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CULTURA E Jorge Barbosa

COMPORTAMENTO SOCIAL II

Cultura e
Comportamento Social II
Psicologia – 12º Ano

OUT 2008
Diferenças Interculturais nos Processos de Atribuição.
A descoberta de causas e efeitos é um dos problemas centrais das ciências. Do mesmo modo, como cientistas intuitivos,
achamos que compreendemos verdadeiramente qualquer comportamento humano quando sabemos por que razão ele
aconteceu. Por exemplo, vamos supor que um atleta conhecido afirma num anúncio de publicidade que um determinado tipo
de cereal é muito bom. Porque fará ele isso? Acha mesmo que o cereal é bom, ou só está interessado em ganhar um pouco mais
de dinheiro com o anúncio publicitário? Suponhamos agora que uma determinada pessoa faz uma doação em dinheiro para
uma instituição de apoio social. Porque será que fez isso? Será uma pessoa altruísta? Estava a ser pressionada? Precisa de fazer
uma dedução nos impostos? Acredita no trabalho da Instituição?

Cada um destes casos corresponde a um problema de atribuição. Observamos alguns comportamentos – talvez também o nosso
próprio comportamento – e sentimos necessidade de decidir a qual, de entre muitas causas possíveis, a acção deve ser atribuída.

Retomando os exemplos anteriores, uma das principais tarefas de atribuição é decidir se um comportamento reflecte algo de
singular da pessoa (atitudes, características da personalidade, etc.) ou algo relativo à situação em que decorreu o
comportamento da pessoa. Se inferirmos que algo na pessoa é o principal responsável pelo comportamento (por exemplo, o
atleta gosta mesmo do cereal), a nossa inferência é chamada atribuição interna ou disposicional (“disposição” aqui refere-se às
crenças, atitudes e características de personalidade de uma pessoa). Mas se concluímos que alguma causa externa é a principal
responsável pelo comportamento (dinheiro, normas sociais, ameaças), então a nossa inferência é chamada atribuição situacional
ou externa.

A maioria dos países ocidentais industrializados têm uma orientação individualista, que valoriza a independência pessoal e a
auto-afirmação. Em contraste, muitas culturas não ocidentais têm uma orientação mais colectivista, que valoriza mais a nossa
interdependência com os outros como membros da comunidade. Estas diferenças sugerem a hipótese de os efeitos de atribuição
não serem universais, podendo reflectir orientações culturais mais individualistas ou colectivistas. Por exemplo, pode ser a
nossa orientação individualista, e não uma característica universal do processamento humano das informações, que nos leva a
descrever as pessoas em termos de traços de personalidade do indivíduo, ou atribuir as acções à personalidade do indivíduo
mais do que à situação.

Para testar esta hipótese, a indivíduos do Japão (sociedade com orientação colectivista) e dos Estados Unidos (sociedade com
orientação individualista) foi pedido que respondessem diversas vezes à pergunta “Quem sou eu?”. Os sujeitos japoneses
referiram apenas 25% do número de traços psicológicos (por exemplo, “Eu sou optimista”) referidos pelos sujeitos americanos,
mas referiram três vezes mais papéis e contextos sociais (por exemplo, “Eu pertenço ao grupo de teatro”). É interessante notar
que, quando era especificado um contexto social, os japoneses tinham mais tendência para utilizarem traços para se
descreverem a si próprios (por exemplo, “Às vezes sou preguiçoso em casa” ou “Esforço-me muito na Escola”), indicando
assim que encaram o seu comportamento mais dependente da situação (Cousins, 1989). Outros estudos semelhantes
confirmam que sujeitos dos Estados Unidos e da Europa têm significativamente mais tendência a descreverem-se a si próprios
em termos disposicionais do que os asiáticos.

Outro estudo intercultural procurou determinar se os americanos teriam mais tendência do que os hindus a preferir explicações
disposicionais a explicações situacionais. Pediu-se a cada participante o seguinte: “Descreva alguma coisa que uma pessoa que
conhece bem tenha feito de errado” e também “Descreva alguma coisa que uma pessoa, que conhece bem, tenha feito de bom a
outra pessoa”. Depois, pediu-se aos sujeitos que explicassem o motivo de cada comportamento.

Como era de prever, os sujeitos americanos apresentaram explicações disposicionais (por exemplo, “Ele é descuidado e pouco
atencioso”) com mais frequência do que os hindus; por outro lado, apresentaram explicações situacionais (por exemplo, “Havia
pouca visibilidade e a bicicleta ia depressa demais”) com menos frequência do que os sujeitos hindus. Para saber se essas
diferenças se deviam simplesmente aos tipos de comportamento escolhidos para explicar, pelos membros de cada cultura,
pediu-se também aos sujeitos americanos que explicassem os comportamentos referidos pelos sujeitos hindus. Esta variante da
experiência não originou qualquer diferença relativamente aos resultados já obtidos: os americanos continuaram a preferir
explicações disposicionais a explicações situacionais (Miller, 1984).

Num primeiro momento, estes resultados poderiam significar que os indivíduos de culturas asiáticas colectivistas teriam menor
tendência a cometer o erro de atribuição. Mas também é possível que os factores situacionais desempenhem um papel mais
importante na determinação do comportamento nas culturas colectivistas. Na verdade, esta é a hipótese de base dos
investigadores que comparam culturas individualistas com culturas colectivistas. Mas estas duas hipóteses (a de que os asiáticos
têm menor tendência para explicar as causas dos comportamentos – atribuição -, e a de que factores situacionais desempenham

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um papel mais importante na determinação dos comportamentos nas culturas colectivistas) não se excluem. As influências
situacionais podem ser os determinantes mais poderosos do comportamento e, portanto, também colectivamente mais
disponíveis como explicações para o comportamento.

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Atitudes
Até agora, no texto “Cultura e Comportamento Social I” e neste, o debate centrou-se no funcionamento cognitivo, nos
processos de percepção e no pensamento. Com o conceito de atitude, começamos a falar da afectividade – emoções e sentimentos.
Atitudes são gostos e aversões – avaliações e reacções favoráveis ou desfavoráveis a objectos, pessoas, situações ou outros
aspectos do mundo, incluindo ideias abstractas e políticas sociais. Muitas vezes, exprimimos as nossas atitudes com declarações
de opinião: “Eu adoro laranjas” ou “Não suporto políticos de direita”. Mas, mesmo que as atitudes exprimam sentimentos, a
maior parte das vezes estão ligadas à cognição – especificamente quando nos referimos às crenças em torno dos objectos das
atitudes (“As laranjas têm muitas vitaminas”, “Os políticos de direita não se preocupam com a pobreza”). Por outro lado, por
vezes, as nossas atitudes vinculam-se a acções relacionadas com os objectos das atitudes (“Como uma laranja todos dias de
manhã”, “Nunca votei em candidatos de direita”).
Podemos, então, dizer que as atitudes compreendem uma componente cognitiva, uma componente afectiva e uma componente
comportamental. Por exemplo, ao estudarem atitudes negativas em relação a grupos sociais, os psicólogos costumam fazer
distinção entre:
• Estereótipos negativos (crenças e percepções negativas sobre os grupos sociais) – a componente cognitiva.
• Preconceitos (sentimentos negativos relativamente ao grupo social) – a componente afectiva
• Discriminação (acções negativas contra membros do grupo social) – a componente comportamental.
Alguns autores preferem definir as atitudes como sendo constituídas apenas pelas componentes cognitivas e afectivas; outros
incluem apenas as componentes afectivas. No entanto, apesar das diferentes definições, todos partilham o mesmo interesse pelo
estudo das inter-relações entre crenças, sentimentos e comportamentos.

Coerência das Atitudes

Certas atitudes parecem caminhar lado a lado. Por exemplo, as pessoas que apoiam acções anti-discriminação tendem a ser
contra a pena de morte e a ter posições a favor da liberalização do aborto. Aparentemente, estas atitudes não parecem ter um
encadeamento lógico. Mas saber que uma pessoa defende uma delas, muitas vezes permite-nos avaliar a sua posição
relativamente às outras de um modo bastante preciso, e parece haver neste processo uma certa “lógica”. Estas atitudes parecem
ter origem num conjunto de valores subjacentes, que poderíamos rotular “de esquerda”.
O mesmo tipo de “lógica” pode ser identificado em atitudes “de direita”. Muitas das pessoas de direita e que se dizem
defensoras da liberdade também acham que as mulheres devem ficar em casa, que o uso de haxixe deveria ser punido com mais
rigor e que o comportamento homossexual deveria ser ilegal. Aqui, a lógica é menos clara, mas estas atitudes também parecem
estranhamente previsíveis.
Em resumo, as atitudes das pessoas, muitas vezes, parecem possuir uma espécie de lógica interna, mas que geralmente não é
uma lógica formal estrita. Pelo contrário, trata-se de uma espécie de psico-lógica, e é a esta psico-lógica que os psicólogos que
estudam estes fenómenos chamam consistência cognitiva. A premissa básica das teorias da consistência cognitiva é que todos nós
procuramos ser coerentes nas nossas crenças, sentimentos e comportamentos, e que a discordância actua como uma irritação
ou como um estímulo que nos motiva a modificá-los até formarem um todo coerente.
Uma das preocupações dos cientistas foi a de refutar a hipótese (lembrem-se da teoria de Popper, que estudaram no 11º ano).
Ficou famosa uma sondagem nacional realizada nos Estados Unidos pelo New York Times e pela CBS News, no final da
década de 70. Nessa sondagem, a esmagadora maioria dos norte-americanos não estava de acordo com os programas de apoio
social patrocinados pelo governo. No entanto, mais de 80% apoiavam:
• O programa do governo que prestava auxílio económico destinado a crianças de famílias de baixo rendimento e que
eram educadas por pais ou mães sós.
• O programa do governo para ajudar os pobres a comprar comida a preços mais acessíveis, e
• O programa de assistência médica para os pobres.
Ora, estes três programas eram, na altura, o essencial do programa geral de apoio social do governo norte-americano com que a
maioria dos inquiridos não concordava. Estes resultados foram semelhantes em todos os grupos analisados: ricos e pobres,
liberais e conservadores, democratas e republicanos.

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Apesar de tudo, temos de ser muito cuidadosos antes de acusar alguém de incoerência. As atitudes de uma determinada pessoa
podem muito simplesmente ser incompatíveis com a nossa própria estrutura ideológica. Por exemplo, a condenação da pena de
morte geralmente é considerada de esquerda e a condenação da liberalização do aborto de direita. No entanto, existe uma
coerência lógica nas opiniões de uma pessoa que, por ser contra qualquer coisa que tire a vida, se opõe tanto à pena de morte
quanto à liberalização do aborto. O que pode parecer-nos uma incoerência pode, então, ter mais a ver com uma certa
concepção a respeito do que é a vida e do que é a morte, isto é, uma concepção ideológica, que dá coerência a atitudes
aparentemente incoerentes do estrito ponto de vista da lógica formal. Outro exemplo é o dos libertários (a que alguns chamam,
erradamente, neo-liberais). Esta corrente de opinião, actualmente muito em voga, diz-se não ideológica e pretende racionalizar,
a partir de princípios identificáveis com o positivismo lógico, atitudes de defesa intransigente das liberdades individuais. Muitos
fazedores de opinião que surgem nos órgãos de comunicação social são bons representantes, a maior parte das vezes
inconscientes, desta corrente de opinião. Defendem, então, atitudes conservadoras e de direita nas questões económicas: são
contra a interferência do Estado na economia (são a favor da liberdade do “mercado”) e opõem-se às leis de protecção dos
direitos civis e de promoção de políticas anti-discriminação (rendimento mínimo, por exemplo). No entanto, são de esquerda
nas questões pessoais: defendem que os governos não deveriam criminalizar o comportamento sexual privado, ou o consumo
de haxixe. (Note-se: alguns libertários só se pronunciam sobre questões de natureza económica...). Para os libertários, os
políticos de direita e os políticos de esquerda são igualmente incoerentes, porque não aplicam na avaliação das suas atitudes
princípios de lógica formal.
No entanto, as evidências científicas sugerem que a maioria dos cidadãos não organiza as suas crenças e atitudes de acordo
com qualquer tipo de ideologia geral que esteja de acordo com os princípios da lógica formal; a não compatibilidade, ou
mesmo a incompatibilidade, parece ser mais prevalecente do que a compatibilidade. Esta constatação levou um investigador a
propor que muitas das nossas atitudes vêm embaladas como “moléculas de opinião”. Cada molécula é constituída por uma
crença, por uma atitude e por uma percepção do apoio social a essa opinião. Por outras palavras, cada molécula de opinião
contém um facto, um sentimento e seguidores (Abelson, 1968). Por exemplo: “Quando o meu tio teve um problema nas costas,
recorreu à acupunctura” (facto); “Sabes, eu acho que se tem exagerado nas críticas à acupunctura” (sentimento), “e não me
envergonho de dizer isto porque conheço muitas pessoas que pensam o mesmo” (seguidores).
As moléculas de opinião desempenham importantes funções sociais. Em primeiro lugar, funcionam como unidades de
comunicação, fornecendo-nos algo de coerente para dizer, quando um determinado assunto surge numa conversa; dão também
uma aparência de racionalidade à nossa concordância ou discordância irreflectida com opiniões de vizinhos e amigos sobre
várias questões; mais importante ainda, servem para nos identificarmos com importantes grupos sociais, reforçando o nosso
sentido de pertença a uma comunidade.

Funções das Atitudes


As atitudes cumprem diversas funções psicológicas distintas. Diferentes pessoas podem manter a mesma atitude por diferentes
motivos, e uma mesma pessoa pode manter uma determinada atitude por mais do que um motivo. As funções das atitudes para
um determinado indivíduo influenciam a compatibilidade com as outras atitudes da pessoa e a facilidade ou dificuldade com
que podem ser alteradas. Por outras palavras, as atitudes de uma pessoa podem parecer incompatíveis, mas, se estivermos um
pouco atentos, verificaremos que essas atitudes incompatíveis entre si cumprem a mesma função ou funções complementares e,
entre si, compatíveis.

Função Instrumental
Diz-se que as atitudes que mantemos por motivos práticos ou utilitários cumprem uma função instrumental. Referem-se a casos
específicos que têm a ver com o nosso desejo geral de obter benefícios ou recompensas e evitar punições. Por exemplo, um
grande número de portugueses é favorável à melhoria da qualidade dos serviços do Estado, mas opõe-se ao aumento de
impostos. As atitudes com função instrumental nem sempre são coerentes fora do quadro da sua função.

Função de Conhecimento
As atitudes que nos ajudam a compreender o mundo, que organizam as diversas informações que precisamos de assimilar na
nossa vida do quotidiano, correspondem a atitudes de conhecimento. Estas atitudes são essencialmente esquemas que nos
permitem organizar e processar informações de modo eficiente, sem ter que prestar atenção a pormenores. Por exemplo, a ideia
de que os políticos de esquerda só querem “cobrar impostos e ter uma política despesista” e os de direita “só se preocupam os
ricos” corresponde a um modo esquemático que facilita a interpretação e avaliação de propostas políticas de candidatos ao
poder. Estes, como outros esquemas, simplificam exageradamente a realidade e influenciam a nossa percepção dos factos,
impedindo-nos, muitas vezes, de aceder à verdade dos factos.

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Função Valorativa
As atitudes que exprimem os nossos valores ou reflectem os nossos auto-conceitos cumprem uma função valorativa. Por
exemplo, uma pessoa pode ter atitudes positivas relativamente aos homossexuais, com origem em valores profundos sobre
diversidade, liberdade pessoal e tolerância; outra pode ter atitudes negativas, com origem em profundas convicções religiosas
que condenam a homossexualidade. Tendo origem em valores subjacentes ou no auto-conceito, as atitudes valorativas tendem
a ser coerentes. Concepções políticas, como ser-se de esquerda ou de direita, podem servir de base para atitudes valorativas.
Estas atitudes não mudam facilmente; são, de facto, atitudes muito resistentes às tentativas de persuasão em sentido contrário.

Função de Defesa do Ego


As funções que nos protegem da ansiedade ou das ameaças à nossa auto-estima cumprem uma função de defesa do ego. O
conceito de defesa do ego tem origem na teoria psicanalítica de Freud. Um dos mecanismos de defesa do ego descritos por Freud
é a projecção: o indivíduo reprime os seus próprios impulsos inaceitáveis e exprime atitudes hostis para com os outros que são percebidos
como possuidores desses impulsos. Por exemplo, uma pessoa que receia os seus próprios possíveis sentimentos homossexuais nega
que possui esses sentimentos e mostra hostilidade relativamente aos homossexuais. Num estudo, realizado numa Universidade
da Califórnia, pediu-se a alunos que redigissem uma composição, descrevendo as suas atitudes face à homossexualidade
(masculina e feminina). A análise de conteúdo das composições escritas revelou atitudes negativas cumprindo uma função de
defesa do ego, no sentido psicanalítico, em cerca de 35% (Hereck, 1987).
A ideia de que atitudes negativas, relativas a grupos minoritários, pode cumprir uma função de defesa do ego é denominada
teoria do bode expiatório do preconceito: a hostilidade da pessoa, muitas vezes, assume a forma de culpabilização desses grupos
quer por problemas pessoais quer por problemas sociais mais gerais (pobreza, desemprego, etc.)

Função de Adaptação Social


As atitudes que nos ajudam a sentir que fazemos parte de uma comunidade cumprem uma função de adaptação social. As
“moléculas de opinião” de que se falou mais atrás são um bom exemplo deste tipo de função. Outro exemplo pode ser visto nas
pessoas que mantêm as crenças e atitudes prescritas por uma determinada igreja ou partido político porque os seus amigos,
familiares e vizinhos assim o fazem; o real conteúdo das crenças e atitudes é menos importante do que os laços sociais que
proporcionam.

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Territorialidade Nos Humanos e a Cultura Humana
Aparentemente há paralelos entre as observações com animais e o comportamento na nossa espécie. Consideremos, por
exemplo, a territorialidade. Em casa, os membros da família têm cada um uma zona privada: os seus quartos, certos lugares na
sala, os seus lugares à mesa e assim por diante. Em espaços mais públicos, as demarcações territoriais são mais temporárias,
como o lugar que se tem num comboio, lugar esse que marcamos como nosso com um casaco ou um livro, se temos de o deixar
por alguns momentos.
O poder do comportamento territorial humano é ilustrado pelo fenómeno do espaço pessoal, que é o espaço físico à nossa volta
no qual impedimos os outros de entrar, se não pretendermos manter uma relação de intimidade. Transpor esse círculo à nossa
volta significa invadir a intimidade e, por vezes, essa invasão é considerada agressiva. Por exemplo, nos transportes públicos, os
passageiros escolhem os seus lugares de maneira a ficar longe do vizinho mais próximo.
Violou-se deliberadamente o espaço pessoal num estudo experimental. Os experimentadores iam a uma biblioteca e sentavam-
se, casualmente, ao lado de uma pessoa que já aí se encontrasse, ainda que houvesse muitos lugares mais afastados. Depois de
algum tempo, em que se mostrava agitada, a “vítima” colocava livros ou réguas entre si e o “invasor”, de maneira a criar uma
fronteira física visível (Felipe e Sommer, 1966)
O desejo de manter um espaço pessoal mínimo é provavelmente universal, mas a dimensão desse espaço depende de vários
factores sociais. Em termos gerais, o espaço pessoal aumenta com a idade e com o estatuto socioeconómico (Collier, 1985).
Também é função dos padrões de cultura. Num estudo realizado nos USA, verificou-se que os americanos que se conhecem e
mantêm entre si uma conversa, mantêm, em média, um espaço de meio metro entre eles. Se uma das pessoas se aproxima, a
outra sente-se demasiado próxima ou empurrada para uma intimidade que não deseja. Para os latino-americanos distância
aceitável é menor. Sendo assim, os mal-entendidos são inevitáveis: o norte-americano considerará o latino-americano
demasiado intrusivo, e o latino-americano considerará o norte-americano como frio e antipático (Hall, 1966).
Traduzirão estas observações um paralelo evolutivo entre a nossa e as outras espécies? Responderão os humanos a um
imperativo territorial inato no mesmo sentido em que o lobo identifica e defende o seu espaço? O caso humano e o do lobo, por
exemplo, apresentam de facto muitos paralelos, mas também importantes diferenças. Uma diferença capital reside na
plasticidade, ou susceptibilidade à mudança. A territorialidade, na maior parte das espécies não humanas, afecta igualmente
todos os membros dessa espécie, havendo poucos dados que mostrem que a experiência a afecta. Mas, nos humanos, a
territorialidade está longe de ser universal e é fortemente influenciada pela aprendizagem.

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