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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS

GERAIS

PROJETO DE PESQUISA

Letramento dos trabalhadores do


Transporte Público acerca da origem do homem na
Terra

Disciplina: Práticas discursivas: Cognição, Cultura e Letramento

Professora: Sandra Cavalcante

Alunos: Bruno Henrique Muniz Souza


Érica Betânia Santos da Fonseca
Helena Cristina de Castro Reis

Belo Horizonte
Novembro / 2009
Letramento dos trabalhadores do
Transporte Público acerca da origem do homem na Terra

Nesta pesquisa analisamos como se configura o letramento dos trabalhadores


do transporte público de Belo Horizonte acerca da origem do homem, assim como,
verificar de que práticas sociais de leitura esse grupo de entrevistados participam para
formar esta opinião.
Letramento se caracteriza como uma prática social em que um indivíduo está
imerso em uma sociedade que privilegia a cultura da leitura e da escrita, ou seja, uma
prática social de interação entre indivíduos através da leitura e da escrita, assim como
define Rojo (2009; p.98) no livro Letramentos múltiplos, escola e inclusão social que
define letramento como “(o letramento) busca recobrir os usos e práticas sociais de
linguagem que envolvem a escrita de uma ou de outra maneira, sejam eles valorizados
ou não valorizados, locais ou globais, recobrindo contextos sociais diversos (família,
igreja, trabalho, mídias, escolas etc.), numa perspectiva sociológica, antropológica e
cultural.”
A partir desta reflexão de Rojo, cabe uma reflexão no sentido de se analisar de
que práticas sociais efetivamente, um indivíduo participa para adquirir o letramento
acerca de um determinado assunto. Para essa afirmação, Rojo (2009;p.102) define que
existe não o termo letramento no singular, mas sim, o termo letramentos no plural que
se dividem em letramentos dominantes que preevem agentes (professores, autores de
livros didáticos, padres pastores etc.) que são valorizados de acordo com o poder de sua
instituição de origem, e os letramentos vernaculares que não são regulados por
instituições ou organizações sociais, mas têm sua origem na vida cotidiana, nas culturas
locais.
A nossa pesquisa tenta desvendar a partir desta reflexão de Rojo, como se
concretiza de fato, o letramento de um indivíduo em uma sociedade letrada sofrendo
influência de instituições oficias de letramento distintas, fato este, pouco abordado por
Rojo. Para tal, escolhemos o tema da origem do homem na Terra justamente por esse
conhecimento ser influenciado por diferentes instituições de letramento que são a escola
e a igreja que falam discursos totalmente opostos acerca do tema.
Para a Igreja, a origem do homem na Terra se deu através do Criacionismo que
defende a idéia de que o Deus criou o homem a sua imagem e semelhança como no
trecho do livro de gênesis “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme
a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os
animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta sobre a
terra.”
No entanto, na escola o aprendizado se baseia na teoria do Darwinismo (e suas
ramificações posteriores) como a principal teoria acerca da origem do homem, tendo
como principal ferramenta de letramento, o livro didático. No livro Biologia Essencial,
de Sônia Lopes (2003;p.338), a teoria de Darwin é definida como “A primeira idéia de
Darwin contestava imutabilidade das espécies (defendida pelo Criacionismo) reunindo
argumentos com base em estudos de fósseis[...]” o que difere totalmente das teorias da
igreja.
A partir desta diferença gritante de teorias, é de se duvidar que haja um ambiente
de subordinação entre uma instituição em relação a outra. A nossa hipótese é de que
mesmo sofrendo influência de ambas as instituições de letramento, o indivíduo tende a
aderir as suas convicções religiosas para fundamentar seu conhecimento acerca da
origem do homem, já que, apesar do Estado ser uma instituição mais poderosa, a Igreja
ainda exerce um poder ideológico muito grande nos tempos atuais.
Para essa pesquisa, entrevistamos 30 motoristas e trocadores de ônibus de Belo
Horizonte escolhidos de forma aleatória para descobrir como eles formaram o seu
conhecimento acerca da origem do homem sofrendo influência de diferentes instituições
oficiais de letramento. Para tal, montamos um questionário com 11 perguntas abertas
perguntando sobre as crenças de cada indivíduo acerca da origem do homem na Terra.
Cabe ressaltar, que as perguntas foram passadas sem nenhum tipo de resumo ou
algo do gênero que tentasse explicar os entrevistados acerca do tema, justamente para
não influenciar nas respostas obtidas. Outro ponto importante, é que todas as perguntas
foram dadas de forma aberta visando também não influenciar nas respostas dadas.
Abaixo, segue as respostas dadas pelo nosso grupo de análise expostas
graficamente:

1- Qual a sua idade?

 Nosso grupo de entrevistados tem idade entre 18 e 46 anos, sendo a média de


todas as idades de 28,7 anos.

2- Qual a sua religião?

3- Qual é o seu grau de escolaridade?


4- Quais das teorias abaixo sobre o surgimento do homem você conhece?

() Darwinismo

( ) Criacionismo

( )Outra teoria (qual?)

5 – Em que local você conheceu as teorias marcadas na questão anterior? Como se deu
esse aprendizado?

6 – Em qual teoria sobre o surgimento do homem você acredita? Por quê?


7 – Quais textos (bíblias, livros didáticos, jornais, etc.) você costuma ler que

7 – Quais textos (bíblias, livros didáticos, jornais, etc.) você costuma ler que te fazem
acreditar na teoria citada na “resposta seis”?

8 - Você lê (ou já leu) algo sobre outras teorias diferentes da respondida na “questão 6”?
Se você respondeu “sim”, que tipo de texto você lê (ou leu)?
9 – Os grupos sociais de que você participa (família, amigos, colegas de trabalho...)
compartilham a mesma opinião que você acerca do surgimento do homem?

10- Você conversa com seus amigos e familiares sobre teorias do surgimento do
homem? Se você respondeu “sim”, em que locais vocês conversam sobre isso.
10- Você conversa com seus amigos e familiares sobre teorias do surgimento do
homem? Se você respondeu “sim”, em que locais vocês conversam sobre isso.

11 – Como se comportam as pessoas quando você fala sobre a sua opinião a cerca da
origem do homem? Quais argumentos elas usam a favor ou contra a sua opinião?

A partir das respostas coletadas, podemos afirmar que o nosso grupo de


entrevistados possui um perfil muito parecido no que tange a idade e a
escolaridade. Um ponto que gerou surpresa na análise do questionário diz
respeito ao conhecimento que os entrevistados têm sobre as teorias da
origem do homem. Sabemos que todos os entrevistados passaram pela
escola, porém, 12 pessoas responderam que apenas conhecem o
Criacionismo o que parece bem contraditório já que deveriam saber sobre
ambas as teorias acerca do tema.
Algo que nos foi surpreendente foi a vantagem quase que absurda
obtida pelo Criacionismo em relação ao Darwinismo já que 26 dos
entrevistados optaram pela teoria bíblica acerca do tema.
Percebemos também, que o principal instrumento de letramento utilizado
por nosso grupo de entrevistados é a bíblia. Normalmente seria óbvio
afirmar isso já que a maioria dos entrevistados acredita na teoria
criacionista, no entanto, cabe lembrar que era permitido enumerar mais de
um instrumento de leitura, mas mesmo assim, 19 pessoas afirmam ler
apenas a bíblia e isso é de se considerar.
Outro ponto importante da pesquisa foi a leitura das questões
respondidas pelo nosso grupo entrevistado. A maioria dos entrevistados que
optou pela teoria criacionista afirma que a causa desta crença é porque “eu
acredito em Deus”. Isso é interessante, pois nada impede de que um
Darwinista acredite em Deus, mas a pressão de que o que está no ‘livro
sagrado’ é a verdade de Deus, guia o entrevistado a fazer essa divisão
radical.
Porém, essa divisão radical não é exclusividade da igreja, no livro
didático de Lopes supracitado, ela afirma que “(teoria que complementa o
Darwinismo) ainda existem correntes que se opõem a ela. Uma delas é a
corrente criacionista e fixista, que se baseia em crenças religiosas e não
será discutida neste livro.” (P.340) mostrando que essa divisão radical de
teorias é oriunda das duas instituições.
Outra justificativa curiosa foi dada também por um criacionista ao
dizer a razão pela qual ele acredita na sua teoria, “Pois através da Bíblia
existem meios de comprovar o fator criacionismo”. Este justificativa é
curiosa porque através da bíblia você adquire uma crença que não pode ser,
segundo a ciência, comprovada.
Já o entrevistado que optou pelo Darwinismo justificou a sua
posição de uma maneira bem peculiar. O entrevistado justificou que
acredita no Darwinismo “porque alguns homens são machistas”. Essa
justificativa extrapola um pouco a corrente de pensamento do nosso
trabalho, mas não deixa de ser uma justificativa interessante.
Outro entrevistado que acredita nas duas teorias, justificou sua
resposta da seguinte maneira: ”O homem foi criado por Deus e com o
tempo foi evoluindo”. Essa justificativa é interessante porque lida com as
duas teorias apresentadas sem tomar partido de nenhuma delas, como se
estivesse exatamente no meio destas duas correntes.
Outro aspecto a ser lembrado no questionário remete as praticas
sociais do grupo analisado. Apesar de que, na família, as opiniões acerca do
tema em sua maioria convergem para um ponto comum, quando saímos
deste ambiente e vamos para a relação entre amigos essa questão muda,
pois nem todas as pessoas concordam com a opinião de nossos
entrevistados.
Conclusão
A partir dos dados analisados, concluímos que A nossa hipótese de
que a doutrina religiosa influência de forma determinante no letramento dos
nossos entrevistados acerca da origem do homem se confirmou. No
entanto, cabem aqui alguns comentários:
1- É de se espantar a predominância do Criacionismo em relação ao
Darwinismo o que comprova a influência forte da igreja nos tempos atuais.
2- É de se considerar o número enorme de pessoas que só conhecem a
teoria do Criacionismo, mesmo tendo passado pela escola.
3- A bíblia ser, de fato, o maior instrumento de letramento utilizado acerca
da origem do homem pelo nosso grupo de entrevistados.
4- O fato de apenas 17 pessoas entrevistadas considerarem que
conheceram as teorias abordadas na pesquisa na escola, já que pela
escolaridade de cada um, esse número deveria ser bem maior beirando 100
% das respostas analisadas.
Por fim, consideramos que o texto teórico de Rojo (2009) utilizado
como base teórica deste trabalho, poderia ter abordado mais o conflito
entre instituições oficiais de letramento, pois como vimos neste trabalho,
essa relação não se limita somente ao poder de uma sobre a outra como é
defendido por Rojo, mas sim, pela questão ideológica presente na sociedade
letrada em que vivemos.
Bibliografia:
 Rojo, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social/Roxane
Rojo- São Paulo: Parábola editorial,2009.

 Laurence, J.Biologia: ensino médio, volume único/ J. Laurence-1.ed.-


São Paulo: Nova Geração,2005.

 Lopes, Sônia.Biologia Essencial/ Sônia Lopes; com a colaboração de


Renata Morretti-1.ed.-São Paulo:Saraiva, 2003.

 Site:
http://protestantes.renascebrasil.com.br/bibliaonline/genesis/1.htm

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