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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA

INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO


DEEC / Secção de Energia

Energias Renováveis e Produção Descentralizada

CONDIÇÕES TÉCNICAS E ECONÓMICAS DA


PRODUÇÃO EM REGIME ESPECIAL RENOVÁVEL

Rui M.G. Castro

Fevereiro de 2003 (edição 2)


OUTROS VOLUMES DISPONÍVEIS

• Introdução à Energia Fotovoltaica, Novembro 2002 (edição 0)

• Introdução à Energia Mini-Hídrica, Dezembro 2002 (edição 1)

• Introdução à Energia Eólica, Janeiro 2003 (edição 1)

Rui Castro
rcastro@ist.utl.pt
http://enerp4.ist.utl.pt/ruicastro
ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO 1

2. CONDIÇÕES TÉCNICAS 4
2.1. Procedimentos Administrativos 4

2.2. Condições Técnicas da Ligação 5

3. CONDIÇÕES ECONÓMICAS 17

4. CASO DE ESTUDO 23
4.1. Condições Técnicas da PRE Renovável 23

4.2. Condições Económicas da PRE Renovável 35

5. ANEXO 38

6. REFERÊNCIAS 44
Introdução 1

1. INTRODUÇÃO
Em 1995 foi publicado um pacote legislativo (Decretos-Lei n.º 182/95 a
188/95) estabelecendo novas bases de organização do Sistema Eléctrico Nacional.

Uma das principais inovações da legislação foi a criação de uma entidade


reguladora independente, a Entidade Reguladora do Sector Eléctrico – ERSE1,
com competência para produzir regulamentação do sector e publicar tarifas da
energia fornecida pela entidade concessionária da Rede Nacional de Transporte
(RNT) e pelos Distribuidores Vinculados. A primeira publicação dos regulamen-
tos2 foi efectuada durante o ano de 1998 e a fixação das tarifas foi exercida, pela
primeira vez, em 1999.

Outra inovação importante foi a separação do Sistema Eléctrico Nacional


num Sistema Eléctrico de Abastecimento Público (SEP) e num Sistema Eléctrico
Independente (SEI), conforme se mostra na Figura 1.

O SEP tem uma função de serviço público, segundo o princípio da uniformi-


dade tarifária no território continental. É composto por centrais vinculadas e por
operadores públicos distintos para o transporte e distribuição.

O SEI é composto por dois subsistemas:

• O Sistema Eléctrico Não Vinculado (SENV), que está estruturado se-


gundo uma lógica de mercado. Neste subsistema, produtores não vincu-
lados e clientes elegíveis estabelecem contratos bilaterais, estando o
acesso às redes garantido na legislação.

• A Produção em Regime Especial (PRE), que engloba a produção de


energia em centrais hidroeléctricas com potência instalada até
10 MVA, em centrais usando outros recursos renováveis e em centrais
de cogeração. Este subsistema é regido por legislação específica.

1http://www.erse.pt
2Regulamento Tarifário [ERSE1], Regulamento de Relações Comerciais [ERSE2] e Regulamento
do Acesso às Redes e às Interligações [ERSE3].
Introdução 2

SEN - Sistema Eléctrico Nacional


DGE - Direcção Geral de Energia ERSE - Entidade Reguladora do Sector Eléctrico

SEP SEI
Sistema Eléctrico de Serviço Público Sistema Eléctrico Independente

Produtores Vinculados SENV


Sistema Eléctrico Não Vinculado

Concessionária da RNT Renováveis:


(Rede Nacional de Transporte) Produtores não vinculados
• Eólica
• Mini
Mini--hídricas
•…
Distribuidores Vinculados Distribuidores não vinculados
Resíduos

Clientes do SEP Clientes não vinculados Cogeração

Figura 1 - Organização do Sistema Eléctrico Nacional (SEN).

A agora denominada PRE é regulada por legislação própria desde 1988, al-
tura em que foi publicado o Estatuto do Auto-Produtor – o Decreto-Lei n.º189/88
[DL1]. Esta legislação representou um marco fundamental na promoção da pro-
dução independente de energia eléctrica a partir de recursos renováveis, combus-
tíveis nacionais ou resíduos industriais, agrícolas ou urbanos, bem como da coge-
ração. Este instrumento legislativo permitiu mobilizar investimentos significati-
vos do sector privado, designadamente nos domínios da produção mini-hídrica e
da cogeração.

Entretanto, na sequência da publicação do pacote legislativo de 1995, que


restruturou o sistema eléctrico nacional, a produção renovável foi separada em
termos legislativos da cogeração, passando a primeira a ser regida pelo Decreto-
Lei n.º 313/95 [DL3], e a segunda pelo Decreto-Lei n.º 186/95 [DL2].

Em 1999, a regulamentação da produção em regime especial foi sujeita a


uma revisão, através da publicação de dois diplomas legais:
Introdução 3

• O Decreto-Lei n.º168/99 [DL4] que passou a reger a actividade de pro-


dução de energia eléctrica que se integra no SEI, mediante a utilização
de recursos renováveis3 ou resíduos industriais, agrícolas ou urbanos.

• O Decreto-Lei n.º538/99 [DL5], que estabelece as disposições relativas à


actividade de cogeração.

No final de 2001, a produção em regime especial sofreu uma nova alteração,


com a publicação dos seguintes normativos:

• O Decreto-Lei n.º312/2001 [DL6], conhecido pelo Decreto-Lei dos pontos


de ligação, que altera os procedimentos administrativos para ligação de
centros produtores do SEI às redes do SEP, com o objectivo de melho-
rar a gestão da capacidade de recepção.

• O Decreto-Lei n.º313/2001 [DL7], que revê algumas disposições relati-


vas à actividade de cogeração, no sentido de propiciar o desenvolvimen-
to de novas instalações.

• O Decreto-Lei n.º339-C/2001 [DL8], que actualiza o tarifário de venda


de energia de origem renovável à rede pública, introduzindo uma re-
muneração diferenciada por tecnologia e regime de exploração.

Neste texto, apresentam-se e analisam-se as recentes (1999 e 2001) disposi-


ções legislativas que contemplam, por um lado, as condições técnicas em que a
ligação à rede pública pode ser efectuada, e por outro, as condições económicas de
remuneração da energia entregue.

A análise é restrita à produção em regime especial com origem em recursos


renováveis, designada no texto por PRE-R. Em Anexo apresenta-se uma breve
resenha dos principais aspectos relacionados com as condições técnicas da produ-
ção em regime especial em cogeração (PRE-CG).

3 Para a produção de origem hídrica, estas disposições só se aplicam para centrais com potência
instalada inferior a 10 MW.
Condições Técnicas 4

2. CONDIÇÕES TÉCNICAS
Com a publicação do DL 312/2001 (Decreto-Lei dos pontos de ligação), a PRE
passou a ficar sujeita a novos procedimentos administrativos que visam melhorar
o processo de atribuição de pontos de ligação através duma gestão mais racional e
transparente da rede pública, proporcionando a criação de uma capacidade de re-
cepção adequada ao aproveitamento dos recursos endógenos. Embora em menor
escala, também foram alterados, no sentido de aliviar exigências, alguns dos re-
quisitos técnicos necessários à autorização de exploração.

Do ponto de vista técnico, a legislação que continua em vigor é o DL 189/88,


com as alterações introduzidas pelo DL 168/99, onde se estabelecem as condições
técnicas gerais e as condições técnicas especiais da ligação às redes do SEP.

2.1. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS


A atribuição do ponto de recepção é concedida pela Direcção-Geral de Ener-
gia – DGE4, após um pedido de informação prévia efectuado pelos promotores so-
bre a capacidade de recepção da rede do SEP.

No caso de a capacidade de recepção ser insuficiente para satisfazer os pedi-


dos, prevê-se um mecanismo de selecção, com critérios predefinidos. Por forma a
evitar situações de insuficiência de capacidade de recepção das redes públicas, a
nova regulamentação impõe que o planeamento das redes do SEP inclua o desen-
volvimento previsto da PRE e que o correspondente investimento seja considera-
do para efeitos da fixação das tarifas reguladas.

Além da referida atribuição ordinária de pontos de recepção, a legislação


prevê que em situações associadas a objectivos prioritários de política energética
nacional, ou de optimização das redes públicas, a capacidade de recepção disponí-
vel possa ser posta a concurso, com base em princípios de selecção que também
são definidos no diploma.

4 http://www.dge.pt
Condições Técnicas 5

O DL 312/2001 estabelece, também, o princípio da intransmissibilidade dos


pontos de recepção, assim como a existência de um prazo definido para a realiza-
ção das obras, findo o qual, em caso de incumprimento, cessam os direitos adqui-
ridos.

Para efeitos de garantia da concretização da instalação dos centros produto-


res, associados à concessão das referidas autorizações, prevê-se a prestação de
cauções. Como também se confere grande importância à disponibilização de in-
formação relativa às capacidades de recepção das redes do SEP, o diploma em
análise estabelece o pagamento de taxas, como forma de os promotores comparti-
ciparem nos custos associados à preparação da informação e à manutenção do sis-
tema de gestão do processo.

A ligação à rede do SEP, designada rede receptora, isto é, a rede preexisten-


te à qual se liga a central renovável, é efectuada por meio de um ramal dedicado.
O ponto da rede do SEP onde se liga o ramal é designado por ponto de interliga-
ção, o qual é atribuído pela DGE, depois de verificada a existência das condições
técnicas e administrativas necessárias a um despacho favorável, nomeadamente
a existência de capacidade disponível de recepção.

2.2. CONDIÇÕES TÉCNICAS DA LIGAÇÃO


As principais condições técnicas a que deve obedecer a ligação de instalações
de produção em regime especial são enunciadas e comentadas na sequência.

Potência de ligação

O DL 312/2001 elimina as restrições, presentes nos articulados legais prece-


dentes, à potência de ligação das instalações de PRE-R. Recorda-se que o
DL 168/99 estabelecia que a potência de ligação estava limitada a 8% da potência
de curto-circuito no ponto de interligação, ao passo que a legislação anterior, o
DL 189/88, impunha o limite mais conservador de 5%.
Condições Técnicas 6

Ligação de geradores síncronos

A ligação da máquina síncrona não introduz qualquer perturbação na rede,


desde que sejam tomadas as providências necessárias para não haver trânsito de
energia activa e reactiva, isto é, tensões sinusoidais, em fase, com a mesma am-
plitude e frequência.

A condução das centrais renováveis está entregue a autómatos. Os desvios


limite a respeitar na ligação dos geradores síncronos estão fixados por lei e são os
indicados no Quadro 1.

Quadro 1 – Desvios máximos admissíveis na ligação dos geradores síncronos.

S ≤ 500 kVA S > 500 kVA

Tensão ± 0,1 pu ± 0,08 pu


Frequência ± 0,3 Hz ± 0,2 Hz
Fase ± 20º ± 10º

Ligação de geradores assíncronos

A queda de tensão transitória devida à ligação de geradores assíncronos de-


verá ser inferior a 5%, no caso das centrais mini-hídricas, e inferior a 2%, no caso
das centrais eólicas.

Afigura-se que esta distinção esteja relacionada com o facto de os arranques


de conversores eólicos serem, por força das irregularidades na velocidade do ven-
to, mais frequentes5 do que os dos geradores mini-hídricos, que têm uma operação
mais estável.

A queda de tensão a que se refere a legislação é devida ao bem conhecido


pico de arranque dos motores de indução, que pode atingir cerca de seis a sete ve-
zes o valor da corrente nominal.

5A lei estabelece que o número de ligações dos conversores eólicos à rede não pode exceder uma
por minuto.
Condições Técnicas 7

Desprezando a corrente de magnetização, a corrente transitória de arranque


apresenta duas componentes:

• Uma componente contínua (unidireccional) que se atenua muito rapi-


damente, por ser pequena a constante de tempo. Esta componente de-
pende do instante em que é efectuada a ligação e da relação X/R: even-
tualmente, poderá não existir se a ligação for efectuada, por acaso, num
instante em que ao valor instantâneo da tensão da rede corresponda
um valor inicial nulo de corrente de ligação.

• Uma componente alternada, cujo valor eficaz é habitual tomar como in-
tensidade de arranque Iarr. Quando o arranque é efectuado com a má-
quina parada, Iarr é elevado por ser baixa a resistência equivalente do
rotor (Rr/s); a corrente Iarr é consideravelmente reduzida se a energia do
fluído motor for usada para levar a máquina a rodar próximo da veloci-
dade de sincronismo e, assim, elevar a resistência equivalente do rotor,
antes de efectuar a ligação.

Para forçar a redução da corrente de arranque, a legislação prevê que o pa-


ralelo de geradores assíncronos com a rede só possa ser realizado depois de atin-
gidos: a) 90% da velocidade síncrona, para geradores de potência inferior a
500 kVA, b) 95% da velocidade síncrona, nos restantes casos.

Nestas condições, não é de esperar que a corrente de arranque ultrapasse


duas a duas vezes e meia a corrente nominal.

Nos últimos anos, este problema, que ainda tinha alguma expressão, foi
completamente ultrapassado com o recurso à electrónica de potência. Hoje a liga-
ção dos geradores assíncronos à rede é efectuada com dispositivos electrónicos
auxiliares de arranque6. Estes consistem num par de tiristores, montados em an-

6 Soft-starter.
Condições Técnicas 8

ti-paralelo, que actuam como controladores da tensão de alimentação e, pratica-


mente reduzem a corrente de arranque ao valor nominal7.

Um outro assunto que é referido na legislação é a possibilidade de auto-


excitação dos geradores assíncronos quando faltar a tensão na rede pública. A lei
estabelece que serão instalados dispositivos que, nesse caso, desliguem automati-
camente os condensadores.

O fenómeno da auto-excitação do gerador assíncrono contém em si a possibi-


lidade de se obter tensão nos terminais da máquina, em rede isolada. A compo-
nente reactiva da corrente estatórica necessária à magnetização é fornecida pelos
condensadores. Contudo, a complexidade do sistema de controlo associado não
permitiu, até ao momento, que esta solução se revelasse competitiva com o clássi-
co gerador síncrono.

No modo de funcionamento em produção descentralizada, isto é, ligada à


rede pública, esta característica do gerador assíncrono configura-se como uma
desvantagem. O problema que surge é explicado, genericamente, na sequência.

Em regime permanente, o gerador assíncrono está ligado à rede a funcionar


num ponto de operação da curva de magnetização; em paralelo com o estator, está
ligada uma bateria de condensadores para fornecimento de energia reactiva. A
tensão resulta da interacção entre o gerador, os condensadores e a rede.

Se a máquina for desligada da rede, o conjunto gerador – condensador evolui


para um novo ponto de equilíbrio: a tensão resultante é tanto maior, quanto mai-
or for a capacidade instalada. Se a característica do condensador não cruzar a ca-
racterística de magnetização da máquina, não ocorrerá auto-excitação e a tensão
regressa ao valor remanescente. Se a capacidade do condensador for elevada,
aumenta o risco de se auto-excitarem tensões perigosas.

7 O transitório electromagnético rápido traduzido pela componente contínua não é limitado por
este dispositivo.
Condições Técnicas 9

Como consequência do que se expôs, os condensadores só devem ser ligados


depois do gerador estar ligado à rede e devem ser desligados quando o gerador se
desliga da rede.

No regime actual, em que existe obrigatoriedade por parte da PRE renová-


vel de injectar energia reactiva na rede pública, a desligação dos condensadores
por falta de tensão na rede é absolutamente indispensável.

Todavia, a ligação e desligação de sistemas de compensação de potência re-


activa de dimensão apreciável, essa sim origina perturbações na tensão da rede
que podem não ser desprezáveis. Isto aconselha a que o regime de fornecimento
de energia reactiva por parte dos PRE seja objecto de uma cuidadosa avaliação
pelo gestor da rede receptora.

Fornecimento de energia reactiva8

Nas horas de ponta e cheias, os PRE-R devem fornecer à rede de serviço pú-
blico energia reactiva no valor mínimo de 40% da energia activa fornecida. A
energia reactiva em défice neste período será paga pelo PRE-R segundo o tarifá-
rio em vigor para a energia reactiva indutiva no nível de AT.

Nas horas de vazio, o PRE-R não deve fornecer energia reactiva. Se o fizer, a
mesma será cobrada pelo tarifário em vigor para a energia reactiva capacitiva no
nível de AT.

Algumas medidas foram entretanto introduzidas no sentido de suavizar es-


tas disposições:

• O regime de fornecimento de energia reactiva nos períodos fora do va-


zio pode ser alterado, mas a responsabilidade por esta iniciativa foi co-
metida exclusivamente ao distribuidor público.

8 Esta matéria está regulamentada no Anexo II do DL 168/99.


Condições Técnicas 10

• A instalação das baterias de condensadores necessárias ao fornecimen-


to de energia reactiva (no caso da utilização de geradores assíncronos)
passou a poder ser realizada em local mais apropriado da rede de dis-
tribuição, desde que o produtor suporte o respectivo custo e o distribui-
dor concorde com a solução.

• O excesso de energia reactiva fornecida à rede nos períodos fora do va-


zio, relativamente ao valor de referência de 40% da energia activa in-
jectada, passou a ser remunerado pelo tarifário em vigor para a energia
reactiva indutiva no nível AT.

Os tarifários referidos para a compra/venda de energia reactiva são aplicá-


veis durante os primeiros 144 meses de exploração das centrais renováveis, após
o que vigorará o tarifário correspondente ao nível de MAT.

Distorção harmónica

A solução convencional de ligação de instalações de PRE à rede, isto é, a li-


gação directa de geradores síncronos ou assíncronos, não conduz a situações pro-
blemáticas com harmónicas. A tensão gerada será praticamente sinusoidal, cum-
prindo, assim, os requisitos legais que estabelecem que “a tensão gerada não deve
ter efeitos prejudiciais nos equipamentos dos consumidores”.

Se a ligação à rede for efectuada de modo assíncrono, isto é, recorrendo ao


uso de conversores electrónicos de frequência para permitir a exploração dos sis-
temas com velocidade variável, será necessário assegurar que foram tomadas as
providências necessárias à redução do conteúdo harmónico.

A legislação estipula que os PRE estão sujeitos às disposições em vigor sobre


qualidade de serviço nas redes eléctricas. Em 2000, a norma portuguesa que es-
tabelece as características das redes de AT estava em preparação.
Condições Técnicas 11

Contudo, existe a versão portuguesa da Norma Europeia EN 50 160 – Ca-


racterísticas da tensão fornecida pelas redes de distribuição pública de energia
eléctrica [NPEN] –, de 1995, que se aplica aos níveis de BT e MT. As principais
disposições sobre harmónicas no nível de MT são referidas na sequência.

Tensão harmónica está definida como uma tensão sinusoidal cuja frequência
é um múltiplo inteiro da frequência fundamental da tensão de alimentação. As
tensões harmónicas podem ser avaliadas: i) individualmente, medindo Uh, que é a
amplitude da harmónica de ordem h referida à amplitude da fundamental; ii)
globalmente, através do valor da distorção harmónica total – THD9 –, que é dada
por (equação 1):

∑U
2
THD = h equação 1
h =2

A norma EN 50 160 indica que, em períodos semanais, 95% dos valores efi-
cazes médios (em 10 minutos) de cada tensão harmónica não devem exceder os
valores que resumidamente se indicam no Quadro 2.

A mesma norma estabelece que a distorção harmónica total não deve ultra-
passar 8%.

Quadro 2 – Valores máximos das tensões harmónicas.

Harmónicas ímpares
Harmónicas pares
Não múltiplas de 3 Múltiplas de 3
h Uh (%) h Uh (%) h Uh (%)

5 6,0% 3 5,0% 2 2,0%


7 5,0% 9 1,5% 4 1,0%
... ... ...
25 1,5% 21 0,5% 24 0,5%

9 Total Harmonic Distortion.


Condições Técnicas 12

Outro aspecto relacionado com a distorção harmónica é a tremulação da ten-


são10. Na origem do flicker estão as flutuações de tensão que, ao provocarem vari-
ações da luminância das lâmpadas, motivam um fenómeno visual, que, acima de
certos limiares, se torna incomodativo.

O flicker é avaliado por um parâmetro, designado severidade da tremulação,


que pretende medir a intensidade do desconforto provocado pela tremulação. Os
limites de flicker estão definidos de modo a assegurar o conforto dos consumido-
res e a impedir a ocorrência de efeito de flicker da iluminação incandescente.

Protecções11

No que se refere a protecções, a lei contém apenas disposições de carácter


geral, do tipo:

• Quando ocorrem defeitos, as centrais renováveis devem ser desligadas


rapidamente.

• As protecções da instalação de produção renovável devem ser coorde-


nadas com as da rede receptora, por forma a que os defeitos que ocor-
ram, quer de um quer do outro lado, sejam correctamente isolados de
forma selectiva, em particular no caso de existirem equipamentos de
reengate automático da rede pública.

• As centrais renováveis devem ser automaticamente desligadas quando


falta a rede pública, de modo a garantir a segurança das operações de
manutenção e reparação12.

10 Flicker.
11 O texto deste parágrafo foi baseado no Capítulo 7 “Sistema de Protecções da Rede” do estudo
referido em [SucenaPaiva], da autoria do Prof. J.L. Pinto de Sá.
12 Neste caso, a religação só poderá ser efectuada após o reaparecimento, durante três minutos,
da tensão da rede com, pelo menos, 80% do seu valor nominal. Os grupos geradores de uma mes-
ma central terão de ser ligados com intervalos de quinze segundos.
Condições Técnicas 13

Estas disposições gerais, que sempre integraram a legislação, foram com-


plementadas através da publicação de um documento com origem na DGE13, adi-
ante designado Guia.

Ao estudar as protecções de uma instalação de produção renovável há que


ter em conta, tanto as protecções que se destinam a proteger a rede receptora,
como as que se destinam a proteger os equipamentos da própria instalação.

No que se refere ao primeiro caso, o Guia indica que a protecção eléctrica da


interligação com a rede deverá ser assegurada através da instalação dos seguin-
tes relés:

• Máximo/mínimo frequência

• Máximo/mínimo tensão

• Máximo de corrente

• Máximo de tensão homopolar (defeito à terra)

O Guia indica também as a gama de regulação típica, bem como os tempos


de actuação e os respectivos atrasos.

A legislação impõe que a ligação a redes de AT ou MT será feita por inter-


médio de um transformador, com ligação em triângulo de um dos enrolamentos.
Nestas condições, a instalação de PRE-R não contribui para aumentar a corrente
de defeito à terra da rede receptora, a qual é limitada pelo regime de neutro desta
rede nas subestações respectivas. Daqui resulta a impossibilidade da instalação
de PRE-R dispor de protecções sensíveis, e facilmente coordenáveis selectivamen-
te, baseadas na medida da corrente homopolar14.

No sistema de protecções indicado pelo Guia, têm particular importância os


seguintes elementos:

13 “Guia técnico das instalações de produção independente de energia”, [DGE] (actualmente – 2003
– em fase de revisão).
14 A relevância deste aspecto é reforçada pelo facto de o número de defeitos fase-terra ser, nas re-
des MT e AT, de 2/3 a 3/4 do total.
Condições Técnicas 14

• O relé de frequência, que tem por papel crucial a detecção de situações


de funcionamento em rede isolada, nomeadamente quando a rede pú-
blica é desligada, por disparo de disjuntores a montante.

• Os relés de mínimo de tensão, que têm por função principal a detecção


de isolamento da rede pública, após disparo dos disjuntores de interli-
gação da instalação de PRE-R. Este relé também serve para impedir a
religação da instalação antes do retorno de tensão à rede pública.

Estas protecções assumem importância primordial quando conjugadas com


uma prática de reengate automático na rede pública.

Como exemplo desta relevância, considere-se uma subestação alimentada


por uma única linha. Em caso de defeito nesta linha, o isolamento da chegada pe-
las protecções da subestação colocam a rede pública, da subestação inclusive para
montante, em situação de isolamento. Nestas condições, se o PRE-R continuar
ligado, não será possível garantir uma correcta sincronização das duas redes
quando se proceder ao reengate automático da linha desligada. O PRE-R deverá,
por conseguinte, desligar-se da rede receptora tão depressa quanto possível após
o isolamento da rede, sendo papel da sua protecção de frequência detectar esse
isolamento da rede.

Um outro aspecto a reter relaciona-se com a selectividade. Em sistemas de


protecções, isto significa que o número de equipamentos a desligar em caso de de-
feito deve ser mínimo e circunscrito ao troço munido de um aparelho de corte.

A selectividade pretendida é dificultada pela imposição de um tempo míni-


mo de actuação às protecções de interligação da instalação de PRE, que impede o
funcionamento selectivo com as protecções da rede receptora, às quais compete o
isolamento dos defeitos nas saídas da respectiva subestação.

Outro factor impeditivo da selectividade é o atraso programável de actuação


constante das protecções da linha de interligação, colocadas na subestação da
rede receptora. Nestas condições, elas não podem distinguir entre: a) o valor
(muito elevado) das correntes provenientes da rede a montante da subestação
Condições Técnicas 15

quando da ocorrência de defeito na linha de interligação; e b) o valor (limitado)


das correntes provenientes das instalações de PRE quando de defeito noutra saí-
da, munida de uma protecção própria. Pelo princípio da selectividade, a protecção
própria da saída defeituosa deveria ser a única a actuar.

Uma solução possível, neste contexto, seria dotar as protecções da rede re-
ceptora, que protegem a linha de interligação às instalações de PRE, com a capa-
cidade de distinguir o sentido das correntes de curto-circuito que provocam a sua
actuação, ou seja, que fossem direccionais.

A protecção de máximo de corrente dotada de um elemento direccional per-


mite atingir dois objectivos:

• Se for temporizada para um atraso mínimo, garante a imediata remo-


ção da linha de interligação em caso de defeito nela própria.

• Inibe-se em caso de defeito noutra qualquer derivação da subestação


em que está instalada, permitindo que as instalações de PRE permane-
çam em serviço após a remoção da derivação em defeito; a selectividade
fica garantida.

Para que desempenhem correctamente o seu papel, as protecções de máximo


de corrente direccionais da rede receptora, devem ser acompanhadas de uma co-
ordenação dos atrasos entre as protecções de interligação dos PRE-R e as protec-
ções de máximo de corrente das diversas saídas da subestação.

O projecto de instalações de PRE-R contempla, habitualmente, a instalação


das seguintes protecções eléctricas do gerador [Moura]:

• Retorno de energia

• Máximo de tensão

• Máximo de corrente

• Sobrecarga
Condições Técnicas 16

• Falta de excitação (só para solução com gerador síncrono)

• Máximo de velocidade

• Perda de serviços auxiliares

As protecções dependem do tipo e potência do gerador: em geral, as duas úl-


timas protecções são usadas em máquinas de potência superior.

Regime de neutro

O regime de neutro da instalação de PRE renovável deve ser concordante


com o da rede pública a que está ligada.

Já se referiu que a ligação a redes de AT ou MT será feita por intermédio de


um transformador, com ligação em triângulo. No caso de ligação em BT, os neu-
tros do gerador e da rede BT devem estar ligados e o dispositivo que interrompe a
ligação entre a central e a rede receptora deverá interromper também a ligação
do neutro.
Condições Económicas 17

3. CONDIÇÕES ECONÓMICAS
A regulamentação recente (1999 e 2001) mantém a obrigação de compra, por
parte da rede pública, de toda a energia produzida pelos PRE que usam recursos
renováveis.

A legislação de 1999 introduziu alterações significativas no sistema de re-


muneração da energia fornecida pelos PRE-R, o qual passa a ser baseado num
somatório de parcelas que contemplam, entre outros, os custos evitados pelo SEP
com a entrada em funcionamento do PRE-R e os benefícios ambientais proporcio-
nados pelo uso de tecnologias limpas.

Esta filosofia foi mantida no enquadramento legal de 2001, o qual pretende,


também, estabelecer uma remuneração diferenciada por tecnologia e regime de
exploração, bem como atribuir maior destaque às tecnologias emergentes que
evidenciam um potencial elevado a médio prazo, proporcionando-lhe condições
adequadas para o seu desenvolvimento.

O DL 339-C/2001 estabelece a fórmula de cálculo da remuneração da ener-


gia entregue à rede pública pelos PRE-R (equação 2).

RPRE −R = k pt × (PF + PV + PA × Z ) × k p × k IPC equação 2

em que RPRE-R (€/mês) é a remuneração mensal aplicável a centrais de PRE-R, kpt


é um factor opcional de modulação, PF, PV e PA são as chamadas parcela fixa,
parcela variável e parcela ambiental, respectivamente, Z é um coeficiente adi-
mensional que traduz as características específicas do recurso endógeno e da tec-
nologia utilizada, kp é um factor de contabilização das perdas evitadas, e kIPC é um
factor dependente do IPC – Índice de Preços no Consumidor.

O montante resultante da aplicação da fórmula expressa pela equação 2


constitui um custo suportado pela concessionária da RNT15.

15 A concessionária é a REN – Rede Eléctrica Nacional, http://www.ren.pt/.


Condições Económicas 18

O significado da simbologia referente à equação 2 é explicado na sequência.


Deve ter-se em atenção que as grandezas são calculadas numa base mensal.

kpt – factor de modulação


O factor kpt é um factor de ponderação da energia entregue pelos PRE-R em
função dos períodos tarifários (ponta, cheia e vazio). Este factor é opcional, po-
dendo o PRE-R decidir, no acto de licenciamento, se o mesmo toma um valor uni-
tário, ou se é dado através da fórmula (equação 3):

k pc × Epc + k v × E v
k pt = equação 3
E

em que Epc (kWh/mês) é a energia entregue nos períodos de ponta e de cheia, Ev


(kWh/mês) é a energia entregue nos períodos de vazio e E (kWh/mês) é a energia
total entregue. Os períodos tarifários a considerar correspondem ao ciclo diário16.

Os factores multiplicativos kpc e kv tomam os seguintes valores:

Quadro 3 – Valores numéricos dos factores kpc e kv.

Outras
Mini-Hídricas
renováveis
kpc 1,15 1,25
kv 0,8 0,65

PF – parcela fixa
O termo parcela fixa está associado ao facto de esta remuneração se relacio-
nar com a garantia de potência proporcionada pelo PRE-R.

Com vista à fixação de PF, foi definido um coeficiente, CPF (€/kW), que cor-
responde ao custo de investimento evitado pelo SEP devido à instalação de uma
central renovável que assegura o mesmo nível de garantia de potência que o meio
de produção cuja construção é evitada17.

16 No ciclo diário, as horas de vazio correspondem ao período nocturno, durante os 7 dias da se-
mana.
17 O DL 168/99 fixou C = 5,44 €/kW (1090 Esc./kW).
PF
Condições Económicas 19

O nível de garantia de potência da central renovável é declarado pelo PRE


no acto de licenciamento; é a chamada potência declarada, Pdecl (kW), na termino-
logia usada na legislação.

A garantia de potência é medida através de um coeficiente de avaliação, que


se obtém exprimindo a potência média, Pmed (kW), em percentagem da potência
declarada. A este coeficiente é atribuída uma bonificação de 25%.

Finalmente, para moralizar a potência declarada pelo PRE-R, a potência


que é efectivamente valorizada é a que corresponde ao menor dos dois valores: a
potência declarada e a potência média.

A fórmula que permite calcular PF é indicada na equação 4.

Pmed
PF = CPF × 1,25 × × min(Pmed ;Pdecl ) equação 4
Pdecl

PV – parcela variável
A parcela PV foi designada parcela variável porque está associada à remu-
neração da energia entregue pelo PRE renovável.

A expressão que permite calcular PV está indicada na equação 5.

PV = CPV × E equação 5

Na equação 5, CPV (€/kWh) representa o custo de operação e manutenção de


um novo meio de produção, cuja construção é evitada pela central renovável18.

PA – parcela ambiental
PA é a parcela ambiental porque valoriza o benefício ambiental proporciona-
do pela central renovável.

O cálculo de PA é efectuado pela fórmula expressa na equação 6.

PA = CPA × DCref × E equação 6

18 O DL 168/99 fixou CPV = 2,49 c€/kWh (5,00 Esc./kWh).


Condições Económicas 20

CPA (€/g) é a valorização atribuída ao dióxido de carbono emitido pela central


que não é construída devido à instalação da central renovável. DCref (g/kWh) re-
presenta a emissão de dióxido de carbono de uma central de referência funcio-
nando com ciclo combinado19.

Z – factor de tecnologia e regime de exploração


O factor Z está relacionado com a tecnologia usada e com o respectivo regime
de exploração. Os valores que este factor pode assumir são os indicados no Qua-
dro 4.

Quadro 4 – Valores numéricos do factor Z.

Centrais eólicas
Energia (E) correspondente a ha<2000h 1) 1,70
Energia (E) correspondente a 2000h<ha<2200h 1,30
Energia (E) correspondente a 2200h<ha<2400h 0,95
Energia (E) correspondente a 2400h<ha<2600h 0,65
Energia (E) correspondente a ha>2600h 0,40
Centrais mini-hídricas 1,20

Centrais de ondas 2) 6,35


3)
Centrais fotovoltaicas
Pinst>5kW 6,55
Pinst<=5kW 12,00
Outras centrais renováveis 1,00

1)
ha=E/Pi, com Pinst = potência instalada
2)
Até ao limite de potência instalada, a nível
nacional, de 20MW
3)
Até ao limite de potência instalada, a nível
nacional, de 50MW

kp – factor de perdas
O factor kp, que traduz as perdas evitadas nas redes pelos PRE-R, depende
da potência instalada, assumindo os dois valores seguintes:

19 -3
O DL 168/99 fixou CPA = 7,48 c€/kg (15x10 Esc./g) e DCref = 370 g/kWh, o que corresponde a
2,77 c€/kWh (5,55 Esc./kWh).
Condições Económicas 21

k p = 1,036 ⇒ Pinst < 5 MW


equação 7
k p = 1,015 ⇒ Pinst ≥ 5 MW

kIPC – factor de inflação


O factor kIPC está relacionado com a taxa de inflação e calcula-se por:

IPCm−1
k IPC = equação 8
IPCref

em que IPCm-1 é o índice de preço no consumidor, sem habitação, no Continente,


referente ao mês anterior e IPCref é o índice de preços no consumidor, sem habita-
ção, no Continente, referente ao mês de Dezembro de 1998.

O DL 339-C/2001 estabelece, ainda, uma inovação relativamente à relação


entre os parques eólicos e as autarquias onde estão instalados. Assim, por forma
a reflectir, a nível nacional e local, os benefícios globais inerentes à instalação de
centrais eólicas, estas terão de pagar aos municípios onde estão localizadas, uma
renda de 2,5% sobre o montante mensal recebido pela venda de energia eléctrica
à rede pública.

A partir do exposto, e no caso concreto da remuneração da energia entregue


pelas centrais eólicas, pode tentar estimar-se o respectivo valor médio anual.

A legislação fixa PV = 2,49 c€/kWh e PA = 2,77 c€/kWh. Por outro lado, com
base na experiência de operação dos parques eólicos em funcionamento e em al-
gumas simulações efectuadas, é razoável admitir os seguintes majorantes para os
valores médios anuais dos factores que não dependem directamente dos montan-
tes de energia fornecidos: PFmédio = 0,50 c€/kWh, kpmédio = 0,25 c€/kWh.

A aplicação do factor Z, conforme definido no Quadro 4, conduz à variação da


parcela ZxPA com a utilização anual da potência instalada, ha, que se ilustra na
Figura 2.
Condições Económicas 22

5,00

4,75

4,50

4,25
ZxPA (c€/kWh)

4,00

3,75

3,50

3,25

3,00
2000 2200 2400 2600 2800 3000 3200 3400 3600 3800 4000
Utilização anual da potência instalada (hora)

Figura 2 – Variação da parcela ZxPA com a utilização anual da potência instalada, ha.

Pode então concluir-se que a aplicação do tarifário de remuneração da ener-


gia entregue pelos PRE-R, previsto no DL 339-C/2001, conduz a valores médios
(majorados) da ordem de 8c€/kWh, 7c€/kWh e 6,5c€/kWh, para utilizações próxi-
mas de 2000, 3000 e 4000 horas, respectivamente. Estes valores não incluem a
actualização referente à inflação, nem, em sentido oposto, a renda devida aos
municípios.

Após o prazo inicial de licenciamento de uma central renovável, a central


pode ver renovada a autorização para continuação da exploração. Neste caso, a
energia injectada na rede pública será paga pelo sistema de preços em vigor para
as instalações do sistema eléctrico público.
Caso de Estudo 23

4. CASO DE ESTUDO
4.1. CONDIÇÕES TÉCNICAS DA PRE RENOVÁVEL20
Este parágrafo apresenta os principais resultados de um estudo efectuado
com o intuito de proporcionar uma melhor compreensão da influência das instala-
ções de produção descentralizada, designadamente de origem renovável, no de-
sempenho da rede eléctrica de distribuição à qual estão ligadas.

Para este efeito, foi analisada uma zona da rede de alta tensão (60 kV) no
norte do País, à qual se ligam seis centrais mini-hídricas com uma potência total
instalada de 58 MVA.

A rede foi estudada na sua configuração de referência, isto é, cumprindo os


requisitos impostos na legislação em vigor, nomeadamente no que se refere à má-
xima potência de ligação e ao fornecimento de energia reactiva.

Para a configuração mencionadas, foram realizados os seguintes estudos:


trânsito de energia em regime estacionário, desligação intempestiva de centrais,
correntes de curto-circuito e estabilidade transitória.

Características da rede estudada

A rede estudada encontra-se representada na Figura 3.

A rede, que abrange uma zona da região norte do país integrada na rede de
distribuição pública, é composta por:

• Três subestações de interligação à Rede Nacional de Transporte (RNT)


– Pocinho (220/63 kV), Valdigem (220/63 kV) e Chaves (150/63 kV)21.

• Uma subestação de distribuição – Telheira (63/31,5 kV)22.

20 Este parágrafo foi baseado no estudo referido em [Castro3]. De notar que este estudo foi reali-
zado antes das alterações legislativas de 1999 e 2001.
21 Designadas SEA, SEB e SEC, respectivamente, na Figura 3.
22 Designada SED na Figura 3.
Caso de Estudo 24

• Seis centrais mini-hídricas – Sordo e Terragido (20 MVA), Alvadia


(10 MVA), Covas do Barroso (8 MVA), Torga (10 MVA), Nunes 1
(5 MVA) e Nunes 2 (5 MVA), num total de 58 MVA23.

SEC-150

SEC-60
SED-60

PI2-60
SED-30 PI3-60 PI5-60 PI6-60
PI4-60

PI2-6
PI1-30 PI3-6 PI4-6 PI5-6 PI6-6
G
PI1-6 G G G G
10MVA
8MVA 10MVA 5MVA 5MVA
G

20MVA
SEA-60
SEB-60

SEB-220 SEA-220

S S

Figura 3 – Rede estudada.

No seu modo de exploração habitual, a rede encontra-se aberta nas interli-


gações a 60 kV, PI2 – PI3 e PI5 – PI6, pelo que aquelas linhas não foram
consideradas (representadas a tracejado na Figura 3).

A linha de 220 kV que liga as subestações SEA e SEB também não foi
considerada, uma vez que os barramentos da RNT foram tomados como nós de
balanço (representados por S, na Figura 3), impondo, assim, o trânsito de energia
naquela linha.

23 Designadas PI1, PI2, PI3, PI4, PI5 e PI6, respectivamente, na Figura 3.


Caso de Estudo 25

As características dos barramentos estão sistematizadas no Quadro 5.

Quadro 5 – Dados dos barramentos.

Dados Barramentos Tensão Geração Carga Scc min


Vazio Ponta Vazio Ponta Vazio Ponta Trif. Monof

Nº Nome Tipo kV pu grau pu grau MW MVAR MW MVAR MW MVAR MW MVAR MVA MVA
1 SEA-220 BAL 220 1,07 0,00 1,07 0,00 6478 5792
2 SEA-60 LOAD 60 20 5 48 13 840 971
3 SEB-220 BAL 220 1,06 -2,90 1,06 -2,90 5297 5220
4 SEB-60 LOAD 60 13 4 27 19 1691 1920
5 SEC-150 BAL 150 1,03 -7,16 1,03 -7,16 572 494
6 SEC-60 LOAD 60 26 10 44 17 306 295
7 SED-60 N 60
8 SED-30 LOAD 30 7 3 15 6
9 PI1-30 N 30
10 PI1-6 PQG 6 20,0 0,0 18,6 7,6
11 PI2-60 N 60
12 PI2-6 PQG 6 10,0 0,0 9,3 3,8
13 PI3-60 N 60
14 PI3-6 PQG 6 8,0 0,0 7,4 3,0
15 PI4-60 N 60
16 PI4-6 PQG 6 10,0 0,0 9,3 3,8
17 PI5-60 N 60
18 PI5-60 PQG 6 5,0 0,0 4,7 1,9
19 PI6-60 N 60
20 PI6-6 PQG 6 5,0 0,0 4,7 1,9

TOTAL 58 0 54 22 66 23 134 55

O Quadro 5 merece as seguintes observações:

• Os nós de balanço apresentam tensão especificada em módulo e argu-


mento, de acordo com valores típicos de regulação efectuados pela con-
cessionária da RNT.

• Os valores de geração das centrais de PRE correspondem ao funciona-


mento a plena carga nos períodos de vazio e de ponta, por forma a cum-
prir os normativos legais no que respeita ao valor de tg(ϕ)24.

• As potências de carga representam valores típicos nos barramentos de


carga e nos períodos considerados (vazio e ponta).

24 tg(ϕ) = 0,4 no período de ponta e tg(ϕ) = 0 no período de vazio.


Caso de Estudo 26

As características dos ramos estão representadas no Quadro 6 (transforma-


dores) e no Quadro 7 (linhas).

Quadro 6 – Dados dos transformadores.

Dados dos Transformadores


R X S

Nº Emissão Recepção % MVA


1 SEA-220 SEA-60 0,35 9,53 90
2 SEB-220 SEB-60 0,34 11,52 252
3 SEC-150 SEC-60 0,43 9,90 63
4 SED-60 SED-30 0,37 10,32 63
5 PI1-6 PI1-30 0,00 7,15 20
6 PI2-6 PI2-60 0,00 8,30 10
7 PI3-6 PI3-60 0,00 8,30 8
8 PI4-6 PI4-60 0,00 8,30 10
9 PI5-6 PI5-60 0,00 8,58 5
10 PI6-6 PI6-60 0,00 8,58 5

Observa-se que nos níveis de 60 kV e de 30 kV, as tensões nominais secun-


dárias25 dos transformadores de interligação transporte / distribuição e de distri-
buição são, respectivamente, de 63 kV e 31,5 kV, o que levou à consideração des-
tes valores como tensões de base.

Quadro 7 – Dados das linhas.

Dados das Linhas


R X l

Emissão Recepção ohm/km km


11 SEA-60 PI6-60 0,13 0,37 101
12 SEB-60 SED-60 0,11 0,37 18
13 SEC-60 PI3-60 0,17 0,37 56
14 SEC-60 PI4-60 0,11 0,39 37
15 SED-60 PI2-60 0,13 0,38 34
16 SED-30 PI1-30 0,14 0,35 2
17 PI4-60 PI5-60 0,11 0,39 17

25 Tensão secundária correspondente à posição nominal das tomadas do transformador.


Caso de Estudo 27

Considerou-se que os geradores de PRE-R eram todos iguais. No Quadro 8


indicam-se as respectivas características.

Quadro 8 – Dados dos geradores.

Dados Geradores PI
Unidade
Xd pu 1,68
X'd pu 0,29
X''d pu 0,18
Xq pu 1,00
X''q pu 0,24
Xi pu 0,21
X0 pu 0,09
T'do seg 2,31
T'd seg 0,39
T''do seg 0,04
T''qo seg 0,13

Trânsito de energia em regime estacionário

Considerou-se que os transformadores das subestações da RNT estão equi-


pados com sistemas de regulação automática em carga, tendo sido assumida a po-
sição do regulador que conduzia ao valor mais próximo de 1,05 pu no lado da ten-
são mais baixa. Este procedimento foi efectuado para os períodos de ponta e de
vazio, de modo a caracterizar a situação que no texto é designada por Referência.
Nos estudos comparativos subsequentes o valor das tomadas dos transformadores
não foi alterado.

Os transformadores das centrais de PRE-R foram regulados em vazio por


forma a contrariar, até ao seu limite, o aumento de tensão derivado do forneci-
mento de energia reactiva à rede nas horas fora do vazio.

O perfil de tensão, obtido do cálculo do trânsito de energia para a rede


estudada, está representado na Figura 4 (barramentos das centrais de PRE-R) e
na Figura 5 (barramentos das subestações), mostrando-se as situações correspon-
dentes ao período de ponta (tg(ϕ) = 0,4) e ao período de vazio (tg(ϕ) = 0).
Caso de Estudo 28

Ponta Vazio

PI1-30

PI2-60

PI3-60

PI5-60

PI5-60

PI6-60

1,00 1,02 1,04 1,06 1,08 1,10


Tensão (pu)

Figura 4 – Situação de referência; perfil de tensão nos barramentos das centrais de PRE-R
tg(ϕ) = 0,4 (ponta) e tg(ϕ) = 0 (vazio); 1pu = 31,5 / 63 kV.

Ponta Vazio

SEA-60

SEB-60

SEC-60

SED-30

SED-60

1,00 1,02 1,04 1,06 1,08 1,10


Tensão (pu)

Figura 5 – Situação de referência; perfil de tensão nos barramentos das subestações;


tg(ϕ) = 0,4 (ponta) e tg(ϕ) = 0 (vazio); 1pu = 31,5 / 63 kV.
Caso de Estudo 29

A análise das figuras referidas permite verificar que as tensões são, em ge-
ral, demasiado elevadas no período de ponta, em especial nos barramentos das
centrais de PRE-R, nos quais se observam valores da ordem de 68–69 kV.

Esta situação resulta da obrigação dos PRE-R produzirem energia reactiva,


correspondente a tg(ϕ) = 0,4 no período fora do vazio.

Impacto da desligação de centrais

Para avaliar o impacto da desligação das centrais no perfil de tensão da


rede, simulou-se a situação em se verifica a desligação da central de PRE-R, PI4.

A Figura 6 mostra os resultados obtidos para o perfil de tensão nos barra-


mentos relevantes, comparando-se com a situação em que todas as centrais estão
em operação à plena carga no período de ponta (Referência).

Referência PI4 Off

PI3-60

PI4-60

PI5-60

SEC-60

1,00 1,02 1,04 1,06 1,08 1,10


Tensão (pu)

Figura 6 – Situação de referência; perfil de tensão na situação de desligação da central PI4;


tg(ϕ) = 0,4 (ponta); 1pu = 63 kV.
Caso de Estudo 30

A análise da figura mostra que o abaixamento de tensão verificado atinge


valores próximos de 2,5% nos barramentos onde as centrais se encontram liga-
das. Esta variação é motivada, essencialmente, pela injecção de potência reactiva
nos barramentos de PRE-R. Verifica-se, igualmente, que o impacto no barramen-
to da subestação da rede é menor.

Os resultados obtidos são válidas para o cenário de geração e carga admiti-


dos, nomeadamente no que diz respeito à relação entre a potência reactiva gerada
e consumida. Para outros cenários as conclusões poderiam ser diversas.

Análise de curto-circuitos

Com base nos valores da potência de curto-circuito no lado da tensão mais


alta das subestações da rede, e nos parâmetros característicos dos geradores,
efectuou-se o cálculo das correntes de curto-circuito trifásico simétrico na rede em
apreço.

Designar-se-á abreviadamente por potência de curto-circuito o valor mínimo


da potência de curto-circuito trifásico simétrico.

O aumento da potência de curto-circuito nos barramentos da rede devido à


ligação das centrais de PRE-R é mostrado na Figura 7 (barramentos das centrais
de PRE-R) e na Figura 8 (barramentos das subestações).

A legenda PRE Off refere-se às potências de curto-circuito na situação em


que os PRE-R estão fora da rede, representando os valores de referência tomados
pela concessionária da rede.

A legenda Referência refere-se às potências de curto-circuito que efectiva-


mente caracterizam os barramentos da rede na situação em que os PRE estão em
funcionamento.
Caso de Estudo 31

Referência PRE Off

PI1-30

PI2-60

PI3-60

PI4-60

PI5-60

PI6-60

0 50 100 150 200 250

Scc (MVA)

Figura 7 – Situação de referência; análise de curto-circuitos relativa à ligação dos PRE-R;


barramentos das centrais de PRE-R.

Referência PRE Off

SEA-60

SEB-60

SEC-60

SED-30

SED-60

0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 1.600

Scc (MVA)

Figura 8 – Situação de referência; análise de curto-circuitos relativa à ligação dos PRE-R;


barramentos das subestações.
Caso de Estudo 32

Nas figuras mencionadas pode verificar-se o subsídio dado pelos PRE-R para
o reforço da potência de curto-circuito nos barramentos. Trata-se de uma contri-
buição para a regulação de tensão na rede proporcionada por aqueles produtores,
que contudo só tem efeito enquanto estas estão ligadas.

Estabilidade transitória

A rede em apreço foi estudada, a fim de se avaliar o seu comportamento em


regime transitório, designadamente sob o ponto de vista da variação de tensão
nos barramentos relevantes.

Para fazer o diagnóstico da situação actual sob o ponto de vista da estabili-


dade transitória, seleccionaram-se duas situações típicas – o curto-circuito tem-
porário e o deslastre de geração.

A rede foi analisada quanto ao regime transitório subsequente na configura-


ção em que todas as centrais de PRE-R estão em operação à potência nominal, no
período fora do vazio (tg(ϕ) = 0,4).

Na Figura 9, apresentam-se os resultados relativos à simulação de um cur-


to-circuito trifásico simétrico temporário no barramento PI4-60 da central PI4. O
defeito inicia-se em t = 0,1 s e tem uma duração de 0,1s.

Na Figura 10, reportam-se os resultados referentes à simulação da desliga-


ção da central PI4 ocorrido em t = 0,1 s.

Verifica-se que a variação de tensão transitória nos barramentos da rede é


limitada no caso da ocorrência de um curto-circuito temporário, e insignificante
no caso da desligação das centrais.
Caso de Estudo 33

1,2

1,0

SEC
0,8
Tensão (pu)

0,6

0,4
PI4

0,2

0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
Tempo (segundo)

Figura 9 – Situação de referência; tensão na situação de curto-circuito


temporário na central PI4; tg(ϕ) = 0,4; 1pu = 63 kV.

1,20

1,15
Tensão (pu)

PI5
1,10

SEC
1,05

1,00
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
Tempo (segundo)

Figura 10 – Situação de referência; tensão na situação de desligação da central PI4;


tg(ϕ) = 0,4; 1pu = 63 kV.
Caso de Estudo 34

Chama-se a atenção para o facto de os valores finais da tensão diferirem da-


queles que foram obtidos na análise em regime estacionário. Este resultado era
expectável, uma vez que o trânsito de energia em regime permanente não consi-
dera, como é natural, as variações transitórias de potência que ocorrem nas res-
tantes centrais em face do deslastre de uma delas.

A análise em regime transitório tem em conta estas variações, caracterizan-


do o comportamento dos geradores em regime “livre”, isto é sem considerar restri-
ções de potência, ou actuação de mecanismos de regulação.

A Figura 11 ilustra, a título de exemplo para o deslastre da central PI4, as


variações transitórias de potência activa, podendo observar-se que, nos instantes
iniciais, é principalmente a central PI5 a fornecer a energia em déficit pela saída
da central PI4.

1,20
PI5

1,00
Potência (pu)

0,80

0,60
SEC

0,40

0,20
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
Tempo (segundo)

Figura 11 – Situação de referência; potência activa na situação de deslastre da central PI4;


tg(ϕ) = 0,4; 1 pu = 10 MW.
Caso de Estudo 35

4.2. CONDIÇÕES ECONÓMICAS DA PRE RENOVÁVEL26


As fórmulas de cálculo da remuneração a receber pela PRE-R foram aplica-
das a três centrais renováveis, para as quais se dispunha de informação referente
a potências médias horárias ao longo dos anos de 1997, 1998 e 1999.

No que diz respeito à produção mini-hídrica, estudaram-se duas centrais – a


central A (P = 10 MW) e a central B (P = 2,5 MW) –, tendo-se, com os dados dispo-
níveis, construído um cenário húmido e um cenário seco.

Considerou-se, também, uma central eólica, designada central eólica X, com


potência instalada de 500 kW, em fase de projecto. Os dados disponíveis dizem
respeito a medições da velocidade média horária do vento. As correspondentes po-
tências médias horárias foram obtidas a partir da característica (potência eléctri-
ca, velocidade do vento) do grupo turbo-gerador projectado.

Os valores obtidos para o preço médio de venda de energia ao SEP, por parte
das centrais mini-hídricas A e B (cenários húmido e seco) e da central eólica X,
estão indicados no Quadro 9 (Esc./kWh).

Quadro 9 – Simulação do preço médio de venda de energia de PRE-R (Tarifas 1999).

Esc./kW h MH A MH B Eo l X
C. húm ido 12,37 12,27
C. s ec o 12,93 11,81
E ol. X 11,88

A repartição percentual da remuneração média recebida pela PRE-R é


exemplificada para a central mini-hídrica A (cenários húmido e seco) na Figura
12. Não foi considerada a taxa de inflação, pelo que o factor kIPC foi tomado como
sendo igual à unidade.

26Este parágrafo foi baseado no estudo referido em [Castro6]. De notar que este estudo foi efectu-
ado antes da publicação do DL 339-C/2001, pelo que a influência do factor Z não é contabilizada.
Caso de Estudo 36

Repartição do RPRE Mini-hídrica


(Esc./kWh)
C. húmido C. seco

44,9%
42,9%
40,4%
38,7%

11,6%
10,4%

5,5%
2,8%
1,5% 1,3%

kpt kp PF PV PA

Figura 12 – Repartição percentual da (RPRE-R)med da central mini-hídrica A;


cenário húmido e cenário seco (simulação).

O Quadro 10 exemplifica a evolução, obtida por simulação no período 1997-


99, do preço médio de aquisição da energia produzida em cada uma das centrais
de PRE-R em apreço (no caso das mini-hídricas, apenas se tomaram os dados re-
ferentes ao cenário húmido).

Quadro 10 – Evolução do preço médio de venda da energia


(índice 100 = 1997, preços correntes).

1997 1998 1999


M H A - C. húm ido 100 97 105
M H B - C. húm ido 100 97 108
E ol X 100 96 107

Realizou-se também uma simulação com o objectivo de estudar a influência


do valor da potência declarada27 no estabelecimento do preço médio de venda de
energia de PRE-R.

27O Anexo II do DL 168/99 introduz o conceito de “potência declarada”, como sendo “a potência da
central, declarada pelo produtor no acto de licenciamento”. Não é claro se a indicação da potência
declarada é deixada ao livre arbítrio do produtor. A propósito desta questão, refira-se que o DL
168/99 estabelece que o PRE-R dará conhecimento do diagrama previsto para o fornecimento, à
rede pública.
Caso de Estudo 37

Os resultados obtidos estão indicados na Figura 13, em que no eixo das ab-
cissas se mostra a relação entre a potência declarada e potência instalada e no
eixo das ordenadas se representa o aumento do preço médio de venda.

Aumento do preço médio de venda


10%

MH A húmido MH B húmido Eol X

8%

6%

4%

2%

0%
100% 80% 60% 40% 20% 0%
Pdecl / Pinst

Figura 13 – Influência da potência declarada no preço médio de venda de energia a PRE-R.


Anexo 38

5. ANEXO
CONDIÇÕES TÉCNICAS DA
PRODUÇÃO EM REGIME ESPECIAL EM COGERAÇÃO
No que diz respeito às condições técnicas das instalações de cogeração, adi-
ante designadas PRE-CG, o Decreto-Lei n.º538/99 está estruturado de maneira
diferente da legislação relativa à PRE-R. De facto, numa primeira parte são esta-
belecidas as disposições de natureza técnica e administrativa específicas da coge-
ração e, posteriormente, contemplam-se os aspectos referentes aos requisitos téc-
nicos necessários à autorização.

Recentemente, o DL 313/2001 introduziu alguns ajustamentos no sentido de


incentivar a instalação de novas unidades de cogeração. As condições de cogera-
ção foram objecto de reformulação, no sentido de reconhecer o contributo para a
melhoria da eficiência energética e ambiental de algumas instalações existentes;
por outro lado, as condições de gestão conjunta de energia foram também revis-
tas, por forma a reconhecer-lhe o contributo para a optimização da eficiência
energética.

Cogeração é o processo de produção combinada de energia eléctrica e energia


térmica. Para efeitos legais, a PRE-CG deve verificar as condições que se explici-
tam na sequência.

Potência de ligação

Define-se potência de ligação como a potência activa máxima que o cogera-


dor pode injectar na rede do SEP.

Rendimento eléctrico equivalente

E
REE = equação 9
T
C−
CR
0,9 − 0,2
C
Anexo 39

em que REE é um coeficiente adimensional designado rendimento eléctrico equi-


valente, E é a energia eléctrica produzida anualmente, T é a energia térmica útil
consumida anualmente, C é a energia primária consumida anualmente e avalia-
da a partir do poder calorífico inferior dos combustíveis usados e CR é o equiva-
lente energético dos recursos renováveis ou resíduos industriais, agrícolas ou ur-
banos consumidos. Naturalmente que E, T, C e CR estão expressos nas mesmas
unidades de energia

O rendimento eléctrico equivalente tem um valor mínimo, o qual é diferen-


ciado em função do combustível usado. Assim, tem-se:

• REE ≥ 0,55 – para o caso do gás natural e gás de petróleo liquefeito;

• REE ≥ 0,50 – para o caso do fuelóleo;

• REE ≥ 0,45 – para o caso de instalações de biomassa;

No caso de CR=028 e de se usar gás natural, a equação 9 toma a forma:

E
REE = ≥ 0,55 equação 10
T
C−
0,9

Para ganhar sensibilidade à expressão contida na equação 10, realizou-se


uma simulação para avaliar a variação de REE com a relação T/E. Tomou-se como
combustível o gás natural com as características seguintes:

• PCI = 9080 kcal/m3

• Consumo específico Ce = 0,254 m3/kWhe

Os resultados obtidos estão representados na Figura 14.

28 As regras para a determinação de CR podem ser estabelecidas por despacho do Director-Geral


de Energia.
Anexo 40

65%

60%
REE min
55%
REE

50%

45%

40%

35%
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
T/E

Figura 14 – Variação do rendimento eléctrico equivalente com a relação T/E.

Valor máximo da energia eléctrica a fornecer anualmente ao SEP

O PRE-CG não pode fornecer anualmente ao SEP energia eléctrica em valor


superior a Eer, cuja fórmula de cálculo está indicada na equação 11.

 2,25T 
Eer =  E equação 11
 E + 0,5T 

Na Figura 15 mostra-se a variação de Eer, medido em percentagem de E, com


a relação T/E.

Valor mínimo da potência eléctrica instalada

Se T/E ≥ 5, a potência eléctrica instalada terá de ser superior a 250 kVA.

No que diz respeito aos consumos e fornecimentos de energia, a legislação


estabelece as disposições seguintes.
Anexo 41

100%

75%
Eer (%E)

50%

25%

0%
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
T/E

Figura 15 – Variação do valor máximo da energia eléctrica a fornecer anualmente ao SEP com a
relação T/E.

Consumo da energia térmica

A instalação de PRE-CG pode consumir e ceder, sem quaisquer limites, a


energia térmica produzida, sendo que T representa apenas a parcela daquela que
é efectivamente usada de forma útil.

Consumo da energia eléctrica

A energia eléctrica produzida pelo PRE-CG pode ser prioritariamente con-


sumida pelo estabelecimento que seja o principal consumidor da energia térmica.
Por outro lado, a energia eléctrica também pode ser consumida internamente.

Neste entendimento do que representa consumo de energia eléctrica, o PRE-


CG pode fornecer energia eléctrica, através de linha directa:

• Ao estabelecimento que consuma, no mínimo, 40% da energia térmica


útil produzida na instalação de PRE-CG.

• Ao accionista principal da instalação de PRE-CG.


Anexo 42

• A qualquer entidade que detenha, pelo menos, 10% do capital social da


instalação de PRE-CG. Neste caso, é necessário que o PRE-CG esteja
definido como cogerador com autoconsumo, isto é, que forneça ao SEP,
anualmente, menos de 60% da energia eléctrica produzida.

Fornecimento de energia eléctrica

O PRE-CG pode fornecer energia eléctrica a outras entidades que não per-
tençam ao seu grupo de empresas, nem que sejam por ele abastecidas de energia
térmica. No entanto, esta terceira entidade tem de estar ligada em MT, AT ou
MAT e possuir uma das seguintes características:

• Ser maioritariamente detida pela empresa que consuma, pelo menos,


50% da energia térmica útil produzida na instalação de PRE-CG.

• Deter maioritariamente a empresa que consuma, pelo menos, 50% da


energia térmica útil produzida na instalação de PRE-CG.

A ligação a estes clientes poderá ser efectuada de forma directa, ou por aces-
so às redes do SEP. Neste último caso, o PRE-CG, enquanto fornecedor de ener-
gia eléctrica, e os seus clientes estão sujeitos às regras aplicáveis ao SENV.

Em alternativa, o cogerador pode fornecer energia eléctrica ao SEP, na parte


que exceder as necessidades do principal consumidor da energia térmica, respei-
tando o limite imposto na equação 11.

Gestão conjunta da energia térmica e eléctrica

O cogerador pode fornecer energia térmica e eléctrica, através de linhas di-


rectas, a quaisquer entidades abastecidas em MT, AT ou MAT, desde que as mes-
mas detenham uma participação no capital social da empresa cogeradora.

Para efeitos de licenciamento, é necessário comprovar que a solução de ges-


tão conjunta proporciona menores consumos globais de energia primária e a me-
nores custos do que a solução baseada em instalações de cogeração separadas,
sem gestão conjunta.
Anexo 43

O SEP não fica obrigado a qualquer responsabilidade de fornecimento de


energia eléctrica aos consumidores, no caso de o cogerador deixar de assumir as
suas responsabilidades na gestão conjunta de energia.

Quanto aos procedimentos administrativos que as instalações de PRE-CG


devem observar para que lhes seja concedida autorização de exploração são idên-
ticos ao que foram estabelecidos para a PRE-R; o DL 312/2001 aplica-se, também,
à produção eléctrica em instalações de cogeração.

O mesmo se aplica em relação às condições técnicas aplicáveis à PRE-CG


que são também semelhantes às que estão definidas para a PRE-R.

No entanto, no que diz respeito ao fornecimento de energia reactiva, há duas


diferenças subtis que vale a pena salientar:

• Tanto a energia reactiva em défice no período fora do vazio, como a


energia reactiva fornecida nas horas de vazio será paga pelo PRE-CG
segundo o tarifário em vigor para, respectivamente, a energia reactiva
indutiva e capacitiva, no nível de tensão em que se faz a interligação29.

• O excesso de energia reactiva fornecida à rede nos períodos fora do va-


zio, relativamente ao valor de referência de 40% da energia activa in-
jectada, não é remunerado30.

As instalações de PRE-CG são sujeitas a auditorias energéticas de dois em


dois anos, para verificação das condições de cogeração. Por outro lado, a DGE
pode efectuar, a qualquer momento, auditorias por iniciativa própria ou a pedido
do SEP.

29 Os PRE-R pagam segundo a tarifa que corresponde ao nível de AT.


30 Os PRE-R recebem segundo a tarifa de energia reactiva indutiva no nível de AT.
Referências 44

6. REFERÊNCIAS

[Castro1] Rui M.G. Castro, J.M. Ferreira de Jesus e J.P. Sucena Paiva, “Produção Des-
centralizada: O Problema da Máxima Potência de Ligação”, Ingenium Revista
da Ordem dos Engenheiros, II Série, n.º 25, Lisboa, Janeiro 1998.

[Castro2] Rui M.G. Castro, J.M. Ferreira de Jesus e J.P. Sucena Paiva, “On the Pricing
of Dispersed Power Generation”, Proc. SEV-ETH-IEE Conference on Electri-
cal Power Systems Operation and Management – EPSOM'98, Zurich, Sep-
tember 1998.

[Castro3] Rui M.G. Castro e J.P. Sucena Paiva, “Condições Técnicas da Ligação de Pro-
dução Descentralizada Renovável”, Relatório final, Contrato de investigação
IST / ERSE, Novembro 1998.

[Castro4] Rui M.G. Castro, Arnaldo L.B. Ung, Pedro C.R. Costa e Sandra F.A. Domin-
gues, “Custos Evitados pela Produção Independente de Energia Com Potência
Superior a 10 MVA”, Anais da Engenharia e Tecnologia Electrotécnica (núme-
ro especial), Maio 1999.

[Castro5] Rui M.G. Castro e J.P. Sucena Paiva, “Produção Descentralizada: O Problema
da Potência Reactiva”, 4º Encontro Luso-Afro-Brasileiro de Planejamento e
Exploração de Redes de Distribuição ELAB’99, Rio de Janeiro, Junho 1999.

[Castro6] Rui M.G. Castro e J.P. Sucena Paiva, “Avaliação do Sobrecusto da Produção
em Regime Especial Usando Energias Renováveis”, Relatório final, Contrato
de investigação IST / ERSE, Fevereiro 2000.

[Castro7] Rui M.G. Castro, “As Energias Renováveis no Quadro da Nova Estrutura do
Sector Eléctrico”, VI Jornadas de Engenharia Electrotécnica e Electrónica,
ESTSetúbal, Abril 2000.

[DGE] Direcção-Geral de Energia, “Guia Técnico das Instalações de Produção


Independente da Energia Eléctrica”, Abril 1990.

[DL1] Decreto-Lei n.º189/88, de 27 de Maio.

[DL2] Decreto-Lei n.º 186/95, de 27 de Julho.

[DL3] Decreto-Lei n.º 313/95, de 24 de Novembro.

[DL4] Decreto-Lei n.º 168/99, de 18 de Maio.


Referências 45

[DL5] Decreto-Lei n.º 538/99, de 13 de Dezembro.

[DL6] Decreto-Lei n.º 312/2001, de 10 de Dezembro.

[DL7] Decreto-Lei n.º 313/2001, de 10 de Dezembro.

[DL8] Decreto-Lei n.º 339-C/2001, de 29 de Dezembro.

[ERSE1] ERSE, “Regulamento Tarifário”, Diário da República n.º213/98, de 15 de Se-


tembro.

[ERSE2] ERSE, “Regulamento das Relações Comerciais”, Diário da República


n.º213/98, de 15 de Setembro.

[ERSE3] ERSE, “Regulamento do Acesso à Rede e às Interligações”, Diário da Repúbli-


ca n.º213/98, de 15 de Setembro.

[Estanqueiro] Ana I.L. Estanqueiro, "Modelação Dinâmica de Parques Eólicos", Tese de Dou-
toramento, IST, Lisboa, Abril 1997.

[Moura] Domingos Moura, “Exigências Técnicas da Produção Descentralizada” (redac-


ção preliminar), IST, 1984.

[NPEN] Norma Portuguesa NP EN 50 160, “Características da tensão fornecida pelas


redes de distribuição pública de energia eléctrica”, 1995.

[SucenaPaiva] J.P. Sucena Paiva, J.L. Pinto de Sá e Rui M.G. Castro, “Integração das Cen-
trais Mini-Hídricas de Trás-os-Montes no Sistema Eléctrico de Serviço Públi-
co”, Estudo elaborado a solicitação da ENERSIS – Energia e Sistemas SA, Ou-
tubro 1997.

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