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ENSAIOS E PERFORMANCE 2003-2019
CORPOS, SABERES E AFETAÇÕES
EM ESPAÇOS PÚBLICOS E PRIVADOS
Breve CURRÍCULO
Nasci no dia 12 de novembro de 1974 em Buenos Aires, Argentina.
Sou artista de Performance, urbanista, professor e pesquisador de espaços públicos.
Fiz Mestrado em Urbanismo na linha de pesquisa “Processos Urbanos Contemporâneos” (Universidade
Federal da Bahia – UFBA – Salvador, Brasil). Fui membro ativo do grupo de pesquisa “Laboratório Urbano”,
coordenado pela Dra. Paola Berenstein. Fiz Bacharelado em Artes Visuais (Universidade Nacional das
Artes – Ex-IUNA – Buenos Aires, Argentina). Trabalhei como professor de “Linguagem Visual” (2008-
2013, IUNA, Buenos Aires). Cursei Psicologia e tenho experiência em poesia, teatro de rua e clown.
Pesquiso em torno dos Corpos nos espaços públicos, as normas que neles se ativam, e alguns possíveis
modos de desviá-las através de práticas artísticas, políticas de gestão cultural e urbanismo. Há alguns anos
venho desenvolvendo uma metodologia de pesquisa dos territórios chamada “Cartografias Sensíveis em
espaços públicos”.
De 2003 até atualidade trabalho com ações performáticas e Composições Urbanas e, com base nessas
temáticas, tenho realizado Palestras que chamo de (Con)versatórios, e coordenado Oficinas-Laboratórios
na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru e Venezuela.
Durante 2018 coordenei o “NÚCLEO COLABORATIVO DE PESQUISAS COM CARTOGRAFIAS SENSÍVEIS
PARA PERFORMANCE EM ESPAÇOS PÚBLICOS” (CSPEP), no bairro Santa Ifigênia, São Paulo-SP, Brasil.
Em março e abril de 2017 coordenei “EM-TORNO DA PERFORMANCE EM ESPAÇOS PÚBLICOS”. Ciclo de
leitura-debate abordando a Performance pelas bordas (Centro Cultural Alaken, Reynosa, México).
Coordenei também “PROJETO NEPANTLA: violências limiares”. Laboratório cénico e Residência criativa
conformada por cinco artistas de cinco cidades diferentes de Argentina, Brasil e México.
Primeira etapa: 4 de julho de 2016 a 20 de janeiro de 2017. Reuniões semanais em telepresença.
Segunda etapa: 1 a 28 de fevereiro de 2017. Residência no Centro Cultural Alaken, Reynosa, México.
Representei a Argentina na 10ª BIENAL DO MERCOSUL, sendo convidado para realizar uma Performance
duracional (26 a 28 de novembro de 2015, Porto Alegre, Brasil).
Fui convidado a participar da 3ª e 4ª edição de “EXPERIÊNCIAS DE LA CARNE”, Encontro Internacional de
Artistas Gestores (2014 e 2015, Lima, Peru).
Fiz parte da equipe curatorial do II e III “MOLA-Mostra OSSO Latino-Americana de Performance” (2013 e
2014, Bahia, Brasil).
Fui co-organizador de “NÓMADES, Festival Itinerante de Performance e Intervenciones Urbanas” (19 a 29
de outubro de 2012, Rio Ceballos e Buenos Aires, Argentina).
Coordenei a residência artística “EL PUENTE” (2008-2013 bairro de La Boca, Buenos Aires, Argentina).
Para conhecer mais um pouco sobre a trajetória que venho transitando dentro do campo da teoria e
prática da Performance:
- Página web: http://santiagocao.metzonimia.com
- Registros de Performance: www.facebook.com/cao.santiago
- Ensaios e Artigos escritos: http://independent.academia.edu/santiago_cao
http://issuu.com/santiago_cao
http://es.scribd.com/santiago_cao
Ou escrever um correio a:
artistanoartista@gmail.com
Que Corpo é esse que c(ont)amina pela cidade?
Se pensarmos a Performance como aquilo que sai dos limites do sabi(d)o, que desorganiza os
modos e as relações dentro dos espaços de poder (mal chamados espaços públicos), que Corpo é
esse que na rua c(ont)amina por entre as personas?
Agamben no seu livro “Profanações” propus que “se consagrar (sacrare) era o termo que designava
a saída das coisas da esfera do direito humano, profanar, por sua vez, significava restituí-las ao livre
uso dos homens.”.
Se compreendermos aqueles espaços organizados, conservados dentro das normas, como
espaços sagrados a respeitar, poderíamos pensar a Performance em “espaços públicos” como una
ferramenta para contaminar, profanar aquilo que, havendo sido subtraído do uso dos homens (de
aqueles que habitam e transitam esse espaço) volta a ser tema de (con)versação, de perguntas e
respostas, em suma, volta a ser questão de domino público e já não de dominação do público.
A proposta consistiu em instalar na via pública a estrutura de uma balança de 2,50 metros de altura e
permanecer oito horas preso dentro de uma rede de pesca pendurado quase nu a um metro do solo. Como
contrapeso, 70 quilos de carne e ossos pendurados em outra rede a escassos metros de mim. Esperando…
simplesmente esperando ver que sucedia com as pessoas, enquanto meu corpo se ia desidratando e a
carne apodrecia baixo ao sol.
As oito horas que ia permanecer preso dentro da rede era uma referencia às 8 horas de jornada laboral em
a qual as pessoas cedem diariamente 8 horas de sua vida a um sistema (uma rede) que lhes promete ter
assim dinheiro para poder desfrutar das 16 horas restantes de seu dia. 8 horas diárias de perda consensual
da liberdade.
Após de dar inicio só o fotografo permaneceu lá, longe da ação e fora da vista das pessoas. Sem ninguém do
festival a quem perguntar, as pessoas se aproximaram de mim para me perguntar qual o motivo para estar
fazendo aquilo. “Que é isso?” “É um protesto?” “Que quer dizer? diga-nos” foram algumas das perguntas
que se repetiram com mais frequência. E para cada pergunta, simplesmente lhes observei em silêncio.
Queria que as pessoas soubessem que os escutava, que não os estava ignorando, estabelecendo assim
uma comunicação. Mas ao mesmo tempo, ao não dar-lhes uma resposta verbal, obtinha deles muitas mais
perguntas e por o mesmo motivo, muitas respostas. “Está pagando uma promessa”, afirmavam alguns.
“Ele não pode falar” disse um homem, e outro agregou “Ele somente fala com os olhos”. Após de 6 horas,
uma mulher que se abriu passagem entre os corpos, se aproximou com uma garrafa para oferecer-me
agua. Logo de tentar que lhe respondera o motivo da minha ação e escutar que alguém lhe dizia “Ele leva
muitas horas ali sem falar com ninguém”, perguntou-me se queria que me comprasse algo para comer.
Como lhe indiquei que não com um suave movimento de minha cabeça, perguntou se queria beber mais
água já que podia ir comprar mais uma garrafa antes de seguir seu caminho. Concordei e ela desapareceu
por entre as pessoas. Regressou após uns poucos minutos, e enquanto me oferecia água, me perguntou
se queria que me liberasse. Neguei com a cabeça a o que ela respondeu “Não podes seguir estando assim
embaixo do sol. Pode passar algo ruim. Vou te soltar” e começou a incitar as pessoas presentes a que me
liberassem. Formou-se um debate. Alguns não estavam de acordo, diziam “Não lhe podem baixar, ele tem
que pagar sua promessa”. E sucede que para a maior parte da população de Salvador de Bahia, com sua
grande herança africana e embebida cotidianamente no culto do Candomblé, o mais próximo para eles a
uma Performance, é o pagamento de uma promessa a um Orixá. É o que vêem e entendem. E geralmente,
se algo ou alguém rompe a cotidianidade do dia com uma ação estranha, assumem essa situação como tal,
brindando apoio, às vezes com a palavra, a quem está executando seu pagamento.
Mas a mulher conseguiu convencer aos presentes, e enquanto vários homens inclinavam com força a
balança até meu lado (agora “nosso lado”) aproximando-me ao solo, ela começou a desatar os nós da
rede. Mas como os minutos passavam e ela não conseguia liberar-me rapidamente de ali, pediu uma
faca “Cadê a Faca!” gritou e algumas pessoas foram buscar pelos postos de comida próximos. Alguém
regressou com uma navalha e a mulher começou a cortar rapidamente um lado da rede, até que o buraco
foi grande suficiente. “Agora, se você quer, já pode sair”, disse. Mas ao tentar colocar-me de pé, meu corpo
não respondeu. Doíam-me minhas pernas e depois de cada tentativa caia novamente ao chão. Então um
homem me carregou como se fosse uma criança. E eu me deixei carregar sem oferecer resistência. Queria
deixar-me levar ate onde eles quisessem. Não mexia nem sequer meus braços, deixando cair-me ao lado
de meu próprio torso. Então o homem que me carregava, tomou minhas mãos e as levou a seu pescoço
para que o abraçasse, e assim, como se carregasse a uma criança dormindo, me retirou de dentro da
rede enquanto outras pessoas ainda a seguravam firmemente e os ossos e a carne, no outro extremo,
elevavam-se o mais alto possível, quase como se voassem sem peso.
NÃO QUERO VER A MINHA REALIDADE
Performance duracional com os olhos tampados pelas ruas da cidade de Buenos Aires, Argentina,
ininterruptamente desde a segunda-feira 6 até a sexta-feira 10 de outubro de 2008.
Registros fotográficos: Damián Rilo e Roxana Araujo
Duração: 5 dias
Coloquei dois tampões adesivos em meus olhos, com uma placa pendurada no meu pescoço que dizia
NÃO QUERO
VER A
MINHA REALIDADE
5 dias continuando com meu quotidiano, assistindo aulas no IUNA (Instituto Universitário Nacional da
Arte), sendo instalando na rua para Não Ver passar as pessoas, indo a Não Ver uma mostra de pintura no
Centro Cultural Borges, caminhando por lojas comerciais Não Vendo as ofertas. 5 dias sem ver a televisão.
5 dias sem ver o que o que comia nem quem me rodeava nem com quem deitava.
Para deslocar-me longas distâncias, fui ajudado por amigos que me orientaram na rua, ônibus e metrô.
A Performance nos espaços públicos como um Corpo sem Rosto (CsR)
MÁRGENES Y (PERI)FERIAS
(A palavra “Feria”, em espanhol, se traduz para o português por “Feira”. Neste sentido, o jogo de palavras
“(peri)Feria” acontece por meio do duplo sentido de “Feiras de Arte” e das “periferias” associadas tanto às
margens quanto às pessoas marginalizadas nas cidades).
Quando fui convidado para participar da 10ª Bienal do Mercosul para realizar uma Performance lá, optei
por enviar um projeto-mascarado, uma fachada que pudesse ser aceita pelos Curadores, ao tempo que,
durante os dias em que durasse a Performance, tentaria de fazer outra ação diferente: uma ação duracional
que gere questionamentos a respeito do Público, entendendo-o numa doble vertente do termo: tanto
no sentido de Instituição Pública, quanto também em referencia às pessoas que – sendo chamadas de
“público” – visitam museus e galerias de Arte para observar as obras expostas. Em tempos nos quais muitos
dos artistas de Performance se encontram debatendo sobre a necessidade de procurar “novos públicos”,
essa proposta pretendia também provocar questionamentos a respeito de que(m) pode ser chamado de
público e quem ainda – sendo mantido nas margens – continua permanecendo por fora do termo tanto na
hora de se debater quanto de agir com e na Arte. Só uma pessoa que trabalhava dentro de Bienal saberia
o que ia me propor fazer. Uma pessoa que se tornaria, de maneira simultânea, em parceira e produtora
da Performance. Propus a ela participar e aceitou. Dessa maneira, vestindo roupas velhas e rasgadas, e
com meus pés descalços, me propus habitar as ruas, in-corporá-las durante três dias consecutivos, numa
deriva sem rumo nas margens e proximidades dos prédios que expunham as obras da Bienal. Dormindo
onde pudesse e comendo o que as pessoas me dessem, tentaria não só vestir o figurino de morador de
rua, senão também de afetar meu corpo através dessa experiência. Procurei – através do cansaço e da
fome – que outros gestos aparecessem no meu corpo, para, deste modo, afetar nos outros corpos que no
dia “oficialmente” marcado para eu apresentar a Performance no MARGS (Museu de Arte de Rio Grande
do Sul), estariam trabalhando como seguranças do Museu. Esse dia tentaria ingressar sem me identificar
como Artista da Bienal, procurando habitar outra corporalidade. In-corporar uma imagem mais próxima
daqueles corpos que dormem nas ruas e na praça em frente do Museu do que os habituais corpos que
transitam diariamente os espaços da Arte. Que poderia acontecer, num prédio público, quando um desses
“outros” corpos tentasse ingressar? O que poderia evidenciar, enquanto artista, se não me apresentasse
como tal? Conseguiria ingressar na hora marcada para fazer uma Performance dentro? Ou seria barrado na
porta, impedido de entrar, gerando deste modo uma ausência diante do compromisso marcado? Quantas
outras tantas ausências são diariamente geradas, quantas personas são mantidas nas margens dos prédios
públicos por não se encaixar nos modos “corretos” de se vestir e viver nas cidades? Se o corpo do Artista
pode estar presente... o que pode um corpo quando pode-não? No segundo dia da deriva, decidi fazer
um teste: ingressar em cada um dos prédios da Bienal. Não só no Museu, provocando também nos outros
espaços de exposição e filmando com uma caneta espiã o que puder acontecer em cada uma das situações
geradas. Como resultado, fui impedido de ingressar em todos eles, mas, em particular, no Memorial do
Rio Grande do Sul fui expulso de maneira violenta por um dos seguranças que bateu no meu peito com a
sua mão aberta e me empurrando, me levou até a escadaria dizendo para mim que teria que sair na hora.
No ultimo dia, e próximo das 15h (hora divulgada pela Bienal na qual eu ia fazer uma Performance dentro
do Museu), me sentei num banco perto da porta. Esperei mais uns minutos. Vi chegar uma pessoa. Era um
colega que ia me apoiar filmando de dentro mesmo do prédio. Após ele entrar aguardei mais uns minutos.
Queria dar-lhe tempo para achar um bom lugar no topo da escadaria e para filmar o que puder acontecer
sem ser descoberto. Faltavam 5 minutos para as 15h. Caminhei devagar até a porta do Museu, coçando
na cabeça. Uma mulher estava saindo quando tentei de ingressar. Ela me viu e deixou a porta aberta
segurando-a para eu poder entrar. O funcionário de segurança detrás do balcão me viu e na hora veio até
mim. Era outra pessoa. Não era aquele homem gentil do dia anterior que me indicara voltar à “pracinha”
e ficar sentado lá, aguardando num banco. Não era o mesmo, nem teve a gentileza do seu colega. Chegou
rapidamente até mim, bloqueando meu passo antes de poder me aproximar à escadaria que levava às
salas de exposições.
- Senhor, você não pode entrar – disse para mim– Não leva a mal, mas o senhor vai ter que sair. Não pode
entrar aqui.
Permaneci em silêncio, coçando a cabeça. Nesse momento, duas pessoas passaram do meu lado descendo
as escadas rumo à saída. Ninguém as acompanhou até a porta. Mas o funcionário insistiu em me dizer:
- O senhor vai ter que sair. Não pode ficar aqui – E pegando meu braço me levou para a porta, empurrando-
me fora no mesmo instante em que outras duas pessoas ingressavam ao Museu.
Já no exterior, dois fotógrafos da Bienal chegaram correndo e começaram a tirar fotos. Tinham chegado 5
minutos tarde. A “Performance” tinha começado 5 minutos antes das 15h.
Segundo o combinado no encontro do dia anterior com a minha parceira, ao sair do Museu esperaria uns
minutos e depois caminharia para o Memorial na tentativa de ingressar para chegar até a sala de imprensa
para narrar o acontecido durante a Performance duracional e entregar para eles os registros filmados com
a caneta espiã. Queria ver o que aconteceria com o funcionário de segurança quando me visse chegar
novamente. Mais uma vez me impediria ingressar a esse prédio público por me achar um morador de rua?
Mas, as coisas foram bem distintas do acontecido no dia anterior. Estando a caminho do Memorial, um
dos mediadores do Museu correu até o prédio vizinho para avisar aos seus colegas dizendo: “o artista
esta chegando!”. Quando cheguei à entrada, vi que detrás de mim tinha um fotógrafo tirando fotos. Um
segundo fotógrafo também tirava fotos do alto da escadaria. Subi devagar, degrau por degrau, coçando
a cabeça, do mesmo jeito como o fiz no dia anterior quando tentei ingressar e fui impedido de fazê-lo.
Mas, desta vez, quem estava chegando era “um artista”. Perguntei-me qual seria o sentido de tudo isso
que estava acontecendo nesse instante. O que teria aquela situação de interessante para essas pessoas
que achavam estar presenciando uma “Performance” na qual um artista, vestido de mendigo, aparecia na
frente deles, subia a escadaria, atravessava o salão para finalmente sumir numa outra escada lateral que
levava ao segundo andar onde ficava a sala de imprensa. Diante dessa situação, me perguntei a respeito
do que estava podendo quando era tratado como artista e do que podia quando podia-não ser tratado
como tal.
Arrisco-me a pensar que ao ser impedido de entrar no Museu, o “Artista esteve ausente” numa dupla
ausência: ausência: a primeira delas desenvolveu-se no campo de saberes do funcionário de segurança que
ao ver-me, não viu em mim ao artista convidado pela Bienal senão um morador de rua tentando ingressar
no Museu. Mas, de maneira simultânea, deu-se também uma segunda ausência, aquela do corpo físico
do artista que ao ser impedido de ingressar, fez permanecer a Performance por fora dos prédios ocupados
pela Bienal. Paradoxalmente, a mesma instituição que me contratou para fazer uma Performance, foi
aquela que me impediu de fazê-la dentro. O hegemonizante dispositivo da Arte acabou operando numa
inclusão-exclusão que gerou esta dupla ausência, mantendo a Performance o tempo todo do lado de
“fora”; nas margens. Como as tantas pessoas que, morando em situação de rua, são mantidas por fora do
Público, tanto na hora de se debater o termo quanto na hora de agir com e na Arte. Situação tão diferente
da acontecida no Memorial, onde o artista era esperado, e onde o “Artista esteve presente”. Ali, onde
o Artista pode, eu pude pouca coisa além de ser fotografado ao ingressar sem ninguém se questionar
pela minha presença, gerando sorrisos nos mesmos seguranças que no dia anterior me impediram de
entrar. O que pode um corpo quando é habitado pelo status de Artista e o que pode um artista quando
in-corpora outras experiências além das Artísticas? Para que(m) trabalhamos com arte? Cada vez mais
estou achando necessário procurar outros públicos. Não na tentativa de torna-los espectadores, mas sim,
co-afetadores. Cada vez mais está sendo necessário sair dos limites da Obra. Há um lugar a ser explorado,
entre as margens e (peri)Feiras de Arte.
Os espaços públicos como lugares corpográficos
Corpo que afeta um espaço que afeta um Corpo
Espaço ≠ Lugar
Os espaços públicos nas cidades podem ser estudados não somente desde sua arquitetura como também
desde as forças que os compõem, melhor dizendo, desde os dispositivos que organizam tanto as relações
entre os seres viventes como os espaços onde estas relações “devem” desenvolver-se.
Segundo o proposto por Agamben no seu ensaio “O que é um dispositivo?” (2009), os sujeitos são o
resultado do encontro «corpo a corpo entre os viventes e os dispositivos», produzindo-se subjetivações
como resultados destes encontros. Se pensarmos nos espaços públicos como uns dos lugares onde estas
subjetivações vão se evidenciar nos limites conferidos pelas permissões e denegações dos dispositivos aos
viventes, poderíamos pensar as Performances e intervenções urbanas como ferramentas para alterar estas
subjetivações, ou seja, como contradispositivos de Produção de Realidade, cujo campo de ação é o en-tre
destas duas classes.
Hélio Oiticica, em referência aos modernistas brasileiros dos anos 20, fez uma releitura do termo
“Antropofagia”, introduzindo a ideia da incorporação do corpo na obra e da obra no corpo. Paola Berenstein,
pensando a partir daí, propôs da sua vez no ensaio “Zonas de Tensão” (Corpocidade, 2010), a ideia da
incorporação urbana, entendida como «uma incorporação do corpo na cidade e da cidade no corpo».
DESEJO ZERO
Performance duracional, ininterruptamente de 24 até 27 de Maio de 2011.
Festival Internacional EPI (Encuentro Independiente de Performance), Lota, Chile.
Mordaça realizada por Deborah Dêgêlê baseada em um desenho de Santiago Cao.
Registros fotográficos: Mario Moreno Krauss, Héctor Marcelo Pavés, Gabriela Alonso, Pamela Arévalo,
Muñoz Coloma e Deborah Dêgêlê.
Duração da Performance: 4 dias
Texto traduzido para o português por Cinthia Mendonça
Desejar aquilo que não se pode ter. Querer ter aquilo que não se quer desejar. Nossa sociedade atual,
consumista, devoradora e ávida de produtos novos que enchem seu vazio existencial, não deixa tempo para
o desfrute, para o encontro profundo daquilo que, antes desejado, agora é possuído. Um novo produto
gera um novo desejo que a sua vez substitui o produto anterior e também, o anterior desejo. Diferir sua
materialização seria uma opção para adiar o próximo desejo? Para nos conectarmos com o momento
presente?
Sendo convidado para o “Encuentro Independiente de Performance (E.P.I.)” que se ia realizar na cidade de
Lota, no sul do Chile, me descobri com o desejo de conhecer as pessoas que ali estariam e de ver novamente
aqueles que já tive a oportunidade de conhecer anteriormente. Tinha desejos de observar como estavam
trabalhando a partir do corpo e de escutar o que pensavam. Por sua vez, tinha desejos de compartilhar
meu modo de pensar e fazer, de debater sobre tudo isso. Então, tendo desejos, minha proposta consistia
em diferir e retardar sua satisfação.
Para isso, desenhei uma mordaça de couro ajustada ao rosto que na altura da boca tinha uma chapa
de prata com uma pequena abertura em forma de “0”, com a qual reduzia minha boca a um simples
orifício. Durante os 4 dias que duraria a ação, acompanharia as performances desejando falar sobre elas,
no entanto, sem poder fazê-lo. Ia me sentar à mesa vendo como os demais comeriam e desejando fazer o
mesmo, porém, não podendo. Somente poderia respirar e beber água através desse orifício que foi uma
vez minha boca. Anulada em sua função de consumo, minha boca não teria mais opção que aprender a
conviver com o desejo sem poder saciá-lo. Desejando paradoxalmente o Desejo Zero para poder desfrutar
do encontro onde estava.
No final da ação também fui compreendendo o contexto onde estivemos vivendo nos últimos quatro dias.
E lá, em uma vila onde as pessoas passaram várias experiências de fome, o Desejo Zero e o consumo
passavam para o segundo plano. Ali estive falando durante todo o tempo, da fome, mesmo sem saber. Ou
melhor, da naturalização da fome e das pessoas que dela padecem. Mas isso eu aprendi durante a própria
10 MOTIVOS PARA SORRIR
Ação duracional realizada ininterruptamente desde 23 até 25 de setembro de 2012. Festival EPI (Encontro
Internacional de Performance), Lota, Chile.
Registros fotográficos: Cristian Beroiza
Duração: 3 dias
Ação duracional em procura de uma cartografia subjetiva da cidade de Lota a través do olhar dos seus
habitantes. Um percurso à deriva com os olhos tampados, enquanto peço as pessoas na rua que me guiem
para um lugar que nunca termino de especificar.
Os habitantes da cidade de Lota, no sul do Chile, tiveram que viver experiências muito intensas e dramáticas
durante os últimos 15 anos. Em 1997, o governo federal determinou o fechamento da mina de carvão,
gerando desemprego em grande parte da sua população. Posteriormente, no início de 2010, um forte
terremoto e tsunami com epicentro na região afetou os indivíduos e as casas e estradas, deixando grande
parte da sua população num contexto de destruição, fome e sem a possibilidade de rápida ajuda.
Várias vezes antes de visitar esta cidade já me tinha perguntado sobre o desejo de viver e do sorriso como
um indicador de qualidade de vida. Mas aqui, ao contrário das expectativas, fiquei impressionado ao notar
que, apesar da experiência, a maioria das pessoas não tinha perdido a capacidade de sorrir. E se, como
Antoine de Saint-Exupery escreveu em seu livro “O Pequeno Príncipe”, o essencial é invisível aos olhos, o
que é essa essência que permite que pessoas que sofreram podem sorrir novamente depois disso? E se
isso é invisível para os olhos, que outra maneira de vê-lo nós o poderíamos “ver”?
Na tentativa de encontrar estes (in)visíveis motivos para sorrir, iniciei a ação viajando 6 horas de ônibus
desde Santiago a Lota, colocando tampões adesivos em meus olhos que me impediram ver, para anular a
minha visão e, libertando-me do condicionamento visual, poder me introduzir nessa busca guiado por os
outros e os seus saberes. Mas, sendo que para me deixar guiar preciso confiar na pessoa que vão me guiar
Como fazer para confiar se não conheço a quem tenho afrente? Como deixar-me guiar para algum lado
sem sequer saber previamente a onde eu quero chegar?
Já em Lota, e depois de dois dias consecutivos de me preparar desistindo da minha vista, com a intenção
de acalmar minha mente, deixar os meus medos e permitir a o meu corpo (re)aprender a confiar no
instante, consegui começar a segunda parte da ação. Fui levado para uma das principais avenidas de uma
área da cidade chamada de Lota Alto, e ali, sem ninguém me acompanhando, eu fui deixado para caminhar
à deriva. Longe de mim, duas artistas amigas e um fotógrafo acompanhavam a ação registrando-a com a
vista e uma câmera de fotografar. Sem saber para onde ir, comecei a pedir às pessoas que passavam de
perto para me ajudarem a caminhar, só indicando-lhes que desejava ir numa direção oposta à Lota Bajo.
- Aonde você vai? - me perguntou uma mulher idosa.
- Eu não sei, eu vou lá -disse para ela, apontando para uma direção qualquer na frente de mim.
- Lá? Onde é que é lá?
- Eu não sei. Eu não conheço a cidade e não posso ver onde estou indo.
- Mas se você não sabe para onde quer ir, como você vai chegar? - ela respondeu nervosa.
- Não importa onde vou chegar. Eu só quero ir para lá e conversa um pouco enquanto caminho. O dia está
tão bonito que não quero ficar dentro de casa e não tenho ninguém para dar um passeio junto.
Assim, sem especificar nenhuma direção, nenhum lugar para onde quer chegar, eu pude (para um pouco
mais de 4 horas) conversar e andar com a minha mão apoiando-se nos ombros de pessoas que não
conhecia, deslocando-me à deriva por uma cidade ainda invisível, na aproximação que gera o contato
físico quando não olhar para construir distâncias. Quando chegava a hora de dizer adeus, perguntava para
quem me tinha guiado se havia outras pessoas ao redor e pedia para ser levado até elas com a intenção
de que pudessem, por sua vez, me guiar para a próxima parte do caminho. E, sendo entregue de pessoa
para pessoa, de ombro a ombro, eu fui realizando uma cartografia subjetiva daquele fragmento da cidade,
me oferecendo para o encontro de aquilo que, sendo invisível aos olhos, é essencial para (com)viver: a
confiança no outro, em tempos onde o Outro -ao contrário de (nós)outros- é visto e construído como uma
possível ameaça.
SEDE
Performance duracional apresentada como resultado da residência artística “PERPENDICULAR CASA E
RUA” sábado 10 de setembro de 2011 na Favela Santa Lúcia de Belo Horizonte, Brasil.
Registros Fotográficos: Fernando Costa, Maria Luiza Viana, Nathalie Mba Bikoro e Santiago Cao.
Gratidão para Pelé (Fabiano Valentino) por me acompanhar tão generosamente durante todo o processo
de aproximação à favela e seus habitantes. Duração aproximada: 4 horas.
Texto traduzido para o português por Bruna P. Jung.
Um percurso a deriva-a, uma cartografia subjetiva e afetiva rumo ao encontro de um Outro que ainda não
conheço, de um passado que ainda não me contaram, de uma memória que não cessa de se transformar.
Na favela Santa Lúcia, como na maioria das favelas no Brasil, as casas são construídas coladas umas ao lado
e acima das outras para ocupar todo o espaço possível, ampliando até o máximo a possibilidade de habitar
o morro. Ali, a terra é uma lembrança invisível. O primeiro dia que a percorremos notei que por cada beco
que transitávamos, somente víamos cimento baixo nossos pés. E este cimento era a evidencia de uma
conquista a mais de essa população. Antigamente devia de haver sido muito difícil transitar para cima e
para baixo no morro quando as chuvas faziam do chão um grande lamaçal. Agora com cimento ninguém
escorregava, ninguém se sujava. Mas também ninguém sentia a terra. Uma conquista mais da civilização
por sobre a natureza. Que maior prova para refutar o conceito de favela como algo fora o distinto a cidade,
que entender aquele cimento baixo nossos pés como elemento que integrava os seus habitantes com seu
contexto, ou seja, com a mesma cidade que a repeles?
Água encanada era outra das conquistas dos habitantes. Água que há 20 anos, as mulheres ainda tinham
que buscar carregando latas em suas cabeças. As distancias eram largas e havia que subir e baixar pelo
morro até uma nascente ou, com mais sorte, uma torneira. Estas torneiras vertiam água desde 6:30h
até 8:30h da manha, motivo pelo qual, havendo água somente duas horas por dia, as filas se formavam
desde a madrugada e com elas, as muitas disputas. Mas isso era antes. Agora ninguém precisa sair para
conseguir água. Basta com abrir as torneiras e tomar como se deseje. Já não é necessário ir ao encontro. E
dentro de cada casa, graças à televisão e água encanada, esse encontro com o Outro esta sendo dia a dia
menos frequente. Havendo água em cada lar, e sendo que hoje em dia não é água a principal necessidade
se não que a construção de moradas o importante, para que conservar ali uma torneira publica? Cada dia
mais e mais pessoas precisam de um lugar onde viver. Os filhos crescem, formam famílias, e estas famílias
precisam de um novo teto. Para que ocupar espaço com o passado se o presente surge de maneira tão
evidente? E com tanto presente, qual é o espaço para o futuro? Andando por seus becos me lembrei de
uma frase do livro “O Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry, onde o zorro compartilha a esse
lindo personagem seu segredo. “O essencial é invisível aos olhos”- disse. E compreendi que não era com
os olhos que precisava ver essa torneira, mas com a memória. E se não a recuperamos, se não a mantemos
“viva”, pouco a pouco vamos convertendo-nos em “cegos”. Pensei em recuperar a memória da água e todo
o que implicava a sua procura. Os encontros a diário em essas filas esperando turno para encher sua lata
e levar até sua casa. Os comprimentos, as conversas, as discussões, os conflitos. Ou seja, a socialização do
povo em torno ao vital líquido. Para fazer isso, durante a ação dediquei-me a percorrer pelas ruas e becos
da favela carregando uma lata na cabeça e chamando as portas das casas que encontrara no caminho.
Aqueles que abriram suas portas eu me apresentei dizendo “Tenho sede, me convida com dois copos de
água?”. Um deles que bebia e outro que jogava dentro da lata. Enquanto bebia, tentei de gerar conversação
com as pessoas com a intenção de conhecer as histórias dos tempos antigos e não tão antigos. Antes de ir
embora pedia informação do caminho a seguir para a casa do senhor Guido. O Seu Guido, como as pessoas
lhe diziam, morava no outro extremo da favela, em uma parte mais alta do morro, e por seus anos de vida
e sendo um dos primeiros habitantes do lugar, me disseram que conhecia grande quantidade de historias
sobre o passado de essa comunidade. Assim, de porta em porta, de copo em copo, fui saciando minha
sede e preenchendo a minha lata com água, rumo ao encontro de um Outro que ainda não conhecia, de
um passado que ainda não me contavam; esperando que Seu Guido aceitara acompanhar-me até a bica
onde ele buscava água em tempos passados para, ali, verter o conteúdo da lata. Fazendo um caminho
inverso ao historicamente acontecido. Levando até o Bicão a água coletada, aportada pelos vizinhos, para
oferecê-la, devolvendo um pouco do muito que ela deu aquelas pessoas durante tanto tempo.
O PESO DA HISTÓRIA
Performance Psicomágica duracional, realizada durante o festival Internacional de Performance “Cita a
Ciegas”. 9 de fevereiro de 2009. Cusco, Peru.
Registros fotográficos: festival “Cita a Ciegas”
Duração aproximada: 2 horas
A cidade de Cusco é uma prova palpável de como uma cultura tem oprimido outra. Não só no presente,
mas também no passado. Isto pode ser visto nas construções do chamado “centro histórico”, onde as
antigas bases arquitetônicas do período inca estão fisicamente debaixo do peso da arquitetura do período
colonial espanhol. Transitando pelas ruas é possível ver que a partir do chão até pouco mais de dois ou três
metros de altura, as construções estão feitas com grandes pedras cortadas por mais de 4 ângulos (7, 8, 10,
etc.) as quais, em caso de terremotos, se mexem sem colapsar a construção. Estas pedras, típicas do estilo
arquitetônico Inca, pertencem à antiga cidade Inca que foi dominada pelos conquistadores espanhóis que
- destruindo-a em grande parte- têm utilizado a sua base firme para construir a partir daí com adobe.
Pode-se então observar como, de forma estrutural e simbólica, uma cultura oprimiu a outra, e como, no
decorrer dos tempos, o poder hegemônico conseguiu transformar aquela tragédia passada numa atração
turística que nada disso menciona.
Refletindo sobre o peso da história que tem essa cidade, comecei a ação arrastando uma mala de couro
verde (de uns 30 quilos de peso) iniciando na chamada “pedra de 12 ângulos” até o Templo da Lua,
localizado no interior do Qorikancha (antigo templo Inca), distante uns 7 quarteirões. Durante o percurso
fui pedindo às pessoas que passavam pela rua para me ajudar a arrastá-la. Uma vez chegados ao destino
tirei meus sapatos e desnudei o meu torso. Abri a mala e tirei do interior umas pedras que tinha recolhido
nos dias anteriores nas ruas de Cusco. Empilhando-as uma do lado da outra construí um pequeno muro de
uns 80 cm de comprimento e 40 cm de altura. No final, com uma lâmina de barbear comecei a fazer cortes
na minha mão esquerda deixando o sangue gotejar nas pedras que formavam o muro, com a intenção de
simbolizar o sangue derramado nos muros em Cusco e, ao mesmo tempo, inabilitar a mão; a mão que da, a
mão que quita, que segura a arma. Tomei uma garrafa com chicha (uma bebida feita de milho fermentado
que é tradicionalmente utilizada na cultura andina como oferenda em rituais, bem como bebida alcoólica
durante as festas) e enchi um pequeno copo de vidro. Depois de fazer um brinde com as pessoas, derramei
sobre a minha mão a chicha lavando assim as minhas feridas nas pedras. Enchi novamente o copo e depois
de tomar um gole, derramei o restante no muro fazendo um brinde com ele. Convidei as pessoas para
chegar e repetir a ação de encher o copo, beber um pouco e derramar o restante nas pedras. Assim,
quando a chicha acabou, já não havia sinais de sangue no muro. Lentamente, um por um, através do
brinde, fomos limpando de maneira coletiva o sangue presente, como se através desse ato simbólico fosse
possível limpar o sangue em todos os muros construídos ao longo da história.
CICATRIZES?
Performance Psicomágica duracional nas feridas abertas do Chile após a ditadura de Pinochet.
Festival “MINAS, Cicatrizes da Memória”.
30 de Outubro de 2010. Santiago, Chile.
Registros fotográficos: Valeska Urqueta, Yael Zaliasnik e Santiago Cao
Texto traduzido para o português por Ana Casimiro
Duração aproximada: 3 horas
Iniciei a ação no Memorial do Rio Mapocho na ponte Bulnes. Escolhi este lugar pela sua trágica história, ainda
presente na memória coletiva do povo. Estendi por baixo das 936 fotografias dos detidos/desaparecidos
um pano branco de 7 metros de comprimento, com o número em marcas das vítimas assassinadas pela
ditadura, um total de 3197. Eu escolhi agrupar as marcas em grupos de cinco (4 verticais e uma cruzada),
como as usadas nas prisões para contar o tempo. Com a única diferença que a linha que atravessa não é
diagonal mas antes horizontal, assemelhando-se a uma cicatriz como por vezes as crianças desenham no
seu corpo por brincadeira. Ou melhor... uma paródia à cicatriz.
Gerando um confronto entre “cicatriz” e “marca”, tirei a camisola deixando a nu o meu torso, expondo as
minhas próprias cicatrizes de acidentes passados. Pedi a uma mulher presente no local que desenhasse
um círculo com a caneta de tinta preta em torno de cada uma delas, e que escrevesse ao lado o que lhe
ia ditando, “o motivo que a originou, data e local do evento.” Ao classificar minhas próprias cicatrizes,
procurava gerar comparação com essas outras marcas que parodiavam feridas curadas e que se expandiam
ao longo dos 7 metros do tecido pendurado. Recolhemos o tecido e convidei a os presentes a descerem
até à margem do rio Mapocho, que ficava a pouca distância. Rio cheio de histórias trágicas, que, como uma
ferida aberta, dividiu e divide a cidade de Santiago de Chile em duas. E nas suas águas poluídas, cheias
de história e memórias passadas e presentes, mergulhei o pano e as marcas inscritas nele, esfregando-o
um pouco para enchê-lo com a memória dessa história do povo. De volta ao memorial, dei um cravo
vermelho a cada um dos presentes convidando-os a deixar uma oferenda antes do início da procissão de
20 quarteirões até ao Museu da Memória. A procissão fez-se por ruas e avenidas, fundindo-se com o fluxo
diário da cidade, deixando para trás o familiar e ligeiro odor a decomposição.
Uma vez no museu, cruzamos os portões que o separam da estrada. Dirigi-me a um dos dois tanques na
entrada do edifício e mergulhei o tecido, simbolicamente misturando as duas águas, as duas histórias, as
duas memórias; a do Mapocho - do povo -, suja e poluída, e a do museu – oficial - limpa e cristalina. Uma
cheirando à sua passagem, a outra, inodora e estagnada. Eu senti que um pouco da história, de “essa”
história, tinha ocupado um lugar na bela, limpa, mas estagnada, memória oficial. Veio um funcionário da
segurança do museu para me dizer que isso não era permitido fazê-lo. Ele pediu para nós que fôssemos
embora. Deixei três cravos na água e saímos. Caminhamos ao longo da grade, até que chegarmos a uma
ponto de ônibus, onde, com a ajuda de várias pessoas, estendemos o tecido ao longo de seus 7 metros.
Assim, num dos lados da grade do museu, encontrava-se a memória museificada, estagnada, fechada, do
outro, a memória viva, partilhada, à vista de todos. E como os assentos da parada do ônibus eram feitos de
chapa de aço furada, enfiei um a um os cravos, e convidei os presentes a participar na ação para que essa
parada se tornasse num belo jardim a céu aberto, fazendo com que as marcas perdessem o seu sentido
trágico. Já não uma história morta, mas uma memória viva, na forma de uma metáfora, que crescia na
cidade, ocupando-a, recuperando-a, dando-lhe cor.
E vendo aquela situação eu achei compreender melhor o que estava acontecendo. Era como se tudo se
encaminhasse para ali. Era ali que as flores ganhavam todo o sentido na ação. Vi outras pessoas irem à
vez “plantá-las” fazendo com que crescessem do aço. Distanciei-me. Fui para o meio da estrada, entre as
duas faixas de direções opostas, e fiquei de frente para a paragem dos autocarros, de frente para o nosso
memorial. E ali, no meio dos carros indo e vindo em frente e atrás de mim, eu não podia deixar de sorrir
com alegria. Tão bela era esta imagem. E tão efêmera. Mas nada nem ninguém seria capaz de removê-la
da nossa memória.
Se tivermos em conta o corpo como suporte da obra, devemos primeiro definir o que é o “corpo”;
encontrar um terreno comum, levantar uma base para pensar juntos. Mas o que chamamos de
corpo existe como tal?
Segundo a Grande Enciclopédia Rialp de Humanidades e Ciências (1991):
‘O corpo é o conjunto de estruturas harmonicamente integradas em uma unidade
morfológica e funcional que constitui o suporte físico da nossa pessoa durante a vida,
especificamente diferenciado em apenas dois tipos, homens e mulheres, de acordo
com o caráter de nosso próprio sexo.’
206 ossos (excluindo os dentes), ligamentos, tendões, músculos e cartilagens. Veias, artérias e
capilares. Órgãos, tais como rim, fígado, pulmão, pâncreas, entre outros. Uma cabeça, um tronco,
dois braços e duas pernas. Dois olhos, um nariz, uma boca. Mãos (dois) dedos (vinte). Pele. Unhas,
cabelo. Louro, preto, marrom, cobre, ruivos?. Urina?. Matéria fecal?. Sangue. Menstruação?.
Semen, orrimento vaginal? Penis ou vagina segundo seja masculino ou feminino. Um “corpo de
homem”. Um “corpo de mulher”. Uma mulher “presa” em um “corpo de homem”?. Um homem
“preso” em um “corpo de mulher”?.
Um corpo vivo. Um corpo morto. Um corpo no Rio de Janeiro. Um corpo na França. Um corpo na
Índia. Um corpo na rua. Um corpo no chão, numa avenida principal. Um corpo em uma cama.
Que coisa é o “corpo”? Qual é o seu espaço? Quais são os seus limites?
Então, quando falamos de “Corpo” ... o que queremos dizer?
(CAO, Santiago, 2012. Cuerpo y Performance en la era de las comunicaciones virtuales - El espacio
del Cuerpo en el espacio del cuerpo. Em Revista V!RUS n. 7 [online], São Carlos, agosto, 2012)
DOIS NUS
Intervenção Performatica no Museu Nacional de Belas Artes. 7 de Dezembro de 2008. Buenos Aires,
Argentina. Registro fotográfico: Flor Firvida.
Duração aproximada: 10 minutos
Texto traduzido para o Português por Ana Casimiro
A ação é baseada no conceito de corpo íntimo, de corpo privado, de corpo social. O valor do corpo na
sociedade e os valores associados a este. Na nossa sociedade ocidental de base judaico-cristã, o corpo é
tido como algo privado, portador de culpa, que escondemos sob da roupa para que não se veja. Ambas as
religiões metafísicas enfatizam “o além” (deveria ser) negligenciando “o aqui” (ser). O corpo é evidência
da matéria e como toda matéria, corrompivel pelo tempo. O corpo é uma evidência da finitude da vida.
Do “ser”. Daquilo que não querem ver e, como tal, não queremos mostrar. Posteriormente a sociedade
burguesa veio tornar o corpo num objeto de consumo, uma mercadoria que nos voltou a tornar a atrair.
Novos limites são-nos impostos. A sua exposição é ilícita quando não comercialmente justificada, e tem
sempre em conta espaços permissivos e pré-definidos para o efeito (privacidade, praias, balneários,
parques, TV, filmes, anúncios impressos, etc.). Assim, o homem é privado de seu corpo (corpo privado, o
corpo privatizado) passando a estar regulado pelo corpo social, o “dever ser”.
Nesta ação, despi-me diante uma pintura de um nu feminino, exposto numa sala do Museu Nacional de
Belas Artes de Buenos Aires (Argentina), com o fim de evidenciar o acima citado.
Há que notar que a pintura “O Despertar da Empregada” de Eduardo Sivori, exposta no museu, causou
grande escândalo na sociedade da época quando foi apresentada, há mais de um século atrás (1887). O
autor foi fortemente criticado, não só pelo realismo com que o corpo foi representando, como também
pela temática, nada elegante para a época, de retratar uma mulher de classe baixa, uma empregada, na
privacidade do seu humilde quarto.
Nessa ação, o corpo representado (distante-mercantilizado) permanece ali exposto enquanto o meu próprio
corpo apresentado é retirado do local pelo pessoal da segurança do museu, obrigado a ser novamente
coberto de roupa. Novamente escondido. Novamente negado.
TORNA (P)ARTE
Sendo que geralmente os museus e galerias consideram a obra de arte como objeto cotizável no mercado
e patrimônio da instituição, tentam -a modo de não perder o investimento realizado- a perdurabilidade
quase imutável da mesma. Opera sobre ela um processo que poderia ser chamado metaforicamente de
“mumificação”, ou melhor dito, “museificação”. Se a obra de arte fica deste modo “museificada” paralisada,
distanciada das pessoas, que passa com os performers, artistas que utilizam seu corpo como suporte de
obra? Em que coisa se transformam seus corpos, em tanto obra, nestes espaços?
Disse-se que os artistas são artistas as 24h do dia, mas geralmente não se reconhecem eles como
trabalhadores da arte. E também e comum que na disciplina da Performance, se acostuma pagar pela obra
mas não pelo obreiro. Dai que pensei... Que coisa é ser artista/obreiro num museu em contexto de uma
Bienal Internacional?
Refletindo sobre estes temas, propus esta ação onde a medica Patrícia Arria me engessou do pescoço até
os pés e fiquei deitado 8 horas numa maca hospitalar, exposto como mais um objeto na Bienal, museificado
tentando achar alguma resposta; tentando inserir algumas perguntas dentro do circuito oficial das artes.
Na parede da sala, um relógio expunha o tempo transcorrendo. Um texto pendurado na parede dava todas
as respostas para o publico. Quando o relógio marcou as 8 horas, a mesma medica voltou e me liberou
de essa (in)ação, me permitindo (re)incorporar à vida cotidiana da cidade, recuperando para mim aquele
corpo que -sendo objeto exposto- tinha-me deixado de pertencer e que, sendo obreiro, usei para trabalhar.
Abracei uma a uma as pessoas ali presentes e voltei para a maca me sentando nela e olhando para eles
em silêncio.
-Obrigado por respeitar a obra -disse.
Alguns responderam que não havia nada a agradecer pois tinham gostado muito da obra.
-Obrigado -eu disse de novo- mas é uma pena que ninguém de vocês me respeitou como pessoa.
Várias vozes foram ouvidas reclamando. Eles disseram que me tinham respeitado; ao que eu respondi:
-Como vocês podem dizer que me respeitaram se permitiram que eu permanecesse oito horas preso no
gesso. Qualquer um de vocês poderiam ter me libertado desde o começo mesmo da Performance. Em lugar
nenhum esta escrito que vocês não podem intervir, cortar o gesso ou até mesmo me massagear os pés
faltos de faltos de circulação sanguínea. Ninguém que diga que me respeitou poderia ter permitido isso.
Vocês têm respeitado a obra, a decisão do artista, mas para mim, como pessoa, me tem desrespeitado.
As pessoas começaram a falar nervosamente. Explicaram para mim o motivo de suas ações (ou suas in-
ações). Todo mundo sabia que eu vim de longe para fazer esta obra e que era uma Performance.
-Vocês acreditavam que esta foi a obra de arte? -Perguntei por enquanto apontava para a maca hospitalar
onde repousavam os restos da concha de gesso.
-Estão enganados. O trabalho está apenas começando agora que nós estamos gerando-nos a pergunta.
Isso foi apenas um pretexto para chegar a este debate.
ESPAÇOS [IN]SEGUROS
Diante da insegurança manifestada pelos meios massivos de comunicação, a sociedade responde isolando
e encerrando o “ameaçante” em cárceres e manicômios, ao mesmo tempo em que se distancia construindo
espaços fechados e exclusivos onde somente poucos podem entrar. A gaiola de cimento e a gaiola de ouro.
Duas variantes do encerro, duas caras de uma mesma moeda.
Cada vez mais, estamos perdendo as relações inter-pessoais. A situação é preocupante. Estamos nos
distanciando e o “outro” é um desconhecido com quem melhor não entrar em “contato”.
De igual maneira as telecomunicações deslocaram a comunicação pessoal. Telefone celular, mensagens de
texto, correios eletrônicos. Cada vez menos pessoas conversam “cara a cara”. O corporal é deslocado pelo
modo virtual. Um muro invisível nos separa.
Em “Espaços [in]Seguros” esse muro se torna visível e a metáfora resulta um encerro.
Dentro da “Casa da Cultura” de Recife, antiga cárcere hoje convertida em centro comercial para turistas, um
pedreiro construiu com tijolos e cimento quatro paredes encerrando-me num espaço de 1,30 x 1,80 mts.
Permaneci dentro de esse espaço reduzido pelo lapso de três dias, comunicado com o exterior unicamente
via internet.
Sem janelas nem portas, a única comunicação possível foi a través de um computador conectado ás 24
horas. Três dias transmitindo em direto via Internet por meio de um servidor de Streaming, utilizando
uma câmera web e relacionando-me com as pessoas a través de um chat. Três dias esperando. Somente
esperando. Deixando passar o tempo até ser liberado, paradoxalmente, pela mesma pessoa que me
encerrou; por esse “outro” do qual me escondia.
Por fora, em um dos lados da construção, estava instalado um segundo computador configurado para
conectar-se unicamente ao Streaming. De esta maneira as pessoas que por aí passavam podiam escolher
ver o “Espaço [in]Seguro” desde fora o sentar-se frente ao computador e, por meio da transmissão, ver o
interior e interatuar comigo a través de um chat.
Durante o encerro optei por não ingerir nenhum alimento sólido, bebendo unicamente água de coco e
água mineral podendo assim, desde o jejum, desintoxicar meu corpo e vivenciar, em tanto obra processual,
uma transformação física e emocional.
Já liberado, a câmera seguiu transmitindo durante mais um dia, de maneira tal que quando algum curioso
o curiosa se acercava ao buraco, era por sua vez retransmitido pela câmera web e visto, entre outros
monitores, pelo qual estava conectado ao segundo computador, a tão somente a um metro de distancia
da construção. De esta maneira enquanto as pessoas acercavam a cabeça e ingressavam parcialmente ao
“Espaço [in]Seguro”, se iam “virtualizando”, criando-se a paradoxo de um terceiro lugar ou espaço. O atual
(a pessoa e a construção de tijolos e cimento), o virtual (a transmissão via câmera web) e o cruze de ambas,
onde simultaneamente o espectador ou espectadora presente no lugar podia ver “um corpo sem cabeça”
e “uma cabeça sem corpo” observando-a de corpo presente ou a través do monitor.
Ao dia seguinte de haver sido liberado, quando fui a iniciar a desmontagem encontrei-me com duas
meninas pequenas que, brincando com a instalação, permitiram-me entender uma questão que não havia
sequer imaginado. A temporalidade e seus possíveis desdobramentos. Seu jogo consistia em assomar-
se pelo buraco na parede e dançar em frente à câmera para depois correr até o segundo computador
distante 2 metros de elas e, produto do “delay”, verem-se a si mesmas, em tanto “outras”, assomar a
cabeça dentro do oco, dançar e logo sumir da tela do computador. Em um mesmo ato, eram motores de
ação e espectadoras de si mesmas. “Elas” e “Outras” ao mesmo tempo. O retardo da transmissão criava
assim um paradoxo tempo-espacial. Elas, que 5 segundos antes estavam saltando frente à câmera em um
tempo e espaço presente, agora se encontravam duplicadas em um tempo e espaço virtual.
E a urina? E o sangue?
São parte do meu corpo ou apenas estão nele?
E se for algo que eu posso perder ou eliminar, ele ainda é o meu corpo?
Nas últimas décadas, e através do uso de progressos tecnológicos, o corpo -como suporte material da vida-
foi se tornando alvo da negação de tempo. Cirurgias, liftings, implantes, cremes anti-age, anti-rugas, etc.,
são usados para tal fim. O que se corrompe com o passar do tempo se encontra debaixo do teatro da pele.
Com o colete de carne, o interior transforma-se em exterior e o exterior, interior, evidenciando-se o
transcorrer do tempo e seus estragos. Assim, com o passar das horas, a carne afetada pelo calor do dia
foi mudando de cor, liberando seus sucos e emitindo odores desagradáveis para o olfato educado dos
habitantes das metrópoles.
A área da Praça Serrano, na cidade de Buenos Aires, é conhecida pela abundância de locais onde jovens
desenhistas independentes exibem e vendem suas indumentárias. Neste local, onde se faz mais impetuoso
o “esconder e decorar” o corpo, cobrindo-o mesmo com tecido sobre carne, nós decidimos cobri-o com
carne sobre Carne.
A Performance iniciou quando saímos do provador de uma das lojas de roupa vestidos com coletes de carne
e nos dispusemos a percorrer às demais feiras de desenho, em atitude de espectador, isto é, caminhando
como as demais pessoas que por ali circulam, observando e falando sobre os desenhos que se exibiam
(atitude muito comum das pessoas que circulam nesta área) para finalmente sentarmos á mesas de um bar
a beber algo enquanto conversávamos entre nós do que estávamos sentindo naquele momento da ação.
Depois disso nos retiramos daquele lugar sem dar explicações do porquê de nossas roupas.
BARBIE-CUE
Perforamance de Santiago Cao com a colaboração de Maxi Lemos e Bernabé Arévalo.
20 de novembro de 2010. IMPA (Indústria Metalúrgica e Plástica Argentina), Buenos Aires, Argentina.
Festival de Performance “Zonadeartenaccion”.
Registros fotográficos por Paula Abad, Neryth Yamile Manrique e Santiago Cao.
Duração aproximada: 1 hora
Ação Performática sobre machismo e o cânon de Beleza imposto às mulheres e homes pela sociedade de
consumo.
Em um aquário de vidro transparente instalei mobiliário em miniatura, tais como mesas, sofás, cadeiras,
lâmpadas. Dentro desse ambiente, várias bonecas da marca Barbie com vestidos feitos de carne, ficavam
expostas em atitudes cotidianas, como se estivessem conversando entre si ou olhando através do vidro do
aquário.
Vestindo com roupa “esporte fino”, caminhei entre as pessoas ali presentes carregando na mina mão
uma Barbie em bandeja. Mostrava-la, exibia-la, oferecia-la aos possíveis compradores ao tempo que dos
homes vestindo roupas de garçom carregavam revistas pornográficas e as ofereciam para essas pessoas
convidando-as para ver o “Cardápio de Carnes”.
De fora, como voyeurs anônimos, as pessoas-clientes, podiam olhar o interior do aquário e escolher a sua
Barbie pessoal. Pagando só 10 pesos argentinos (a moeda local) esta boneca era jogada fora. O cliente
quitava-lhe o vestido de carne e o entregavam para outro homem que o assava numa churrasqueira. Como
“comprovante de pagamento”, os clientes receberam um panfleto de publicidade de prostituição feminina
(que nos dias prévios eu tinha recolhido de diferentes ruas de Buenos Aires). Após do vestido de carne se
assar, um dos garçons colocava-se dentro de um pão e o Cliente comia seu sanduíche de Barbie. Ou como
dizem nos Estados Unidos da América do Norte... uma Barbecue.
SOUL FIELD (CAMPO DE ALMAS)
Vídeo performance. 18 de novembro de 2006. Buenos Aires, Argentina.
Câmera: Mercedes Abú Arab
Edição do vídeo: Santiago Cao
Duração: 8:19 minutos
Disponível em: http://youtu.be/nmuL-Fp8Wrc
No vídeo, o insuportável de ver é metáfora do que a sociedade não quer ver. Distanciamo-nos do objeto
para não nos identificar com ele, e é nessa distância que o consumimos, coberto por um véu que não deixa
nada do insuportável aparecer. Mas não é o objeto o consumido e sim o conhecimento que de ele temos
e que fomos ensinos a Ver nele. Tudo o que nós consumimos está mediatizado.
Dou inicio ao vídeo expondo e consumindo uma morcela sem provocar no espectador maior interesse do
que a culinária. O que esta ali presente é o saber que se tem sobre ela. Mas com o decorrer do vídeo vai
ficando exposto o processo de fabricação (extração do meu sangue com seringas, enchimento de intestino
e cocção) e compreendemos que o que temos diante de nossos olhos não é apenas o que fomos ensinados
a ver. Agora, sob a imagem de morcela, o que é apresentado é a sinédoque de um corpo humano, e sua
ingestão nesse sentido refere ao canibalismo e as chamadas culturas “primitivas”.
Agora, o seu interesse não é a culinária, mas sim cultural.
A morcela como um conceito limite entre o objeto e o seu saber.
Já não sabemos o que comemos. Já não sabemos o que compramos. Já não sabemos o que consumimos.
Soul Field é a metáfora feita carne. Ou melhor dizendo... feita sangue.
BRANCO SOBRE BRANCO
Preto é uma cor. Negro é um conceito, uma construção que remete a uma raça e sua história coletiva.
É possível ser preto e negro. Ser preto sem ser negro?
Branco é uma cor. Porém branco também é um conceito que remete a uma raça e sua história.
É possível ser Branco? Branco sobre branco? Ser branco sem ser Branco?
Revista Lindes Nº 7 Noviembre 2013 - Buenos Aires Argentina
RESUMEN
En esta entrevista el artista e investigador argentino Santiago Cao expone los conceptos
esenciales que sostienen su experiencia en el campo de la performance y las intervenciones
urbanas. Una década de trabajo lo ha conducido a resignificar el cuerpo, la realidad, el
espectador y las formas de ver. El sentido de sus acciones se dilucida entonces, tanto desde la
construcción de una metáfora con el cuerpo, como desde el estremecimiento de los saberes
dominantes en el observador y la posibilidad de (trans)Versionar aquellos saberes.
Entrevista realizada el 13 de octubre de 2013.
PALABRAS CLAVES
Performance, Intervenciones urbanas, Cuerpo, SaVer
1
Katherine Fernández Albornoz es periodista de la Universidad de Antioquia (Colombia) y maestranda en
Comunicación y Creación Cultural del Instituto de Comunicación y Cultura Contemporánea Walter Benjamin en
convenio con la Universidad CAECE (Argentina).
1
Revista Lindes Nº 7 Noviembre 2013 - Buenos Aires Argentina
Desde hace diez años realiza “Acciones de (des)velamiento”, como denomina a las
performances e intervenciones urbanas, en espacios públicos de Argentina, Bolivia, Brasil,
Chile, Colombia, Ecuador, Perú y Venezuela, logrando alterar con su cuerpo el discurrir
cotidiano de ciertos lugares. Allí crea acontecimientos que dislocan las miradas de los
espectadores, y el mismo desconcierto generado se vuelve un punto de partida para cuestionar
los saberes dominantes y las formas de ver automatizadas que a ellos responden.
Algunos trabajos 2 como “La letra con sangre entra” (Cochabamba, Bolivia 2013),
“(Entre)vistos” (Santiago de Chile / Valdivia, Chile 2012) y “Pes(o)soa de carne e osso”
(Salvador de Bahía, Brasil 2010) se han podido ver en el marco de festivales latinoamericanos
de performance e intervenciones urbanas. En el último, el artista permaneció durante las 8
horas de una jornada laboral colgado semidesnudo en una red de pesca sostenido por una
balanza en una vía pública, teniendo de contra peso 80 kilos de carne y hueso. Una instalación
performática que volvía sobre la idea de los sujetos como trozos de carne atrapados por un
sistema al que ceden interesadamente su libertad.
Para acercarse al trabajo de Santiago Cao, en el que el acto creativo no se reduce únicamente
a la acción del artista sino que se extiende al espectador con la acción de ver, es importante
conocer sus reelaboraciones conceptuales, un andamiaje que permite a su vez comprender la
necesidad política de una expresión artística como esta en nuestra sociedad.
2
Se pueden consultar los trabajos de Santiago Cao en www.artistanoartista.com.ar;
www.facebook.com/cao.santiago; http://es.scribd.com/santiago_cao
2
Revista Lindes Nº 7 Noviembre 2013 - Buenos Aires Argentina
“Pes(o)soa de carne e osso” Septiembre de 2010. Salvador de Bahía, Brasil. Festival MOLA
(Mostra Osso LatinoAmericana de performances urbanas). Registro fotográfico tomado por Juan Montelpare.
3
Revista Lindes Nº 7 Noviembre 2013 - Buenos Aires Argentina
-Trabajás con el concepto de “velo” para referirte a aquello que si bien se interpone al
sujeto para ver la realidad, también le permite a éste afirmarla y negarse a sus
modificaciones. Cómo se trabaja esta cuestión del “velo” en una acción: ¿el propósito de
la performance es desvelar una cuestión?, ¿es acaso “jugar” con los velos, los asuntos
4
Revista Lindes Nº 7 Noviembre 2013 - Buenos Aires Argentina
naturalizados de los espectadores? ¿es construir una acción para ir cercenando esos
velos?
-Cuando planteé que el “velo” es aquello que se interpone entre el sujeto y lo otro, impidiendo
verlo, distanciándolo, mediando entre, lo pensé en el sentido en que vos lo estás diciendo, es
decir, como una zona difusa, un entre, que al no permitirme verlo como la cosa en sí, me
posibilita Verlo, o siguiendo con lo planteado en la pregunta anterior, (sa)Verlo. Pienso ahora,
a diferencia de lo que expuse cuando escribí al respecto del Velo, que no es algo que se
interponga entre la Realidad y el Sujeto sino que es precisamente el Velo uno de los
componentes de la Realidad. Pero al afirmar “esto es esto”, lo que estoy haciendo es asegurar,
estancar la cosa dentro de los bordes de lo sabido y, al hacerlo, negar su potencia de estar-
siendo otra posibilidad entre tantas otras posibilidades del estar. Desde la Performance y las
Intervenciones Urbanas, entendiéndolas también como herramientas y no únicamente como
disciplinas artísticas, es que podemos operar en el cotidiano de las personas generando
acciones de (des)Velamiento, es decir, situaciones que generen extrañeza sobre lo sabido,
corriendo un poco ese Velo para Ver que más hay entre el Sujeto y lo Otro. Pero es
importante, creo yo, pensar que estas acciones de (des)Velamiento son precisamente esto, un
(des)Velo, es decir, un correr el Velo, una retirada, pero no para mostrar la “verdad” oculta
tras él sino para colocar un otro posible modo de (sa)Ver. Es por este motivo que planteo
escribirlo de este modo “(des)Velamiento”, con el “des” encerrado entre paréntesis, ya que mi
modo de Ver también está encerrado entre (mis saberes). Siendo así, el (des)Velamiento no
será otra cosa que retirar un Velo para colocar otro Velo, un movimiento dentro de la zona
difusa, no con el fin de hallar la verdad escondida sino para insertar la pregunta, la duda en
torno a lo que vemos y lo que consideramos unívocamente como real o verdadero. Y de esta
manera, al insertar(nos) preguntas con cierta frecuencia, estaremos propiciando el terreno para
el desarrollo del «Pensamiento Migrante», un pensamiento en contigua fuga, en contigua
construcción de una Realidad móvil. Una Realidad libertadora.
5
Revista Lindes Nº 7 Noviembre 2013 - Buenos Aires Argentina
-¿De qué manera se integra una acción performática en el flujo cotidiano de un espacio
público?
-Cada espacio público posee sus propios saberes y micropoderes que operan sobre los
Cuerpos generando permisos y prohibiciones, concesiones y denegaciones para cada rol en
una temporalidad determinada. Por este motivo, no creo que podamos hablar de un flujo
cotidiano estable. Entonces a la hora de accionar no será conveniente llevar la idea hacia ese
espacio sino previamente transitarlo, intentar conocerlo, verlo más allá de lo que nuestros ojos
nos enseñen. Sospechar antes que afirmar; y entender que el contexto no sólo es espacial, sino
también histórico y por ende, en continua (trans)formación. De este modo, no bastará con
caminar por ese espacio, sino que hará falta averiguar un poco de su historia y ubicarla en los
acontecimientos por los cuales esa ciudad esté atravesando en esos tiempos. Entenderlo como
una parte de un organismo complejo y no como un ente aislado, ni mucho menos, un espacio
para conceptualizar. Será entonces, un campo de experiencias donde tendremos que accionar
vaciándonos de los saberes sabidos que nos llevan a poner allí el cuerpo en presencia.
Tendremos que ser un cuenco vacío para poder ir llenándonos con los saberes que allí se
(des)velen. Llenándonos y volviéndonos a vaciar en un continuo proceso a fin de dejar
espacio a los saberes otros que desde la acción se secretarán. Me interesa pensar entonces la
Performance desde el Secreto (del latín secrētus, participio pasivo de secernĕre, ‘segrerar’).
Tomaré entonces esta vertiente de la palabra Secreto en el sentido de «segregar», discriminar,
separar lo que se sabe de lo que no, lo visible de lo que no se debe ver, dejando esto último
oculto. Pero también, desde la (trans)Versión Poética de las Palabras podemos entender
Secreto como el acto de «secretar», es decir, expulsar, sacar para afuera lo que estaba dentro
(haciéndose visible lo que no se podía ver). De este modo, a la hora de accionar en un espacio
público he de segregar -esconder del saber de los demás- los motivos que me llevan a
accionar, posibilitando de este modo que comiencen a secretarse los saberes de ese contexto.
Mi Cuerpo será entonces un dispositivo para el (des)velamiento de las situaciones cotidianas
y de los saberes que allí las sustentan.
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Revista Lindes Nº 7 Noviembre 2013 - Buenos Aires Argentina
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“debe estar drogado o borracho”, “no tiene nada mejor que hacer”, “debe ser una protesta” o
simplemente “algo debe ser”. Respuestas que buscarán nominar, clasificar, tornar conocido lo
que se le presenta a fin de poder explicarlo, ajustarlo a la Realidad consensuada. Para que esto
suceda, las acciones tendrán que tener un formato lo suficientemente parecido con aquellos
saberes a fin de poder activarlos, pero al mismo tiempo, lo suficientemente diferenciado como
para generar un extrañamiento en los espectadores. Y cuando desde la acción se sustenta
dicha acción, cuando supera el tiempo “lógicamente” establecido para encuadrarse en esos
saberes (durando por ejemplo horas o días) las respuestas comienzan a “caer” en
contradicciones. Si está borracho, ¿porque no bebe o no tiene aliento a alcohol? Si es una
protesta, ¿Por qué no protesta para que podamos saber cuál es el motivo de su protesta? Un
nuevo vacío de explicaciones se genera. Este Espectador Sabi(d)o se convierte en un
Espectador Ignorante que ya no sabe más de que trata aquello qué está aconteciendo frente a
él.
Baruch Spinoza escribió «Nadie sabe lo que puede un cuerpo», y Michel Serres propuso
«nuestros cuerpos pueden casi todo». Me arriesgo a pensar entonces que ese poder arraiga
precisamente en el no saber lo que puede un cuerpo ya que cuando sabemos, también
sabemos lo que podemos y lo que no podemos hacer. Pero cuando no sabemos, tampoco
sabemos lo que no podemos. Y al no saber, expandimos nuestro potencial más allá de los
horizontes de los saberes que nos (in)formaron, abriéndonos al campo de lo posible, de lo no
sabido, de lo por hacer. Es allí -cuando estos Espectadores Ignorantes dejan de observar para
intervenir la acción- que se transformarán en «Iteratores» que, modificando de manera
irreversible, generarán un nuevo rumbo o una nueva evolución para la propuesta performática
inicial.
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nosotros mismo. De este modo, si me dicen que estoy loco, no hará falta explicar que soy un
“artista haciendo una performance”, imponiendo de este modo mi saber por sobre el saVer del
otro. Tendré que vaciarme de “artista haciendo una performance” para poder llenarme del
saVer que me sabe loco. No ser loco, sino estar loco; lo cual no implica que tenga que
ponerme a actuar como loco, sino dejarme atravesar por ese saVer, para, sin apegarme a este
estado, poder luego vaciarme nuevamente quedando a disposición de ser llenado, atravesado
por un otro saVer. De esta manera, si no confronto, es decir, no coloco mis saberes frente-con
los saVeres de los otros, ¿cuántos otros estados podré ocupar y cuántos otros saVeres podrán
ampliar mi horizonte de Realidad, mi campo de acción? En este tipo de experiencias, el
corrimiento entonces no será únicamente para los Espectadores Sabi(d)os sino que, como
Accionadores Sabi(d)os, tendremos la posibilidad de volvernos ignorantes para poder ir más
allá, incluso, de lo que sabemos que no podemos hacer, expandiéndonos en potencia y afecto.
-En varias de tus acciones empleas tu propia sangre ¿tu trabajo en estos casos se sostiene
sobre el dolor? ¿o en el uso de un componente más del cuerpo como un brazo o una
pierna?
-El dolor no lo pienso como un centro o sostén, sino como un medio hacia. Es decir, en un
primer momento puedo sentir dolor pero el mismo será propiciado más por los saberes
sabidos que por lo que realmente mi cuerpo esté recibiendo. De tal manera que, en la duración
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de la acción, si logro vaciarme de ese saber que me informa que “me duele”, si consigo
trascenderlo, podré abrirme a nuevas comprensiones de nuevos modos de saVer.
De igual manera, para quienes observan, ese Cuerpo que se expande podrá también dolerles, y
en tanto les duela, dejará de ser un Cuerpo Otro, para tornarse en un (nos)Otros. Y cuando nos
duele, queremos accionar para evitarlo. El dolor, en tanto saVer, podrá ser también una
herramienta para (trans)Versionar las distintas Producciones de Realidad.
“La letra con sangre entra”. Performance. Junio de 2013. Cochabamba, Bolivia.
“Cimientos” 3er Festival de Performance y Accionismo.
-Tenés una postura muy definida en relación al registro de la performance, que marca
distancia con las formas de soporte de permanencia que emplean algunos artistas,
museos y galerías en la actualidad. Vemos a menudo que en medio de las cámaras y las
condiciones de ingreso para ver una acción, ésta termina convirtiéndose en un hecho
espectacular ¿Cuáles son tus formas de registro, cómo afrontas la temporalidad y la no
espectacularización de tu trabajo?
-De la manera en que lo pienso, el registro no “habla” de lo que sucedió sino que habla de sí
mismo, de lo que encuadró, recortó y expone de manera tan subjetiva frente a quien lo
observa, engañándole y haciéndole creer que aquello “es” la Performance acontecida. Y en tal
sentido, cuanto mayor sea el grado de espectacularidad del registro, mayor será el potencial de
engaño. Es decir, si una performance duró cinco horas, el registro en video podrá ser editado
en cinco minutos convirtiendo dicha acción en algo “digerible” y hasta a veces, entretenido.
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De este modo, ante una creciente tendencia del mercado de la Performance a espectacularizar
estas acciones trazando líneas estéticas a cumplir para ser aceptado dentro del circuito, para
ser legitimado por “lo que he hecho”, propongo trabajar con el registro como herramienta para
y en función de “lo que estoy haciendo”, es decir, de la acción in-situ, y no como fundamento
que justifique el hacer una Performance. En este sentido, en tanto herramienta, el registro no
puede tener mayor importancia que lo que se intenta registrar; ni quién registra –a pedido del
artista o de los organizadores del festival- tener privilegios en relación a quienes están
observando dicha acción. Por tal motivo, quién esté, por ejemplo, tomando fotos, tendrá que
hacerlo de manera tal que no sea vinculado con la acción, y de ser descubierto, propongo se
priorice la Performance antes que el registro teniendo esta persona que alejarse, abandonando
las proximidades del espacio intervenido por aquel Cuerpo en Performance. Pero también, al
registrar a distancia, se podrá tener un campo de visión mayor que posibilite captar no sólo
aquel Cuerpo sino también lo que desde su accionar reverbere en ese espacio y en los Cuerpos
que lo transitan. El Cuerpo del performer será entonces un dispositivo para y no la
Performance en sí misma.
Pero como el registro no se agota en lo visual, podremos pensar –además de la fotografía y el
video- en un registro sonoro, pero también en un Registro Narrativo, es decir, en la
posibilidad de escribir –a posteriori- lo que hemos registrado a la hora de poner el Cuerpo en
Performance, compartiendo lo que escuchamos, lo que nos preguntaron, las respuestas sabidas
que nos colocaron, etc., generando desde allí otro recorte de lo acontecido, que al igual que el
fotográfico, videado, sonoro, será un recorte subjetivo y no una transcripción fiel.
A su vez, podemos pensar este Registro Narrativo Subjetivo como una herramienta de
subversión del sistema visual impuesto a nuestra sociedad contemporánea ya que, habiendo
sido formados, estimulados a través de las distintas tecnologías (como la tv, internet, telefonía
celular, etc.) a vivir dentro de la multisimultaneidad, al leerlo tendremos que entrar en una
otra temporalidad, más dilatada, más similar al tiempo de los cuerpos latiendo, que es la
temporalidad de la lectura y no la de la recepción de imágenes a gran velocidad.
-2013 ha sido un año de itinerancia por varios países de Latinoamérica ¿es posible
ofrecer un panorama de cómo se está abordando la cuestión de las intervenciones
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urbanas en nuestros países? ¿y cómo entran estas expresiones artísticas a debatir con los
contextos sociopolíticos de cada país?
-He, durante los últimos 4 meses, tenido la oportunidad de realizar una Gira compartiendo
(Con)Versatorios y Talleres-Laboratorios en relación a las temáticas que en esta entrevista
estoy comentando, y lo que más me ha llamado la atención no fueron las multitudinarias
manifestaciones en las calles (presentes en cada país por los que transité) ni -lo que para
muchos podría considerarse un logro- el hecho de que cada vez más se intervengan los
espacios públicos para manifestarse con el Cuerpo en presencia y ya no sólo con el Cuerpo
tras la pantalla de un TV o un computador. Lo que más me preocupa es que se manifiesten
gigantescas masas para pedirles a sus políticos ¡que les gobiernen bien! Es decir, para pedir
seguir siendo gobernados, dirigidos, ¡pero Bien! Me sorprende no haber presenciado, en estas
manifestaciones públicas, el pedir a estos gobernantes que se nos deje un poco solos, que no
se nos diga tanto que hacer ni cómo reaccionar ante los acontecimientos. Que se nos permita
coexistir generando múltiples y simultáneas Producciones de Realidad y que por ello no se
nos castigue ni se nos encierre, ni se nos excluya. Me sorprende que las pocas personas que sí
lo piden no sean escuchadas o sean castigadas por el aparato policíaco, ante la mirada pasiva
de quienes -a su lado- reclaman ser “bien” gobernadas.
Y en lo que a las expresiones artísticas respecta, me sorprende que en su mayoría las personas
que se dedican a producir con el arte -y en particular con la Performance- estén aun al servicio
de dar respuestas, de señalar caminos y modos de Ver, operando de manera análoga a la
metodología de Producción de Realidad de la que hacen uso los medios masivos de
comunicación a diario.
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PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA
- Corpo e Performance na era das comunicações virtuais: O Espaço do Corpo no espaço do corpo. V!RUS,
n.7 [online]. San Carlos: NOMADS (Núcleo de Estudos de Habitares Interativos) da Universidade de São
Paulo, Agosto de 2012.
Disponível em: http://www.nomads.usp.br/virus/virus07/?sec=4&item=1&lang=pt
- O Espectador Sabi(d)o. In: Anais do 1ero Encontro Latino Americano de Pesquisadores sobre Corpos e
Corporalidades nas Culturas. Buenos Aires: Ed. Investigações em Artes Cênicas e Performáticas, 1 a 3 de
agosto de 2012.
Disponível em: http://red.antropologiadelcuerpo.com/wp-content/uploads/GT13_CaoSantiago.pdf
- Corpo e ações duracionais. Percepção e subjetividades coletivas nas práticas corporais contemporâneas.
In: Anais das Primeiras Jornadas de Estudos da Performance. Córdoba: Ed. Faculdade de Filosofia e
Humanidades da Universidade Nacional de Córdoba, 3 e 4 de maio de 2012. Disponível em:
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- Imaginar: Pensar (a Performance) com imagens em tempos de Registros. In revista digital De Poéticas
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Disponível em: http://issuu.com/santiago_cao/docs/imaginar._pensar__a_performance__co/1
- D(en)ominar. (Des)cobrir. Esquecer. Texto escrito para o catálogo da II edição do Festival MOLA -Mostra
OSSO Latino Americana de performances urbanas. Porto Seguro, Brasil. Março de 2013.
Disponível em: http://es.scribd.com/doc/187313423
Teses e Dissertações
- O que pode um corpo diante do Afeticídio Urbano? A “potência de não” e a “tática do segredo” como
formas de resistências. Dissertação escrita para o Mestrado em Urbanismo da UFBA (Universidade Federal
da Bahia) 2016. Disponível em: http://santiagocao.metzonimia.com/afeticidio
- O Corporear como prática de restauração-restituição simbólica na era das comunicações virtuais. Tese
escrita para o Bacharelado em Artes Visuais do IUNA (Instituto Universitário Nacional da Arte) 2011.
Disponível em: http://santiagocao.metzonimia.com/corporear
ENTREVISTAS CONCEDIDAS
- Clínica Performance. Entrevista realizada por Víctor Martinez e Icetrip Estevez para Radio Kaput. Cidade
de México. 25 de fevereiro de 2016.
Disponível em: https://www.mixcloud.com/RadioKaput/clinica-performance-santiago-cao
- As interrogações do corpo. Por Adriana Martins. In Diário do Nordeste, Fortaleza, 27 de octubre 2014.
Caderno 3, p. 1 e p. 3. Disponível em:
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/construcoes-coletivas-para-outros-olhares-1.1134191
- Metáforas de carne para (sa)ver: a performance em Santiago Cao. Por Katherine Fernández Albornoz.
In Revista Lindes: Estudios sociales del Arte y de la Cultura. n. 7 [online]. Buenos Aires, novembro de 2013.
Disponível em: http://www.revistalindes.org.ar/dialogos/Entrevista%20Santiago%20Cao.pdf
- Marcio Fonseca entrevista Santiago Cao. Por Marcio Fonseca. In Conversando Sobre Artes Entrevistas
com Marcio Fonseca [online]. Rio de Janeiro: 30 de junho de 2012. Disponível em:
http://conversaartes.blogspot.com.br/2012/06/marcio-fonseca-entrevista-santiago-cao.html
DOCUMENTÁRIO
O PATRIMÔNIO AFETIVO: UMA ARQUITETURA DOS AFETOS NA LADEIRA DA CONCEIÇÃO.
Microdocumentário realizado por Santiago Cao e Gabriel Ramos através das múltiplas conversações e
afetos tecidos com @s trabalhador@s e morador@s da Ladeira da Conceição, Salvador de Bahia, Brasil.
Agosto-Setembro de 2014. Disponível em: https://youtu.be/rvuFWj9DgkE
PERFORMANCE E INTERVENÇÕES URBANAS
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