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COMPORTAMENTO SOCIAL II
Cultura e
Comportamento Social II
Psicologia – 12º Ano
OUT 2008
Diferenças Interculturais nos Processos de Atribuição.
A descoberta de causas e efeitos é um dos problemas centrais das ciências. Do mesmo modo, como cientistas intuitivos,
achamos que compreendemos verdadeiramente qualquer comportamento humano quando sabemos por que razão ele
aconteceu. Por exemplo, vamos supor que um atleta conhecido afirma num anúncio de publicidade que um determinado tipo
de cereal é muito bom. Porque fará ele isso? Acha mesmo que o cereal é bom, ou só está interessado em ganhar um pouco mais
de dinheiro com o anúncio publicitário? Suponhamos agora que uma determinada pessoa faz uma doação em dinheiro para
uma instituição de apoio social. Porque será que fez isso? Será uma pessoa altruísta? Estava a ser pressionada? Precisa de fazer
uma dedução nos impostos? Acredita no trabalho da Instituição?
Cada um destes casos corresponde a um problema de atribuição. Observamos alguns comportamentos – talvez também o nosso
próprio comportamento – e sentimos necessidade de decidir a qual, de entre muitas causas possíveis, a acção deve ser atribuída.
Retomando os exemplos anteriores, uma das principais tarefas de atribuição é decidir se um comportamento reflecte algo de
singular da pessoa (atitudes, características da personalidade, etc.) ou algo relativo à situação em que decorreu o
comportamento da pessoa. Se inferirmos que algo na pessoa é o principal responsável pelo comportamento (por exemplo, o
atleta gosta mesmo do cereal), a nossa inferência é chamada atribuição interna ou disposicional (“disposição” aqui refere-se às
crenças, atitudes e características de personalidade de uma pessoa). Mas se concluímos que alguma causa externa é a principal
responsável pelo comportamento (dinheiro, normas sociais, ameaças), então a nossa inferência é chamada atribuição situacional
ou externa.
A maioria dos países ocidentais industrializados têm uma orientação individualista, que valoriza a independência pessoal e a
auto-afirmação. Em contraste, muitas culturas não ocidentais têm uma orientação mais colectivista, que valoriza mais a nossa
interdependência com os outros como membros da comunidade. Estas diferenças sugerem a hipótese de os efeitos de atribuição
não serem universais, podendo reflectir orientações culturais mais individualistas ou colectivistas. Por exemplo, pode ser a
nossa orientação individualista, e não uma característica universal do processamento humano das informações, que nos leva a
descrever as pessoas em termos de traços de personalidade do indivíduo, ou atribuir as acções à personalidade do indivíduo
mais do que à situação.
Para testar esta hipótese, a indivíduos do Japão (sociedade com orientação colectivista) e dos Estados Unidos (sociedade com
orientação individualista) foi pedido que respondessem diversas vezes à pergunta “Quem sou eu?”. Os sujeitos japoneses
referiram apenas 25% do número de traços psicológicos (por exemplo, “Eu sou optimista”) referidos pelos sujeitos americanos,
mas referiram três vezes mais papéis e contextos sociais (por exemplo, “Eu pertenço ao grupo de teatro”). É interessante notar
que, quando era especificado um contexto social, os japoneses tinham mais tendência para utilizarem traços para se
descreverem a si próprios (por exemplo, “Às vezes sou preguiçoso em casa” ou “Esforço-me muito na Escola”), indicando
assim que encaram o seu comportamento mais dependente da situação (Cousins, 1989). Outros estudos semelhantes
confirmam que sujeitos dos Estados Unidos e da Europa têm significativamente mais tendência a descreverem-se a si próprios
em termos disposicionais do que os asiáticos.
Outro estudo intercultural procurou determinar se os americanos teriam mais tendência do que os hindus a preferir explicações
disposicionais a explicações situacionais. Pediu-se a cada participante o seguinte: “Descreva alguma coisa que uma pessoa que
conhece bem tenha feito de errado” e também “Descreva alguma coisa que uma pessoa, que conhece bem, tenha feito de bom a
outra pessoa”. Depois, pediu-se aos sujeitos que explicassem o motivo de cada comportamento.
Como era de prever, os sujeitos americanos apresentaram explicações disposicionais (por exemplo, “Ele é descuidado e pouco
atencioso”) com mais frequência do que os hindus; por outro lado, apresentaram explicações situacionais (por exemplo, “Havia
pouca visibilidade e a bicicleta ia depressa demais”) com menos frequência do que os sujeitos hindus. Para saber se essas
diferenças se deviam simplesmente aos tipos de comportamento escolhidos para explicar, pelos membros de cada cultura,
pediu-se também aos sujeitos americanos que explicassem os comportamentos referidos pelos sujeitos hindus. Esta variante da
experiência não originou qualquer diferença relativamente aos resultados já obtidos: os americanos continuaram a preferir
explicações disposicionais a explicações situacionais (Miller, 1984).
Num primeiro momento, estes resultados poderiam significar que os indivíduos de culturas asiáticas colectivistas teriam menor
tendência a cometer o erro de atribuição. Mas também é possível que os factores situacionais desempenhem um papel mais
importante na determinação do comportamento nas culturas colectivistas. Na verdade, esta é a hipótese de base dos
investigadores que comparam culturas individualistas com culturas colectivistas. Mas estas duas hipóteses (a de que os asiáticos
têm menor tendência para explicar as causas dos comportamentos – atribuição -, e a de que factores situacionais desempenham
Certas atitudes parecem caminhar lado a lado. Por exemplo, as pessoas que apoiam acções anti-discriminação tendem a ser
contra a pena de morte e a ter posições a favor da liberalização do aborto. Aparentemente, estas atitudes não parecem ter um
encadeamento lógico. Mas saber que uma pessoa defende uma delas, muitas vezes permite-nos avaliar a sua posição
relativamente às outras de um modo bastante preciso, e parece haver neste processo uma certa “lógica”. Estas atitudes parecem
ter origem num conjunto de valores subjacentes, que poderíamos rotular “de esquerda”.
O mesmo tipo de “lógica” pode ser identificado em atitudes “de direita”. Muitas das pessoas de direita e que se dizem
defensoras da liberdade também acham que as mulheres devem ficar em casa, que o uso de haxixe deveria ser punido com mais
rigor e que o comportamento homossexual deveria ser ilegal. Aqui, a lógica é menos clara, mas estas atitudes também parecem
estranhamente previsíveis.
Em resumo, as atitudes das pessoas, muitas vezes, parecem possuir uma espécie de lógica interna, mas que geralmente não é
uma lógica formal estrita. Pelo contrário, trata-se de uma espécie de psico-lógica, e é a esta psico-lógica que os psicólogos que
estudam estes fenómenos chamam consistência cognitiva. A premissa básica das teorias da consistência cognitiva é que todos nós
procuramos ser coerentes nas nossas crenças, sentimentos e comportamentos, e que a discordância actua como uma irritação
ou como um estímulo que nos motiva a modificá-los até formarem um todo coerente.
Uma das preocupações dos cientistas foi a de refutar a hipótese (lembrem-se da teoria de Popper, que estudaram no 11º ano).
Ficou famosa uma sondagem nacional realizada nos Estados Unidos pelo New York Times e pela CBS News, no final da
década de 70. Nessa sondagem, a esmagadora maioria dos norte-americanos não estava de acordo com os programas de apoio
social patrocinados pelo governo. No entanto, mais de 80% apoiavam:
• O programa do governo que prestava auxílio económico destinado a crianças de famílias de baixo rendimento e que
eram educadas por pais ou mães sós.
• O programa do governo para ajudar os pobres a comprar comida a preços mais acessíveis, e
• O programa de assistência médica para os pobres.
Ora, estes três programas eram, na altura, o essencial do programa geral de apoio social do governo norte-americano com que a
maioria dos inquiridos não concordava. Estes resultados foram semelhantes em todos os grupos analisados: ricos e pobres,
liberais e conservadores, democratas e republicanos.
Função Instrumental
Diz-se que as atitudes que mantemos por motivos práticos ou utilitários cumprem uma função instrumental. Referem-se a casos
específicos que têm a ver com o nosso desejo geral de obter benefícios ou recompensas e evitar punições. Por exemplo, um
grande número de portugueses é favorável à melhoria da qualidade dos serviços do Estado, mas opõe-se ao aumento de
impostos. As atitudes com função instrumental nem sempre são coerentes fora do quadro da sua função.
Função de Conhecimento
As atitudes que nos ajudam a compreender o mundo, que organizam as diversas informações que precisamos de assimilar na
nossa vida do quotidiano, correspondem a atitudes de conhecimento. Estas atitudes são essencialmente esquemas que nos
permitem organizar e processar informações de modo eficiente, sem ter que prestar atenção a pormenores. Por exemplo, a ideia
de que os políticos de esquerda só querem “cobrar impostos e ter uma política despesista” e os de direita “só se preocupam os
ricos” corresponde a um modo esquemático que facilita a interpretação e avaliação de propostas políticas de candidatos ao
poder. Estes, como outros esquemas, simplificam exageradamente a realidade e influenciam a nossa percepção dos factos,
impedindo-nos, muitas vezes, de aceder à verdade dos factos.