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Capítulo I
Religião -> sentimento peculiar, que pode se encontrar atuante em milhões de pessoas
-> sentimento oceânico (comum)
Sentimento Oceânico: vínculo indissolúvel, de ser uno com o mundo externo como um
todo. Forma de uma indicação da vinculação com o mundo.
Não há nada que possamos estar mais certos do que o sentimento do próprio eu, do
próprio ego (que parece ser algo autônomo e unitário).
O ego parece ter linhas de demarcação bem claras e nítidas com o exterior. Só há um
estado em que ele não se apresenta assim: no auge do sentimento de amor. Neste a
fronteira entre o ego e o objeto ameaça desaparecer, confusão entre o “eu” e o “tu”.
Quando há problemas na fronteira entre o ego e o mundo externo, se dá a patologia.
O ego desenvolve-se no ser humano, a criança não tem ego quando nasce. Princípio da
realidade -> separar o ego (interno) do mundo externo.
O ego utiliza o método para afastar desprazeres do exterior também para afastar
desprazeres do interior. -> ponto de partida para importantes distúrbios patológicos.
Capítulo II
A religião tem apenas a função de personificar um “pai”, uma figura a quem
responder, em substituição aos pais da infância. Respondemos e nos dirigimos a Deus
do mesmo jeito que nos retratávamos aos nossos pais quando criança.
Exemplo de satisfações substitutivas: arte (são ilusões), que são tão eficazes
graças ao papel que a fantasia assumiu na vida mental. Já as substâncias influenciam
nosso corpo e alteram sua química.
Contra o sofrimento que pode advir dos seres humanos, a defesa mais imediata
é o isolamento voluntário. Com isso pode-se buscar a felicidade da quietude, a
felicidade de se evitar a infelicidade.
Além disso, nossa estrutura mental admite outras formas de influências. Uma
delas é a busca do prazer, da felicidade, pela realização dos instintos, para se satisfazer
sensorialmente.
Uma das formas de fruição da felicidade é a da busca pela beleza, que é uma
derivação do campo do sentimento sexual. Amor pela beleza -> impulso inibido
Caso uma dessas fontes por algum motivo se mostre inviável, uma das
conseqüências é a fuga para a enfermidade neurótica, ou a intoxicação crônica.
Capítulo III
Duas das três formas de infelicidade (poder superior da natureza e a fragilidade
de nossos próprios corpos) nos forçam a reconhecê-las e a se submeter ao inevitável.
Já a terceira fonte, a fonte social de sofrimento, não a admitimos, não entendemos
por que os regulamentos estabelecidos por nós mesmos não representam, ao
contrário, proteção e benefício para cada um de nós. Podemos perceber aqui que há
também uma parcela da natureza inconquistável, dessa vez uma parcela de nossa
própria constituição psíquica.
Parece certo que não nos sentimos confortáveis com a civilização atual, mas em
que grau os homens das civilizações anteriores se sentiram mais felizes? No entanto, a
felicidade é algo totalmente subjetivo, não é possível comparar assim as felicidades
que diferentes homens de diferentes épocas sentem.
O homem também tem um anseio por beleza, a sujeira de qualquer espécie nos
parece incompatível com a civilização. Da mesma forma entendemos nossa exigência
de limpeza com o corpo humano. É o anseio por ordem, que é uma espécie de
compulsão a ser repetida, que decide quando e como uma coisa será efetuada. Com
isso, há os benefícios da ordem, de o homem utilizar o espaço e o tempo para seu
melhor proveito, conservando ao mesmo tempo as forças psíquicas nele.
Com isso, a limpeza, a beleza e a ordem ocupam uma posição especial entre
as exigências da civilização. Outro bom caracterizador das civilizações são a estima e o
incentivo em relação às mais elevadas atividades mentais (realizações intelectuais,
artísticas e científicas). Entre essas idéias estão os sistemas religiosos, as especulações
da filosofia e os “ideais” do homem, suas idéias a respeito da possível perfeição do
homem.
Com isso, a liberdade do indivíduo não constitui o dom da civilização. Esta era
muito maior antes da existência de qualquer civilização. A civilização impõe restrições
a ela e a lei garante que ninguém fuja a essas restrições.
Capítulo IV
Depois que o homem primitivo se deu conta de que sua sobrevivência estava
em suas mãos, percebeu que seria vantajoso se unir a outros homens. Aí se deu a
formação da família, onde o macho sentiu a necessidade de estar ao lado da fêmea e
esta a necessidade de ficar junto de seus filhos, ficando também com o macho mais
forte. No entanto nessa família primitiva, a vontade do pai era irrestrita. A vida
comunitária dos seres humanos teve, portanto, um fundamento duplo: a compulsão
para o trabalho, por necessidades externas; e o poder do amor. Com isso Eros e
Ananke (amor e necessidade) se tornam os pais também da civilização humana.
Quanto mais os indivíduos de uma família se sintam ligados entre si, mais
dificuldades terão de se unir aos outros de fora da família. As mulheres também se
opõem à idéia de civilização, pois estas representam os interesses da família e da vida
sexual e o trabalho de civilização tem se mostrado cada vez mais masculino. O
trabalho masculino mina as energias da libido e a mulher se sente relegada a
segundo plano pelas exigências da sociedade.
Capítulo V
O amor libidinal basta para dois amantes (o casal de namorados que não quer
saber do resto do mundo). E teoricamente o amor libidinal entre pares e o vínculo com
o mundo externo pela força do trabalho seriam suficientes, mas a civilização visa unir
os membros da sociedade de maneira libidinal também, e usa todos os artifícios para
que dois indivíduos sintam vontade de se unir.
A pista da origem disto pode ser: “Amarás teu próximo como a ti mesmo”. No
entanto é difícil sentir amor por algum desconhecido, só é possível quando há
identificação, quando é possível que o homem se possa amar amando aquela pessoa.
Seria injustiça também colocar estranhos no mesmo patamar onde estão os que
realmente amamos, pela valorização do amor que os amados dão em amá-los. Se devo
amar a todos só por existir, então caberá a todos apenas uma pequena parcela de
amor. (Inflação do amor, que é desvalorizado pela banalização)
Além disso, mesmo se tal mandamento fosse respeitado, de amar o outro como
a si mesmo, há diferenças nos seres humanos no que é classificado como bom ou mau,
há diferenças éticas.
O elemento a que todos estão dispostos a repudiar é que “Os homens são
criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se
quando atacadas”, levando a crer que os dotes instintivos do homem possuem uma
poderosa quota de agressividade. Com isso o próximo não é só apenas um ajudante
potencial, um objeto sexual, mas também alguém que os tenta a satisfazer sobre ele
sua agressividade, a explorar sua capacidade de trabalho sem compensação.
inibidos em sua finalidade, daí a restrição à vida sexual e daí também o mandamento
de amar ao próximo.
Além disso, não é fácil aos homens abandonar a satisfação dessa inclinação
para a agressão. Um grupo só se sente coeso quando há membros de fora deste a
quem descontar a agressividade dos membros do grupo. É o caso de territórios
adjacentes com rixas constantes, o “narcisismo das pequenas diferenças”.
Se a civilização nos impõe sacrifícios tão grandes, tanto pela sexualidade como
pela agressividade, fica claro porque é tão difícil viver nessa civilização. Na verdade o
homem primitivo se acha em situação melhor sem conhecer as restrições de instinto.
No entanto, para este, os momentos de felicidades eram muito tênues. O homem
civilizado trocou, portanto uma parcela de suas felicidades pela possibilidade de viver
em segurança.
Capítulo VI
Teoria dos instintos: “São a fome e o amor que movem o mundo”, a fome pode
ser vista como os instintos de sobrevivência ao passo que o amor visa à perpetuação
da espécie.
Uma parte deste sentido é desviada ao mundo externo e vem à luz como um
sentido de agressividade, de destruição. Com isso o instinto pode ser compelido a
destruir algo ou algum organismo, ao invés de destruir a si mesmo. Com isso qualquer
tentativa de barrar essa agressividade estaria fadada a se tornar autodestruição.
Capítulo VII
Os animais não possuem tal luta cultural, entre Eros e morte. Isso se dá, pois
um equilíbrio temporário foi alcançado entre as influências de seu meio ambiente e os
instintos mutuamente conflitantes dentro deles, ocorrendo assim uma cessação de
desenvolvimento. Uma das hipóteses é que, no homem primitivo, um novo acréscimo
de libido tenha provocado um surto renovado de atividade por parte do instinto
destrutivo.
Tal sentimento de culpa pode vir não só quando uma pessoa cometer um ato
que esta considere má, como também apenas por ter a intenção de fazer algum ato
ruim. Surge então a questão de o porquê de a intenção ser considerada equivalente
ao ato. O que uma pessoa considera bom ou mau não é necessariamente o que pode
ser bom ou mau para ela, para seu ego, e o que ela considera como mau pode até ser
bom para seu ego. Está aí presente então uma influência estranha, uma influência
externa que nos diz o que é bom e o que é mau.
estado mais elevado2. Neste ponto o medo de ser descoberto se extingue e, além
disso, a distinção de fazer algo mau e desejar fazê-lo se extingue, já que nada pode ser
escondido do superego. “O superego atormenta o ego pecador com o mesmo
sentimento de ansiedade e fica à espera de oportunidades para fazê-lo ser punido pelo
mundo externo.”
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Como a idéia do panopticom de Michael Foucalt
por Diogo Leite 13
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Capítulo VIII
O sentimento de culpa é o mais importante problema no desenvolvimento da
civilização. O preço que pagamos por nosso avanço em termos de civilização é uma
perda de felicidade pela intensificação do sentimento de culpa.
É a percepção que o ego tem de estar sendo vigiado dessa maneira, a avaliação
da tensão entre os seus próprios esforços e as exigências do superego. O medo desse
agente crítico constitui uma manifestação instintiva por parte do ego, que se tornou
masoquista sob a influência de um superego sádico, é, por assim dizer, uma parcela do
instinto voltado para a destruição interna presente no ego.