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Salvador
2008
FELIPE ROCHA LIMA SANTOS
Salvador
2008
RESUMO
Este trabalho visa realizar uma reflexão e análise crítica sobre a utilização
das Tecnologias d e Informação e Comunicação na prática psicopedagógica,
realizando, para isso, uma reflexão sobre como se encontra atualmente a
educação, dentro do contexto de seu envolvimento com o uso de
tecnologias para atingir resultados, uma análise sobre os conceitos atuais
que envolvem estas tecnologias e comparando os mesmos com a teoria do
construtivismo para por fim, observar como é possível utilizar de maneira
eficiente e contextualizada com o momento atual da sociedade
contemporânea as tecnologias para uma práti ca de psicopedagogia.
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 5
5. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 22
ANEXO I ................................................................................................................... 25
1. INTRODUÇÃO
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que a tradição oral não deturpasse ou apagasse a informação. A escrita
revolucionou as sociedades, e o incêndio da biblioteca de Alexandria foi um
fato que permitiu certo atraso e perda de muito conhecimento existente.
Mas ainda assim, a escrita era manual e trabalhosa, onde a leitura também
era para poucos, para uma elite. Mas com a criação da máquina de
imprensa, de Gutemberg, livros e textos de todos os tipos puderam ser
reproduzidos com mais facilidade, permitindo um acesso da informação a
grande parte das pessoas. A criação da escrita e da imprensa foram dois
momentos importantes para a história do estudo da ciência da informação,
pois representam paradigmas que marcaram e mudaram o mundo.
Este trabalho tem o objetivo de fazer uma análise crítica sobre este
tema, seguindo a seguinte divisão: inicialmente, para contextualizar a
importância das tecnologias no mundo educacional, será feita uma
exposição reflexiva sobre a inform ática e a educação. Após isso, será
analisado o que significa a W eb 2.0, peering e qual a relação destes
conceitos tecnológicos com o construtivismo, para por fim, a
psicopedagogia ser analisada, em sua forma clínica e em sua forma
institucional, de modo a entender como se dá o diálogo entre esta profissão
inserida no mundo atual, informatizado.
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2. A INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO
Existe um texto que circula na internet 1 que diz que um velho mestre
entrou em coma em 1947 e só acordou em 2007, após 60 anos. Tudo para
ele pareceu diferente: os meios de transporte, de pesquisa, de
comunicação. Nada era como antes. Apenas um lugar este velho mestre
reconheceu intacto, igual ao seu tempo: a escola. E ele agradece pela
educação não ter mudado nada nos 60 anos que se passaram.
O que esta história parece sugerir é que por um lado, a educaçào não
precisa evoluir, pois se encontra em vigor um modelo que parece funcionar
e que não precisa ser mexido. Mas por outro lado, se existe um novo
paradigma em vigor, se as novas geraçòes nascem inseridas em um
contexto tecnológico, será que não deveria a educação acompanhar este
percurso?
Valente (1999, apud GALVÃO FILHO, 2004, p.45) sugere uma análise
comparativa entre a evolução educacional e os modelos de produção na
história humana.
1
O texto completo se encontra no Anexo I deste trabalho
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produção, os produtos oferecidos são todos muito iguais, de baixo custo,
pois a produção é em massa, sendo que o cliente não tem escolha ou poder
de mudança na produção do produto final. Se a montadora dita que a cor de
carro do momento é azul claro, então o cliente tem que comprar a cor da
moda, que é o azul claro produzido e m massa.
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É preciso manter pelo menos a vontade e o desejo de aprender, sendo
que esta vontade e desejo é em parte prejudicada pelo bancarismo.
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aula, a professora ensina matemática. A professora coloca no quadro os
números de 1 a 9 multiplicados por 2 e o resultado. Então pergunta à turma:
“2 vezes 1? - Dois!” responde a turma. “2 vezes 2? – Quatro!”, responde a
turma. E assim por diante, n uma metodologia de repetição, até que o aluno
decore. Nesta mesma escola, o diretor resolve informatizar, colocando
computadores e materiais tecnológicos a serviço dos professores. E esta
professora então resolve utilizar a tecnologia em sala de aula. Colo ca um
datashow, cria alguns slides no PowerPoint, e inicia a aula, projetando na
parede, novamente, os números de 1 a 9 multiplicados por 2 e os
resultados. E com isso, repete a sua metodologia de pergunta e resposta,
repetidamente, até que os alunos decor em.
2
A reportagem pode ser acessada em:
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo_virtual/2008/03/19/investimentos_dos_governos_mantem_foco_em_laboratorio
_1236073.html
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A reportagem pode ser acessada em:
http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2008/04/08/governo_lanca_programa_que_levara_internet_em_banda_larga_es
colas_publicas_ate_2010-426743505.asp
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Todas estas tendências levam a crer que a realidade de um ambiente
educacional informatizado, inserido em alta tecnologia, é uma realidade
próxima. Mas não é difícil encontrar escolas que possuem laboratório de
informática que nunca são utilizados. Isto talvez aconteça porque o mundo
parece mudar rapidamente, mas a metodologia não deseja mudar. Os
professores não acreditam que precisem mudar, pois o sistema “bancario”
foi o sistema que os ensinaram a tornar -se professores hoje.
Desse modo, nota -se que uma outra maneira de mudar a educação
através da informatização não se dá apenas na subistituição e adição de
novas ferramentas. Trata -se de uma mudança de metodologia, uma
mudança de paradigma educacional. O Brasil é um país que vem crescendo
tecnologicamente, no sentido que consegue atingir com a tecnologia quase
todas as pessoas. Mesmo em favelas é possível encontrar lan houses,
laboratórios de inform ática, incluindo digitalmente quase toda a população.
Se o Brasil está dando condições para se mudar as ferramentas
educacionais, então porque não mudar a metodologia?
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3. CONSTRUTIVISMO, WEB 2.0 E PEERING
3.1. Construtivismo
Co ns tr u ti v is m o s ig n i f i c a is t o: a i dé i a de q ue n ad a , a ri g or, es t á
pr o n to , ac a ba d o, e de qu e , es p ec if ic am e nt e , o c on h ec im ent o nã o é
da d o, em ne nh um a i n s tâ nc ia , c om o a lg o t er m ina do . E l e s e c o ns t i t u i
pe l a i nt er aç ã o do i n d i ví du o c om o m ei o f ís ic o e s oc i a l, c om o
s im bo l is m o hum an o , c om o m und o d as r e laç õ es s oc i ais ; e s e
c ons t it u i p or f orç a d e s ua aç ão e n ã o p or q ua l q uer d ot aç ã o pré v i a,
na ba g ag em her ed i tá ri a o u n o m eio , d e t a l m odo q u e p od em os
af ir m ar q ue an tes da aç ã o n ão há ps i q u is m o nem c ons c i ênc i a e,
m uito m en os , p e ns am en t o.
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Não é intenção deste trabalho identificar as diferenças e semelhanças dos diversos pensadores construtivistas, mas
apenas ter uma visão geral do construtivismo, que seria o que há, de certo modo, em comum entre os pensadores
construtivistas.
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transmissão de conhecimento, mas as ações e nvolvidas no aprendizado que
podem mesmo não envolver linguagem, como o estabelecimento de
relações, classificações, etc.
“ pa r a P ia g et , o c on h e c im ent o nã o é um a q ua l i da d e es tá t ic a e s im
um a r e l aç ã o d i nâm ic a. A f orm a d e um in d i ví du o a bor d ar a r e a li d a de
é s em pr e um a f orm a c ons tr ut i v a e po rt an t o t em a ve r c om a s u a
d is p os iç ã o , c om o s eu c o nh ec im ent o an te ri or e c om as
c ar ac t er ís t ic as d o o bj et o” (G O U L ART , 1 9 95 )
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A construção do conhecimento se dá não só na relação educador -
educando, mas ta mbém na relação com o sujeito que aprende e sua
história, e o ambiente social, biológico, familiar. Se dá nas relações com os
outros, na significação do que é encontrado, na discussão e confronto,
criando novos esquemas sobre o mundo e sobre as coisas conh ecidas.
A internet, quando surgiu, era apenas uma nova mídia eletrônica onde
algumas poucas pessoas, normalmente as pessoas com o domínio técnico
adequado, colocavam a informação estática, para que o grande público
pudesse acessar. Funcionava analogamente a um Jornal impresso: os
jornalistas escrevem as reportagens, que são impressas e distribuídas para
a massa de leitores, que apenas absorvem passivamente o que foi escrito
pelos jornalistas.
5
O artigo completo se encontra em:
http://www.oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-20.html
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1. A rede como plataforma;
Quando O‟Reilly afirma que a rede é a plataforma, ele quer dizer que
os computadores não precisam mais ter softwares instalados. A rede, a
internet, está sendo capaz de se colocar como plataforma de uso de
programas, ou seja, digitar um texto, fazer uma apresentação de slides,
entre outras coisas, podem ser feitas na internet, sem a necessidade da
instalação de qualquer software que seja. Isto significa um movimento de
centralização, onde , ao invés de cada computador possuir seus softwares
privados, todos usam o mesmo ambiente, a internet.
“ a l i ng u ag em é um b o m ex em pl o da d im ens ão s oc i a l, tr a ns p es s oa l,
da c o g n iç ã o. J á v im os q ue um gr a nd e n ú m ero d e pr oc es s os e de
e lem en t os i n ter v êm e m um pens am en to . M a is um a v e z, n ã o h á m a is
par a d ox o em pe ns ar q ue um gru p o, um a i ns t i tu iç ão , um a re d e
s oc ia l o u um a c u l tu ra , em s eu c onj u nt o, „ p e ns em ‟ ou c o n heç am . O
pe ns am e nt o j á é s e m p re a re a l i zaç ã o de um c o le t iv o ” ( p. 16 9)
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importante, pois por mais irrelevante que seja, inicialmente, ela é parte do
processo de construção e desenvolvimento da inteligência coletiva.
3.3. PEERING
6
www.wikipedia.com
7
Jim Giles, “Internet encyclopedias go head to head”. Em :
http://www.nature.com/nature/journal/v438/n7070/full/438900a.html
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O interessante do func ionamento da colaboração em massa na web
2.0 é que em praticamente tudo ela se assemelha com o construtivismo,
pois é através de uma interação entre o meio social, a história dos
envolvidos, uma ação espontânea e formalizante é que novos
conhecimentos são construídos no mundo virtual. LEVY, P. (1999) chama
de aprendizagem cooperativa a perspectiva onde professores e estudantes
aprendem ao mesmo tempo sendo que a competência do professor é a de
incentivar a aprendizagem e o pensamento. Levy escreve ainda que é
preciso:
17
4. A PSICOPEDAGOGIA E A TECNOLOGIA
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Sabendo que a TI está cada vez mais inserida no contexto social das
crianças e adolescentes do século vinte, em muitos casos pode ser muito
mais produtivo realizar uma investigação diagnóstica utilizando testes
através do que os pacientes mais têm costume: a tecnologia. Muitas
crianças hoje nascem e cre scem aprendendo a utilizar o computador,
celulares, jogos, e uma investigação psicopedagógica que utilize as
mesmas ferramentas podem auxiliar na investigação e descoberta do
problema de aprendizado, ou problema secundário que esteja interferindo
na aprendizagem da criança.
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relação ao uso da tecnologia tanto na educação formal como no trabalho
clínico de psicopedagogos, pois de algum modo ocorre um conflito de
gerações que expõe preconceitos e incompreensões, muitas vezes mais
pelos próprios psicopedagogos e pedagogos do que pelas crianças e
estudantes.
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expressam, refletir, proj etar virtualmente sua visão de mundo, de sociedade
e de si mesmo, aumentando as ferramentas para o trabalho clínico do
psicopedagogo.
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5. CONCLUSÃO
Portanto, com este trabalho pretende -se fazer com que a educação e
a prática psicopedagógica, que tem antes de tudo como base uma certa
visão de educação, seja repensada junto com a evolução tecnológica, e que
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além disso, os próximos psicopedagogos possam desenvolver e ut ilizar de
modo atual e condizente com a realidade da nova geração de crianças
técnicas que as compreenda como são e auxiliem, assim, no melhor
desenvolvimento da psicopedagogia, realizando esta revolução e melhoria
humana com o apoio da revolução tecnológi ca.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXO I
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colaboradores. “ - Mas quem controla tudo isso? Quem comanda o trabalho?
Quem diz o que escrever?”. A resposta foi: ninguém e todo mundo.
O professor pulou da cama. Ou o mundo estava louco ou ele estava.
Saiu correndo, deixou o hospital e chegou à rua. Quase foi atropelado.
Dezenas de carros, mais do que ele já havia visto em toda a vida, tod os ao
mesmo tempo na rua, acelerando, freando, buzinando. Ele correu
desesperado, ainda com a roupa do hospital, um roupão aberto nas costas.
Então reconheceu um prédio algo familiar. Sujo, pichado, mas
reconheceu uma escola, uma escola pública. Dirigiu -se para lá, entrou
esgueirando -se e foi para o último lugar seguro de qual se lembrava, a sala
de aula. Sentiu um certo conforto: a mesma lousa, o mesmo tipo de
cadeiras, que pelo desgaste deviam ser exatamente as mesmas de seu
tempo. Encolheu-se em um canto e ficou ali, tentando colocar as idéias em
ordem.
De repente entram os alunos, numa algazarra tremenda. O Velho
Mestre enrubesceu. Entra então o professor daquela turma, que tem um
certo trabalho para controlar a classe e começar a aula. O Velho Mestre
parece o único a prestar atenção. Ele percebe que, apesar da falta de
atenção dos alunos, apesar da falta de disciplina, a aula era exatamente
igual àquela que ele ministrava.
Respira fundo aliviado e pensa: “Graças a Deus alguma coisa não
mudou. Pelo menos a Educação no Brasil continua a mesma de 60 anos
atrás!”.
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