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humilde, recompensado por uma transio real para um status social mais
elevado(e na base disso est o fantstico compensatrio), j em O Dirio de um
louco a compensao falsa, subjetiva, doentia.3
O delrio para a personagem a nica sada de uma situao de mundo que na verdade
totalmente desajustada, uma vez que a prpria sociedade burguesa russa do conto
alienada de si mesma ao passo que tenta incorporar de maneira cega hbitos franceses e
opressores aos que no alcanam a esse padro. Assim, os surtos (no s no conto mas na
vida real) acabam sendo uma maneira divergente da dominante de se olhar para o mundo,
tornando-os to ameaadores para o resto da sociedade normal porque eles escancaram
o debate da loucura cotidiana, de como o mundo est posto a ns, de maneira
aparentemente obvia e racional. Ao reprimir o delrio, a sociedade, principalmente na
forma do direito4, exclui e condena aquilo que considerado um desvio da normalidade
para conseguir continuar a ser s, e assim continuar funcionando normalmente.
Com base nesse raciocnio, pode-se dizer que a forma que o direito trata quem possui um
transtorno mental um reflexo dessa negao da loucura implcita que o cotidiano impe,
rebaixando quem tem qualquer viso da realidade diferente dessa considerada s e ideal
para a manuteno da ordem. Fica de forma mais clara quando se analisa a legislao
brasileira a respeito do tpico:
Art. 3 do Cdigo Civil: So absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os
atos da vida civil:
(...)
II - os que, por enfermidade ou deficincia mental, no tiverem o necessrio
discernimento para a prtica desses atos;
Art. 26 do Cdigo Penal: isento de pena o agente que, por doena mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ao ou da
omisso, inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
Art. 96 do Cdigo Penal. As medidas de segurana so:
I - Internao em hospital de custdia e tratamento psiquitrico ou, falta, em
3 MELETNSKI, E. M.. Os Arqutipos Literrios. So Paulo: Ateli Editorial: 2002
4 Atualmente proibido no Brasil a internao em manicmio mas ainda h como internar por meio da
medida de segurana do Cdigo Penal, que aplicada a loucos infratores.
9 Op. cit.
10 Op. cit.