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RELATÓRIO TÉCNICO

PROJETO CIDADE CRIANÇA - ARAÇUAÍ / MG


ABRIL / MAIO / JUNHO
2006

INTRODUÇÃO

O objetivo do projeto Cidade Criança Araçuaí é cuidar das crianças de zero a seis anos. Acolhimento,
cuidado, aprendizagem e oportunidade são o alvo do projeto, a essência de tudo o que é feito com as
crianças e para as crianças.

Em abril, aconteceram duas capacitações de 40 horas cada, para um público total de 54 pessoas da
zona urbana da cidade de Araçuaí. O objetivo foi criar mais dois núcleos, totalizando mais 13
educadores para o projeto Cidade Criança, entre mães cuidadoras e a agentes comunitárias de
educação.

Atualmente, na zona rural, o projeto Cidade Criança conta com 11 mães cuidadoras, 6 agentes
comunitárias de educação, 20 gestantes e 199 crianças; na zona urbana de Araçuaí, são 8 mães
cuidadoras, 5 agentes comunitárias de educação, 18 gestantes e 221 crianças.

ATIVIDADES DE ACORDO COM O PLANO DE TRABALHO E AVALIAÇÃO (PTA)

As dimensões do plano “AÇÃO”, sigla de Acolhimento, Convivência, Aprendizagem e Oportunidade,


são avaliadas durante as atividades diárias do projeto Cidade Criança. Algumas perguntas estão
sendo respondidas e, com a ajuda das crianças no dia-a-dia, já é possível detectar vários indicadores
e evidências de que o objetivo vem sendo alcançado. Ou seja, as crianças de zero a seis anos estão
sendo cuidadas de forma diferenciada, podendo expressar seus sonhos e desejos.

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• Atividades de Acolhimento

Em visita às casas das crianças nos núcleos da zona urbana, as mães cuidadoras perceberam que
ainda há muita falta de informação, de cuidados e de higienização por parte da maioria das mães.
Embora o grupo sempre argumente com as mães sobre a importância do aleitamento materno,
algumas criam inúmeras desculpas para não amamentar o bebê só no peito até os seis meses de
idade. Esse é um dos maiores desafios do grupo: convencer as mães a amamentarem seus filhos.

Tem-se discutido também a respeito da alimentação, pois há muitas crianças fora do peso. Fazer uma
hortinha em casa e aproveitar bem os alimentos são as metas das mães na comunidade.

A equipe da zona urbana encontra dificuldades diferentes das apresentadas na zona rural. Como
estão no início do trabalho, tudo é um grande desafio. Com as visitas, o envolvimento com o projeto
Cidade Criança vem aumentando a cada dia. As mães cuidadoras e agentes comunitárias de
educação já percebem que as crianças estão mais bem cuidadas e mais limpas após algumas oficinas
de beleza. Elas cortaram, limparam e passaram base nas unhas, lavaram e arrumaram os cabelos e
foram incentivadas a tomar banho e usar roupas limpas.

Houve uma conversa preliminar com as crianças e com os pais a respeito da higienização, pois eles
não davam a devida importância para esses cuidados. A partir das conversas, esses hábitos antigos
vêm sendo modificados. Já é possível perceber algumas mudanças positivas em relação aos cuidados
com as crianças, pois o cartão de vacina encontra-se em dia, o peso está aos poucos sendo controlado
e as famílias percebem a importância de receber uma mãe cuidadora em sua casa.

Na comunidade de Alfredo Graça, a mãe cuidadora da menina Nataly Marissol, que nasceu com
lábios leporinos, percebeu que, apesar da deficiência, a criança está bem desenvolvida, saudável e
responde a todos os estímulos. Segundo sua mãe biológica, Maria Divina, a visita da mãe cuidadora
lhe faz muito bem e ela demonstra isso. A mãe de Nataly está mais tranqüila com a filha, já passeia
com ela, cuida melhor, brinca e a aceita como filha. A fase de não-aceitação da criança já passou,
depois de muita ajuda, entendimento e contribuição de toda a equipe de mães para que essa
mudança acontecesse.

Com a chegada do inverno, período em que as crianças tendem a ficar gripadas e resfriadas, as mães
cuidadoras ensinam e incentivam as mães a preparar o xarope de umbigo de banana, que é simples,
eficaz e fácil de fazer. Com a notável recuperação das crianças, as mães passam a confiar ainda mais
no projeto, contribuindo, trocando receitas e ajudando como podem.

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Conforme consta no relatório anterior, as duas crianças gêmeas idênticas que tinham dificuldade em
saber a sua própria identidade – Daniele e Grabriele – já estão conseguindo distinguir quem é quem,
auxiliadas por conversas e acompanhamentos das mães cuidadoras. Este é um trabalho que vem
exigindo maior esforço de todo o grupo de educadores, após a descoberta da mãe cuidadora de que
as crianças e até mesmo a mãe não sabiam identificar quem era uma e outra. Iniciou-se, então, um
trabalho de pesquisa sobre as crianças, seus comportamentos, gostos, fotos etc.

Essa atividade foi iniciada no momento em que a mãe se recordava de ainda saber identificar cada
uma. Hoje é mais raro cometer erros, pois foi descoberta uma manchinha bem leve no pescoço da Bi
(Gabriele). Sempre que a dúvida aparece, o pescoço é que socorre. Ainda existe alguma dificuldade
em identificar as crianças, mas a busca de soluções não vai parar enquanto as elas não estiverem
seguras de quem é quem. A mãe cuidadora está satisfeita com o avanço do seu trabalho e com a
contribuição de toda a equipe.

Na comunidade da Baixa Quente, aconteceu uma oficina de xarope caseiro, iniciativa que partiu das
mães cuidadoras. Elas perceberam que as crianças estavam muito gripadas e seria um momento ideal
para discutir com as famílias a importância do uso das plantas medicinais no cuidado com a saúde.
Há anos, isso era comum e muito vivenciado neste grupo por suas mães e avós, mas hoje reunir a
comunidade para fazer algo é uma prática que está se tornando cada vez mais rara. Houve boa
participação das mães, que valorizaram a medicina alternativa e os costumes da comunidade. E o
mais importante: as crianças já usam os xaropes com gosto e vaidade, pois “foi a mãe quem fez, é
melhor e mais gostoso do que o da farmácia”.

O grupo das gestantes da comunidade de Schnoor está cada dia mais interessado e alegre. As
gestantes passaram a se encontrar para fazer os mimos para os bebês, participar de caminhadas, que
ocorrem uma vez por semana, além de receber as visitas em suas casas, que também acontecem uma
vez por semana. A mãe cuidadora responsável pelas gestantes está muito satisfeita com os resultados
positivos do trabalho. Ela busca novidades para as gestantes e procura estar sempre disponível para
todas. Mesmo em horários diferentes do trabalho, há mais integração entre mãe cuidadora e
gestantes.

Com a mudança de clima, quando as crianças costumam ficar gripadas e mais desanimadas, as mães
cuidadoras sentiram a necessidade de juntar toda a comunidade para uma oficina de xarope caseiro.
Houve boa participação das mães, que ajudaram a preparar o xarope feito de alho e rapadura. Foi
um momento de troca entre as mães cuidadoras e as pessoas da comunidade que participaram. Já

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podemos observar que as crianças estão se recuperando bem, as mães têm um novo olhar para os
remédios caseiros e uma nova forma de prepará-los, com mais higiene e cuidados necessários.

• Atividades de Convivência

Algumas famílias do núcleo de Araçuaí já se apropriaram do projeto, pois participam da roda com as
crianças, ajudam a confeccionar brinquedos, participam das oficinas de produção de xarope,
pomadas, xampus etc., que acontecem de 15 e 15 dias em cada bairro, juntamente com a equipe do
projeto Cidade Educativa. Essa participação está interferindo de forma positiva na saúde das crianças
e dos adultos, que também vêm fazendo uso dos produtos das oficinas.

A Folia do Livro é outra atividade que acontece junto à equipe do Cidade Educativa. Além de trabalhar
nos mesmos bairros e com as mesmas famílias, é um objetivo da equipe concentrar e fortalecer as
ações do CPCD. Essa atividade é a mais querida de toda a comunidade, que se arruma como se fosse
para uma festa. Na verdade, é uma festa. A leitura a partir da folia é mais estimulada, as pessoas
procuram os livros e à noite lêem com os filhos. É uma forma muito positiva de ter a família reunida.
As crianças, às vezes, até aborrecem os pais com os pedidos de “conta uma história”, e todos se
emocionam ao ver o filho dormindo tranqüilo. “Este Projeto ajuda a gente a criar os filhos melhor”.

Embora o grupo esteja iniciando o trabalho, já é possível identificar alguns problemas, pois a equipe é
competitiva e descompromissada. Duas pessoas desistiram e não comunicaram nada para a roda. A
comunidade só quer ganhar: quer que o Sementinha tenha espaço próprio, que as educadoras
busquem as crianças e levem de volta para casa. Na zona urbana, há “vícios” diferentes dos
observados na zona rural. É preciso mais atenção, jeito e vontade de ajudar a mudar.

Uma vez por semana, as crianças do projeto Cidade Criança de Alfredo Graça se reúnem em algum
lugar da comunidade para fazer algumas atividades coletivas. São passeios nas ruas, nos rios e nas
casas das crianças, contação de histórias, brincadeiras de roda, momentos culturais de músicas e
filmes, além de brincadeiras com brinquedos confeccionados pelas educadoras e mães das crianças,
com o intuito de trabalhar a socialização entre elas. Essa atividade vem contribuindo para um maior
envolvimento do grupo, das mães e das crianças. Cada um contribui com o que sabe fazer e com o
que tem em casa e todos se tornam responsáveis pelas crianças, que aos poucos vão aprendendo a
conviver com outras pessoas. A “aldeia” vai se apropriando das atividades e se envolvendo mais com
todas as crianças.

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As mães cuidadoras e agentes comunitárias de educação sentiram a necessidade de festejar a Páscoa
com as crianças. Como o chocolate não é comum na comunidade, elas aproveitaram para reunir pais
e filhos para ver um filme e compraram pirulitos e balas para as crianças colocarem nas cestinhas e
bolsas que elas próprias confeccionaram, utilizando litros descartáveis. No domingo de Páscoa,
encontraram com as crianças e pais no centro comunitário, onde foi exibido um clássico infantil, e
distribuíram as cestinhas acompanhadas de balas e pirulitos, que fizeram a festa das crianças. Os pais
gostaram muito e estão sempre envolvidos nos acontecimentos do projeto.

“A gente não tem muito tempo para os filhos. Essas coisas que o projeto faz são boas, porque
mostram pra gente a importância que tem participar junto com eles.” Daniela, mãe das gêmeas Bi e
Dani.

Em Alfredo Graça, a Folia do Livro – atividade que tem o objetivo de levar livros para que a
comunidade possa ter acesso à leitura de forma diferenciada e lúdica –contou com a participação de
toda a comunidade, desde os ensaios, a confecção da bandeira e do mastro, até fazer o grude com a
goma que está sendo produzida na comunidade, que, aliás, facilitou o trabalho com sua eficácia e
rapidez na secagem. A Folia foi um sucesso e quem não pôde acompanhar ficou em casa nas janelas.
A escola da comunidade liberou os alunos do Ensino Médio para participarem da Folia, juntamente
com a direção, supervisão e alguns professores.

“Este projeto é excelente! A comunidade precisa de coisas assim. Amanhã mesmo vou falar com os
outros professores para apoiarem e incentivarem o uso dos livros das algibeiras.”
Gislene - Diretora da escola

“Vou olhar todo o material e ver como posso usá-lo com meus alunos. Seria interessante vocês levarem
para a escola em um horário também.”
Marleide - Professora

“Que beleza! Eu gostei muito dessa folia, me lembrei de coisas boas do passado. E os livros, então?
Que maravilha! Agora ninguém pode falar que não existem livros bons na comunidade.”
Carminha - Moradora
Comunidade Alfredo Graça

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“É uma opção a mais para os pais educarem e ficarem mais tempo ao lado dos filhos. Os livros são
interessantes e toda criança gosta de livro até entrar para a escola e desgostar. Por que será?”
Lúcia - Moradora da Comunidade Alfredo Graça
Dona da casa onde está a Algibeira.

O Cinema Itinerante é uma grande atração na comunidade da Baixa Quente. As mães cuidadoras
estão se preparando para a próxima exibição, que acontecerá no mês de julho. O filme a ser exibido é
o clássico infantil “O Rei Leão”, a pedido da própria comunidade, tendo em vista o número de
crianças presentes na última vez. Esta atividade já é coordenada pelas pessoas da comunidade, o que
demonstra grande apropriação por parte de todos.

Em Engenheiro Schnoor, as crianças do Sementinha se dedicam a cuidar da horta. Essa é uma


iniciativa que partiu do próprio grupo e que tem a intenção de fazer do espaço um lugar em que, além
de uma horta saudável e bonita, possam acontecer brincadeiras, um bate-papo gostoso, enfim um
local pequeno onde aconteçam atividades de integração, participação, harmonia e respeito entre as
crianças e a comunidade. O local foi emprestado por um morador, os pais fizeram a parte pesada do
trabalho – a capina – e as crianças, juntamente com a educadora, plantam e cuidam da horta.

Os outros grupos também participam desta atividade. Todos se envolvem com a horta, desde os mais
novos, que a utilizam para passeios, até os mais velhos, que cuidam dela com carinho e curiosidade.
Cada semente que nasce é uma “festa” para o grupo.

A Folia do Livro está encontrando grande aceitabilidade na comunidade de Schnoor. As mães


cuidadoras e agentes comunitárias de educação se apropriaram da atividade, organizando e
mobilizando toda a comunidade para a folia. Os preparativos e ensaios aconteceram com a
participação de todos e foi muito positivo todo o processo antes e durante a folia. A partir das
avaliações, ficou combinado que acontecerá uma folia a cada mês, pois as crianças têm muito gosto
pelos livros e o encantamento só tem aumentado a cada dia.

A atividade do cinema ainda encontra muitas barreiras na comunidade, mas já houve um avanço em
relação à escola, que liberou alunos e professores do noturno para participarem da exibição de filme
na quadra. As crianças ficam encantadas com a tela, o colorido, as músicas, mas as mães ficam
desesperadas, pois a religião da maioria da comunidade não permite ver TV. Cinema, então, é mais
complicado. Mesmo assim, as crianças vão escondido e as mães saem procurando por elas entre a
multidão e acabam por levá-las embora durante o filme.

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Ainda não foi encontrada uma solução para que essas crianças possam participar com calma dos
filmes, mas as mães cuidadoras e agentes comunitárias de educação estão tentando algumas formas
de convencer as mães de que não existe nada de negativo nessa atividade. A escolha do filme é feita
em grupo e as pessoas podem sugerir o tema, o que evita a exibição de algo negativo para as
crianças, mesmo porque este não é o objetivo do projeto Cidade Criança.

As rodas de viola, atividade realizada à noite que junta muita gente da comunidade para cantar e
ouvir moda de viola, tem reunido muitas crianças. Elas gostam muito e participam ouvindo, pois ainda
não conhecem bem as músicas. Esta atividade acontece uma vez por mês e consegue reunir crianças,
jovens, adultos e idosos em uma mesma atividade, que se mostra rica em cultura e divertimento.

A roda de contação de histórias é uma atividade ainda pouco participada, mas que consegue juntar
crianças e idosos para ouvir e contar histórias. As crianças saem contando histórias novas na manhã
seguinte e se envaidecem com a aprendizagem. Essa atividade acontece também uma vez por mês e é
esperada com ansiedade. As pessoas anotam as histórias que vão lembrando ou ouvindo nesse
intervalo de tempo e depois escolhem as que querem contar para a roda.

• Atividades de Aprendizagem

Durante as capacitações, aconteceram atividades com textos, dinâmicas, avaliações, memórias,


construção de Plano de Trabalho e Avaliação (PTA), produções de brinquedos e uma oficina paralela
sobre medicina alternativa, que resultou na confecção de uma pomada cicatrizante que cada um levou
para casa.

Os textos contribuíram para as discussões em grupo e na roda. Foram momentos de ajuda mútua, já
que algumas pessoas eram analfabetas e ou semi-analfabetas. Os temas abordados sempre tiveram o
objetivo de discutir a situação da criança e da gestante, criando momentos de intensa troca e interesse
por parte de todo o grupo.

A avaliação contribuiu para o amadurecimento dos grupos, que aos poucos foram se identificando
com a oficina e deixando de competir por “uma vaga”, passando a trabalhar mais a cooperação e o
companheirismo.

As produções de brinquedos foram momentos de prazer e de boas lembranças. Muitos se lembraram


de brinquedos antigos e até confeccionaram alguns da infância já quase esquecida. Pelas ruas, os
brinquedos fizeram muito sucesso e as crianças esperavam a hora de voltar para casa levando a

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produção do dia. As sucatas já começam a ser procuradas e guardadas para virar brinquedos e
enfeites, deixando as crianças curiosas e interessadas em contribuir com a coleta desses materiais.

Fazer brinquedos, além de “terapia”, é uma das atividades mais bem aceitas pelas crianças do projeto,
daí a sua prática desde a oficina. Ao fazer um brinquedo, é possível descobrir habilidades, interesses e
valores escondidos pela timidez.

Todas as atividades realizadas durante as capacitações são avaliadas com o grupo e muitas vezes
surgem novas formas de fazê-las, de acordo com cada grupo e sua maturidade. A memória, relato de
todos os acontecimentos do dia, é um exercício de escrita e de preparação para os futuros relatórios
do trabalho, que finalizam nos relatórios técnicos trimestrais do projeto. Fazer e ler a memória para
todo o grupo avaliar é uma forma de escrever melhor, relatar melhor e aceitar a opinião dos colegas
para enriquecer o relato e, conseqüentemente, melhorar o trabalho.

A construção do PTA aconteceu da maneira mais simples possível, dada a dificuldade do grupo. Como
já existe um PTA geral do projeto Cidade Criança, ele foi estudado e nele foram acrescentadas
algumas atividades diferenciadas, já que este grupo, sendo da zona urbana, terá contribuições e
parcerias das equipes dos projetos UTI Educacional e Ser Criança de Araçuaí, que são também
projetos do CPCD.

Durante a capacitação do segundo grupo de educadores, aconteceu, paralelamente, uma oficina de


produção de pomada cicatrizante. O grupo participou com interesse e contribuiu levando as ervas, os
paus de lenha, a panela de ferro e os vasilhames para guardar a pomada. Aprender a fazer a
pomada e outros remédios alternativos é muito importante, pois tudo isso será trabalhado com as
comunidades, com o objetivo de cuidar melhor da saúde de cada criança, além da valorização da
medicina e da alimentação alternativas.

O Bornal de Jogos, muito usado pelas equipes dos projetos Cidade Educativa e Cidade Criança, ainda
não havia sido realizado. Ao combinar uma oficina do Bornal, a equipe do projeto Ser Criança
convidou as equipes do Cidade Educativa e do Cidade Criança da zona urbana para participarem. Foi
uma experiência muito positiva: além do objetivo claro da oficina, houve maior entrosamento das
equipes.

Os jogos criados conseguem contemplar as dificuldades dos três projetos, pois a idéia foi sempre um
contribuir com o outro. No mesmo jogo, já vêm formas de adaptação e sugestões de mudança de
acordo com a faixa etária e os problemas abordados. Para o Cidade Criança, projeto mais novo dos

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três em questão, foi muito positivo: os textos, as dinâmicas, os jogos e, principalmente, as discussões
em roda contribuíram para o crescimento da equipe. As crianças gostam muito de jogar e estão
sempre criando novas formas de brincar. Para elas, o jogo é algo que desafia e nada melhor que
vencer desafios, juntos, no Sementinha.

Cada comunidade tem uma forma diferenciada de resolver os problemas que vão surgindo no Cidade
Criança. O uso do Plano de Trabalho e Avaliação (PTA) contribui para o trabalho a ser realizado e
para a sua avaliação. As mães cuidadoras e agentes comunitárias de educação procuram colocar o
PTA em prática de formas inovadoras, no intuito de contribuir com a aprendizagem das crianças e,
conseqüentemente, com a própria aprendizagem.

Margarete, uma mãe cuidadora da comunidade de Alfredo Graça, vendo a dificuldade de algumas
crianças em se alimentar e a falta de paciência e de jeito das mães em conseguir algum resultado,
resolveu convidá-las para um guisado em sua casa. O guisado é comum nas comunidades, mas ainda
é uma diversão das meninas que estão aprendendo a cozinhar. Consiste em fazer uma comidinha nos
quintais de casa para comer em grupos. Assim, ela aproveitou o momento para conversar sobre os
alimentos que seriam utilizados na comida e a importância de cada um. Cada criança ajudou como
pôde: alguns cortavam, outros lavavam, outras juntavam gravetos para o fogareiro.

Foi um momento muito agradável e as crianças que tinham dificuldade de comer algum tipo de
verdura não tiveram nenhum problema com o cardápio. Ao chegar em casa, todos tinham o que
comentar com as mães, mas o que mais enfatizaram foi sobre o prazer em fazer sua comida e a
capacidade que tinham para isso, pois a comida ficou mesmo muito gostosa.

Com o guisado, todos aprenderam, mas as mães aprenderam também que é possível e importante
que os filhos participem de tudo, para que tenham maior interesse. Elas perceberam que isso influi
positivamente na aprendizagem, mesmo no caso das crianças mais novas, pois nesse grupo havia
crianças de um ano e meio a três anos.

Na comunidade da Baixa Quente, em atividades simples do dia-a-dia, é possível identificar o


amadurecimento das pessoas envolvidas com o projeto Cidade Criança. A aldeia realmente vem
aprendendo com os “pequenos”.

Durante a oficina de tinta de terra, é possível detectar várias transformações, não só dos objetos,
muros e casas trabalhados, mas principalmente das pessoas envolvidas. Isso pode ser confirmado no
carinho, na dedicação e no cuidado com o produto final. Uma peça tem muito de quem a transforma,

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sem perder sua forma original, sem deixar de ser ela, assim como nós vamos aprendendo e nos
transformando, sem perder nossas raízes, ficando apenas melhores.

“Mas eu tô feliz demais! Este pote aqui tem mais de 20 anos, foi o primeiro que minha mãe fez. Eu até
lembro o dia.”
Pretinha - Laurinda - Mãe cuidadora

Recordar e reviver momentos bons é algo que ajuda a abrir os olhos para uma forma diferenciada e
inovadora de cuidar das crianças e, ao mesmo tempo, aprender com elas. Após a oficina de tinta de
terra, as mães cuidadoras, juntamente com algumas adolescentes, começaram a colocar em prática o
que aprenderam. Hoje já é possível ver a comunidade da Baixa Quente com outra cara. As pessoas
elogiam a criatividade do grupo, que transformou alguns bares, salão de beleza e quadra de esporte,
dando-lhes um visual mais bonito e alternativo. O grupo está muito animado e pretende colocar em
prática o novo aprendizado em toda a comunidade.

A comunidade da Barra do Curuto já se apropriou da idéia de que é preciso envolver toda a “aldeia”
para educar uma criança. A partir de uma iniciativa das crianças, as mães contribuem como podem
para as atividades do Sementinha. O lanche é feito com ingredientes que a população oferece, sendo
que o Cidade Criança contribui com o leite e a carne, produtos dificilmente encontrados na
comunidade. Aos poucos, o leite de soja está sendo incorporado à alimentação das crianças.

Esta é uma das formas de valorizar o que há na comunidade e de contar com a participação mais
ativa das mães no projeto. As crianças também contribuem, ajudam a buscar a lenha para cozinhar o
lanche e fazem isso com a maior satisfação. Já se apropriaram do espaço, pois é possível notar um
lugar mais organizado, limpo e bonito. Tudo isso com a ajuda das crianças. Todos os dias, assim que
terminam o lanche, elas ajudam a lavar as vasilhas no córrego e a organizar o ponto de encontro.

O maior problema tem sido receber o espaço limpo e organizado, pois à tarde um grupo de mães se
encontra para produzir bordados e costuras e não deixa o espaço organizado. As crianças já estavam
incomodadas com essa rotina e resolveram fazer desenhos e recadinhos sobre a higiene e a
importância de conservar o espaço limpo. Uma criança mandando recadinhos para outra criança,
para não criar problemas com os adultos, o que era uma dificuldade para o grupo.

O lixo também tem incomodado as crianças. Elas sempre procuram catar tudo e encontrar um fim
mais adequado para o material coletado, limpam os caminhos por onde andam, a margem do rio, os
quintais e, principalmente, o espaço do Sementinha. Elas ainda têm problemas com a limpeza, mas já

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estão vendo mudanças: mais uma vez, os adultos aprendendo com as crianças, de forma tranqüila e
alegre.

A cada dia, as mães cuidadoras vão descobrindo novas atividades capazes de facilitar a aprendizagem
das crianças de zero a um ano e meio. Clédia – mãe cuidadora da comunidade de Schnoor –
descobriu que levar para a quadra as crianças que têm dificuldade de andar dá um ótimo resultado,
pois elas podem segurar nas grades, onde encontram o apoio para se movimentar sem medo. Essa
prática, segundo avaliação do grupo, é muito eficaz. A iniciativa está dando certo e as outras mães
cuidadoras já estão adotando a experiência. Aos poucos, com a ajuda das próprias crianças, as
perguntas do PTA vão sendo respondidas.

A comunidade foi convidada a participar da oficina de construção de caixas d’água para irrigação e
para captação de água de chuva. A oficina foi ministrada por dois integrantes do IPEC, nos dias 20,
21, 22 e 23 de junho, e contou com a participação de pessoas das comunidades rurais e urbanas de
Araçuaí. Foram construídas duas caixas, uma de 28 mil litros para irrigação e outra de 15 mil litros
para captação da água de chuva. José e Admilson foram os representantes de Schnoor.

Além da aprendizagem de construção das caixas, o objetivo da oficina foi que todos os participantes
pudessem ensinar a nova técnica assim que retornassem à sua comunidade de origem. Houve
participação ativa das pessoas e grande vontade de aprender. Admilson já foi convidado a ensinar a
técnica em uma comunidade próxima de Schnoor.

Foram quatro dias de muita troca, aprendizado e conhecimento para os participantes. O trabalho foi
feito em grupos e todos tinham total sintonia, pois havia nas pessoas um enorme interesse em
aprender e todos contribuíram para que a oficina acontecesse de forma prazerosa e menos cansativa.

Juntamente com outras pessoas de Araçuaí, Admilson representará a comunidade em uma oficina que
acontecerá em Pirinópolis (Goiás), durante uma semana. Essa aprendizagem só vem a contribuir com
a qualidade de vida das crianças e de toda a comunidade, além de aumentar os conhecimentos e a
auto-estima dos envolvidos.

• Atividades de Oportunidade

Acolher e cuidar de uma criança são atitudes mais tranqüilas quando se tem a certeza de que o
objetivo do projeto está sendo alcançado. Em junho, aconteceu a oficina de saúde com a enfermeira
Adriane, de Curvelo. Este é o segundo módulo e teve como objetivo o aleitamento materno, os

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cuidados com o recém-nascido e a Shantala – massagem africana que favorece o contato com a
criança, estimula os músculos, acalma e passa confiança e carinho para a criança. É um momento de
troca interior entre mãe e filho.

Foram dois dias de oficina, um na comunidade de Schnoor e outro na de Alfredo Graça, sendo que as
demais comunidades terão a oficina em julho. A oficina foi muito rica em troca de experiências e
principalmente em contato com a comunidade. Ao satisfazer pedidos da própria comunidade, o grupo
desta vez foi maior e cada comunidade teve seu dia de oficina. Não houve agrupamento das equipes
em um mesmo local, como no primeiro módulo.

Dúvidas e tabus sobre aleitamento materno foram sanados com discussões, teatros e leituras.
Inicialmente, os cuidados com o recém-nascido e a Shantala foram ensinados usando-se uma boneca
que cada um levou para a oficina. Em seguida, a aprendizagem contou com a ajuda de todos os
participantes: em dupla, cada um fez com o colega o que aprendeu do método Shantala.

Foi interessante e as pessoas gostaram muito, pois a Shantala tem uma história muito bonita. Como
dever de casa, Adriane deixou algumas atividades que as educadoras – mães cuidadoras e agentes
comunitárias de educação – irão fazer junto com a comunidade, o que já foi combinado na roda da
oficina. São atividades de acolhimento e a avaliação será realizada no próximo módulo, na oficina de
setembro.

“Esta oficina foi muito boa, mas podia ter acontecido antes das gêmeas. Quem sabe assim eu teria
amamentado? Senti muita paz e segurança quando estava recebendo a massagem e estou mais calma
agora do que antes da oficina.”
Daniela, mãe de Bi e Dani
Comunidade Alfredo Graça.

“Eu gostei! Desde o outro curso, eu já havia aprendido muita coisa e até ensinei gente mais velha do
que eu e que me julgava ignorante de muitos assuntos de saúde da mulher. São pessoas que agora
me respeitam, porque sabem que eu tenho muito conhecimento sobre o assunto. Agora vou poder
falar com mais segurança sobre a amamentação.”
Cláudia - Agente comunitário de Educação
Comunidade Schnoor.

As equipes de mães cuidadoras e agentes comunitárias de educação estão se apropriando cada vez
mais do projeto Cidade Criança e cada comunidade começa a contar com uma coordenação local a

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partir de julho. Esta idéia tem boa aceitação das equipes e é uma forma de obter maior rapidez e
segurança para resolver os problemas e sugerir novas propostas para cada comunidade. Além disso,
pode contribuir com as outras comunidades, pois existe um intercâmbio de coordenação com
coordenação, o que deixa todas as equipes inteiradas do projeto como um todo.

Assim que foi concluída a capacitação da equipe de Araçuaí, as mães cuidadoras e agentes
comunitárias de educação do Cidade Criança iniciaram o trabalho de campo, que é feito nas zonas
periféricas de Araçuaí. O atendimento acontece em cinco bairros: Arraial, Nova Esperança,
Pedregulho, Corredor e Piabanha. O Nova Esperança é um bairro de grande aglomeração e é
considerado muito carente pela população. Percebe-se também que as crianças são muito carentes de
carinho e acolhimento. Algumas sentem falta da presença do pai, que viaja para as usinas de cana de
açúcar em São Paulo, retornando somente no final do ano. Isso é comum nos demais bairros
atendidos pelo projeto Cidade Criança.

As mães cuidadoras têm encontrado algumas dificuldades no trabalho, pois houve resistência por
parte de algumas mães em aceitar o projeto Cidade Criança. Elas alegam que gostariam que o
atendimento fosse igual ao de uma creche, com local próprio para atender as crianças durante o dia
inteiro. Outra dificuldade é encontrar as mães em casa, o que tem dificultado o trabalho.

Em Araçuaí, as agentes comunitárias de educação que trabalham com o Sementinha tiveram a


oportunidade de participar com as crianças do “Dia do Brincar”, que aconteceu em uma praça no
centro da cidade. As agentes aceitaram o convite feito pelo Ser Criança e não mediram esforços para
participar. Foi uma oportunidade ímpar: as crianças participaram de atividades como teatro, oficina de
brinquedo, cantiga de roda, e muitas brincadeiras, juntamente com as educadoras e crianças do Ser
Criança, professores e alunos da Escola Isaltina Cajubi.

A equipe pôde contar também com algumas mães que se prontificaram para ajudar a trazer as
crianças. Como elas moram muito distante, este passeio foi o mais longo e mais preocupante para as
mães. Muitas crianças só tinham costume de sair com a mãe e assim mesmo de ônibus, por isso as
descobertas do caminho foram uma verdadeira festa. Era preciso parar sempre para ver algo novo.

No final, foi servido um almoço no projeto Ser Criança e as crianças tiveram pela primeira vez a
oportunidade de sentar em uma mesa e colocar sua própria comida. Mais gostosas do que a comida
eram as carinhas de satisfação e alegria em se servir. Como no Sementinha da zona urbana não tem
horário de lanche, elas não têm costume de comer juntas e de se servir.

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Na comunidade de Alfredo Graça, o cinema levou uma multidão de pessoas para a praça, que
tiveram a oportunidade de assistir ao filme “O auto da compadecida”. Nesse dia, aproximadamente
200 pessoas saíram de suas casas para ver o filme. Foi um momento muito importante, em que as
pessoas riram, se divertiram e até falaram junto com os personagens. Houve interesse em arrumar o
local com cadeiras confortáveis e posicionar as pessoas da melhor maneira possível, principalmente os
idosos e as crianças.

Para a próxima sessão, que acontecerá no dia 5 de julho, já foi escolhido o filme: “Kenoma”, no qual
muitos dos atores figurantes são da comunidade do Graça. A maioria já morreu, mas todos querem
ver o filme, que teve uma parte gravada na comunidade. O filme a ser exibido é sempre discutido com
a comunidade, mas desta vez não houve problemas na escolha, pois todos querem ver “Kenoma” e
“Oh, divera... vou ver pai...”, que fala das pessoas que querem ver seus parentes que já se foram e até
mesmo apresentá-los aos filhos.

Durante os dias 15, 16 e 17 de maio, aconteceu a oficina de tinta de terra para 22 pessoas da
comunidade de Alfredo Graça. A iniciativa partiu da Dona Nenzinha, moradora antiga e participante
da Associação Comunitária de Alfredo Graça, que tinha vontade de ver a creche mais bonita. Todo o
grupo se envolveu muito e a criatividade foi aflorada a cada dia.

O primeiro momento da oficina foi de dinâmicas, que tinham o objetivo de despertar a criatividade, o
envolvimento e a cooperação. Após buscar e preparar a terra, iniciou-se uma atividade de pintura em
papel e foram feitas duas técnicas de pinturas em cartão. No segundo dia, pela manhã, foram
reciclados alguns objetos, como potes, filtros, jarros, e criados quadros com telhas velhas e jarros de
flores com tijolos quebrados. As produções tiveram bons resultados e a comunidade começou a se
envolver um pouco mais, envolvimento que já começou com os cartões no dia anterior.

Na tarde do segundo dia, deu-se início à pintura nos muros: foram pintados dois muros e o barrado
de uma casa. À noite, os comentários correram pela comunidade, que se empolgou e vinha gente de
longe para ver as obras de arte.

Na manhã do terceiro dia, foi preciso selecionar alguns locais para realizar a atividade, pois todos
queriam seus muros e casas de cara nova. Dividiu-se a equipe em cinco grupos e cada grupo ficou
responsável por um local. Assim que terminava seu trabalho, cada grupo passava a contribuir com os
demais. Foram pintados o barrado de duas casas, dois muros, o muro da creche e uma sala da
creche, que aliás foi onde se iniciou o pedido da pintura que resultou na oficina.

Projeto Cidade Criança - Araçuaí/MG 14


Toda a comunidade participou ativamente da oficina, mesmo não estando presente durante todo o
tempo. Cada um contribuiu com o que tinha: cola, escada, pincel, água, baldes, mão-de-obra e
tonalidades diversificadas de terra. Não foi possível pintar todas as casas e muros, conforme o desejo
da comunidade, mas fortaleceu-se a vontade dos participantes em criar um grupo de pintores com
tinta de terra. O objetivo é ter toda a comunidade pintada até julho, mês em que acontece a festa
tradicional da comunidade.

A equipe de agentes comunitárias de educação do projeto UTI contribuiu com esta oficina: três
adolescentes de Araçuaí participaram ativamente no terceiro dia à tarde e foi muito positiva essa
participação, pois houve envolvimento e alegria durante toda a oficina. Esses adolescentes também
são do projeto Fabriquetas e trabalham muito bem com a tinta de terra, podendo assim ensinar
algumas técnicas diferentes. Houve muita troca e prazer em participar da oficina.

O grande objetivo do Cidade Criança não foi deixado de lado em nenhum momento. Embelezar a
comunidade, fazer enfeites e valorizar o que existe é uma oportunidade de cuidar das crianças e do
local onde vivem. As crianças também estão usando a tinta de terra e acreditam nos resultados muito
antes dos adultos. De certa forma, elas estão aprovando e insistindo com os pais para usarem a tinta
de terra em casa. Agora é grande a procura por terra de tonalidades diferentes.

A equipe do Schnoor passa pelo Graça sempre que desce até Araçuaí e já existe demanda e grande
vontade de se realizar a oficina também no Schnoor e na Baixa Quente. Essas oficinas já faziam parte
do Plano de Trabalho e Avaliação do projeto Cidade Criança, mas agora serão antecipadas, visto o
grande desejo da comunidade.

A partir do projeto Cidade Criança, um menino de 5 anos que participa do projeto Sementinha na
comunidade da Baixa Quente, na Barra do Curuto, está tendo a oportunidade de fazer um tratamento
com uma fonoaudióloga em Araçuaí. Para a mãe da criança, a deficiência em sua fala era normal.
As agentes comunitárias de educação perceberam que o Rickson tinha muita dificuldade em falar e
ficava muito irritado quando alguém não entendia a sua fala.

As agentes procuraram as coordenadoras do projeto para tentar resolver a situação e todo o grupo
buscou conjuntamente uma solução. A Unidade Básica de Atendimento à Mulher (UBAM) foi procurada
e, após breve relato sobre o projeto Cidade Criança e sobre o caso de Rikson, foi possível marcar
gratuitamente uma consulta com a fonoaudióloga. O Rickson já fez várias sessões e, segundo as
agentes e a própria mãe da criança, já é possível observar resultados em sua fala.

Projeto Cidade Criança - Araçuaí/MG 15


Embora o tratamento seja totalmente gratuito, a família está tendo dificuldade em pagar as passagens
para trazer a criança para fazer as sessões, pois eles moram na zona rural e têm dificuldade em
conseguir este dinheiro toda semana. As mães cuidadoras e as agentes comunitárias de educação
estão atentas, para que não haja interrupção no tratamento, mas não pensam em pagar as
passagens.

Daniele, uma criança que ao nascer teve convulsão, afetando o seu cérebro, está fazendo fisioterapia
em Araçuaí e já apresenta melhora. No início, a mãe da criança não falava com a mãe cuidadora
sobre a deficiência da filha, escondendo o fato. Hoje, ela já se sente tranqüila para falar do
acompanhamento da filha com a fisioterapeuta. A mãe conseguiu vencer o próprio preconceito e já é
capaz de perceber que as visitas de acompanhamento do Cidade Criança contribuem de forma
positiva para o desenvolvimento da filha.

As mães cuidadoras da Baixa Quente buscam formas diferenciadas de trabalhar com os livros na
comunidade, levando-os nas casas das pessoas, para que elas tenham a oportunidade de ler e
conhecer. Procuram fazer das histórias dos livros uma forma gostosa de aprendizagem, vivenciando
prazer, magia e descontração com as crianças e com os pais, que na maioria das vezes participam das
atividades.

As cantigas de roda têm hoje um novo atrativo entre as crianças do Schnoor. Novas músicas estão
sendo ouvidas, principalmente as do CD “Roda que Rola”, que já fazem parte do dia-a-dia das
crianças. Antes, elas não tinham a oportunidade de conhecer músicas de boa qualidade, só pensavam
em forró, aché, funk e outros modismos. Agora, preferem as que são trabalhadas e ouvidas em grupo.
Já é possível perceber um grande avanço cultural em relação às músicas.

Duas mães cuidadoras saíram da equipe da comunidade de Schnoor, mas essa foi uma perda
positiva, pois cresceu nelas a vontade de mudar de vida. Cleide Soares contou que, desde que se
casou, há 14 anos, não conseguia terminar sua casa, mas isso não a incomodava. Assim que
começou a trabalhar no projeto Cidade Criança, teve vontade de terminar e se sentiu capaz. Descobriu
que a vida pode ser mais instigante do que imaginava e então resolveu buscar meios de realizar seus
sonhos. Ela pretende ir para São Paulo, mas enquanto estiver na comunidade ficará cuidando da horta
das crianças e contribuindo com o trabalho voluntariamente.

Cleide Farias conseguiu montar uma lojinha de artesanato, realizando um sonho antigo. Com o
dinheiro que ganhava trabalhando no projeto Cidade Criança, foi comprando o material de que
necessitava para confeccionar os produtos artesanais que ela agora vende na própria comunidade.

Projeto Cidade Criança - Araçuaí/MG 16


O projeto vem interferindo de forma muito positiva na vida das pessoas das comunidades. Em
Schnoor, por exemplo, novos valores são cultivados. É claro que o mais significativo é a valorização
das crianças, o cuidar delas e a aprendizagem que elas proporcionam. Mas as educadoras estão em
constante mudança, cresceram em opinião, participação e até mesmo em auto-estima. Estão mais
bonitas, bem cuidadas, com mais brilho e se sentindo mais capazes. Procuram inovar e fazer as
atividades da melhor forma possível.

Existe mais reciclagem e valorização até mesmo das sementes, que agora são transformadas em
colares, pulseiras e brincos, peças que são usadas pelas educadoras, mas que também servem de
presentes para os visitantes e pessoas que ajudam o projeto Cidade Criança. As crianças ajudam a
fazer e o desejo de tornar o produto ainda mais bonito vai encontrando espaço entre elas também.

Com a saída das duas mães cuidadoras, houve um remanejamento da equipe. Para as crianças e
gestantes, essa mudança não foi um problema, pois todas estão gostando do projeto e já há um bom
envolvimento com todo o grupo de mães cuidadoras e agentes comunitárias de educação. As famílias
têm elogiado o trabalho, pois as crianças que moram em local afastado têm com o projeto a
oportunidade de brincar com outras crianças quando a mãe cuidadora as leva para as atividades que
fazem juntas. Segundo as mães, os filhos mais velhos não tiveram essa oportunidade: quase não
brincaram quando crianças, vivendo muito entre os pais e avós. Assim, amadureceram muito rápido,
pois se espelhavam nos adultos e quando foram para a escola sofreram pesadas conseqüências. Já
com os filhos que participam do Cidade Criança será diferente, pois têm a ajuda do projeto.

GERENCIAMENTO DO PROJETO

O gerenciamento do projeto é sempre presente e busca contribuir da melhor maneira possível para
que seus objetivos sejam alcançados. Existe agilidade, envolvimento e parceria na busca de soluções
para as dificuldades apresentadas. As demandas são discutidas na roda e atendidas o mais rápido
possível, as capacitações e materiais para pesquisa são sempre renovados e acontecem de forma a
atender os objetivos do projeto Cidade Criança e das equipes, que têm habilidades diferentes de
comunidade para comunidade.

Projeto Cidade Criança - Araçuaí/MG 17


DESEMPENHO DOS EDUCADORES

Mães cuidadoras e agentes comunitárias de educação se envolvem e contribuem umas com as outras,
principalmente com a comunidade. A apropriação está cada dia mais forte e já é possível identificar
lideranças em todas as comunidades. Em julho, cada comunidade terá uma coordenação local, o que
irá contribuir com a coordenação geral do projeto, além de influenciar de forma positiva todas as
comunidades que têm o Cidade Criança. O intercâmbio entre as comunidades será ainda maior e
mais freqüente, o que mostra que o poder comunitário aos poucos vem acontecendo.

As rodas de avaliações têm o PTA sempre presente, para não perder de vista o objetivo do projeto.
Algumas perguntas importantes já estão sendo respondidas com a ajuda das crianças e o interesse das
mães cuidadoras e agentes comunitárias de educação. Isso aumenta o interesse e a valorização do
projeto, pois elas acreditam que dá certo, que é possível, que realmente o adulto aprende com as
crianças, se for atento e souber ouvi-las nas várias formas que elas encontram para se fazer entender.

ENVOLVIMENTO DAS FAMÍLIAS E COMUNIDADES

A cada dia, as pessoas da comunidade vão se apropriando mais das atividades do projeto por meio
dos grupos de produção, das folias, das oficinas de brinquedos, das rodas de viola, dos cinemas, das
rodas de contação de histórias. Cada um contribui do seu jeito e com o que pode para que as coisas
aconteçam da melhor forma possível. Assim, começam a perceber que para educar uma criança é
mesmo preciso contar com a participação de toda a aldeia.

Já se pode observar maior envolvimento nas comunidades, mas o Cidade Criança procura criar algo
mais concreto, mais responsável, pois dá atribuições ao mesmo tempo em que valoriza as pessoas,
fazendo-as participar ativamente das ações com opiniões, avaliações, depoimentos. A comunidade
precisa estar envolvida, para que a criança possa ter os cuidados, a aprendizagem, o acolhimento e as
oportunidades necessárias. Além disso, se estiver envolvida, a comunidade poderá aprender ainda
mais com cada criança e os valores humanos e culturais vão sendo ressaltados.

Projeto Cidade Criança - Araçuaí/MG 18


AVANÇOS OBTIDOS NO DESENVOLVIMENTO DOS O BJETIVOS - PTA

• Indicadores de êxito

Índices Qualitativos

- Produção, utilização e busca de respostas do PTA.


- Freqüência.
- Produção de pomada cicatrizante, xaropes, xampus e tinta de terra.
- Valorização das pessoas.
- Aprendizagens com as crianças.
- Melhora na estética das comunidades.
- Auto-estima mais elevada.
- Procura pelos livros das algibeiras e bornais nas comunidades.
- Crianças mais saudáveis.
- Coordenação local feita por pessoas da comunidade.
- Produção de jogos para o Sementinha.
- Atendimento médico para algumas crianças.
- Identidade de Bi e Dani sendo resolvida.
- Melhora na fala de Rikson.
- Cartões de vacina da zona urbana em dia.
- Horta do Sementinha do Shnoor já produzindo.
- Mudanças de comportamento.
- Atividades de higienização.
- Comemoração do “Dia do Brincar”.
- Perguntas importantes sendo respondidas com a ajuda das crianças.
- Produção do guisado.
- Envolvimento com o cinema.
- Oficina de saúde com Adriane.
- Satisfação econômica.
- Envolvimento com os projetos Cidade Educativa e Ser Criança.
- Apreciação de novas músicas de boa qualidade.
- Construção das caixas d’água.

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Índices Quantitativos

- Inscrição de 54 pessoas para a capacitação.


- 42 pessoas finalizando a capacitação.
- Confecção de 5 modelos diferentes de brinquedos.
- Seleção de 13 educadores sociais: 8 mães cuidadoras e 5 agentes comunitárias de educação.
- 20 mães cuidadoras participando do projeto Cidade Criança.
- 11 agentes comunitárias de educação participando do projeto Cidade Criança.
- 38 gestantes sendo atendidas pelo Cidade Criança.
- 420 crianças sendo atendidas pelo Cidade Criança.
- Realização de 6 capacitações.
- Criação de 8 jogos.
- Aprendizagem de confecção de 2 caixas d’água, uma para coletar água de chuva e outra para
armazenamento.
- 3 comunidades rurais sendo atendidas.
- 5 bairros periféricos de Araçuaí sendo atendidos.

Dificuldades Encontradas

As dificuldades vão surgindo e cada grupo procura a melhor forma de resolver sem terceirizá-las. Uma
dificuldade observada na maioria das comunidades é o acomodamento, pois as pessoas sempre
querem receber tudo pronto. Como o Cidade Criança não tem isso como objetivo, a pergunta sempre
retorna para quem a fez, de um jeito que faça a pessoa pensar em uma solução diferente da proposta,
caso essa seja, como de costume, a de passividade. Aos poucos, a própria equipe vai pensando novas
alternativas e com o PTA em mãos procura soluções dentro dos objetivos do projeto.

As dificuldades da zona rural são muito diferentes das observadas na zona urbana, mas as formas de
resolver passam pelo mesmo caminho: a roda, na qual a comunidade, a família, as crianças, as mães
cuidadoras e agentes comunitárias de educação precisam ter bem claro o que deve ser feito, sem
perder de vista o objetivo do projeto. Assim, qualquer decisão pode e deve ser tomada nas rodas.

As maiores dificuldades têm sido relacionadas à anemia, causada pela falta de alimentação, baixo
peso, dificuldade em amamentar as crianças, doenças de pele, verminoses, má formação do feto,
resultando em crianças com deficiências graves. Outra dificuldade é passividade da família, que fica à
espera de ajuda e realmente acredita que tem de esperar porque alguém tem que dar.

Projeto Cidade Criança - Araçuaí/MG 20


Por mais que seja difícil trabalhar com essas crianças, por motivos emocionais, as mães cuidadoras e
agentes comunitárias de educação não desistem, buscam idéias, informações e fazem realmente um
trabalho de quase psicólogas. A diferença é que elas são mais presentes e não têm fundamentos
científicos para esse trabalho.

SÍNTESE

As perguntas do PTA estão, aos poucos, sendo respondidas com a ajuda das crianças e com o grande
interesse das mães cuidadoras e agentes comunitárias de educação. As famílias já têm uma nova visão
sobre o comportamento das crianças, procuram ajudá-las a descobrir formas de aprender, valorizando
cada descoberta.

Respostas advindas de atividades como o guisado, a confiança na grade da quadra, as rodas de


contação de histórias e de cantigas de roda, a identidade das gêmeas, o cuidado com lixo gerando o
compromisso ambiental, o resultado da horta e a produção e divisão do lanche, por exemplo, é o que
faz cada um pensar e acreditar mais na proposta do projeto e no uso do PTA.

As respostas são demoradas, mas cada uma é resultado de um longo processo de credibilidade,
esforço, criatividade e ajuda mútua. Avaliando as transformações a partir do Cidade Criança, é
possível perceber que primeiro os adultos estão se transformando, o que chamamos de
“empoderamento” comunitário. Todos em geral, desde a equipe até as famílias, inclusive os avós das
crianças e elas próprias, estão mais falantes, comem melhor, dormem melhor, apreciam os livros,
cantam, brincam, aprendem e, principalmente, ensinam a comunidade a ver tudo com outros olhos.

Os adultos estão mais unidos e as crianças se mostram mais participativas. É prazeroso falar,
participar, contribuir, descobrir, ensinar e aprender no Cidade Criança, pois cada dia é único, criativo,
alegre, produtivo e afetivo. As crianças têm a oportunidade de serem acolhidas e cuidadas pela aldeia.
Sem perceber, a comunidade está se acolhendo e se cuidando melhor também.

Marília Barbosa - Silmara Soares


Coordenadoras do projeto Cidade Criança

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ANEXOS

• Receita do Xarope para gripe - Oficina Baixa Quente

Ingredientes

Alho / Cebola / Rapadura / Plantas medicinais: hortelã, poejo, erva cidreira, transagem.

Modo de Fazer

1º passo: descasque o alho, lave e coloque para escorrer. Depois corte em pedacinhos.
2º passo: descasque e lave a cebola e corte em fatias.
3º passo: lave bem as folhas das plantas.
4º passo: raspe a rapadura e coloque em um tacho grande de cobre – ou em panela de barro ou
panela de ferro – com um pouco de água e coloque para ferver.
5º passo: coloque todos os ingredientes juntos e deixe ferver por 30 minutos.
6º passo: depois que esfriar, coe e coloque em um recipiente seco com tampa.

• Música para a Folia do Livro de Alfredo Graça

As criancinhas pegam os livros e carregam


Alguns deixam e outros levam
Oh, que crianças encantadas!
Pegam vários livros e levam para suas casas
Nós seremos crianças bem letradas
Com ajuda do projeto elas ficam mais animadas.

• Música para a Folia do Livro de Engenheiro Schnoor

Peguei a bandeira para a folia


Começar
Chega minha gente
Vem nos ajudar

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Refrão:

Ai, ai, ai a folia começou!


Ai, ai, ai nos receba com muito amor!

Com algibeira
Os livros carregar
Para nossa gente
Se atualizar

Vem comunidade
Vem participar
Pegue um livro e leia
Pra te alegrar

O livro é interessante
Cheio de aventuras
E nele representa
A nossa cultura

A algibeira está cheia


De livro interessante
Cheia de cultura
Que é muito importante.

Canto 2

Livro, livro, livro

O futuro vamos buscar


Pra nossa vida melhorar
Vamos juntos dar as mãos
O importante é participar
Há! Há!

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Com este projeto em nosso meio
Muitas coisas vão mudar
Mas eu sei que é tão difícil
Mas a gente chega lá, há, há, há!
Livro, livro,livro,

E a nossa comunidade
Esperamos melhorar
O importante é ir à luta
Vamos todos trabalhar
Há, há, há (bis)
Muitas vezes me desespero
Até penso em parar
Mas o livro é meu amigo
Me ensina a continuar, há, há, há a continuar

• Depoimentos

“A Paloma não conversava, só fazia alguns gestos. Através das brincadeiras e histórias, percebi que ela
já começou a falar algumas palavras e quando estamos cantando ela já tenta cantar também.”
Madalena - Agente Comunitário de Educação
Comunidade Engenheiro Schnoor

“Trabalhar com as crianças mexe muito comigo, me sinto bem. As pessoas da rua conseguem
perceber uma mudança positiva no meu comportamento. Até meu marido tem me elogiado.”
Rosalina - Mãe Cuidadora
Comunidade Engenheiro Schnoor

“Através da roda, aprendemos a trabalhar em equipe: ninguém invade o espaço do outro, mas sim
discute o que é melhor para o grupo.”
Cilene - Oficina de Capacitação
Comunidade Arraial

“A visita da mãe cuidadora está sendo muito importante para minha filha. Ela está se desenvolvendo
cada dia mais. O projeto é uma terapia tanto para as crianças quanto para as mães.”
Cleonice Lopes - Mãe
Comunidade Arraial

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“Eu gostei muito desses dias de oficina que participei. Aprendi a fazer dinâmicas que poderei utilizar
depois com as crianças. Para mim, que estou cursando normal superior, está sendo um grande
aprendizado que irá somar na minha bagagem.”
Bruna - Oficina de Capacitação
Comunidade Arraial

“A oficina para mim foi um momento de descontração, aprendizado e desenvolvimento. Pude perceber
através dela a valorização de cada um na roda.”
Veralice - Agente Comunitário de Educação - Araçuaí

“Através do projeto, as crianças terão mais oportunidades. Ele mostra que é possível ensinar e
aprender ao mesmo tempo e que a gente aprende com as crianças também.”
Maria José Alves - Comunidade Arraial

• Os dois caçadores - História contada por Ângela, mãe cuidadora da comunidade de Engenheiro
Schnoor, na roda de histórias

Dois caçadores foram para a mata fazer uma caçada. Um deles já sabia que em determinada hora ia
passar por ali um caminhão. Acontece que, naquele tempo, esse transporte era raro. Por aqueles
lados, só tinha carro de boi e burros de carga.
Então, logo que eles entraram na mata, um deu por um lado e o outro para outro. De repente, ouviu-
se um barulho muito esquisito, pois não parecia ser de um bicho. Um dos caçadores tentou esconder-
se no meio do mato e deixou aquilo passar. Quando passou, ele logo foi olhar o que era aquilo e
ficou muito assustado com as pegadas que viu.
Em seguida, o seu companheiro de caça chegou, olhou bem e depois falou:
- Olha aqui, meu amigo, o bicho não estava caminhando não e sim quase voando, levantou um
poeirão.
Ao que o outro respondeu:
- Aquilo que você viu passando não era bicho, era um caminhão, um automóvel.
O outro retrucou:
- Não, não! Não foi “outro nove” não! Foi só um que passou por aqui.
O caçador tentou explicar que era um automóvel que havia passado por ali e que se chamava
caminhão.
O amigo não entendeu o que seu companheiro dizia. Foi uma confusão só. Acreditam que até hoje ele
acha que o caminhão era um bicho?

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