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SEGUNDA-FEIRA
Abel foi “justo”, isto é, santo e piedoso. O que tornou mais grata a oferenda
de Abel não foi a qualidade objectiva do que oferecia, mas a sua entrega e
generosidade. Por isso Deus olhou com agrado para as vítimas por ele
sacrificadas e possivelmente – de acordo com uma antiga tradição judaica –
enviou fogo do céu para queimá-las em sinal de aceitação2.
O homem não é só corpo nem só alma; está composto de ambos, e por isso
necessita também de manifestar através de actos externos, sensíveis, a sua fé
e o seu amor a Deus. Dão pena essas pessoas que parecem ter tempo para
tudo, mas que dificilmente o têm para Deus: para fazer um pouco de meditação
ou uma visita ao Santíssimo que dura uns breves minutos... Ou que dispõem
de meios económicos para tantas coisas e são mesquinhos com Deus e com
os homens. O ato de dar sempre dilata o coração e o enobrece. Da
mesquinhez acaba por sair uma alma invejosa, como a de Caim: não suportava
a generosidade de Abel.
Para Vós, Senhor, o melhor da minha vida, do meu trabalho, dos meus
talentos, dos meus bens..., incluídos os que poderia ter tido e aos quais
renunciei. Para Vós, meu Deus, sem limites, sem condições, tudo o que me
destes na vida... Ensinai-me a não vos negar nada, a oferecer-vos sempre o
melhor.
Em casa de Simão, o fariseu, onde Jesus sentiu a falta das atenções que
era costume ter com os convidados, ficou patente o critério quanto ao dinheiro
que se destina às coisas de Deus. Enquanto Jesus se mostra feliz pelas provas
de arrependimento daquela mulher, Judas murmura e calcula o gasto – aos
seus olhos inútil – que ela fez. Naquela mesma tarde, decidiu traí-lo. Vendeu-o
aproximadamente pelo mesmo que custava o perfume derramado: trinta siclos
de prata, uns trezentos denários.
III. QUANDO JESUS NASCE, não dispõe sequer do berço de uma criança
pobre. Depois, nos anos de vida pública, não tem por vezes um lugar onde
reclinar a cabeça. Por fim, morre despojado até das vestes, na pobreza mais
absoluta. Mas quando o seu corpo exânime for descido da Cruz e entregue aos
que o amam e o seguem de perto, estes hão de tratá-lo com veneração,
respeito e amor.
Nem sequer sob o pretexto da caridade para com o próximo se pode faltar à
caridade com Deus; como não se pode louvar uma generosidade com os
pobres, imagens de Deus, se se faz a expensas do decoro no culto ao próprio
Deus, e muito menos se está ausente o sacrifício pessoal. Se amamos a Deus,
o nosso amor ao próximo crescerá com obras e de verdade.
Não é meramente uma questão de preço, nem são possíveis nesta matéria
simples cálculos aritméticos: não se trata de defender a sumptuosidade, mas a
dignidade e o amor a Deus, que também se expressam materialmente 8. Faria
sentido que houvesse meios para construir lugares de diversão e lazer com
bons materiais, até luxuosos, e que para o culto divino só se encontrassem
lugares, não já pobres, mas miseráveis, frios, vazios? Nesse caso, teria razão o
poeta quando diz que a nudez de algumas igrejas é “a manifestação externa
dos nossos pecados e defeitos: debilidade, indigência, timidez na fé e nos
sentimentos, coração seco, falta de gosto pelo sobrenatural...”9
A Igreja, velando pela honra de Deus, não rejeita soluções diferentes das de
outras épocas, abençoa a pobreza limpa e acolhedora – que maravilhosas
igrejas, simples mas muito dignas, há em algumas aldeias de poucos recursos
económicos e de muita fé! –; o que não se concebe é o descuido, o mau gosto,
o pouco amor a Deus que representa dedicar ao culto ambientes ou objectos
que não se admitiriam no lar da própria família.
(1) Cfr. Gen 4, 1-5, 25; Primeira leitura da Missa da segunda-feira da sexta semana do TC,
ciclo A; (2) Sagrada Bíblia, Epístola aos Hebreus, EUNSA, Pamplona, 1987, nota 11, 4; (3) São
Josemaría Escrivá, Forja, n. 43; (4) Sagrada Bíblia, Epístola aos Hebreus; (5) Lev 22, 20; (6) A.
del Portillo, Homilia, 20-VII-1986; (7) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 527; (8) cfr. Conc.
Vat. II, Const. Sacrossanctum Concilium, 124; (9) Paul Claudel, Ausência e presença.