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Avaliação da Integridade Estrutural de

Componentes Mecânicos por Shadow Moiré


Marco A. M. Cavaco e José L. F. Freire
PUC - Rio
Departamento de Engenharia Mecânica
Rua Marquês de São Vicente, 225
Gávea - RJ - Brasil
e-mail: cavaco@mec.puc-rio.br
jlfreire@mec.puc-rio.br

Resumo imagens são cada vez mais utilizadas como partes


integrantes de avaliação de dados laboratoriais. Ao
Uma técnica simples e automatizada é proposta para mesmo tempo, a análise dos dados experimentais vem
levantar a topografia de detalhes superficiais em sendo automatizada paulatinamente, permitindo um
equipamentos industriais. O método de shadow moiré é aumento da velocidade de processamento das
mostrado dentro de uma visão moderna onde técnicas informações e a visualização dos resultados em tempo
de automação de análise dos dados de moiré são real.
implementadas. O método de “phase shifting” é
empregado com sucesso através da translação A técnica clássica de "shadow moiré", foi introduzida
cuidadosa da rede padrão (master grating) `a frente do originariamente por volta dos anos quarenta por Weller
espécime. e Shepard "Weller (1948)" afim de determinar locais de
iguais profundidades em superfícies. Desde então,
1. Introdução muitas outras aplicações foram reportadas. Por
exemplo, o levantamento topográfico do corpo humano
A extensão da vida útil de instalações industriais é hoje "Takasaki (1973)", o estudo de superfícies com alto
uma tecnologia chave para empresas de todo o mundo. grau de curvatura "Marasco (1975)", e a avaliação na
A importância dessas tecnologias associadas `a linha de montagem do grau de defeitos em objetos com
garantia de integridade estrutural e extensão de vida irregularidades superficiais "Beedie (1985)".
útil está definida pelo grau de confiabilidade em que se
encontram muitos componentes das plantas industriais, Nos últimos anos o método de moiré interferométrico
centrais de geração de energia elétrica e de estruturas foi estendido para medições de deslocamentos fora do
civis em geral. Em muitos casos, o equipamento se plano "Asundi (1986); M.A.M. Cavaco (1995); Tsao
encontra próximo ao final de sua vida útil, e é mantido (1995)" com aplicações interessantes no levantamento
em serviço graças `a ação dos serviços de de características importantes de pacotes
manutenção. Nesse ponto se faz necessário o microelectrônicos. Entretanto a técnica por
desenvolvimento de uma tecnologia de ponta capaz de interferometria óptica está limitada ao uso laboratorial,
qualificar e quantificar a extensão de defeitos devido ao alto grau de estabilidade necessária a sua
superficiais em peças industriais. implementação e instrumentação.

Nesse trabalho estudou-se a aplicação de shadow É importante ressaltar, que a introdução de técnicas de
moiré, automatizado, como técnica de quantificação de automação por mudança do ângulo de fase (phase
mossas em superfícies cilíndricas. Existem inúmeras shifting technique - PST) "Cavaco (1995); Creath
outras aplicações no campo das ciências onde a (1985); Creath (1988)" são muito bem vindas uma vez
mudança de forma da superfície é muito importante. que o tempo de análise fica bastante reduzido e uma
Esforços significantes vem sendo realizados, nos vista tridimensional de toda a área defeituosa pode ser
últimos anos, no sentido de aumentar o grau de prontamente visualizada.
precisão dos dados adquiridos em um experimento.
Técnicas numéricas e de análise e tratamento de O objetivo desse trabalho foi desenvolver um método
capaz de quantificar com precisão defeitos superficiais.
A técnica de automação chamada de “phase shifting franjas de “shadow moiré”. Esse padrão de franjas
technique (PST)” foi implementada através da resultante representa o campo de deslocamentos fora
translação da rede padrão em relação ao espécime. do plano ou o mapa de contorno da superfície, "Daniel
Post (1994)".
2. Shadow Moiré
Nessa técnica a sensibildade experimental está
Padrões de franja por shadow moiré podem ser diretamente relacionada ao passo da rede padrão,
observados quando uma rede padrão (master grating) p=1/f, onde f é a frequência da rede. O deslocamento
é posicionada próximo a superfície a ser examinada e perpendicular ao plano da Figura 1 é relacionado com
iluminada por uma fonte de luz mediante um ângulo as franjas observadas de acordo com a equação,
β, como visto na Figura 1.
(1)

onde “N” é a ordem de franja observada e “p” é o passo


da rede padrão. Modernamente, utiliza-se a imagem
captada por uma câmera CCD e digitalizada por uma
placa converssora A/D. As imagens são, a seguir,
armazenadas e processadas em um micro-computador.
O processamento da imagem ocorre através da leitura
dos tons de cinza, onde o “0” corresponde ao centro de
uma ordem de franja ideal (preto absoluto) e 255
corresponde ao pico da meia franja adjacente. A
imagem é dividida em pequenas unidades no monitor
do computador chamadas de pixel (“picture elements”).
Especificamente, nessa análise a imagem foi
digitalizada em 512x512 pixels, o que é bastante
razoável para avaliação desse tipo de defeito levando-
se em consideração a área de análise e distâncias
adotadas (Figura 2 e Figura 3).

3. Processamento Automático

Os últimos desenvolvimentos da tecnologia de


processamento e digitalização de imagens permitem
Figura 1. Arranjo esquemático na geração de franjas que técnicas automáticas "E.S. Simova (1992)",
pelo método de shadow moiré. "Ghiglia, Mastin & Romero (1987)", "P. Hariharan
(1987)", "Poon, Kujawinska & Ruiz (1993)" e semi-
Nesse arranjo assume-se que a luz se propaga automáticas "A. S. Voloshin (1986)" de análise de
retilineamente, uma vez que a fonte de luz é inserida franja sejam aprimoradas e aplicadas hoje a mecânica
dentro de uma câmara escura contendo uma pequena experimental. Entretanto, técnicas semi-automáticas
abertura circular. É importante ressaltar, que o aparato sofrem com o tempo de processamento. Normalmente,
deve ser montado deixando um pequeno espaço entre varreduras linha a linha são necessárias numa fase de
a rede e a superfície do espécime. Desse modo, uma pré-processamento. A isto segue-se uma sistemática
clara sombra da rede padrão se forma sobre a identificação de picos e vales de intensidade de luz
superfície da peça. Essa sombra, constituída de barras (claros e escuros). Essa identificação nem sempre é
claras e escuras passa a ser uma nova rede (specimen eficaz o bastante, requerendo uma identificação
grating) posicionada sobre a superfície do objeto em manual complementar. Levando-se isso em
estudo. Um observador (câmera) colocado próximo a consideração, procurou-se estudar um método
fonte de luz observa a interferência mecânica causada automático que fosse rápido e eficiente. Para isso
pela superposição da rede de referência e a nova rede adotou-se uma variação da conhecida técnica de
gerada pela sua própria sombra gerando as chamadas “phase shifting” (ou stepping) "Kujawinska (1987)"
"Creath (1988)", onde cinco imagens são digitalizadas, Figure 2. (a) detalhe esquemático da mossa na parede
sistematicamente, após a introdução de um passo do tubo de PVC usado no teste. (b) vista real da
conhecido e constante, α = π/2 "Cavaco (1995)". O mossa.
algoritmo resolve o sistema de equações combinando δ31
β =cm
base
rede
tubo
luz 26.2ϒ
c‰mera
63 de
informações das cinco imagens, pixel a pixel, transla•‹o
processando somente as informações relativas ao controlada por
micr™metro
valores das intensidades luminosas de cada pixel,
conforme mostram as equações abaixo "Malacara
(1992)",

(2)

Na equação acima o ângulo de fase φ é a incógnita


procurada. Resolvendo para φ, encontra-se

(3)

Note que a equação acima diretamente promove a


filtragem de eventuais ruídos adquiridos durante a fase
de digitalização. Esse fato é relevante para o
processamento da imagem. Por outro lado, sabe-se
que φ é diretamente proporcional ao deslocamento
procurado, “w” (Figura 1) observado na superfície da Figura 3. Arranjo esquemático mostrando a disposição
peça., de tal forma que geral dos equipamentos na implementação da técnica
de “phase shifting”.
(4) A parte mais acentuada da mossa tem cerca de 10mm
de profundidade determinado cuidadosamente com um
paquímetro digital. Foi usado uma rede padrão com
onde f, é a frequência da rede padrão posicionada a passo, “p”, de 2 linhas/mm nesse experimento. Para
frente da peça durante a inspeção, Figura 1. gravar as imagens foi usada uma câmera CCD e uma
placa digitalizadora de imagens da Data Translations
4. Procedimento Experimental DT2861. Dois tipos de teste foram conduzidos. O
primeiro estudou uma área do tubo sem defeito. Um
A fim de mostrar a eficácia da metodologia proposta foi segundo teste concentrou-se na região defeituosa.
produzida uma mossa elíptica (Figura 2) na parede de Através da técnica de automação por “phase shifting” ,
um tubo de PVC. cinco imagens foram obtidas da região com o defeito e
outras cinco obtidas da região livre de irregularidades.
150mm
63
85
160
tubo
mossa
mossamm
de PVC
Afim de criar os passos (steps) ou diferenças de fase,
α, um procedimento simples foi desenvolvido. Para isto
posicionou-se a rede padrão sobre uma base de
translação controlada por um micrômetro. Ao girar-se o
micrômetro foi possível transladar a rede de δ mm e
acompanhar a mudança na posição das franjas até que
elas voltassem a posição inicial. Nesse instante havia-
se aplicado uma mudança do ângulo de fase de 2π e
uma translação da rede de δ mm conforme mostra a
equação abaixo,

(a) (b) (5)


Para um passo, “p”, de aproximadamente 0.5mm e um
ângulo β de 26.2° (para θ =0°, isto é com câmera
perpendicular a rede) encontrou-se uma translação δ Profundidade do Defeito
Linha A-A
de 1 mm. Dividindo-se o espaço transladado em 5 0.0
diferentes posições era possível controlar o passo
-2.0
incremental de π/2 necessário ao método de “phase
shifting”. Na prática uma mudança de 2π equivaleria a -4.0
uma translação de 1mm da rede em direção `a parede
-6.0
tubular. Esquematicamente a Figura 3 mostra esse
posicionamento com as distâncias adotadas durante o -8.0
teste.
-10.0

Na figura 4 podem ser vistas duas imagens geradas -12.0


1.0 93.0 185.0 277.0 369.0 461.0
pela técnica de shadow moiré. Nota-se a diferença
entre a imagem sem mossa, figura 4a, e a Figura 4b Dist‰ncia em Pixels

com a mossa presente. É interessante reparar que uma


simples inspeção visual dá uma ideia qualitativa do (a) (b)
dano presente na peça.
Figura 5. (a) vista 2D do formato do defeito quantificado
em níveis de cinza. (b) Profundidade da mossa obtida
ao longo de A-A.

Um melhor entendimento dos resultados pode ser


extraído do gráfico tridimensional da região mostrado
nas figura 6a.

6. Conclusões
(a) (b) O método de “shadow moiré” automatizado é proposto
como técnica de inspeção de equipamentos industriais.
Figura 4. Vista da imagem digitalizada resultante da Essa é uma técnica não destrutiva que permite a
operação de diferença que aparece no numerador da avaliação de defeito superficiais. Sua baixa
equação (2), (a) parte do tubo sem defeito, (b) parte do sensibilidade é sua maior limitação (diretamente
tubo com defeito. proporcional ao passo da rede padrão empregada). No
futuro, espera-se testar essa metodologia diretamente
5. Resultados num teste de campo durante uma monitoração real de
um defeito.
Na figura 5a é mostrada uma imagem 2D do campo de
deslocamentos na região defeituosa em termos de SUMMARY
níveis de cinza. Na figura 5b pode-se ver a The shadow moiré technique was automated using
profundidade do defeito ao longo da linha A-A., image analysis and processing. Phase shifting was
mostrada na figura 5a. Note-se que as medições used to determine five different images of the deformed
previas com um paquímetro digital também indicaram specimen. The phase shifting method was conduct by a
um defeito de 10mm de profundidade máxima. combination of a translation stage and a precise
micrometer used to carefully position the master grating
in front of the specimen. Excellent results were found in
quantifying the depth of a 10 mm superficial defect
existent in a 160 mm pipe.
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Figura 6. Vista 3D da parede tubular, obtida pela
Journal of Strain Analysis for Engineering Design,
técnica de shadow moiré. (a) vista 3D do defeito
28(2), 79-88.
calculado pelo método e (b) vista real do tubo.
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