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Se o teu irmão pecar, libere perdão

1 João 1:5-10
31 de janeiro de 2010
Pastor Alcenir

O discípulo amado
A primeira carta de João foi escrita no primeiro século, por volta
dos anos 85 a 95. O João que escreveu esta carta é reconhecido como o
apóstolo joão, o irmão de Jesus Cristo. Thiago, João e Judas eram os
apóstolos irmãos de Jesus. Embora a segunda e a terceira cartas são aceitas
como tendo sido escritas pelo presbítero, entende-se que ele pode ter sido
alguém que auxiliava João ou que continuou o ministério de João com o
mesmo estilo de ensinamento, depois de sua morte.
Tradições antigas acreditam que João teve Jerusalém como base do
seu trabalho ministerial e cuidou de sua mãe, Maria, até sua morte e depois
mudou-se para Éfeso, que era uma cidade muito importante na região grega
que hoje faz parte do país chamado Turquia. Éfeso e Jerusalém eram duas
cidades, ou regiões política e culturalmente estratégicas. Éfeso foi por longo
tempo base do ministério de Paulo, ali ele teve um seminário que durou dois
anos, a chamada escola de Tirano e, em Atos 19:10, diz que “deu ensejo a
que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto Judeus
como gregos”.
Há uma tradição que acredita que Maria chegou a viver nos
arredores Éfeso nas cavernas, sempre na companhia de João, para se
proteger da perseguição aos cristãos, tendo morrido tanto ela como ele
naquela região.
A história diz que João viveu ali até ficar muito velhinho e ali ele
escreveu o Evangélho de João e suas três cartas.
Ele teve discípulos que ficaram conhecidos e fazem parte da história
da liderança da igreja. Alguns deles foram Polycarp, Papias, e Ignatius.
Ignatius foi bispo de Esmirna, Hierápolis e Antioquia. Esmirna situa-se a
mais ou menos uns dez quilometros de Éfeso.
João se vê às voltas com a questão do gnosticismo e outras
filosofias gregas relacionadas com ele, como o acetismo, que vieram a ser
base para uma heresia que se estruturou logo em seguida chamada
Docetismo.

A luz de Deus e a perspectiva gnóstica


Como já ensinei aqui, essas filosofias se mesclaram como o
Evangelho de Cristo, ou seja, juntaram seus ensinamentos com os ensinos
cristãos, e criaram uma confusão imensa.
O conceito de “luz” que está muito presente nas pregações de joão,
para caracterizar Jesus Cristo como aquele que dissipa as trevas, e clareia a
nossa visão com relação à vida futura dando-nos esperança, é a verdade e é,
também, uma contraposição, uma defesa contra o conceito de luz dos
heréticos.
A Luz de Deus é o domínio da verdade, da retidão, da pureza, da
alegria, da inefável glória. Trevas é o domínio do erro, da maldade, da
ignorância, da impiedade e da perdição.
Segundo eles, o corpo é matéria corrupta e não comunica com o
espírito que é puro. Através da “gnosis”, luz, busca de conhecimento sobre
as práticas de aperfeiçoamento do corpo, a pessoa vai se aproximando em
corpo da perfeição espiritual.
Esse é o conceito que hoje os espiritualistas ou espíritas usam para
explicar a reincarnação. Para eles o espírito é luz e através do
aperfeiçoamento eles chegam a um momento que se tornam completamente
luz, ou seja, completamente espírito ou a perfeição.
Essa heresia é totalmente antagônica, ou seja, contrária à Palavra de
Deus. E João tem um cuidado muito grande com a igreja com relação a essas
coisas.

Como um pai instrui os filhos


A maneira carinhosa, com sentimento de família com que João lida
com os crentes em suas cartas tem muito a ver com o estilo de Jesus Cristo
demonstrado no capítulo 18 de Mateus.
Em Mateus, Jesus diz que como crentes nos tornamos humildes
como crianças, submissos e fiéis. E ele diz aqui que devemos cuidar uns dos
outros como se cuidassemos de crianças. Como é que lidamos com a
crianças? Com cuidado, com carinho, com amor. E reciprocamente as
crianças naturalmente correspondem assim, pois da natureza das crianças
serem puras. Jesus diz para nos espelharmos nelas, sermos humildes como
elas são. E assim Jesus fala do bom pastor que vai em busca da ovelhinha
que cai em problemas, que é enganada por ervas viçosas e aparentemente
saborosas, que é presa fácil de espinhos, que está prestes a cair no precipício,
e a traz de volta, trata dela.
Da mesma forma ele diz para fazermos entre nós a partir do verso
15 quando entramos em problemas como a ovelhinha.

Andar na Luz
O ensino de João concentra-se em dois entendimentos errados com
relação ao pecado. Primeiro, é o conceito de que a carne não afeta o espírito,
portanto a pessoa pode pecar, pois o que vai permanecer é só o espírito. Isso
mata a doutrina do pecado. Todos pecaram, o salário do pecado é a morte, e
todos carecem da graça de Deus. Segundo, é a idéia de que podemos fazer
alguma coisa para nos aperfeiçoar e, assim, alcançar méritos. Pelo contrário,
ele diz que devemos andar na Luz, Deus é Luz, e não há nele trevas.
João faz uma reflexão que está ligada com o ensino de Jesus Cristo
com relação ao maior mandamento, ou mandamento do Reino: o amor. O
amor é tridimensional – a Deus, a si próprio e ao próximo. Assim, João diz
que se andamos na Luz que é Deus, mantemos comunhão uns com os os
outros.
Essa comunhão é o resultado prático do amor que está em nós. Se
amamos a Deus amamos também ao nosso irmão. Logo em seguida ele diz
que, assim, o Sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo pecado. Esse é o
resultado de nossa vida Cristã. A vida na comunidade dos fiéis nos dá a
consciência de que somos membros do Reino de Deus em Cristo e que o seu
sangue não só nos purificou dos pecados que haviamos cometido, mas
exerce ação contínua de perdão, visto que nossa condição de pecadores, em
nossa natureza humana, não nos permite afirmar em nenhum momento que
não temos pecado. O próprio João afirma em seguida no verso 8 que “se
disssermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos,
a verdade não está em nós”.
Aqui jão põe por terra o argumento gnóstico, deixando evidente três
erros graves: 1) A negação de de temos pecado, que somos pecadores; 2) A
negação de que o pecado quebra a comunhão com Deus; e 3) A negação de
que o pecado quebra a comunhão com os irmãos, afeta a comunidade,
porque ele afeta a nossa conduta e, portanto, o pecado tem conseqüência
social, de relacionamento.
João nos conforta no verso 9 dizendo que Ele é fiél e justo para nos
perdoar e nos purificar de toda injustiça, se confessarmos nossos pecados.
João termina o capítulo 1 fazendo uma afirmativa que é radical: se
dissermos que não temos pecado, estamos chamando Deus de mentiroso e a
palavra dele não está em nós.
Portanto, devemos andar na Luz, pois sob a luz de Deus, estamos
constantemente sendo incomodados pelo Espírito Santo a respeito da nossa
condição. O pecado e vida pecaminosa estão sempre em evidência clara, e
procuramos viver em retidão, em constante reconhecimento e confissão. E,
assim, nos sentimos perdoados.

Se o teu irmão pecar


A vida em comunidade, quando não é regida por regras firmes,
muitas vezes se torna insustentável. Assim acontece muito nas famílias.
Algumas pessoas se tornam verdadeiros pesos para os demais. A mãe, o pai,
um irmão ou uma irmã desenvolve um comportamento dominador e
opressor, forçando muitas vezes alguns membros da família abandonarem a
casa.
Muitas vezes um dos membros da família se acha o dono da
verdade, o correto e todos os outros errados. Não aceitam ser confrontados
nem mesmo quando está reconhecidamente errados, pois não se consideram
assim.
Na igreja acontece o mesmo. Esta foi uma grande batalha de Jesus
Cristo na igreja da época, os judeus. Entre eles, muitos se consideravam os
melhores, os irrepreensíveis, os santos. Esses eram os primeiros a apontar o
dedo, a dizer que o irmão pecou, que o irmão adulterou, que o irmão roubou,
que o irmão cobiçou, que o irmão assediou, que o irmão não ajudou aos
pobres, que o irmão não deu o dízimo, que o irmão não foi no culto de
quinta-feira para ver o futebol, que a novela está substituindo a igreja na
vida de alguns, que a saia da irmã está muito curta, a calça da outra está
muito apertada, o decote de fulana está imoral.
Muitas vezes eram pecados cuja punição era pena de morte, o
apedrejamento. Exemplo disso foi a mulher que troxeram perante ele
dizendo que tinha sido flagrada em adultério (João 8:7).
Jesus Cristo disse em outras palavras o que João diz no capítulo 1
de primeira carta. Quem não tiver um único pecado, atire a primeira pedra.
João aqui está dizendo que se andarmos na luz nós vamos contagiar
uns aos outros. Esse contagiar a erradiação da Luz de Deus de tal forma que
as trevas não prevalecerão, qualquer resquício de trevas que por acaso caia
na vida de algum irmão vai ser revelada e será purificada. Essa luz é o
Sangue de Jesus Cristo que nos purica de todos os pecados continuamente. É
a graça abundante da qual somos dependentes a todo instante.
Assim, em uma igreja que vive na luz, que anda na luz, não há
necessidade de ninguém apontar o dedo, julgar, fofocar uns com os outros a
respeito de vida irregular de alguém, pois naturalmente o crente se sente
incomodado, pressionado pelo peso do pecado, sente falta de paz no
coração, e busca o perdão dos pecados no sangue do cordeiro, no amor de
Jesus Cristo que é abundante em nosso meio.

Conclusão: O perdão não tem limite


Você certamente vai dizer: pastor você está indo contra o que Jesus
ensina em Mateus 18:15-20. Não. Há três ensinos básicos que esse texto nos
dá e eu quero ressaltá-los para concluirmos: Primeiro, Jesus trata de um
pecado particular de um irmão para o outro; segundo, o pecado se torna
público, passa a ser comunitário, e contra Deus; terceiro, que para o perdão
não há limites, os problemas são tratados como em uma família e em amor.
Ele diz se o teu irmão pecar contra ti. Se andarmos na luz, diz João,
temos comunhão uns com os outros, ou seja, não há problema que não deva
ser considerado e trazido à Luz. Assim, havendo injustiça, impureza, o
coração daquele que foi afetado já está predisposto a ministrar o perdão. A
paz volta a reinar entre os dois e a comunhão é restaurada.
Quando o pecado sai do âmbito da relação pessoal. Impulsionados
pelo amor que existe em nós, desejosos de restaurar o relacionamento, a
comunhão, o assunto é compartilhado com outros irmãos da igreja como
testemunhas para que haja restuaração da comunhão, cura espiritual,
reinstauração da paz. Não havendo solução torna-se um pecado da
comunidade e contra Deus.
O perdão não tem limite. O que Jesus Cristo quer estabelecer aqui é
a lei da comunidade da nova aliança, onde o amor é sincero, é honesto, é
benigno, é paciente. O amor na comundade da nova aliança é como o
coração de mãe, é como o coração do pai na parábola do filho pródigo,
quando para todos nenhum recurso de perdão era possível, ainda havia
perdão no coração do pai. É isto que Jesus está ensinando aqui, ou seja,
todos os recursos do amor e do perdão devem ser esgotados. Depois dplina
disso, a disciplina deve ser aplicada.
Pedro então conclui: senhor quando então isso acontece? Jesus
responde: QUASE NUNCA, ou seja, setenta vezes sete. Pois certamente o
amor e o perdão vencerão a batalha.

Amém

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