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Saber conviver  

Dr. Tito lívio Lermen 
Diretor Geral do BOM JESUS/IELUSC 
Maio 
2007 

Um dos pilares da educação do  século XXI, segundo  a UNESCO  , é aprender a viver 
juntos, aprender a viver com os outros. 

A educação, segundo afirma Mercè Romans, 

“deverá  facilitar  aos  cidadãos  as  competências  sociais  necessárias,  para 


descobrir  a  realidade  e  o  direito  do  outro,  assim  como  capacitar  para  a 
participação em projetos comuns.” 2 
Nesta caminhada será possível conceber uma mudança que minore os conflitos, desde 
que  a  gestão  dos  mesmos  seja  conduzida  de  forma  pacífica,  desenvolvendo,  para  tanto,  o 
conhecimento sobre os outros, isto é, das suas culturas e até da sua espiritualidade. 

A  educação  deve  utilizar,  pois,  duas  vias  complementares,  segundo  a  UNESCO:  em 
um primeiro nível, descoberta para o outro e, em um segundo nível, ao longo da vida, projetos 
comuns. 

Quanto  ao  primeiro  nível,  dir­se­ia  que  a  educação  tem  por  missão  socializar 
conhecimentos  sobre  a  diversidade  da  espécie  humana  e  conscientizar  as  pessoas  sobre  as 
semelhanças  e  a  interdependência  entre  os  seres  humanos  do  planeta.  Rigorosamente,  a 
descoberta  do  outro  passa  pela  descoberta  de  si  mesmo  e,  por  confrontar  a  criança  e  o 
adolescente  com  uma  visão  ajustada  do  mundo,  a  educação,  seja  na família,  seja  na  escola, 
seja  na  comunidade,  deve,  antes  de  mais  nada,  ajudar  crianças  e  jovens  a  descobrir  a  si 
mesmos. Somente assim estarão aptos para colocar­se no lugar dos outros e compreender as 
reações. Desenvolver este comportamento, esta atitude de empatia na escola e na família será 
fundamental nas relações sociais ao longo de toda vida. 

A  nossa  visão  de  mundo,  nossas  interpretações,  nossa  compreensão  dos 


acontecimentos,  nossas  decisões  são  condicionadas  pela  formação  que  recebemos,  isto  é, 
seguem o colorido das lentes com que miramos a realidade. 

A  palestra  proferida  em  nossa  Instituição  pelo  Dr.  Jung  Mo  Sung  “Desenvolvimento  e 
Criatividade:  competências  sociais  e  solidariedade”,  no  último  dia  31/05,  na  abertura  do 
Programa de Capacitação Continuada de Pais, Professores e Alunos 2007, deixou igualmente 
evidenciado  de  que  um  dos  compromissos  inadiáveis  é  o  de  formar  pessoas  capazes  de 
conviver  com  o  diferente,  o  que  nos  remete  para  uma  atitude  solidária,  uma  ética  da 
solidariedade. 

Temos que contribuir na construção de organizações aprendentes, que procuram 
adicionar e criar riquezas: seus agentes humanos. 


EDUCAÇÂO:  Um  tesouro  a  descobrir   –  10ª  Ed.  São  Paulo:  Cortez;  B rasília  DF:  MEC:UNESCO, 
2006. 

ROMANS, Mercè & outros. Profissão: Educador Social. Porto Alegre: ArtMed, 2003,  p. 61
Leonardo Boff  afirma que 

“ importa  construir  um  novo  ethos  que  permita  uma  nova  convivência 
entre  os  humanos,  com  os  demais  seres  da  comunidade  biótica, 
planetária  e  cósmica;  que  propiciam  um  novo  encantamento  face  à 
majestade  do  universo  e  a  complexidade  das  relações  que  sustentam 

todos e cada um dos seres.”  
Uma ética da solidariedade, na perspectiva do cuidado, a interdependência entre 
os  seres  humanos  dá  origem  a  um  destino  comum,  carregamos  feridas  comuns  e 
alimentamos  esperanças  e  utopias  comuns.  E  como  bem  acentuado:  “ Somos... 

solidários em tudo, na vida, na sobrevi vência e na morte.”  

O termo solidariedade é uma teia de campos semânticos variados, não é palavra 
de um só significado, não é termo unívoco, mas polissêmico e às vezes até ambíguo. 

Penso  solidariedade  aqui  “ como  um  ingrediente  éticopolítico,  na  busca  de 

soluções  estruturais  e  sustentáveis  para  problemas  amplos  e  de  caráter  persistente”   , 
na perspectiva da transformação, da continuidade e não como aquela solidariedade que 
se refere tão somente a situações emergenciais e transitórias. 

A ética pela ética não se basta, segundo Edgar Morin, é preciso ter fé. 

“ Pode­se falar da fé na fraternidade, da fé no amor, da fé na comunidade; 
elas  são  não  o  fundamento  da  ética,  mas  a  sua  fonte  de  energia,  aquilo 

que vai alimentá­la.”  
A  auto­ética,  a  ética  da  liberdade  pessoal,  da  liberdade  do  sujeito  precisa  ser 
construída. 

Para ser solidário é preciso ter compaixão. É preciso assumir uma postura onde 
nossas verdades não venham a ser consideradas verdades absolutas. Nossas verdades 
precisam  ser  relativizadas  para  que  o  conhecimento  recíproco  e  o  diálogo,  como 
conseqüência,  possam  vir  a  acontecer.  A  consciência  de  que  não  sabemos  tudo  nos 
coloca numa posição de abertura para o diferente, para o outro. 

Em não sendo assim, quem não pensar e agir como nós pensamos e agimos será 
considerado  errado.  Tal  comportamento,  pautado  pelo  egoísmo,  gera  a  exclusão,  a 
discriminação. 

Saber conviver é um processo de aprendizagem que acontece ao longo da vida, à 
medida  que  vamos  ultrapassando  os  obstáculos  estabelecidos  pela  miopia  que  nos 
impede de vislumbrar um mundo mais humanizado, mais solidário. 


BOFF, Leonardo. Saber cuidar:ética do humano – compaixão pela Terra. Petrópolis: Vozes, 1999,  p. 27 

_____, Leonardo. Ethos Mundial. Rio de Janeiro: Sextante, 2003, p. 87 

ASSMANN, Hugo & Iung Mo Sung. Competência e sensibilidade solidária: educar para a esperança. 
Petrópolis: Vozes, 2000, p. 69 

MORIN, Edgar. Ética, cultura e educação. Alfredo Pena – Veja & Outros. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 
2003, p. 41

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