Você está na página 1de 44

2008

Maria José dos Santos


leitão de Lima Santos

AMIANTO
Crónicas de uma solução adiada
0
0
ÍNDICE

Introdução ………………………………………………………………………….… 2
O que é o amianto …………………………………………………………………... 2
Diferenças na composição de vários tipos de Amianto ……………………... 3
Principais propriedades …………………………………………………………. 4
História ……………………...………………………………………………………... 4
Classificação …………………………………………………………………………. 5
Vias de exposição……………………………………………………………………. 6
Consequências para a saúde da exposição ao amianto ……………………….. 7
Utilização …………………………………………………………………………….. 9
Qual o perigo do amianto …………………………………………………………... 11
Conceitos …………………………………………………………………………….. 13
Decisão ……………………………………………………………………………….. 15
Directrizes relativas a decisões sobre materiais com amianto …………………. 15
Introdução à legislação ……………………………………………………………... 19
Legislação ……………………………………………………………………………. 20
Complemento …………………………………………………………………….. 31
Substituição viável …………………………………………………………………... 39
Avaliação sumária geral ……………………………………………………………. 39
Pós proibição ………………………………………………………………………… 41
Lista de países que aboliram a utilização do amianto …………………………... 42
Conclusão ……………………………………………………………………………. 42
Referências bibliográficas ……………………………………………………..…… 43

1
1
INTRODUÇÃO

Numa sociedade cada vez “mais informada”, é urgente que seja feito em,
Portugal, um esforço de sensibilização para a, ainda, presença de amianto
(Asbesto) em escolas, edifícios públicos e privados.
A União Europeia proíbe a sua utilização desde 1 de Janeiro de 2005, em
todo o seu território.
Este trabalho visa fazer uma explanação da forma como o assunto amianto
está a ser tratado na União Europeia e em Portugal. Para isso é necessário fazer a
caracterização do mesmo, quais as suas utilizações, efeitos sobre a saúde das
pessoas directa e indirectamente afectadas por ele e como substituí-lo. Por fim falar
das medidas de prevenção para que possa estar ligado a trabalhos que envolvam
ou que são susceptíveis de envolver amianto.

O QUE É O AMIANTO?

O amianto (do latim amianthus = incorruptível, puro, sem sujidade, sem mácula)¹,
também conhecido como asbesto (do grego asbestos = indestrutível, imortal,
inextinguível)¹ é o nome dado a um grupo de seis minerais diferentes, que existem
em estado natural em algumas rochas e no solo. Ele é a forma fibrosa dos silicatos
minerais pertencentes aos grupos das anfíbolas com fibras em forma de agulha
(amosite, de cor castanha, tremolite, antofilite, actinolite e crocidolite, de cor azul) e
das serpentinas com fibras mais finas, o crisótilo, de cor branca.

Fig. 1: Vários tipos de amianto


Diferenças na composição de vários tipos de amianto:

⇒ Actinolite com fórmula química Ca2(Mg,Fe+2)5Si8O22(OH)2 ;


⇒ Amosite predomina o ferro sob a forma Feo
⇒ Crisótilo predomina o magnésio sob a forma Mgo;
⇒ Crocidolite predomina o ferro sob a forma Fe2O3 ;
⇒ Tremolite com a fórmula química Ca2Mg5Si8O22(OH)2

Fig. 2 Micrografia electrónica de varrimento Fig.3 Micrografia electrónica de varrimento


mostrando fibras de amianto crisótilo mostrando fibras de amianto amosite

Fig. 4: Quatro diferentes tipos de amianto

3
3
Principais propriedades:

⇒ Alta resistência mecânica, especialmente à tracção;


⇒ Incombustível;
⇒ Resistente a temperatura elevadas;
⇒ Resistente a numerosas substâncias químicas;
⇒ Resistente à electricidade;
⇒ Resistente à tracção e ao desgaste;
⇒ Resistente ao micro organismos.

HISTÓRIA

A primeira referência ao asbesto é feita por Plutarco no sec. 70 A.C., material


de que eram feitos os pavios das lâmpadas mantidas permanentemente acesas
pelas virgens vestais, a resistência do mesmo ao fogo é desde há muito
aproveitada para uma variedade de propósitos. Foi utilizado em tecidos mortuários
no antigo Egipto bem como para fazer uma toalha de mesa para Carlos Magno, que
de acordo com a lenda este atirou ao fogo para a limpar.
Heródoto á mais de dois mil anos descreveu a alta mortalidade entre os
escravos que produziam mortalhas de amianto, pois os romanos usavam-no em
larga escala, extraindo-o das minas situadas nos Alpes Italianos e nos Montes
Urais da Rússia.
Existem também vestígios da sua utilização como reforços cerâmicos,
encontrados em escavações na Finlândia.
Com a revolução industrial, começou a utilização a nível da maquinaria,
isolamento e revestimento, no entanto a utilização massiva e em grande escala
começou por toda a Europa entre 1945 (pós-guerra) e 1990, na ordem das
centenas de milhares de toneladas, devido à sua abundância na Natureza, ao seu
baixo custo e sobretudo devido às suas qualidades.

Fig. 5 Manuseamento do crisótilo na Alemanha em 1969

4
4
CLASSIFICAÇÃO

Para uma melhor compreensão dos “danos” do amianto há que “enquadra-


lo”, para isso é usada a classificação do “International Agency for Research on
Câncer” (IARC), da Organização Mundial de Saúde, em que os agentes
cancerígenos são classificados em quatro grupos.

No grupo 1 - O agente ou mistura é carcinogênico para o homem.


Para a inclusão neste grupo, deve haver evidência suficiente do agente ser
cancerígeno em seres humanos. Excepcionalmente, um agente ou mistura é
classificado quando a evidência em seres humanos não é suficiente, mas existe
evidência experimental suficiente em animais e forte evidência em seres humanos
expostos, de que o agente actua através de relevantes mecanismos de
carcinogênese. A evidência aqui referida é aceite quando comprovada através de
estudos epidemiológicos.

O grupo 2 é dividido em dois:

Grupo 2a - O agente ou mistura é provavelmente carcinogênico para o homem.


O agente ou mistura é incluído neste grupo quando existe evidência limitada de ser
carcinogênico para o homem e evidência suficiente de ser cancerígeno para
animais de laboratório. Em alguns casos, um agente (ou mistura) pode ser
classificado nesta categoria, quando há evidência inadequada de carcinogenicidade
em humanos e evidência suficiente em animais, e forte evidência de que esta é
mediada por um mecanismo que também pode ocorrer em humanos.
Excepcionalmente, um agente, mistura ou condição de exposição pode ser
classificado nesta categoria com base apenas na evidência limitada de
carcinogenicidade em seres humanos.

Grupo 2a - O agente ou mistura é possivelmente carcinogênico para o homem.


Este grupo inclui agentes ou misturas para os quais existem evidências limitadas de
serem cancerígenos para seres humanos e menos que suficientes em animais,
experimentalmente. Inclui também aqueles agentes ou misturas com evidência
inadequada de serem cancerígenos para o homem e suficiente evidência para
animais de laboratório. Em algumas situações, um agente, mistura ou condição de
exposição, para os quais existe evidência de ser cancerígeno em seres humanos e
evidência limitada em animais experimentalmente, associadas a outras evidências
relevantes, pode ser incluído neste grupo.

No grupo 3 - O agente ou mistura não é classificável como cancerígeno para o


homem. Estão aqui incluídos os agentes, misturas ou condições de exposição para
os quais a evidência de serem cancerígenos é inadequada em seres humanos e
inadequada ou limitada em animais de laboratório. Excepcionalmente agentes
(misturas) para os quais a evidência de carcinogenicidade é inadequada para o
homem, mas suficiente para animais de laboratório, podem ser classificados nesta
categoria, quando existirem fortes evidências de que o mecanismo de
carcinogenicidade nos animais de experimentação não ocorre no ser humano.
Agentes, misturas ou condições de exposição que não se enquadram em nenhum
outro grupo são classificados neste.

5
5
No grupo 4 - O agente ou mistura provavelmente não é cancerígeno para o
homem. Este grupo agrega agentes ou misturas para as quais existem evidências
de falta de carcinogenicidade para seres humanos e animais de laboratório. Em
certas circunstâncias, agentes ou misturas para os quais existem evidências
inadequadas de carcinogenicidade para humanos, mas evidências sugestivas de
falta de carcinogenicidade em animais de laboratório, podem ser classificados
neste grupo.

VIAS DE EXPOSIÇAO

• Dérmica – pele;
• Inalatório – pulmão e tracto respiratório, cavidades nasais
• Oral – boca, tubo digestivo;

Os cancros associados ao trabalho são frequentemente observados nos órgãos


em contacto directo (vias de acesso ou eliminação) com os diversos agentes
carcinógenicos. Contudo, a via inalatória, é sem sombra de dúvida, a principal
senão a única responsável pelos graves efeitos na saúde. É, aliás, muito
controverso que a exposição cutânea ou a ingestão das fibras de amianto tenham
efeitos adversos significativos.
No caso do amianto as principais zonas afectadas são o pulmão, a pleura e o
peritoneu.

Fig. 6 Pulmão e pleura

6
6
CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE DA EXPOSIÇÃO AO AMIANTO

Das diversas fibras de asbesto existentes, o grupo das anfíbolas,


especialmente a crocidolite, é considerado com maior poder cancerígeno do que o
crisótilo para o desenvolvimento de mesotelioma e de fibrose pleural. No entanto,
existe grande controvérsia quanto à diferença de toxicidade entre eles para a
indução de asbestose e do cancro do pulmão. Alguns autores sugerem maior
toxicidade para os anfibólios crocidolite, tremolite e antofilite. Outros autores
consideram que o desenvolvimento do cancro do pulmão esteja relacionado com a
existência de asbestose. Outros ainda manifestam opinião oposta, afirmando que a
exposição ao asbesto, mesmo na ausência de fibrose pulmonar, já é condição
suficiente.
Quanto à localização pulmonar, trabalhos bem desenhados e controlados
chegaram à conclusão de que não existe um local preferencial em lobos superiores
ou inferiores para o desenvolvimento de neoplasias de origem ocupacional. A
incidência de cancro do pulmão aumenta com o tempo de latência, apresenta risco
aumentado a partir de quinze a vinte anos do início da exposição, sobretudo após
trinta anos, e está também relacionada com a quantidade de fibras inaladas,
características das fibras (fibras maiores do que 5 micra e finas são consideradas
com maior toxicidade), factores associados como o tabagismo e exposição a
hidrocarbonetos aromáticos policíclicos.
Indivíduos fumadores e expostos, apresentam risco relativo de desenvolvimento de
cancro do pulmão entre 50 e 100 vezes maior do que indivíduos não fumadores e
não expostos.
Num estudo com uma amostra de trabalhadores expostos a asbesto encontrou-se
risco relativo de 92 vezes para expostos e fumadores com relação a não expostos e
não fumadores.
A partir de 1979, a IARC passou a considerar todos os tipos de amianto
como cancerígenos para o pulmão.
Como já referi, as vias de acesso vão ditar as zonas mais afectadas, no caso
do amianto, a inalação das suas fibras pode levar á sua acumulação nos pulmões,
onde podem permanecer durante anos. O nosso organismo reconhece-as como um
“corpo estranho” e reage tentando eliminá-las através das suas células de defesa
que, com o objectivo de destruir as fibras, libertam determinadas substâncias. Estas
substâncias, além de se mostrarem incapazes de eliminar as fibras, agridem os
pulmões e daí podem surgir várias doenças.
O amianto é um carcinogéneo humano (grupo 1), que segundo foi já
demonstrado, causa cancro dos pulmões (fig. 7 a 9), da membrana pulmonar, do
estômago, do esófago, do cólon, do recto, das cordas vocais e dos rins.
Os casos mais graves de doença provocada por exposição prolongada em
ambiente laboral, a esta substância, são os de mesotelioma (70 a 80%), este é um
tipo raro de cancro do mesotelio, membrana que cobre a maioria dos órgãos
internos do corpo.
A exposição repetida e em altas concentrações pode provocar asbestose
(fig.10), esta é uma doença que provoca alteração da função pulmonar e pode levar
à morte, deixa cicatrizes nos pulmões e pode aumentar o tamanho do coração.
Estas enfermidades como já foi dito não se manifestam de imediato, mas sim
muitos anos depois da exposição, convêm no entanto referir que uma exposição das
vias respiratórias a altas concentrações de amianto podem ter como primeiros
sintomas, dor persistente no peito, sibilos, baixa concentração de oxigénio no
sangue, afilamento dos dedos (em baqueta de tambor), e verrugas nas mãos.

7
7
A inalação de baixas concentrações de amianto pode levar ao aparecimento
de placas nas membranas pleurais, apesar de serem radiograficamente
detectáveis, não são em princípio prejudiciais à função pulmonar (fig. 11).

Fig. 7: cancro do pulmão Fig.8: mesotelioma/pulmão normal

Fig. 9: Rx de cancro do pulmão Fig. 10: corte histológico de asbestose

Fig. 11: Placas pleurais

Estas doenças praticamente só atingem pessoas que estão ou estiveram


expostas a níveis elevados de asbestos durante um longo período de tempo (por
exemplo os trabalhadores das fábricas de fibrocimento). Para as outras pessoas, os
riscos são extremamente baixos. Por exemplo, se alguém estiver sentado num
edifício que contenha amianto, é mais provável ser atingido por um raio do que vir a
morrer prematuramente devido a ele.
É ainda importante realçar que, os materiais que contêm amianto e estão em
bom estado de conservação, não libertam fibras. O perigo ocorre quando o amianto
começa a degradar-se, havendo aí o risco de inalação das fibras. Outra forma
possível de contacto com o amianto é através da ingestão de água. Até hoje, ainda
não conseguiu provar-se que da ingestão de fibras de amianto não decorra
qualquer perigo para a saúde.

8
8
UTILIZAÇÃO

No início do século XX, Ludwig Hatschek inventou um processo de combinar


fibras de amianto com cimento para produzir fibrocimento, um material que tinha
excelentes propriedades técnicas e com um vasto leque de aplicações. Como o
amianto «duraria para sempre», Hatschek deu ao processo o nome de Eternit (de
eterno) e o seu passo seguinte foi vender a patente a empresas de todo o mundo,
muitas das quais adoptaram o nome Eternit.

Exemplos de materiais ou produtos que contêm fibras de amianto:

⇒ Isoladores térmicos contra incêndios;


⇒ Revestimento de edifícios e coberturas (fibrocimento);
⇒ Condutas de água, caleiras;
⇒ Aplicado à pistola em aço e betão;
⇒ Cartão, corda, têxteis, cobertores;
⇒ Elevadores;
⇒ Máquinas transportadoras (navios, comboios, tanques);
⇒ Revestimentos texturados com adição de fibras de amianto;
⇒ Colas e resinas;
⇒ Revestimento de piso (ladrilhos, vinílicos)
⇒ Electrodomésticos antigos tais como torradeiras, fogões, aquecedores,
secadores de cabelo, etc.
⇒ Cabos e fitas de isolamento térmico;
⇒ Placas de lusalite;
⇒ Calços, pastilhas de travões e discos de embraiagem;
⇒ Argamassa, tinta e cola;
⇒ Móveis, portas, armários, tampos de mesas, placas decorativas;
⇒ Têxteis, papéis;
⇒ Filtros de ar, gás e líquidos;
⇒ Depósitos e canalizações;
⇒ Isolamentos acústicos;

Fig. 12: exemplos de materiais com amianto

9
9
Figura 13: Exemplos de utilização numa casa2

1. Cobertura/Revestimentos exteriores 3 Aquecimento, ventilação e


1-1 Chapas/placas de cobertura equipamento eléctrico
1-2 Revestimentos de paredes 3-1 Caldeiras, aquecedores:
1-3 Caleiras/condutas de evacuação Isolamento interno e externo,
1-4 Intradorsos juntas
1-5 Condutas de exaustão de fumos 3-2 Tubagens Isolamento,
1-6 Feltros betuminosos juntas, forros de papel
1-7 Painéis colocados sob as janelas 3-3 Condutas de evacuação e
2 Interiores juntas
Paredes/tectos 3-4 Sistemas de condutas:
2-1 Divisórias Isolamento, juntas, forros,
2-1 Painéis de protecção de equipamento eléctrico, fogões, banheiras, armários revestimentos anti-vibração
2-1 Forros do poço do ascensor 3-5 Comutadores eléctricos:
2-1 Painéis de acesso à tubagem vertical, caixa da tubagem vertical Elementos internos, painéis
envolventes
3-6 Aquecimentos: Juntas,
painéis envolventes

2-5 Revestimentos texturados 4 Diversos


2-6 Revestimentos aplicados à pistola em elementos estruturais, placas de tectos suspensos, 4-1 Protecções betuminosas
barreira corta-fogo, isolamento de tectos e de sótãos para lavatórios
Portas 4-2 Depósitos de água
2-7 Painéis, interior de painéis sanduíche, molduras de janelas 4-3 Autoclismos e sanitas
Pisos 4-4 Rebordo de escadas
2-8 Placas, linóleo, forros de pavimentos flutuantes 4-5 Cobertores anti-fogo
4-6 Guarnições de
travões/embraiagens (no
automóvel que está na
garagem e no motor do
ascensor)

10
10
QUAL O PERIGO DO AMIANTO?

Um determinado material poderá libertar mais ou menos fibras de amianto


consoante estiver intacto ou danificado. O estado dos materiais que contêm
amianto pode alterar-se com o tempo, nomeadamente em função dos estragos, do
desgaste ou das condições climatéricas.
Há diferenças significativas entre vários materiais quanto à respectiva
friabilidade e propensão para libertar fibras. O quadro 1 dá exemplos de materiais
com amianto e das respectivas utilizações comuns. Os exemplos de materiais com
amianto estão expostos por ordem indicativa do respectivo potencial de libertação
de fibras. Os materiais susceptíveis de libertar fibras facilmente, estão no topo da
lista. Alguns dos materiais com amianto (compostos betuminosos e materiais de
revestimento de piso de borracha ou polimerizados) são combustíveis. Estes
materiais combustíveis não devem eliminados por incineração porque, através dela,
se libertariam as fibras de amianto.
Aparentemente a remoção do amianto parece ser uma solução eficaz, mas
tem-se demonstrado que o número de fibras libertadas durante a remoção é muito
elevado. Assim sendo, é de extrema importância que se tomem medidas
preventivas adequadas. Estas tem de ter em conta os guide-lines existentes, como
o “Guia de boas práticas para prevenir ou minimizar os riscos decorrentes do
amianto em trabalhos que envolvam (ou possam envolver) amianto, destinado a
empregadores, trabalhadores e inspectores do trabalho” (CARIT), no entanto este
tipo de guias serão sempre importantes, mas não estão acima daquilo que a união
europeia diz na sua Directiva nº 2003/18/CE.

Quadro 1: Exemplos de materiais que contêm amianto, com indicação do teor de


amianto

Materiais
que contêm Utilização comum Onde se encontra
amianto
Revestimentos Isolamento térmico e acústico, Em estruturas de aço em edifícios
aplicados à protecção contra incêndios e de grandes dimensões ou de vários
pistola condensação. pisos, barreiras corta-fogo em tectos
(podem conter vãos, nomeadamente em edifícios
85% de de piscinas.
amianto)
Materiais de Isolamento térmico e acústico. Isolamento de sótãos, couretes.
enchimento
(podem conter
100% de
amianto)
Guarnições e Isolamento térmico de tubagens, Em tubagens e caldeiras de edifícios
embalagens caldeiras, recipientes sob públicos, escolas, fábricas e
(de 1% a 100% pressão, secções de tubos pré- hospitais. Edredões de amianto em
de amianto) fabricados, lajes, fita, corda, caldeiras a vapor industriais, fio ou
papel corrugado, corda enrolados em tubagens por
edredões, feltros e cobertores. vezes revestidos de materiais do
tipo cimento.

11
11
Painéis Protecção contra incêndios, Em quase todos os tipos de
isolantes de isolamento térmico e acústico, edifícios. Em condutas, barreiras
amianto bem como trabalhos gerais de corta-fogo, painéis sanduíche,
(podem conter construção. divisórias, placas para coberturas,
16% a 40% de membranas de impermeabilização
amianto ) para coberturas, forros de paredes,
painéis para casas de banho.
Revestimentos de caldeiras
domésticas, divisórias e placas para
tectos, revestimento de fornos e
sistemas de pisos flutuantes.
Cordas, fios Materiais de guarnições, junções Caldeiras de aquecimento central,
(podem conter e embalagem, juntas e selantes fornos, incineradoras e outras
100% de resistentes ao calor/fogo, instalações sujeitas a altas
amianto) argamassas para assentamento temperaturas.
de alvenaria, selagem de
caldeiras e condutas de
evacuação, bem como tubagens
entrançadas para cabos
eléctricos.
Têxteis Juntas e embalagens,isolamento Em fundições, laboratórios e
(podem conter térmico e guarnições, caloríficas cozinhas. Cortinas anti-fogo em
100% de (cobertores resistentes ao fogo, teatros.
amianto) colchões e cortinas anti-fogo),
luvas, aventais e fatos-macacos.
Cartão, papel e Isolamento térmico e protecção Feltros betuminosos e membranas
produtos de contra incêndios em geral, bem de impermeabilização para
papel como isolamento térmico e coberturas, materiais compósitos
(90% a 100% eléctrico de equipamento com aço, revestimentos de paredes
de amianto) eléctrico. e coberturas, revestimentos de piso
vinílicos, revestimento de painéis
combustíveis, laminados resistentes
ao fogo e isolamento de tubos
corrugados.
Fibrocimento Chapas perfiladas para Divisórias em edifícios agrícolas e
( pode conter de coberturas, revestimentos de de habitação, cofragens em edifícios
10% a 15% de paredes e protecções contra as industriais, painéis decorativos,
amianto ) intempéries. painéis de casas de banho,
intradorsos, forros de paredes e
tectos, construções amovíveis,
viveiros de reprodução hortícolas,
protecções de lareiras, placas de
materiais compósitos para protecção
contra incêndios.
Fibrocimento Telhas e lajes. Revestimentos, pisos flutuantes,
( pode conter de lajes para calçadas, coberturas.
10% a 15% de
amianto )
Fibrocimento Produtos moldados pré- Produtos moldados pré-fabricados.
( pode conter de fabricados. Cisternas e tanques, drenos,
10% a 15% de esgotos, condutas de águas pluviais
amianto ) e caleiras, condutas de evacuação,
vedações, componentes de
coberturas, calhas e condutas para
cabos, condutas de ventilação,
caixilhos de janelas.

12
12
Produtos Feltros betuminosos e Coberturas planas, tubos de queda.
betuminosos impermeáveis para coberturas,
com amianto placas semi-rígidas para
(podem conter coberturas, impermeabilização
cerca de 5% de caleiras e tubos para
amianto) escoamento fluvial,
revestimentos de produtos
metálicos.
Revestimentos Mosaicos para revestimento de Escolas, hospitais, edifícios de
de pisos pisos (os mosaicos habitação.
(podem conter termoplásticos contêm
até 25% de normalmente 25% de amianto),
amianto) revestimentos de pisos em PVC
forrados a papel de amianto.
Revestimentos Revestimentos de paredes e Estiveram na moda e foram
e tintas tectos. utilizados em alguns dos Estados-
texturados Membros.
(podem conter
de 1% a 5% de
amianto)
Mástiques, Pode ter sido utilizado com Selagem de janelas e de pisos.
selantes, e qualquer destes selantes.
adesivos
(podem
conter5% a 10%
de amianto)
Plásticos Painéis plastificados, painéis e Painéis plastificados (por ex.
reforçados revestimentos em PVC, reforço marinite) em camarotes de navios,
(podem conter de aparelhos domésticos. batentes de janelas.
5% a 10% de
amianto)
Argamassa de Parafusos para aparelhos Caixas eléctricas.
enchimento murais.

CONCEITOS

Apesar de este ser um trabalho sobre amianto, não deixa de ser relevante, e
até importante, deixar aqui alguns conceitos sobre saúde, higiene e segurança no
trabalho, pois vão ser eles que nos vão ajudar a fazer uma correcta interpretação
da lei a aplicar, e a uma correcta gestão de prevenção, no que diz respeito aos
trabalhos que possam envolver amianto.

Segurança – conjunto de metodologias não médicas adequadas à prevenção de


acidentes de trabalho;

Higiene – conjunto de metodologias não médicas necessárias à prevenção das


doenças profissionais;

Saúde – abordagem que integra, além da vigilância médica, o controlo dos


elementos físicos, sociais e mentais que possam afectar a saúde dos
trabalhadores;

13
13
Dano – lesão física ou psíquica para a saúde, prejuízo para os materiais ou para o
meio ambiente, resultantes de qualquer ocorrência;

Perigo – fonte de possíveis danos, constituindo uma característica intrínseca dos


equipamentos, materiais ou processos de trabalho;

Risco – é a situação resultante da combinação da probabilidade da ocorrência de


danos e a gravidade destes, resultantes da verificação de uma determinada
condição perigosa. O risco depende das medidas preventivas e de protecção
aplicadas a uma determinada situação;

Situação Perigosa – representa uma condição potencialmente causadora de lesões


em pessoas, danos nos equipamentos e instalações ou prejuízos patrimoniais;

Risco Potencial – é o risco resultante do facto de a resistência do corpo


eventualmente atingido ser inferior à energia causadora do acidente;

Risco Efectivo – é a probabilidade de o trabalhador estar exposto a um risco


profissional;

Risco Tolerável – risco considerado como aceitável, ou seja, situação tendo pouca
probabilidade de provocar acidente e a acontecer, as consequências serão
reduzidas;

Risco Residual - risco ainda existente mesmo depois de terem sido tomadas as
medidas de protecção adequadas;

Análise de risco – processo de identificação dos perigos e estimação dos


respectivos danos potenciais de uma determinada situação;

Avaliação do Risco – ponderação relativamente a um determinado risco ou a um


conjunto de riscos a partir da análise e da valoração dos respectivos riscos;

Condição insegura – toda a situação com que o trabalhador se confronta no


desempenho da sua actividade profissional;

Acto Inseguro – qualquer procedimento inseguro provocado pelo trabalhador de


forma consciente ou inconsciente;

Prevenção de Riscos – consiste na concepção e aplicação de um conjunto de


medidas e acções cautelares com o objectivo de minimizar a probabilidade que um
acidente aconteça ou as suas consequências, se acaso ele se verificar;

Prevenção Integrada – consiste na concepção e aplicação de metodologias globais,


resultantes do contributo dos métodos das diferentes ciências relacionadas com a
problemática do trabalho, que de forma articulada criem as melhores condições de
desempenho das actividades profissionais, tendo como objectivos essenciais:

• Evitar ou reduzir o mais possível o número de situações perigosas;

• Limitar a exposição dos trabalhadores às situações perigosas inevitáveis ou


difíceis de reduzir.

14
14
DECISÃO

Como já anteriormente foi dito, para o comum dos mortais pelo simples facto
de estar dentro, ou perto de um edifício, ou de materiais que contenham amianto
em bom estado de conservação, não constitui por si factor de risco, no entanto
existem profissões que pela sua natureza, estão potencialmente em risco de
exposição ao mesmo, como por exemplo mecânicos, trabalhadores da construção
civil ou da manutenção e/ou limpeza de edifícios
Não nos podemos esquecer que 30% do amianto utilizado em Portugal, em
2000, encontrava-se em condutas de fibrocimento utilizadas nas canalizações de
água. Devido à inexistência de planos e consciencialização para a sua correcta
eliminação controlada de resíduos de amianto, esses resíduos são abandonados
no meio rural, aumentando as probabilidades de deterioração.
Para se poder tomar decisões tem de haver um processo coerente que
passa por, determinar se é mais sensato deixar ficar os materiais que contêm
amianto (em condições de segurança satisfatórias e sob controlo e gestão
adequados) ou prever a sua remoção, ou ainda decidir se certos trabalhos de
manutenção podem ser executados com um risco suficientemente baixo de
exposição ao amianto para que caiam no âmbito das «tarefas de exposição
esporádica e de fraca intensidade» susceptíveis de ser empreendidas sem
notificação prévia da autoridade responsável.

DIRECTRIZES RELATIVAS A DECISÕES SOBRE MATERIAIS COM AMIANTO


EM EDIFÍCIOS

Antes de iniciar trabalhos que possam implicar presença de materiais com


amianto, é necessário tomar uma série de decisões. Estas estão intimamente
associadas ao processo de avaliação de riscos e de planeamento.
As avaliações de riscos podem determinar a opção que se vai tomar e essa
decisão irá influenciar o objectivo e o teor dos planos a elaborar.
Há que considerar vários factores para tomar decisões sobre os trabalhos
eventualmente necessários. A legislação nacional de alguns Estados-Membros
exige a remoção dos materiais com amianto (sobretudo com amianto friável)
sempre que possível. Outros Estados-Membros, por exemplo o de Portugal,
autorizam a não remoção de materiais que contenham amianto em função de
determinados critérios relativos à respectiva condição, localização, facilidade de
acesso e, por conseguinte, à probabilidade geral de libertação de fibras. Assim, a
eventual decisão de proteger os materiais (por exemplo, mediante selagem e/ou
demarcação) para os deixar onde estão deve também ter em conta a legislação
nacional.
Consoante a legislação nacional, os materiais com amianto que estejam em
bom estado (ou seja, bem conservados, confinados ou encapsulados) podem ficar
onde estão, desde que haja um controlo e uma gestão eficazes dos mesmos.
Sempre que se pretenda não remover um material que contenha amianto, é
necessário identificá-lo nos registos e planos do edifício para que a sua presença
seja tida em conta em quaisquer trabalhos futuros. Seria conveniente prever um
sistema de controlo e gestão desses materiais (p. ex., para os conservar em boas
condições).

15
15
Uma vez sabido que contém amianto, existem perguntas obrigatórias para se
apurar se o material:
• Está em boas condições ou;
• Não pode ser reparado com facilidade;
• É de fácil acesso (potencialmente susceptível de sofrer estragos acidentais
ou deliberados, enquanto da remoção); sofreu danos que não podem ser
considerados menores ou superficiais (tornando a reparação pouco fiável);
• Sofreu danos graves (ou seja, danos generalizados que inviabilizam o
confinar das partes danificadas);
• Não se presta à selagem nem ao isolamento (por quaisquer outras razões).

Como é evidente, se o material não estiver em boas condições, não puder


ser reparado com facilidade, não for de fácil acesso (e, por isso, vulnerável a mais
danos e estragos), apresentar danos generalizados e não for possível selá-lo nem
confiná-lo, o material tem de ser removido. Isto aplica-se a qualquer tipo de material
que contenha amianto.
A alternativa à remoção consistiria em proteger o material (mantendo-o em
bom estado de conservação ou confinando-o), controlá-lo e geri-lo no local. Mesmo
que o material com amianto possa ser protegido, controlado e gerido no local, é
necessário ter em conta os eventuais requisitos dos trabalhos gerais de renovação
de edifícios. Se os materiais em causa colocarem dificuldades aos trabalhos gerais
de renovação do edifício, a decisão correcta poderá ser a de remover o material
que contenha amianto.
Quanto ao fibrocimento e outros materiais com fibras de ligação forte, é mais
provável que o processo de tomada de decisão conduza à decisão de não remover
o material, procedendo ao respectivo registo, controlo e gestão.
Ao proceder à avaliação dos riscos e à preparação do plano de trabalho, é
sempre de boa prática elaborar um registo escrito da informação utilizada para
avaliar os riscos envolvidos. A recolha de informação relativa à localização do
amianto pode exigir uma avaliação realizada por peritos competentes, relativo às
avaliações desta natureza, é importante que a pessoa responsável (empregador,
gestor, trabalhador) saiba que esta informação é necessária e que a mesma deve
de ser apresentada num formato que possa ser entendido com facilidade. Quando
essa informação estiver disponível, é importante examinar as suas eventuais faltas.
Por exemplo, é possível que, no âmbito da avaliação, não se tenha penetrado nas
cavidades da alvenaria.
É necessário rever regularmente a gestão do amianto confinado para
verificar se o material está ainda em boas condições e se o sistema de gestão e de
controlo de quaisquer trabalhos executados nas proximidades funciona de modo
satisfatório. Se o amianto não estiver em bom estado ou não for possível mantê-lo
em condições, é necessário prever a sua remoção.
Uma vez tomada a decisão de empreender trabalhos no âmbito dos quais
seja possível encontrar ou intervir em materiais que contenham amianto, é
necessário redigir uma avaliação dos respectivos perigos e dos riscos
subsequentes. A avaliação dos riscos deve ser específica para o estaleiro, ou seja,
ter em conta as características específicas em consideração desse estaleiro,
devendo incluir uma avaliação da exposição possível acompanhada de um resumo
da experiência de controlo da exposição em circunstâncias semelhantes. A
avaliação dos riscos deve considerar os riscos de exposição ao amianto tanto para
os trabalhadores como para terceiros que se encontrem nas proximidades (p. ex.,
habitantes).

16
16
Isto pode ser feito com base em medições realizadas para trabalhos
similares ou anteriores. Por exemplo as concentrações de exposição
características, segundo as medições efectuadas no Reino Unido, para guarnições,
revestimentos e painéis isolantes de amianto (UK Health and Safety Executive
1999, HSG 189/1 e UK HSE (2003) INDG 288 (rev1)) (quadro 2) e fibrocimento (UK
HSE HSG 189/2) (quadro 3)

Quadro 2-Exposições típicas para guarnições, revestimentos e painéis isolantes de


amianto

Exposição
Técnica Observações típica
(fibras/ml)
Decapagem a húmido bem controlada de Humedecimento completo das Até 1
guarnições e revestimentos aplicados à guarnições com um agente molhante
pistola, utilizando ferramentas manuais seguido de uma remoção cuidadosa

Decapagem a húmido bem controlada de Como acima mas com ferramentas Até 10
guarnições e revestimentos aplicados à eléctricas (o que NÃO se deve fazer)
pistola, utilizando ferramentas eléctricas

Decapagem de guarnições em presença Demonstra a necessidade de um Cerca de


de zonas secas humedecimento completo 100

Decapagem de revestimentos aplicados Demonstra a necessidade de um Cerca de


à pistola em presença de zonas secas humedecimento completo 1000

Remoção cuidadosa de painéis isolantes Desaparafusar (com aspiração


de amianto inteiros simultânea) e aplicação de um agente Até 3
molhante pulverizado nas superfícies
não seladas
Partir e arrancar painéis isolantes de
amianto. Trabalho efectuado a seco sem Prática incorrecta 5-20
desaparafusar.
Perfuração de fibrocimento à máquina Com ventilação por aspiração local ou Até 1
aspiração simultânea
Perfuração de painéis isolantes de
amianto situados no tecto, sem Prática incorrecta 5-10
ventilação por aspiração local
Perfuração de colunas verticais. Sem
ventilação por aspiração local. Prática incorrecta 2-5
Utilização de uma serra de recortes em
painéis isolantes de amianto. Sem Prática incorrecta 5-20
ventilação por aspiração local.
Serração manual de painéis isolantes de
amianto. Sem ventilação por aspiração Prática incorrecta 5-10
local.

Notas:

1. Alguns resultados indicam as consequências de práticas incorrectas e inaceitáveis. Sempre que


se utilizarem técnicas de decapagem em condições controladas mas estas não forem
aplicadas correctamente, a concentração de fibras no ar podem ser elevada. Frequentemente,
um humedecimento insuficiente é pouco melhor que a decapagem a seco sem controlo.
2. As exposições referidas são valores típicos. O mesmo processo realizado em locais diferentes
pode ter como resultado concentrações mais elevadas ou inferiores.
3. As exposições referem-se ao período de trabalho e não são calculadas como médias ponderadas
no tempo.

17
17
Quadro 3-Exposições típicas para fibrocimento (ver também notas no final do quadro
anterior).

Técnica Observações Exposição


típica
(fibras/ml)

Perfuração de fibrocimento à Com ventilação por aspiração


máquina local ou aspiração simultânea Até 1

Corte à máquina sem ventilação


por aspiração

Corte com disco abrasivo Prática incorrecta 15-25


Serra circular Prática incorrecta 10-20
Serra de recortes Prática incorrecta 2-10
Serração manual Até 1

Remoção de coberturas em
fibrocimento Até 0,5

Empilhamento de coberturas em
Fibrocimento Até 0,5

Demolição remota de estruturas


em fibrocimento a seco Até 0,1

Varrer após a demolição remota Prática incorrecta Superior a


de estruturas em fibrocimento 1

Demolição remota de estruturas


em fibrocimento a húmido Até 0,01

Limpeza de revestimentos
verticais em fibrocimento por 1a2
escovagem a húmido

Limpeza de revestimentos Prática incorrecta


verticais em fibrocimento por 5a8
escovagem a seco

As concentrações de exposições mencionadas supra referem-se ao período de trabalho e não são


calculadas como médias ponderadas no tempo. Contudo, é evidente que uma duração de trabalho
alargada pode levar a concentrações médias ponderadas no tempo superiores a 0,1 fibra/ml².

18
18
INTRODUÇÃO Á LEGISLAÇÃO

Para poder-mos compreender como é que União Europeia chegou á


Directiva nº 2003/18/CE, convêm termos uma perspectiva histórica normativa e
legislativa, que como sabemos têm sempre (infelizmente) que ser despoletada pela
comunidade científica, razões socioeconómicas e/ou sindicatos.
A comunidade científica, tem desde o primeiro caso bem diagnosticado de
asbestose, feita em Inglaterra no ano de 1906, pelo Dr. Montagne Murray num
trabalhador têxtil, que era o único sobrevivente de 11 outros trabalhadores,
passando por Wagner e colaboradores terem diagnosticado 33 casos de
mesotelioma em trabalhadores de uma zona mineira da África do Sul, onde era
extraído amianto, feito o seu papel de diagnosticar e alertar toda as instituições.
Porem, foi preciso o Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa de França ter
declarado, em 1996, que inquestionavelmente e cientificamente “todas as fibras de
amianto são cancerígenas qualquer que seja o tipo ou origem geológica”, e o Dr.
Arthur Frank et al. ter demonstrado que até as fibras (crisótilo) não contaminadas
induziam cancro, para a Organização Mundial de Saúde estabelecer, que “todas as
formas de amianto são perigosas para a saúde quando as fibras de dimensões
respiráveis são inaladas”.
Internacionalmente a OIT (Organização Internacional do Trabalho) em 1974
com a CONVENÇÃO N.º 139 vem normalizar a: Prevenção e controlo dos riscos
profissionais causados pelas substâncias e agentes cancerígenos, e qualquer
Membro que ratifique a presente Convenção deverá:

• Determinar periodicamente as substâncias e agentes cancerígenos aos


quais a exposição profissional será proibida ou sujeita a autorização ou a
controlo;

• Esforçar-se no sentido de substituir as substâncias e agentes cancerígenos


aos quais os trabalhadores possam estar expostos durante o seu trabalho
por substâncias ou agentes não cancerígenos ou por substâncias ou
agentes menos nocivos;

⇒ Determinar as medidas a tomar para proteger os trabalhadores contra os


riscos de exposição às substâncias ou agentes cancerígenos;

No meio do jogo do rato do gato entre a comunidade científica/organizações


internacionais e os grandes lobbies do amianto, a União Europeia passou em
Setembro de 1983 a sua Directiva 83/477/CEE que visa proteger os trabalhadores
dos riscos relacionados com a exposição ao amianto. Esta directiva foi rectificada
em 1991 pela Directiva 91/382/CEE, diminuindo bastante os valores limite de
exposição (0,1 fibra por centímetro cúbico). O texto, final sobre o qual a nossa
actual legislação assenta, é-nos dado pela Directiva 2003/18/CE que acrescenta, a
proibição de extracção de amianto, manufacturação e o seu processamento.

 Finalmente a União Europeia proibiu desde 2005 o uso de qualquer


variedade de amianto.

19
19
LEGISLAÇÃO

A pequena introdução feita no capítulo anterior vem no sentido de explicar de


onde vem as orientações da legislação portuguesa. O Decreto-Lei nº 266/2007 de
24 de Julho transpõe para o direito Interno a Directiva nº 2003/18/CE de 27 de
Março. Esta directiva estabelece disposições mínimas para a protecção dos
trabalhadores expostos ao amianto. A fim de reduzir os riscos para a saúde e a
segurança dos trabalhadores, estabelece valores limite de exposição e medidas
preventivas.

Objecto e Âmbito (art.1º)

Aplica-se a todos as actividades em que os trabalhadores estão ou podem


estar expostos a poeiras do amianto ou de matérias que contenham amianto como:

a) Demolição de construções em que existe amianto ou materiais que contenham


amianto;

b) Desmontagem de máquinas ou ferramentas em que existe amianto ou materiais


que contenham amianto;

c) Remoção do amianto ou de materiais que contenham amianto de instalações,


estruturas, edifícios ou equipamentos, bem como aeronaves, material circulante
ferroviário, navios ou veículos;

d) Manutenção e reparação de materiais que contenham amianto existentes em


instalações, estruturas, edifícios ou equipamentos, bem como em aeronaves,
carruagens de comboios, navios ou veículos;

e) Transporte, tratamento e eliminação de resíduos que contenham amianto;

f) Aterros autorizados para resíduos de amianto.

O presente Decreto-lei é aplicável aos sectores: privado; cooperativo e social; na


administração pública central; regional e local e trabalhadores independentes que
desenvolvam actividades relacionadas com o amianto.

Definições (art. 2º)

Para efeitos do presente decreto-lei, entende-se por:

a) «Amianto» os seguintes silicatos fibrosos, referenciados de acordo com o


número de registo admitido internacionalmente do Chemical Abstract Service
(CAS):

i) Amianto actinolite, n.º 77536-66-4 do CAS;

ii) Amianto grunerite, também designado por amosite, n.º 12172-73-5 do


CAS;

20
20
iii) Amianto antofilite, n.º 77536-67-5 do CAS;

iv) Crisótilo, n.º 12001-29-5 do CAS;

v) Crocidolite, n.º 12001-28-4 do CAS;

vi) Amianto tremolite, n.º 77536-68-6 do CAS;

b) «Fibras respiráveis de amianto» as fibras com comprimento superior a 5 µm e


diâmetro inferior a 3 µm, cuja relação entre o comprimento e o diâmetro seja
superior a 3:1;

c) «Poeiras de amianto» as partículas de amianto em suspensão no ar ou


depositadas mas susceptíveis de ficarem em suspensão no ar;

d) «Trabalhador exposto» qualquer trabalhador que desenvolva uma actividade


susceptível de apresentar risco de exposição a poeiras de amianto ou de materiais
que contenham amianto;

e) «Valor limite de exposição» o valor de concentração de fibras respiráveis de


amianto, medido ou calculado relativamente a uma média ponderada no tempo
para um período diário de oito horas.

Notificação (art. 3º)

Sempre que um trabalhador esteja exposto a poeiras do amianto a Autoridade


para as Condições de Trabalho (ACT) devem ser notificadas pelo menos 30 dias
antes de iniciar os trabalhos e deve conter os seguintes elementos:

a) Identificação do local de trabalho


b) Tipo e quantidade de amianto utilizado ou manipulado
c) Identificação da actividade e dos processos aplicados
d) Nº de trabalhadores envolvidos
e) Data de inicio dos trabalhos e sua duração
f) Medidas preventivas a aplicar para limitar a exposição dos trabalhadores ás
poeiras de amianto
g) Identificação da empresa responsável pelas actividades caso seja contratada
para o efeito

Sempre que haja alteração das condições de trabalho que deram origem à
1ª notificação deve ser renovada a notificação à (ACT)

Todos os trabalhadores e os seus representantes em SHST têm acesso aos


documentos das notificações

Valor limite da exposição (art. 4º)

0,1 Fibra por centímetro cúbico como valor limite

21
21
Actividades proibidas (art. 5º)

São proibidas as actividades que exponham os trabalhadores a fibras de amianto


aquando:

• Da extracção do amianto
• Do fabrico e da transformação de produtos que contenham amianto

Estas proibições não se aplicam ao tratamento e deposições em aterros dos


produtos resultantes da demolição e da remoção do amianto

Avaliação de riscos (art. 6º)

Compete ao empregador avaliar os riscos de exposição a poeiras de amianto


para os trabalhadores, em todas actividades que possam estar expostas, bem
como:

• Determinar a natureza do amianto


• O grau e o tempo de exposição

Redução da exposição (art. 7º)

1. O empregador utiliza todos os meios disponíveis para que, no local de


trabalho, a exposição dos trabalhadores a poeiras de amianto ou de
materiais que contenham amianto seja reduzida ao mínimo e, em qualquer
caso, não seja superior ao valor limite de exposição.
2. Para efeitos do disposto no número anterior, o empregador utiliza
nomeadamente as seguintes medidas de prevenção:
a) Redução ao mínimo possível do número de trabalhadores expostos
ou susceptíveis de estarem expostos a poeiras de amianto ou de
materiais que contenham amianto;
b) Processos de trabalho que não produzam poeiras de amianto ou, se
isso for impossível, que evitem a libertação de poeiras de amianto na
atmosfera, nomeadamente por confinamento, exaustão localizada ou
via húmida;
c) c) Limpeza e manutenção regulares e eficazes das instalações e
equipamentos que sirvam para o tratamento do amianto;
d) Transporte e armazenagem do amianto, dos materiais que libertem
poeiras de amianto ou que contenham amianto em embalagens
fechadas e apropriadas.

3. O empregador assegura que os resíduos, com excepção dos resultantes da


actividade mineira, sejam recolhidos e removidos do local de trabalho com a
maior brevidade possível, em embalagens fechadas apropriadas, rotuladas

22
22
com a menção «Contém amianto», de acordo com a legislação aplicável
sobre classificação, embalagem e rotulagem de substâncias e preparações
perigosas.
4. Os resíduos referidos no número anterior são tratados de acordo com a
legislação aplicável aos resíduos perigosos.

Determinação da concentração de amianto no ar (art. 8º)

1 — O empregador, tendo em conta os resultados da avaliação inicial dos riscos,


procede regularmente à medição da concentração das fibras de amianto nos locais
de trabalho a fim de assegurar o cumprimento do valor limite de exposição.

2 — A medição da concentração das fibras de amianto na atmosfera dos locais de


trabalho tem apenas em conta as fibras respiráveis de amianto.

3 — A amostra deve ser representativa da exposição pessoal do trabalhador às


poeiras de amianto ou de materiais que contenham amianto.

4 — A colheita da amostra deve ser realizada por pessoal com a qualificação


adequada, por período cuja duração seja de modo que, por cada medição ou
cálculo ponderado no tempo, seja possível determinar uma exposição
representativa relativamente a um período de referência de oito horas.

5 — A contagem de fibras é efectuada, preferencialmente, pelo método da


microscopia de contraste de fase (método de filtro de membrana), recomendado
pela Organização Mundial de Saúde, ou por outro método que garanta resultados
equivalentes, em laboratórios qualificados.

Ultrapassagem dos valores limite de exposição (art. 9º)

1 — Nas situações em que seja ultrapassado o valor limite de exposição, o


empregador:

a) Identifica as causas da ultrapassagem do valor limite;

b) Adopta as medidas de correcção adequadas o mais rapidamente possível;

c) Corrige as medidas de prevenção e protecção de modo a evitar a


ocorrência de situações idênticas.

2 — O trabalho na zona afectada só pode prosseguir após a adopção das medidas


adequadas à protecção dos trabalhadores.

3 — O empregador procede a nova determinação da concentração de amianto na


atmosfera do local de trabalho de modo a verificar a eficácia das medidas de
correcção referidas no n.º 1.

23
23
4 — Nas situações em que não seja possível tecnicamente reduzir a exposição
para valor inferior ao valor limite de exposição é obrigatória a utilização pelos
trabalhadores de equipamento de protecção individual das vias respiratórias.

5 — A utilização de equipamento de protecção individual das vias respiratórias é


limitada ao tempo estritamente necessário.

6 — Os períodos de trabalho em que seja utilizado equipamento de protecção


individual das vias respiratórias compreendem pausas cuja duração tenha em conta
o esforço físico e as condições climatéricas, determinadas mediante consulta dos
representantes dos trabalhadores para a segurança, higiene e saúde no trabalho.

Trabalhos de manutenção, reparação, remoção ou demolição (art. 10º)

1 — Antes do início dos trabalhos referidos no artigo 1.º, o empregador identifica os


materiais que presumivelmente contêm amianto, nomeadamente pelo recurso a
informação prestada pelo proprietário do imóvel ou, no caso de equipamento ou
outra coisa móvel, disponibilizada pelo fabricante.

2 — Nas situações em que existe dúvida sobre a presença de amianto são


aplicáveis as disposições do presente decreto-lei.

3 — Nas situações em que se preveja a ultrapassagem do valor limite de


exposição, o empregador, além das medidas técnicas preventivas destinadas a
limitar as poeiras de amianto, adopta medidas que reforcem a protecção dos
trabalhadores durante essas actividades, nomeadamente:

a) Fornecimento de equipamentos de protecção individual das vias


respiratórias e outros equipamentos de protecção individual, cuja utilização é
obrigatória;

b) Colocação de painéis de sinalização com a advertência de que é


previsível a ultrapassagem do valor limite de exposição;

c) Não dispersão de poeiras de amianto ou de materiais que contenham


amianto para fora das instalações ou do local da acção.

Elaboração e execução do plano de trabalhos (art. 11º)

1. O empregador está obrigado a elaborar um plano de trabalhos antes de


iniciar a actividade de remoção do amianto
2. O plano de trabalhos inclui as medidas indispensáveis à segurança e saúde
dos trabalhadores, bem como à protecção de pessoas e bens e do ambiente,
designadamente respeitantes a:

a) Remoção do amianto ou dos materiais que contenham amianto


antes da aplicação das técnicas de demolição, salvo se a remoção
representar para os trabalhadores um risco superior do que a
manutenção no local do amianto ou dos materiais que contenham
amianto;

24
24
b) Utilização de equipamentos de protecção individual pelos
trabalhadores, sempre que necessário;

c) Logo que os trabalhos de demolição ou de remoção do amianto


sejam concluídos, verificação da ausência de riscos de exposição ao
amianto nesse local.

3. O plano de trabalhos deve conter as seguintes especificações:


a. A natureza dos trabalhos com a indicação do tipo de actividade a que
corresponde
b. Duração provável dos trabalhos
c. Os métodos de trabalho a utilizar tendo em conta o tipo de material a
manipular
d. Indicação do local a efectuar os trabalhos
e. Deve descriminar as características dos equipamentos de protecção
dos trabalhadores
f. Deve mencionar as medidas que evitem a exposição de pessoas na
proximidade
g. A lista nominal dos trabalhadores, a indicação da categoria
profissional, formação e experiência na realização dos trabalhos
h. Identificação da empresa, do técnico responsável pela aplicação dos
procedimentos de trabalho e pelas medidas preventivas
i. Indicação da empresa responsável pela eliminação dos resíduos de
acordo com a legislação aplicável
4. A realização dos trabalhos depende da autorização prévia da ACT depois da
aprovação do plano de trabalho e o reconhecimento de competências da
empresa que os executa
5. O empregador que contrate a realização de trabalhos deve pedir a cópia à
empresa contratada do plano de trabalho aprovado pela ACT e o
reconhecimento de competências
6. O plano de trabalho deve estar acessível no local de trabalho a todos os
trabalhadores e aos seus representantes em SHST

Medidas gerais de higiene (art. 12º)

1. As áreas de trabalho onde os trabalhadores estão ou podem estar expostos


a poeiras de amianto ou de materiais que contenham amianto são
claramente delimitada e identificadas por painéis.
2. Às áreas de trabalho referidas no número anterior só podem ter acesso os
trabalhadores que nelas prestem actividade ou que a elas necessitem de se
deslocar em virtude das suas funções
3. É proibido fumar nas áreas de trabalho onde haja riscos de exposição a
poeiras de amianto.
4. Nas áreas de trabalho referidas nos números anteriores ou na sua
proximidade deve existir um local adequado onde os trabalhadores possam
comer e beber sem risco de contaminação por poeiras de amianto.

25
25
Equipamentos de protecção individual EPI (art. 13º)

O empregador fornece os EPIs adequados aos riscos de acordo com a


legislação aplicável e são:

a) Colocados em locais apropriados;


b) Verificados e limpos após cada utilização;
c) Reparados e substituídos antes de nova utilização caso se encontrem
deteriorados ou com defeitos.

Vestuário de trabalho ou protecção (art.14º)

1) O empregador fornece aos trabalhadores vestuário de trabalho ou de


protecção adequados, nomeadamente impermeáveis a poeiras de amianto.
2) O vestuário de trabalho ou de protecção utilizado pelos trabalhadores e que
seja reutilizável permanece na empresa e é lavado em instalação apropriada
e equipada para essas operações.
3) Se o vestuário de trabalho ou de protecção referido no número anterior for
lavado em instalação exterior à empresa, é transportado em recipiente
fechado e devidamente rotulado.

Instalações sanitárias, vestiários (art. 15º)

1) O empregador põe à disposição dos trabalhadores instalações sanitárias e


vestiário adequados, nos termos da legislação aplicável.
2) O empregador deve dispor de cabinas de banho com chuveiro junto das
áreas de trabalho, quando as operações evolvem exposições a poeiras
3) O vestiário inclui espaços independentes para o vestuário de trabalho ou de
protecção e para o de uso pessoal

Formação específica dos trabalhadores (art. 16º)

1 — O empregador assegura regularmente a formação específica adequada dos


trabalhadores expostos ou susceptíveis de estarem expostos a poeiras de amianto
ou de materiais que contenham amianto, sem encargos para os mesmos.

2 — A formação referida no número anterior deve ser facilmente compreensível e


permitir a aquisição dos conhecimentos e competências necessários em matéria de
prevenção e de segurança, nomeadamente no respeitante a:

a) Propriedades do amianto e seus efeitos sobre a saúde, incluindo o efeito


sinérgico do tabagismo;

b) Tipos de produtos ou materiais susceptíveis de conterem amianto;

c) Operações que podem provocar exposição a poeiras de amianto ou de


materiais que contenham amianto e a importância das medidas de
prevenção na minimização da exposição;

26
26
d) Práticas profissionais seguras, controlos e equipamentos de protecção;

e) Função do equipamento de protecção das vias respiratórias, escolha,


utilização correcta e limitações do mesmo;

f) Procedimentos de emergência;

g) Eliminação dos resíduos;

h) Requisitos em matéria de vigilância médica.

3 — A formação prevista no presente artigo está abrangida pelo regime do Código


do Trabalho para a formação contínua de activos, devendo ser emitido e entregue a
cada trabalhador documento comprovativo da frequência da respectiva acção
formativa, duração, data da conclusão e aproveitamento obtido.

Informação específica dos trabalhadores (art. 17º)

1 — Sem prejuízo do disposto na legislação geral em matéria de informação e


consulta, o empregador assegura aos trabalhadores expostos, assim como aos
respectivos representantes para a segurança, higiene e saúde no trabalho,
informação adequada sobre:

a) Os riscos para a saúde resultantes de exposição a poeiras de amianto ou


de materiais que contenham amianto;

b) O valor limite de exposição;

c) A obrigatoriedade da medição da concentração do amianto na atmosfera


do local de trabalho;

d) As medidas de higiene, incluindo a necessidade de não fumar;

e) As precauções a tomar no transporte e utilização de equipamentos e de


vestuário de trabalho ou de protecção;

f) As medidas especiais adoptadas para minimizar o risco de exposição a


poeiras de amianto ou de materiais que contenham amianto;

g) Os resultados das medições sobre a concentração de amianto na


atmosfera, acompanhados sempre que necessário de explicações
adequadas à compreensão dos mesmos.

2 — O empregador assegura, ainda, que os trabalhadores e os seus


representantes para a segurança, higiene e saúde no trabalho sejam informados,
com a maior brevidade possível, sobre situações de ultrapassagem do valor limite
de exposição e as suas causas.

3 — A informação deve ser prestada na forma e suporte adequados e ser


periodicamente actualizada, de modo a incluir qualquer alteração verificada.

27
27
Vigilância da saúde dos trabalhadores (art. 19º)

1 — Sem prejuízo das obrigações gerais em matéria de saúde no trabalho, o


empregador assegura a vigilância adequada da saúde dos trabalhadores em
relação aos quais o resultado da avaliação revela a existência de riscos, através de
exames de saúde, devendo em qualquer caso o exame de admissão ser realizado
antes da exposição aos riscos.

2 — A vigilância da saúde referida no número anterior deve permitir a aplicação dos


princípios e práticas da medicina do trabalho de acordo com os conhecimentos
mais recentes, ser baseada no conhecimento das condições ou circunstâncias em
que cada trabalhador foi ou possa ser sujeito à exposição ao risco e incluir no
mínimo os seguintes procedimentos:

a) Registo da história clínica e profissional de cada trabalhador;

b) Entrevista pessoal com o trabalhador;

c) Avaliação individual do seu estado de saúde, que inclui um exame


específico ao tórax;

d) Exames da função respiratória, nomeadamente a espirometria e a curva


de débito-volume.

3 — O médico responsável pela vigilância da saúde do trabalhador requer, se


necessário, a realização de exames complementares específicos, designadamente
análise citológica da saliva, radiografia do tórax, tomografia computorizada ou outro
exame pertinente em face dos conhecimentos mais recentes da medicina do
trabalho.

4 — Os exames de saúde referidos nos números anteriores são realizados com


base no conhecimento de que a exposição às fibras de amianto pode provocar as
seguintes afecções:

a) Asbestose;

b) Mesotelioma;

c) Cancro do pulmão;

d) Cancro gastrointestinal.

Resultado da vigilância da saúde (art. 20º)

1 — Em resultado da vigilância da saúde, o médico do trabalho:

a) Informa o trabalhador em causa do resultado;

b) Dá indicações sobre a eventual necessidade de continuar a vigilância de


saúde depois de terminada a exposição;

28
28
c) Comunica ao empregador o resultado da vigilância da saúde com
interesse para a prevenção de riscos, sem prejuízo do sigilo profissional a
que se encontra vinculado.

2 — O empregador, tendo em conta o referido na alínea anterior:

a) Repete a avaliação dos riscos, a realizar nos termos do artigo 6.º;

b) Com base no parecer do médico do trabalho, adopta eventuais medidas


individuais de protecção ou de prevenção e atribui, se necessário, ao
trabalhador em causa outra tarefa compatível em que não haja risco de
exposição;

c) Promove a vigilância contínua da saúde do trabalhador;

d) Assegura a qualquer trabalhador que tenha estado exposto a poeiras de


amianto um exame de saúde, incluindo a realização de exames especiais.

3 — O trabalhador tem acesso, a seu pedido, ao registo de saúde que lhe diga
respeito.

Registo e arquivo de documentos (art. 21º)

O empregador organiza os registos de dados mantêm os arquivos actualizados


sobre:

a) Os resultados da avaliação dos riscos bem como os critérios e


procedimentos da avaliação utilizados;

b) Os métodos de colheita, as datas, o número, a duração, a localização, os


resultados e a análise de cada uma das colheitas de amostras realizadas
para determinar o nível de exposição geral e o de cada trabalhador;

c) A identificação dos trabalhadores expostos, com indicação, para cada um,


do posto de trabalho ocupado, da natureza e duração da actividade e do
grau de exposição a que esteve sujeito;

d) Os resultados da vigilância da saúde de cada trabalhador, com referência


ao respectivo posto de trabalho;

e) A identificação do médico responsável pela vigilância da saúde.

Conservação de registos e arquivos (art. 22º)

O empregador deve guardar os registos durante pelo menos: 40 ANOS

Caso a empresa cesse a actividade os registos e arquivos devem ser entregues à


ACT que garante a sua confidencialidade

29
29
Exposições esporádicas e de fraca intensidade (art. 23º)

Pode não ser aplicado o disposto nos artigos: 3º; 11º; 19º; 20º; 21º; e 22º se os
trabalhos implicarem:

a) Actividades de manutenção descontínuas e de curta duração em que o


trabalho incida apenas sobre materiais não friáveis;

b) Remoção sem deterioração de materiais não degradados em que as fibras


de amianto estão firmemente aglomeradas;

c) Encapsulamento e revestimento de materiais que contenham amianto, que


se encontrem em bom estado;

d) Vigilância e controlo da qualidade do ar e recolha de amostras para


detectar a presença de amianto num dado material.

Autorização dos trabalhos pela ACT (art. 24º)

1 — A aprovação do plano de trabalhos e o reconhecimento das competências para


os realizar a que se refere o artigo 11.º é efectuada por meio de autorização
mediante requerimento entregue na Autoridade para as Condições de Trabalho,
pelo menos, 30 dias antes do início da actividade.

2 — O requerimento referido no número anterior deve ser devidamente


fundamentado e instruído com os seguintes elementos:

a) Identificação completa do requerente;

b) Local, natureza, início e termo previsível dos trabalhos;

c) Tipo e quantidade de amianto manipulado;

d) Comprovação da formação específica dos técnicos responsáveis e


demais trabalhadores envolvidos, designadamente quanto aos respectivos
conteúdos programáticos e duração;

e) Descrição do dispositivo relativo à gestão, à organização e ao


funcionamento das actividades de segurança, higiene e saúde no trabalho;

f) Indicação do laboratório responsável pela medição da concentração de


fibras de amianto no ambiente de trabalho;

g) Exemplar do plano de trabalhos e da planta do local da realização dos


trabalhos;

h) Lista dos equipamentos a usar, considerados adequados às


especificidades dos trabalhos a executar, que obedeçam à legislação

30
30
aplicável sobre concepção, fabrico e comercialização de equipamentos,
tendo por referencial o elenco exemplificativo que consta em anexo ao
decreto-lei, do qual faz parte integrante.

3 — Os títulos ou certificados emitidos no âmbito da União Europeia são válidos


para a instrução do processo de autorização.

4 — A Autoridade para as Condições de Trabalho emite documento de autorização


contendo a identificação do requerente e dos trabalhos a realizar, as eventuais
condicionantes da sua atribuição, bem como a delimitação temporal da sua
validade.

5 — A Autoridade para as Condições de Trabalho pode revogar as autorizações


sempre que haja alteração dos pressupostos da sua atribuição.

6 — O titular da autorização está obrigado à devolução do respectivo documento à


Autoridade para as Condições de Trabalho sempre que haja lugar a alteração do
seus termos ou a mesma seja revogada.

7 — O titular da autorização deve afixar cópia do documento de autorização no


local da realização dos trabalhos, de forma bem visível.

Complemento

Neste capitulo vou fazer referencia e se possível ilustração do anexo que


complementa o Decreto-Lei nº 266/2007 em que é referida a lista de equipamentos
adequados ao exercício de trabalhos em edifícios, estruturas, aparelhos,
instalações, bem como em aeronaves, material circulante ferroviário, navios ou
veículos, que envolva demolição ou remoção de amianto ou de materiais que o
contenham (a que se refere a alínea h) do n.º 2 do artigo 24.º).

31
31
1 — Materiais para vedação e limitação das zonas de trabalho, designadamente;
fitas, barreiras, rótulos e material de sinalização.

2 — Materiais de protecção contra a propagação da contaminação.

3 — Equipamento apropriado
apropriado para visualização clara e supervisão do trabalho e
dos trabalhadores na zona confinada, quando necessário.

32
32
4 — Gerador de fumo para ensaios e verificação da estanquidade das zonas
confinadas.

5 — Equipamento de protecção individual, designadamente fatos descartáveis ou


reutilizáveis, botas e luvas laváveis.

6 — Aparelhos de protecção respiratória individual dotados de filtros de alta


eficiência ou aparelhos respiratórios com fornecimento de artigo.

33
33
7 — Unidade de descontaminação inteiramente
inteiramente lavável, com o número de
compartimentos separados entre si por portas automáticas, determinados em
função da actividade desenvolvida e dos equipamentos de protecção utilizados,
com chuveiro de água quente adaptável e áreas separadas para o vestuário limpo
l e
o vestuário de trabalho contaminado, equipado com uma unidade de pressão
negativa para manter a ventilação no interior da unidade de descontaminação

8 — Unidade de pressão negativa para manter a ventilação no interior das zonas


confinadas, dotado
o de exaustor com filtro de partículas de alta eficiência (HEPA).

9 — Aparelho para medir a pressão negativa com pelo menos dois canais.

10 — Aspirador de partículas de alta eficiência, com filtros HEPA fabricados


segundo as especificações internacionais
internacionais relativas à utilização com amianto.

11 — Equipamento de supressão de poeiras.

34
34
12 — Pulverizador para aplicação de aglutinantes de fibras de amianto.

13 — Gerador de emergência para os casos de avaria ou de interrupção da rede


eléctrica.

14 — Equipamento para filtração das águas residuais contaminadas com amianto.

15 — Equipamento de limpeza e produtos descartáveis.

16 — Máquina de lavar destinada ao tratamento do vestuário utilizado antes do


ingresso na zona confinada e durante as pausas do trabalho.

De seguida vou enumerar uma lista não exaustiva de rubricas que devem ser
incluídas ou tidas em conta no plano de trabalho. Destina-se a cobrir as questões
relativas aos trabalhos notificáveis (art. 1º do Decreto-Lei 266/2007). Para os
trabalhos de baixo risco, o plano de trabalho pode ser menos abrangente mas deve
incluir as secções ou rubricas assinaladas com um asterisco(*).

* Página de cobertura
Sob o nome da organização que vai executar os trabalhos:
⇒ Data de publicação;
⇒ Designação geral do projecto (remoção de amianto, encapsulamento, etc.);
⇒ Natureza do material que contém amianto;
⇒ Autorizações ou licenças nacionais para empreender o trabalho (se exigido
pela legislação nacional), data e duração dos trabalhos;
⇒ Nome do director da obra; nome do cliente;
⇒ Morada exacta do estaleiro;
⇒ Nome do médico (nos Estados-Membros em que houver um médico
implicado na gestão da saúde e segurança);
⇒ Data prevista para o início do estaleiro.

35
35
* Informações administrativas
⇒ Empreiteiro ou entidade que vai realizar os trabalhos nos materiais que
contêm amianto (nome do director oficial, representante no estaleiro,
respectivas moradas, números de telefone e de fax);
⇒ Responsáveis pela execução dos trabalhos (telefone, fax);
⇒ Consultor designado no estaleiro;
⇒ Laboratório responsável pelas medições no estaleiro (morada, telefone, fax);
⇒ Subempreiteiros, nomeadamente para os trabalhos preparatórios;
⇒ Lista das entidades oficiais implicadas.

* Informações sobre estaleiro


⇒ * Localização (p. ex., loja situada num centro comercial);
⇒ * Natureza dos trabalhos; o tratamento, remoção e/ou encapsulamento
previstos; o tipo(s) de amianto (crocidolite, crisótilo, etc.); o natureza e
estado dos materiais que contêm amianto, respectivas quantidades e
extensão;
⇒ * Programação dos trabalhos, bem como respectiva execução (datas e
horas);
⇒ Pessoal;
⇒ Programação diária;
⇒ Zonas designadas;
⇒ Sinalização (tipos de sinais, número e localização);
⇒ Itinerário da eliminação dos resíduos;
⇒ Localização da unidade de descontaminação;
⇒ Equipamentos colectivos;
⇒ Factores específicos característicos do estaleiro (outras actividades na
vizinhança, temperatura, ar condicionado ou sistemas de aquecimento,
trabalho em altura, etc.);

Factores com incidência no plano de remoção ou encapsulamento


⇒ Análise dos riscos devidos ao amianto e a outros factores, associados ao
local de trabalho (p. ex., com electricidade, gás, vapor, incêndio, máquinas,
trabalho em altura) ou aos materiais e equipamento utilizados;
⇒ Medições das concentrações de fibras (ou concentrações de fibras de
amianto) antes da intervenção;
⇒ Provável exposição ao amianto durante a remoção ou encapsulamento.

Preparação do estaleiro (zona confinada, etc.)


⇒ Instalações para o pessoal (zonas de repouso e instalações sanitárias);
⇒ Vedação e sinalização da zona;
⇒ Impacto noutras actividades no edifício ou na vizinhança.

Trabalhos preparatórios
⇒ Remoção de mobiliário e materiais;
⇒ Criação de redes de abastecimento e de evacuação (electricidade, água,
renovação do ar);
⇒ Adaptação dos sistemas do edifício na zona dos trabalhos (alarmes de
incêndio, electricidade, gás, aquecimento central, ar condicionado etc.);
⇒ Materiais e equipamento necessários ao trabalho.

36
36
Preparação da zona de trabalho com o amianto
⇒ Isolamento e confinamento;
⇒ Obtenção da pressão negativa;
⇒ Limpeza prévia da zona de trabalho, bem como remoção de dispositivos
eléctricos e acessórios ou protecção dos que vão permanecer no local;
⇒ Confinamento da zona (procedimentos de trabalho seguros, materiais e
saídas de emergência);
⇒ Pressão negativa e características da extracção do ar;
⇒ Ensaios de fumo, processo e critérios de aceitabilidade.

Remoção ou encapsulamento do amianto


⇒ Métodos (injecção, pulverização, decapagem manual etc.), equipamento
(equipamento de injecção, pulverizadores) e materiais (agentes molhantes,
produtos de limpeza etc.),
⇒ Protecção dos trabalhadores (equipamento de protecção respiratória);
⇒ Procedimentos de controlo da qualidade (dos métodos de trabalho e da
eficácia do tratamento).

Programação dos controlos (verificação e medições)


⇒ Plano de amostragem para o período dos trabalhos;
⇒ Sistemas de verificação e controlo da estanquidade do confinamento;
⇒ Plano dos pontos de amostragem previstos.

Remoção de resíduos
⇒ Estado dos resíduos (amianto e não amianto), procedimentos para o seu
manuseamento;
⇒ Eliminação de resíduos, armazenagem em condições de segurança no
estaleiro e processo de eliminação nos locais autorizados.

Fig. 14: O amianto é colocado em


sacos de polietileno para ser
enviado para aterros devidamente
autorizadas a receber produtos
tóxicos. Os resíduos de amianto
serão previamente colocados em
pequenos sacos (Sacos A), que
depois serão colocados em grandes
sacos (Big Bag).

37
37
Limpeza da zona de trabalho
⇒ Métodos operacionais de remoção dos revestimentos e subsequente limpeza
das superfícies em causa;
⇒ Métodos de descontaminação de materiais e equipamento utilizados no
trabalho;
⇒ Inspecção visual e verificação da limpeza; sistema de regulação da pressão
negativa; pessoa designada responsável pelos sistemas de controlo.

Devolução da zona à sua utilização normal após a execução dos trabalhos


⇒ Amostragem para detecção da presença de fibras de amianto no ar, plano
de amostragem e laboratório responsável;
⇒ Remoção definitiva do equipamento utilizado.

Descrição e características dos materiais e do equipamento utilizados durante


os trabalhos
⇒ Equipamento para o pessoal (inclusive o tipo de equipamento de protecção
respiratória);
⇒ Unidade de descontaminação (e registo dos ensaios que confirmem não
estar contaminada por trabalhos precedentes);
⇒ Zona confinada e respectivo equipamento;
• dimensão da zona confinada;
• unidades de pressão negativa (número e capacidade, taxa de renovação
do ar);
• câmaras intermédias, câmaras para sacos;
• esquentadores, filtros de água;
• iluminação;
• equipamento de injecção e demais equipamento de supressão de
poeiras;
• equipamento de emergência;
⇒ Produtos descartáveis (filtros, etc.).

Procedimentos de emergência
⇒ Socorristas; procedimentos de emergência em situações de urgência e
gravidade variáveis;
⇒ Procedimentos definidos para intervenções de emergência;
⇒ Comunicações (para pedir socorro a partir do interior da zona confinada);
⇒ Coordenação com serviços de emergência externos.

Planos e plantas do estaleiro


⇒ Localização do estaleiro / zona confinada relativamente a outras actividades
e empresas;
⇒ Zona confinada, sua dimensão e forma, bem como localização de:
• janelas e circuito interno de televisão (se necessário);unidades de
pressão negativa e respectivos pontos de exaustão do ar;
• aspiradores de amianto (tipo H);
• câmaras para sacos, itinerário do transporte de resíduos, armazenagem
de resíduos em condições de segurança (p. ex., contentores);
⇒ Localização da unidade de descontaminação e vias de circulação (se a
unidade de descontaminação não estiver directamente ligada à zona
confinada) e câmara intermédia de acesso à zona confinada;

38
38
⇒ Disposição das redes e instalações envolvidas na execução dos trabalhos
(p. ex., pontos de admissão de ar, abastecimento de água e electricidade
para a unidade de descontaminação);
⇒ Localização das saídas se for utilizada uma rede de abastecimento de ar
comprimido ao equipamento de protecção respiratória.

Fig. 15: Entrada numa zona


confinada podendo ver-se, no
sentido dos ponteiros do relógio,
começando no topo, a câmara
para sacos, o contentor de
resíduos, a janela, o aparelho de
registo da pressão negativa, a
unidade de pressão negativa, a
unidade de abastecimento de
energia eléctrica, o stock de
agente molhante e a unidade de
descontaminação.

SUBSTITUIÇÃO VIÁVEL

Especialistas no assunto afirmam que são muitos os materiais que podem


substituir o amianto, como fibras de vidro, lã de rocha, PVC, PVA, lã de vidro,
alumínio, fibras de aramida, fibras de celulose e outras. Entretanto, promover uma
substituição total no mundo não é uma tarefa simples, já que há inúmeros
interesses político-económicos em jogo. Todavia, as pressões ambientais estão a
ter um efeito positivo no sector de telhas e caixas de água, cujas empresas já estão
promovendo mudanças para se adequar à legislação, que prevê a substituição total
em 2005. O segmento de construção civil está antecipando esta norma para, em
dois anos, não depender mais do amianto.

AVALIAÇÃO SUMÁRIA GERAL

O amianto continua a ser a principal toxina cancerígena a afectar os


trabalhadores europeus. Fora do local de trabalho, o amianto é a segunda causa
ambiental de cancro, imediatamente a seguir ao tabaco. Tanto os produtos de
amianto utilizados nas casas de habitação e edifícios comerciais europeus como os
resíduos de amianto presentes no meio ambiente continuam a gerar níveis
inigualáveis de doença e morte nos Estados-Membros da União Europeia.
A saúde e segurança de trabalhadores é muitas vezes secundária em
relação aos lucros das empresas. Décadas de ganância empresarial tiveram efeitos
catastróficos para as vidas de milhões de trabalhadores em todo o mundo.
O amianto não é unicamente um problema europeu; as empresas
multinacionais estão a exportar esta substância prejudicial para países em que a
protecção social e sanitária está menos desenvolvida do que na Europa.
Segundo Xavier Jonckheere, presidente da Associação Belga das Vítimas do
Amianto (ABEVA), “o amianto afecta todos os países do planeta. É como um polvo

39
39
que abre os seus tentáculos. Aquilo que é proibido nos nossos países está agora a
ser feito noutros locais – onde as normas laborais não são tão rigorosas, não existe
nenhuma protecção e os grupos de pressão ligados ao amianto ainda são
poderosos.”
Actualmente, decisores e consumidores nos países em desenvolvimento são
visados por campanhas publicitárias agressivas, financiadas com milhões de
dólares provenientes do amianto. O incremento no consumo de amianto nos países
que dispõem de pouca informação sobre as consequências a longo prazo da
exposição ao amianto, sem legislação específica sobre esta substância, sem
controlo do cumprimento da legislação vigente, sem inspecções oficiais dos locais
de trabalho, sem indemnizações, sem serviços de saúde e segurança social,
constitui motivo de séria preocupação. A vulnerabilidade dos trabalhadores da
construção civil nestes países transformou a exploração numa rotina. Não raro
analfabetos, muitos vivem com as suas famílias nos estaleiros de construção ou
nas bermas das estradas. Neste contexto, para Fiona Murie, directora de saúde e
segurança na Federação Internacional dos Trabalhadores da Construção Civil e da
Madeira (IFBWW), a noção de «utilização controlada» do amianto é «uma piada de
mau gosto».
A IFBWW promove uma campanha contra o amianto desde os anos 80. Os
sindicalistas chilenos estiveram na primeira linha do movimento para a proibição do
amianto. Através do trabalho com um grupo de vítimas do amianto, conseguiram
denunciar as práticas nefandas de Pizzarreno, um membro do grupo Eternit, que se
recusou a reconhecer ou a indemnizar as famílias enlutadas de 300 trabalhadores
de 11 fábricas de fibrocimento vitimados por doenças provocadas pelo amianto.
Recorrendo a técnicas de manifestação aperfeiçoadas durante os anos da ditadura
de Pinochet, foram organizadas «funas» à porta das casas de executivos da
Pizzarreno para denunciar a sua participação pessoal na conduta vergonhosa da
empresa e exercer pressão no sentido da proibição nacional do amianto. Em 2001,
o Chile tornou-se o primeiro país da América Latina a proibir o amianto.
A IFBWW, em colaboração com outras organizações laborais mundiais, tem
exercido um lóbi junto da OIT para que esta adopte uma posição sobre a proibição
global do amianto com base em argumentos de saúde. Infelizmente, muitos
governos europeus não têm «ajudado». Determinados a tirar partido do status quo,
o Reino Unido, a Holanda e a Dinamarca, entre outros, têm resistido a nova
legislação, tratados multilaterais ou novas convenções sobre normas do trabalho. A
Convenção n.º 162 da OIT está a ser deliberadamente distorcida por lobitas do
amianto no Brasil e não só, que a citam para justificar a propaganda da indústria
em prol da «utilização controlada».
A Organização Mundial da Saúde (OMS), que concordou em fazer da
erradicação da asbestose uma prioridade, tem igualmente de se debruçar sobre as
consequências das exposições ambientais. Entre os objectivos da IFBWW, contam-
se:
• a necessidade de uma proibição global do amianto;
• a inclusão do crisótilo (amianto branco) na lista de Prévia Informação e
Consentimento (PIC ) da Convenção da Roterdão;
• a protecção de trabalhadores, como os carpinteiros e canalizadores, contra
os riscos de exposição ao amianto;
• a erradicação da decapagem a seco para remoção do amianto por
empresas não licenciadas que empregam trabalhadores sem formação e da
deposição ilegal de amianto;
• a necessidade de melhorar os direitos e condições dos trabalhadores, bem
como de pôr termo às práticas laborais informais e sem controlo.

40
40
PÓS-PROIBIÇÃO

Na Europa da pós-proibição, é nosso dever actuar para que os lesados não


sejam esquecidos. A falta de controlo da aplicação da legislação comunitária em
matéria de amianto continua a pôr vidas em risco. Os cientistas, confirmam a
existência de uma epidemia europeia de amianto que reclamará 400 000-500 000
vidas na Europa Ocidental até 2030. O maior desafio da Europa, pós-proibição,
será saber gerir as graves consequências da fraca sensibilização do público e dos
profissionais para as questões relacionadas com o amianto. A necessidade de
combater a falta de informação foi considerada uma das principais prioridades
pelos delegados presentes na Conferência Europeia do Amianto: Política, Saúde e
Direitos Humanos, que concordaram igualmente ser crucial desenvolver uma acção
global coordenada. Para reforçar os esforços dos trabalhadores e dos políticos à
escala global, foi lançada uma petição, publicada no dia 28 de Abril 2005,
exprimindo as opiniões das vítimas do amianto, dos activistas ligados à saúde
pública, dos profissionais de saúde, dos cidadãos e ONG envolvidos nas
campanhas, onde se declara que: “Num espírito de humanidade e igualdade,
declaramos que cada ser humano tem o direito de viver e trabalhar num ambiente
saudável. É inaceitável que uma substância demasiado perigosa para ser utilizada
na União Europeia seja utilizada na Ásia, África e América Latina; é inaceitável que
um país industrializado despeje os navios contaminados com amianto num país em
desenvolvimento. A proibição global do amianto é o primeiro passo na campanha
para libertar a humanidade da ameaça que representa actualmente o amianto. Para
pôr fim ao flagelo do amianto, assumimos o compromisso de trabalhar em conjunto
para alcançar o nosso objectivo.”

41
41
LISTA DE ALGUNS PAÍSES QUE ABOLIRAM A UTILIZAÇÃO DO AMIANTO:

I
Islândia: 1983 Irlanda do Norte: 1999
Noruega: 1984 Escócia: 1999
El Salvador: (metade da década de 80) República da Irlanda:
Dinamarca: 1986 2000
Suécia: 1986 País de Gales: 1999
Suíça: 1989 Irlanda do Norte: 1999
Áustria: 1990 Escócia: 1999
Holanda: 1991 República da Irlanda:
Finlândia: 1992 2000
Itália: 1992 Chile: 2001
Alemanha: 1993 Argentina: 2001
França: 1996 Espanha: 2002
Eslovénia: 1996 Luxemburgo: 2002
Polónia: 1997 Austrália: 2003
Principado de Mónaco: 1997 Vietname: 2004
Bélgica: 1998 Portugal: 2005*
Arábia Saudita: 1998 Grécia: 2005*
Burkina-Faso: 1998 Japão 2004
Inglaterra: 1999 Honduras 2004
País de Gales: 1999 Uruguai 2002
África do Sul 2004

CONCLUSÃO

Este trabalho sobre amianto, veio despertar em mim a consciência de que


pouco ou nada sabia, sobre um assunto, que nos toca a todos sem excepção. Para
o fazer procurei ser isenta, mas ainda na pesquisa não pude deixar de tomar
partido, pois o problema do amianto é algo para que as pessoas precisam de ser
despertas e consciencializadas. De tudo o que foi dito sobre o assunto, que
procurei que fosse o mais abrangente possível, fiquei com a certeza de que o
despertar para um assunto tão grave passa por uma efectiva campanha por parte
dos governantes e os media, mas nós, como cidadãos temos que saber as leis,
sobre as quais somos guiados.

42
42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CE-V/4-98-005-EN-C-Case-control study of the correlation between lung cancer and


pneumoconiosis in ex-miners in the Nord-pas-de Calais coalfield

http://www.aipa.pt/amiantoz.html

http://www.revistaseguranca.com/- Sessão de Abertura do 2º Fórum Amianto

http://toxtown.nlm.nih.gov/text_version/chemicals.php?id=4

http://pt.wikipedia.org/wiki/Asbesto

http://www.indshop.com.br/carvamach/asbestos.htm

http://www.epa.gov/

http://www.osha.gov/index.html

http://www.lkaz.demon.co.uk/

http://www.icr.ac.uk/

http://www.abrea.com.br/

conferencia europeia 2003

http://www.eurofound.europa.eu/

http://www.ifbww.org/index.cfm?n=2&l=2

http://www.ibas.btinternet.co.uk/

http://www.etuc.org/

ASBESTO (AMIANTO) E DOENÇA: REVISÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO E


FUNDAMENTAÇÃO PARA UMA URGENTE MUDANÇA DA ATUAL POLÍTICA
BRASILEIRA SOBRE A QUESTÃO por René Mendes

Houaiss, António. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Lisboa: Circulo dos


Leitores, 2002. Tomo I

Guia de boas práticas para prevenir ou minimizar os riscos decorrentes do amianto


em trabalhos que envolvam (ou possam envolver) amianto, destinado a
empregadores, trabalhadores e inspectores do trabalho - Guia publicado pelo
Comité de Altos Responsáveis da Inspecção do Trabalho (CARIT)

43
43

Você também pode gostar