, n, I, 21/04/32, p. 01.
charadas, rimas, anedotas acerca de situações divertidas ocorridas com os próprios
alunos, além de receitas e até concursos de beleza como a escolha da “Rainha dos
Estudantes Complementaristas”. E, mesmo as características dos colegas não passavam
despercebidas:

Estão sendo reunidos na Escola Complementar os seguintes objetos, que


devem ser postos em leilão: a voz de Hugo D. que parece até um
trombone. Os sapatos de “nenê” da Ada A. A altura sem fim de Olga R.
Os brinquedinhos de criança do Ivo R. O caminhar de Cenira Alves. Os
olhos da Alba V. Os cabelos à Collen Moore da Mary P. Os cabelos
revoltosos da Gioconda Paim. O sério da Lila C. As lições bem sabidas
da Silvia G. Os verdes olhos da Andradina P. A semelhança da Benilda
R. com a Dolores Del Rio. O beicinho da Diva P. As covinhas da
Conceição V. O palminho de cara da Natalia C. E finalmente está em
leilão a minha língua comprida. Assinado: Leiloeira.25

Apesar de trazer em seu cabeçalho o custo de 300 réis por número, o jornal
possuía patrocinadores. Em praticamente todas as páginas há propagandas das casas de
comércio da cidade como Pernambucanas, Casa Fischer, Casa Parolini, Casas Mandelli,
Casa Fedrizzi e Casa Festugatto, que ofereciam roupas prontas ou tecidos, calçados.
Produtos diferenciados para a época, como a ‘Tintura Kilda’ que prometia dar “aos
cabelos brancos linda cor preta ou castanha” com o ganho de ser “a melhor e a mais
barata”26. Outra propaganda interessante é das maquinas de costura. Havia, ainda, a
veiculação de propaganda da Livraria Saldanha onde “completo sortimento de livros e
material didático para todos os colégios” era comercializado. Em números posteriores, a
Livraria Rossi e a Livraria Mendes, também passam a fazer anúncios. Portanto, roupas,
calçados, artigos de beleza, máquinas de costura e materiais de papelaria e livraria –
todos produtos ofertados para um grupo de consumo esperado – as normalistas e seus
professores.
No relatório anual de 1933 enviado para o Diretor Geral da Instrução Pública, a
diretora Maria Amorim refere-se, ao jornal Centelha:

Este Jornalzinho escolar, mantido pelo grêmio e dirigido por um


corpo redatorial de alunos, só pode apresentar três números,
durante este ano, por dificuldade financeira, falta de entusiasmo
da redação, uma vez que a direção preocupada com a brutal
agressão sofrida, não pode auxiliá-los como desejava na escolha
da matéria. Sua tiragem foi de 500 exemplares que foram
vendidos entre alunos e professores da escola, ou distribuídos,
25
Jornal Centelha de 21 de abril 1932, p.1. Acervo da Instituição.
26
Jornal Centelha, ano II, n. I, 01/05/33, p. 03.
gratuitamente, para todos os colégios do estado, como mensageiro
de simpatia e cordialidade a seus colegas dos demais
estabelecimentos de ensino27.

Neste mesmo relatório a diretora afirma que por ser uma obra dos estudantes é
um jornalzinho cheio de falhas, mas que servirá como ensaios literários, e o ideal seria
que os alunos pudessem confeccionar o jornal da própria escola:

Oxalá pudesse, em dias melhores possuir a própria escola a sua


pequena rotatória28, onde os alunos também ensaiassem as suas
composições tipográficas, adquirindo, numa situação de
brinquedo, uma profissão a mais que lhe garantisse a incerteza do
futuro[...]consiga o jornalzinho insignificante de hoje tornar-se
em uma bela e proveitosa revista que ainda venha honrar a rica e
futurosa cidade de Caxias29. ( grifos na fonte primária)

Há também no jornal Centelha de 1933 um texto referindo-se à biblioteca da


escola complementar, que mantém o mesmo nome até os dias atuais, no Instituto
Estadual Cristóvão de Mendoza.

Biblioteca Machado de Assis – No próximo 29 completará esta


utilíssima Instituição da Escola Complementar o seu primeiro
aniversário de fundação. Apesar de modesta e reduzida já vem ela
prestando grandes serviços à mocidade estudiosa deste
estabelecimento. Conta atualmente com 191 livros perfeitamente
registrados por ordem de entrada e catalogados, sob o sistema de
fichas, por ordem alfabética que servem para facilitar a escolha da
obra pelo sócio solicitante. Grande número deles foram doados e
alguns adquiridos por compra, com receitas provenientes das
mensalidades. O livro de movimento da biblioteca já registrou o
910º livros retirado para leitura em casa ou consulta em aula. Foi
organizadora, e é ainda sua tesoureira-secretária, a professora
senhorinha Ida Godinho, a quem muito deve a biblioteca pela
dedicação e carinho com que mantém e a administra. Por isso a
Centelha a felicita, lembrando ao mesmo tempo a todos os
colegas desta escola prestar- lhe uma homenagem, por ocasião
desse aniversário, bem como apresenta a idéia de uma coleta para
compra de alguns livros a serem presenteados nesse dia.30

27
Livro de correspondência expedida n° 1 p.83. Acervo do Instituto Estadual de Educação Cristóvão de
Mendonza. Relatório enviado por Maria Amorim ao Diretor Geral da Instrução Pública.
28
Mecanismo para impressão em papel com emulsão adequada, semelhante as rotativas tipográficas.
29
Livro de correspondência expedida n° 1 p.83 e 84. Acervo do Instituto Estadual de Educação Cristóvão
de Mendonza. Relatório enviado por Maria Amorim ao Diretor Geral da Instrução Pública.
30
Jornal Centelha, ano II, n. 03, 15 de outubro de 1933, p. 04.
A publicação e circulação do Centelha não ocorreu com regularidade e após a
edição de outubro de 1933 não temos, até o presente momento, conhecimento se sua
circulação foi suspensa ou simplesmente não foram mais guardados exemplares na
escola. Na medida em que a pesquisa for sendo desenvolvida novas informações serão
possíveis.

2.2 – O Jornal ‘Folha da Escola’

O segundo periódico produzido na escola foi o Folha da Escola, que teve seu
primeiro número publicado em setembro de 1939. Foram encontrados 4 exemplares, dos
anos de 1939 e 1940. Diferentemente do “Centelha” trata-se de um impresso fundado e
produzido pela então diretora e ex-aluna da Duque: professora Rosalba Hyppolito.
Também o formato é diferente, em tamanho ofício e a sua impressão não era
tipográfica.
Denominando-se ‘órgão da Escola Complementar de Caxias” propunha veicular
notícias sobre instrução, literatura, educação, humorismo e noticiário. Em seu primeiro
número, na apresentação consta que

Modesto, nosso jornal não visa triunfos nem glorias. Sua aspiração é
unir os estudantes e aproveitar as vocações literárias, humorísticas e
poéticas, que se manifestem entre os colegas e que não seriam
conhecidas de outra maneira, ou por timidez ou por falta de ocasião. [...]
Nele serão discutidos problemas relativos ao ensino, e tudo o que possa
contribuir para a maior cultura cívica e literária da mocidade escolar.
Além disso, divulgará o movimento da 4ª Delegacia Regional do Ensino
e publicará artigos fornecidos pelo Departamento Estadual de Saúde.31

Este jornal reserva um espaço considerável para as produções dos alunos da


escola complementar e aplicação, publicando redações, notícias sobre eventos e
atividades escolares, textos informativos sobre temas diversos, especialmente da área da
saúde e educação. Charadas, passatempos e notas informando e divulgando, em nome
da 4ª Delegacia Regional do Ensino, as principais notícias.
Ressalta-se que esses impressos escolares tinham relativa circulação pelo Estado
e mesmo fora dele. Em diversos momentos aparecem pequenas notas indicando o envio
ou mesmo o recebimento de jornais de outras escolas. Em 1939, assim foi noticiado:

31
Jornal Folha da Escola, ano I, Número I, setembro de 1939, p. 01.
Recebemos a visita dos seguintes confrades: “Meu jornal” e “Nossa
Voz”, órgão dos Cursos Complementar e de Aplicação da Escola
Complementar de Alegrete; a “Educação”e a “Instrução”, órgão dos
Cursos Complementar e de Aplicação da Escola Complementar de
Santa Maria; “Jornal do Educador”, de São Paulo; “O meu jornalzinho”,
órgão do Grêmio dos Estudantes do Grupo Escolar Felix da Cunha, de
Pelotas; “O Gauchinho”, órgão do Grêmio dos Estudantes do Grupo
Escolar Cassiano do Nascimento, de Pelotas. Gratos pela amável visita,
retribuiremos.32

A circulação desse impresso é evidenciada novamente na página 12 quando é


registrada uma ‘saudação’ aos “[...] colegas dos demais estabelecimentos de ensino de
Caxias, do Estado e do Brasil inteiro, enviando-lhes um fraternal abraço.”33
Chama atenção, ao analisar este impresso, a freqüência e importância dada a
questões de saúde. Uma página inteira é dedicada ao tema sob a denominação “Página
da Saúde”. Nela são publicados textos referentes ao tracoma, às verminoses, ao tifo...
No exemplar de setembro de 1939 é explicitado o objetivo da página:

Esta página é destinada a difundir, o mais possível, os conhecimentos


necessários para evitar a doença e tratar da saúde. Existem doenças
evitáveis em todos os climas e todos os povos, o que nos cumpre é
conhecê-las e evitá-las.[...] O tracoma é uma doença crônica e
contagiosa que ataca o aparelho visual.34

Afora esta página especial, são merecedoras de atenção as notícias veiculadas às


questões de saúde e que revelam práticas e discursos higienistas. Aos sábados, os alunos
do curso de aplicação eram reunidos no Auditório Carlos Gomes para ouvirem “[...]
uma preleção sobre higiene ou civismo, preleções essas que são feitas por uma
professora designada para tal fim, pela Senhorinha Diretora, nas reuniões semanais.”35
Textos escritos por alunos da complementar ou aplicação com essa temática também
foram privilegiados na publicação. “[...] A propaganda anti-alcóolica impõe-se a todos
os que se interessam pelo bem do próximo.”36 Como apontam os estudos de Stephanou
(2005):

32
Jornal Folha da Escola, ano I, n. 1, setembro de 1939 p.08. Acervo do Instituto Estadual de Educação
Cristóvão de Mendonza.
33
Jornal Folha da Escola, ano I, n. 1, setembro de 1939 p.12. Acervo do Instituto Estadual de Educação
Cristóvão de Mendonza.
34
Jornal Folha da Escola, ano I, n. 1, setembro de 1939 p.09. Acervo do Instituto Estadual de Educação
Cristóvão de Mendonza.
35
Jornal Folha da Escola, ano I, n. 1, setembro de 1939, p. 05.
36
Texto “O Álcool” de Ilca Alves dos Santos, 2º Ano B, Jornal Folha da Escola, ano I, n. 02, outubro de
1939, p. 09.
As metáforas médicas contaminaram práticas discursivas de diferentes
grupos sociais, destacadamente os educadores, uma vez que os
médicos, diretamente, buscaram ser reconhecidos como educadores,
para o que formularam um discurso que pudesse atestar sua
competência para tratar do pedagógico e do escolar. (STEPHANOU,
2005, p. 147 e 148)

A circulação de idéias higienistas são um dos aspectos observados nesse


impresso. Outro tema relevante e freqüente é o da nacionalização, anunciado em
diversas notícias sobre sessões cívicas, textos sobre a Pátria, sobre heróis da República
Brasileira, a Bandeira, a formação do povo brasileiro e, um destaque freqüente para
diferentes datas comemorativas. Na perspectiva da nacionalização, foi publicado em
1939:

Em obediência às determinações da exma. Snra. Diretora do


Departamento de Nacionalização do Ensino, D. Maria José Souza
e Cunha, transcrevo a comunicação que recebeu esta Delegacia
Regional do Ensino.
De acordo com despacho do senhor secretário de Educação e
Saúde Pública, levo ao vosso conhecimento que não serão
permitidas representações teatrais, festas escolares em auditórios,
sessão de cinema educativo ou quaisquer outras atividades
recreativas em idioma estrangeiro, mesmo sendo tais festas
levadas a efeito em prédios separados da escola. As atividades
todas que dizem respeito à criança devem ter um cunho altamente
brasileiro para maior eficiência a serviço da nacionalização.
(grifos nossos)37

Na publicação de setembro de 1939 é publicada a extensa programação da


Semana da Pátria e em todos os números encontrados é possível observar indícios de
discursos e práticas nacionalizadoras, afinal conforme Kreutz “[...]trata-se de um
momento histórico com forte acento nacionalista, em que considerava o processo
escolar uma instância privilegiada para formação do Estado Nacional[...]”(2005, p.65).
Outro aspecto a ser ressaltado são os excertos e pensamentos que foram
publicizados em diversas páginas deste impresso. Frases como “Educar-se para educar”,
ou “Não desprezes a tua situação: é aí que convém agir, sofrer e vencer (H.J. Amiel)”,
ou “Crê primeiro em ti mesmo, se queres que os outros também creiam”, dentre outros
inúmeros pensamentos foram veiculados.
Permanecem as propagandas, porém diversificam-se as empresas, os prestadores
de serviço e as lojas anunciantes. Como ensinar história, regras gramáticas como o
37
Jornal Folha da Escola nº 1. Setembro de 1939, p.10. Matéria assinada por Apolinário Alves dos
Santos, Delegado Regional do Ensino. Acervo do Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendonza.
emprego da crase, dentre outros temas referentes às diversas disciplinas trabalhadas
também eram veiculadas no impresso.
O último número desse periódico que tivemos acesso é uma edição
comemorativa dos dez anos da escola complementar, de outubro de 1940. Alude,
portanto, ao processo histórico da escola e discorre sobre as festividades produzidas por
essa comemoração. São quatro páginas dedicadas ao tema.

2.3 – O Jornal ‘A Voz da Mocidade’

A Voz da Mocidade foi o último periódico encontrado na escola e, deste, só


foram guardados dois exemplares dos meses de setembro e novembro de 1945.
Denominando-se “órgão dos alunos da Escola Normal Duque de Caxias” tinha como
diretora Thereza Walter e como redatora Dora M. Falcão. Dentre os auxiliares constam:
Clovis Lunardi, Onira Delacroix, Suzana Schueler, Zilia Garcia, Dina Bazo e Eunyce
Zanoni. Datilografado e em tamanho ofício, era um impresso de 5 a 6 páginas. No
exemplar de novembro consta uma rememoração de como o impresso foi criado:

História de “A voz da mocidade” Sendo este o último número de nosso


jornal no corrente ano, não quero furtar-me ao prazer de contar como
teve ele origem.
Nossa antiga aspiração viu-se realizada, quando menos esperávamos.
Achando-se, em determinado dia do mês de julho, todos os alunos do
ginásio reunidos no salão, entrou casualmente uma professora que
começou a conversar conosco. Como leciona apenas na 3ª série,
mostrou desejo de saber quais os alunos que mais se distinguiram na 1ª
e 2ª , quais os que melhor escreviam e muitas outras causas, referentes
todas ao aproveitamento dos alunos. Foram citadas como melhores
alunas, na 1ª série Onira Delacroix, e na 2ª, Erone Fedrizzi. Entre outras
informações, foram reveladas tendências de alunos para a poesia,
humorismo, etc. Lamentado a professora que esses predicados e
tendências não se tornassem conhecidos, para estímulo mesmo dos
próprios alunos, alguém apresentou uma idéia que foi logo repetida e
aprovada com entusiasmo: a instituição do jornal. Não haveria melhor
meio para amparar e desenvolver as tendências naturais dos alunos e
para manter sempre em contato, não só alunos e professores, mas
também os pais, que assim ficariam ao corrente do que se passa na
Escola. E foi com frenético entusiasmo que naquela ocasião ficou
deliberada a fundação do jornalzinho. Perguntas surgiram muitas: Como
seria o nome do jornal? A quem caberia a direção? Qual o redator?
Onde iria funcionar a redação? E várias, muitíssimas sugestões foram
apresentadas: “A Voz do Estudante”, “Normalista”, a “Folha da
Mocidade”, “Avante”, etc., etc..38

38
Jornal A Voz da Mocidade, novembro de 1945, ano I, n.5, p. 05.
Iniciava-se assim a idéia, conforme a descrição encontrada no impresso, de
veicular um novo jornal. A escolha do nome foi feita através de votação, sendo
escolhido “A Voz da Mocidade”. A escolha do redator, conforme sugestão da
professora foi feita com a participação de todos os estudantes que produziram um
trabalho de apresentação do jornal em sala de aula, sob a orientação dos professores de
português. Uma comissão julgadora composta por professores da escola escolheu o
melhor trabalho, e dali, veio a indicação do nome da redatora – a aluna da 2ª série –
Dora Falcão.
E, na descrição, as decisões foram sendo tomadas de forma coletiva:

Como seria o cabeçalho do jornal? Surgiu logo uma idéia: “Foi pedida a
colaboração do professor de Desenho. Todos os alunos apresentariam
um trabalho, e, alguns dias depois, vários e sugestivos modelos
apareceram. Submetidos ao julgamento de uma comissão de
professores, venceu o de uma aluna da 3ª série, Clara M. Amparo de
Souza, que foi premiada pelo professor de Desenho, Dr. Dario Granja
Santana, com o romance “Minas de Prata”, de Alencar.
A diretoria do jornal ficou assim constituída: uma diretora, uma
redatora e 6 auxiliares, sendo 2 de cada série. Com exceção da redatora,
todos os outros membros da diretoria foram escolhidos por eleição. No
trabalho que durante quase 6 meses se vem realizando, tem-se
destacado muitíssimo uma auxiliar da 3ª série, aluna Zília Soledade
Lozano Garcia, diligente e assídua colaboradora.
A redação do jornal está funcionando na sala da copa.
E, desde o primeiro exemplar que saiu ainda em julho, notou-se o
entusiasmo dos alunos, pois a “Voz da Mocidade”foi recebido com
grande interesse e preencheu sempre com eficiência a finalidade a que
se destinava. Tereza Valter.”39

O desenho que ilustra o cabeçalho do jornal, produzido pela aluna Clara Maria
Amparo de Souza pode ser analisada na imagem a seguir reproduzida:

39
Jornal A Voz da Mocidade, novembro de 1945, ano I, n.5, p. 05.
Imagem 02 – Reprodução do Cabeçalho do jornal A Voz da Mocidade de 1945. Acervo do
Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendonza.

O cabeçalho do periódico traz a imagem de livros, do sol – representações do


saber que ilumina a vida e o caminho daqueles que o buscam. Queria o jornal A Voz da
Mocidade difundir conhecimentos, estudos, idéias e acontecimentos escolares.
Os dois números que analisamos são, predominantemente, textos produzidos por
alunos com forte cunho nacionalista. Cultuando
C os ‘heróis da nação’,, valorizando
valoriz datas
cívicas, registrando ‘louvores’ à Pátria. “A cinza dos mortos é a criadora da Pátria
(Lamartine)”, “A devoçãoo pela Pátria é a primeira das virtudes (Napoleão)”40 são dois
dos pensamentos veiculados no impresso. E muitas das notícias dão conta de práticas
tendo a questão nacional como mote:

A fim de comemorar condignamente


condignamente a passagem da data magna
m
da história, a Independência do Brasil, o “Centro
Centro Cívico Visconde
de Mauá”
Mauá [...] desenvolveu-se se o seguinte programa: Hino da
Independência cantado pelos alunos. Beatriz Manfro,
Manfro da 3ª série,
leu um trabalho sobre “7 de setembro”. ”. Dora Falcão, da 2ª série,
cantou “Só a teute lado sou feliz”. “Hasteando
Hasteando a bandeira”,
bandeira poesia
pela aluna Maria Amélia da Silva, da 1ª série. Ignês Curra leu a
redação “Oração
“ a Bandeira”.
”. Do curso primário, o aluno do 4º
ano B, Sérgio Marques, declamou o “Canto Real”. Diva Lautert,
da 3ª série, declamou “Eia, Brasil”. ”. “Independência ou Morte”
poesia pela aluna da 2ª série, Jacy Lucchesi.
Lucchesi. Foi encerrada a
sessão com o Hino Nacional cantado por todos os presentes41.

40
Jornal A Voz da Mocidade, setembro de 1945, ano I, n. 3.
41
Jornal A Voz da Mocidade, setembro
set de 1945, ano I, n.3, p. 07.
Constam outras comemorações produzidas tendo como foco o civismo, o
patriotismo e a nacionalização.

Considerações finais

A (re)constução do processo histórico de uma instituição escolar, especialmente


àquelas voltadas à formação de professores, é uma atividade relevante na medida em
que contribui para pensarmos os pressupostos utilizados em dado momento histórico na
(con)formação dos docentes. Nos possibilita (re)pensar as próprias estratégias atuais de
formação.
Analisando os conteúdos veiculados nos impressos, há diversos indícios de
idéias e práticas pedagógicas, de estudos e saberes privilegiados na formação dos
professores pela Escola Complementar Duque de Caxias. Portanto, reconhecemos como
uma importante fonte para a história dessa instituição e da (re)construção de sua cultura
escolar. Sendo uma pesquisa que está em andamento, reconhecemos a parcialidade das
análises aqui apresentadas, mas reiteramos a importância de estarmos produzindo este
escrito.
Escritos por alunos e mesmo professores, os impressos Centelha, Folha da
Escola e a Voz da Mocidade são elementos que permitem inferir ainda sobre uma gama
de análises ainda não produzidas no âmbito deste texto. Afinal, veiculavam-se textos
sobre Pestalozzi, apresentavam “Plano de ‘Lições de observação’ de acordo com o
método Decroly”, planos de lições e explanações sobre diferentes disciplinas, sobre
como deveriam ser abordadas em aulas, bem como as próprias produções dos alunos do
curso de aplicação são materialidades que configuram a circulação de idéias, discursos e
práticas pedagógicas.
A Escola Complementar Duque de Caxias, posteriormente Escola Normal
Duque de Caxias e atualmente Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendonza
foi fundamental na formação de professores em Caxias do Sul e municípios vizinhos.

Referências:

WERLE, Flávia Obino Corrêa; BRITTO, Lenir Marina Trindade de Sá e NIENOV,


Gisele. Escola Normal Rural e seu impresso estudantil. Educação em Revista. 2007,
n.45, p. 81-105.
BASTOS, Maria Helena Câmara. As revistas pedagógicas e a atualização do professor:
a Revista do Ensino do Rio Grande do Sul (1951-1992). In: CATANI, Denice Bárbara;
BASTOS, Maria Helena Câmara. Educação em revista: a imprensa periódica e a
história da educação. São Paulo: Escrituras, 1997. p. 47-76.

CATANI, Denice Bárbara; SOUSA, Cynthia Pereira de (Org.). Imprensa periódica


educacional paulista (1890-1996): catálogo. São Paulo: Plêiade, 1999.

CATANI, Denice Bárbara; VICENTINI, Paula Perin, LUGLI; Rosário S. Genta. O


movimento dos professores e a organização da categoria profissional: estudo a partir da
Imprensa Periódica Educacional. In: CATANI, Denice Bárbara; BASTOS, Maria
Helena Câmara. Educação em revista: a imprensa periódica e a história da educação.
São Paulo: Escrituras, 1997. p. 77-92.

DESAULNIERS, Julieta B. Ramos. A formação via impresso. In: CATANI, Denice


Bárbara; BASTOS, Maria Helena Câmara. Educação em revista: a imprensa periódica e
a história da educação. São Paulo: Escrituras, 1997. p. 127-154.

KREUTZ, Lúcio. A Nacionalização do Ensino no Rio Grande do Sul: Medidas


preventivas e repressivas. In: Fronteiras: Revista Catarinense de História. Santa
Catarina:UFSC/ANPUH-SC,n.13, 2005.

NÓVOA, Antonio A imprensa de educação e ensino. In: CATANI, Denice Bárbara;


BASTOS, Maria Helena Câmara. Educação em revista: a imprensa periódica e a
história da educação. São Paulo: Escrituras, 1997. p. 11-32.

SOUSA, Cynthia Pereira de. A educação pelas leituras: registros de uma revista escolar
(1930-1960). In: CATANI, Denice Bárbara; BASTOS, Maria Helena Câmara.
Educação em revista: a imprensa periódica e a história da educação. São Paulo:
Escrituras, 1997. p. 93-110.

STEPHANOU, Maria. Discursos médicos e a educação sanitária na escola brasileira. In:


BASTOS, Maria Helena Câmara e STEPHANOU, Maria (orgs). Histórias e Memórias
da Educação no Brasil. Vol lII: Século XX. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.

WERLE, Flávia Obino Corrêa. Escola Normal Rural no Rio Grande do Sul: história
institucional. Revista Diálogo Educacional, v. 5, n. 14, jan./abr.2005, p. 35-50.

Fontes primárias

Ata de Termos e Visitas Escola Complementar Duque de Caxias.

Livro de Registro de correspondências expedidas da Escola Complementar Duque de


Caxias.

Jornal Centelha – Órgão das alunas da Escola Complementar de Caxias – publicação


mensal.
Jornal Folha da Escola – Órgão da Escola Complementar de Caxias – fundado pela
Profa. Rosalba Hyppolito.

A Voz da Mocidade – Órgão dos Alunos da Escola Normal Duque de Caxias.


Nome do arquivo: escola
Diretório: C:\Documents and Settings\Administrador\Desktop\Roseli
Modelo: C:\Documents and Settings\Administrador\Dados de
aplicativos\Microsoft\Modelos\Normal.dotm
Título: Impressos ultrapassam o caráter informativo e situam-se na condição de
materialidade formativa
Assunto:
Autor: Terciane
Palavras-chave:
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