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UNIVERSALIDADE DOS CONTOS POPULARES desde a China aos Estados Unidos", as emoções retratadas são

similares em quase todas as versões, mas as manifestações

Os verdadeiros contos populares são anónimos. de origem individuais dessas emoções reflectem os costumes e as crenças do

longínqua e difícil de precisar. Nos nossos dias. os contos populares grupo que conta a história.

são ames do mais textos fixados pela escrita nas revistas folclóricas, Contados de geração em geração ao longo dos séculos, foram

nas recolhas dos estudiosos, nos livros para crianças. Durante muito adquirindo várias fórmulas. Começam muitas vezes por "Era uma

tempo fizeram parte de nossa cultura viva, transmitida oralmente ao vez..." e terminam "e viveram sempre felizes".

longo dos séculos, fundo comum que se encontra sob variantes "A fórmula “era uma vez”, que inicia os contos europeus, não só

mais ou menos próximas em toda a Europa e noutras partes do ajuda um conto fantástico a atingir credibilidade, removendo-o de

mundo. épocas e lugares familiares, como salienta também a universalidade

Provavelmente existem desde épocas remotas da vida humana. dos temas presentes; os conflitos não são locais mas de todos os

Stith Thompson afirma que o conto oral "é a mais universal de todas tempos e para todos os lugares. Se as personagens centrais vivem

as formas narrativas". “felizes para sempre”, é porque se desenvolveram como seres

São narrativas facilmente reconhecíveis; trata-se de histórias humanos num grau tal, que merecem a felicidade que recebem. A

simples, curtas, que apresentam personagens "tipo" vivendo repetição é também significativa; ajuda a mostrar que, em virtude de

situações "tipo". Foram encontrados motivos e tipos semelhantes os acontecimentos se tomarem cada vez mais difíceis, se toma

em culturas diferentes em diversas regiões do globo. necessário um desenvolvimento pessoal contínuo para um contínuo

"As limitações da vida humana e a semelhança das suas situações sucesso e realização."

básicas produzem necessariamente por toda a parte contos que são


muito semelhantes em todos os aspectos estruturais importantes.
Têm uma forma e uma substância tão definida na cultura humana
como o cântaro, a enxada, ou o arco e a seta e várias destas
formas narrativas são geralmente empregues. São personificações
das crenças de culturas específicas. Se se tomar como exemplo a
história de Cindirela. entre as trezentas e tal versões descobertas
“Conto impossível” As princesas aperceberam-se que o príncipe andava
estranho, já não queria brincar ou conversar com elas. (Bom,
Caro leitor, esta é uma história com história mas sem
vamos quebrar uma regra do conto tradicional – personagens
narrar uma história. Confusos? Bom, vamos ao que interessa –
anónimas - e vamos dar nomes às nossas personagens.).
a história. Ah! Mas não se trata de uma simples história, é um
Num belo dia de Verão, o príncipe Ninguém (este é o seu
conto, mais precisamente, um conto popular, com todos os
nome, okey?!, fixe, não é, é o mesmo que Ulisses usou ao
ingredientes – bem, quase todos. Mas deixemo-nos de
enfrentar o Ciclope) estava a vaguear pelo jardim do palácio,
confusões e passemos ao nosso conto.
quando as princesas se aproximaram e exigiram saber o que se
Todo o conto popular inicia-se com “Era uma vez...”
passava. Claro que a insistência de Nunca e Sempre (bom,
Era uma vez um príncipe que vivia num reino distante,
estes nomes não consigo explicar, apeteceu-me usar advérbios,
rodeado por uma floresta mágica. O jovem príncipe vivia com
acho castiço) venceram o silêncio pesado e resistente de
duas suas irmãs e os seus pais, os reis do tal reino. (Já sabem,
Ninguém. O príncipe desabafou – o motivo de tal tristeza
que em qualquer conto tradicional, o tempo e o espaço são
melancólica era a ausência de um amor. E qual não foi o
indefinidos, portanto, não posso apresentar uma melhor
espanto deste quando descobriu que as princesas também
localização espacio-temporal).
queriam conhecer um príncipe encantado, tal como acontece em
Avancemos com a nossa narrativa.
todos os contos de fadas (ah! Ah! Não me esqueci do recurso ao
Num passado distante, preso nas brumas da memória
maravilhoso, elemento estrutural de um conto popular, mas já
dos contadores de história, um príncipe que vivia num castelo
devem ter reparado que transgredi um pouquinho ao assumir
distante, sempre fora feliz, até que um dia a adolescência
que este conto é da minha autoria, pois os enunciados devem
interrompeu as suas brincadeiras de criança, e começou a
ser anónimos, fruto de uma transmissão oral e ninguém conhece
imaginar um tórrido romance com uma bela donzela, mesmo
o seu autor. E depois? Processem-me!!!).
que não fosse de sangue real. O príncipe passou a vaguear
No castelo reinava uma grande confusão, ninguém se
pelos bosques sozinho, suspirando sem motivo, alheio a todo e
entendia, nem percebia o mistério, as amas, os serviçais, os
qualquer divertimento à sua volta.
cozinheiros, os reis, todos estavam pasmados com as se a com comparecer porque baralhava os nomes todos (e
mudanças que se operavam nos jovens príncipes (tenho que também sabia que as brigas não eram para serem levadas a
acrescentar que as manas foram contaminadas pela tristeza e sério, eram arrufos da realeza.
solidão de Ninguém). Como uma boa história que se preze, está criado o
Retomando a história, que já passou da introdução e se enredo – um jovem príncipe quer casar, mas não conhece
encontra neste momento na parte do desenvolvimento, ou nenhuma princesa.
peripécias, como preferirem chamar. Um dia, estava Ninguém a conversar com Nunca e
O príncipe queria casar, chorava noite e dia perdido nas suas Sempre, na varanda do palácio, sobre o que iriam fazer para
fantasias românticas, próprio das almas sensíveis. O problema encontrar os seus amores e serem felizes para sempre. Foi
que surgia no horizonte deste gentil jovem era o seguinte: não então que Sempre, uma romântica incorrigível e leitora assídua
sabia como encontrar a sua dama, já que nas redondezas as da biblioteca do reino, teve uma ideia:
pessoas estranhavam aquela real família. Passo a explicar: o - Olha lá, eu estive a ler contos tradicionais e li a história
príncipe chamava-se Ninguém, suas irmãs, Nunca e Sempre. da Gata Borralheira. O problema dela era parecido com o nosso,
O rei, seu pai, (também tem um nome fixe) chamava-se Jamais não conseguia encontrar um príncipe encantado.
e sua mãe (hum...) chamava-se Nada. - E como é que ela resolveu o problema? Inquiriu Nunca.
Ora, como atrair princesas para esta confusão e profusão - Foi a um baile – Dáa. Devias ler mais, sua ignorante...
de nomes pouco ortodoxos. Sempre que havia bulha no castelo, - Nunca e Sempre, parem já com a discussão! Ouviram,?
era uma algazarra tremenda e quando alguém procurava imediatamente!!!
intervir, perdia-se na barafunda dos nomes. O xerife (sim, eu sei O grupo voltou-se e julgando que estavam sós, viram os
é um conto popular, estou a fugir outra vez a estrutura do conto, seus pais, com ar de zangados, atrás da janela que dá para o
mas este é um conto tradicional e moderno ao mesmo tempo, o terraço. Estavam escondidos atrás da uma cortina a ouvir o
leitor tem de ser mais condescendente) sempre que era diálogo que se desenrolava entre os príncipes.
chamado a intervir numa discussão familiar no reino, recusava-
- Isso é mesmo foleiro, escutar atrás da cortina! Disse luz, brilho, glamour (enfim, imagine o leitor um baile organizado
Ninguém indignado pela violação da privacidade. pela princesa Diana, ou o baile da Cindirela).
Jamais e Nada, já sorrindo, responderam quase em coro: A valsa foi a senhora rainha da noite, claro que o rock
- Até pode ser feio escutar a conversa dos outros, também se fez ouvir. Os príncipes estavam magníficos nas suas
crianças, mas nós temos a solução!!! roupas talhadas pelos melhores estilistas do reino, pareciam
- Acho bem, já que nos arranjaram tantos sarilhos com flutuar no enorme salão, envolvidos numa atmosfera mágica.
estes ridículos nomes. Exclamou Nunca. Dançaram a noite toda, beberam champanhe, entre outras
A ideia era a seguinte: convidar todas as princesas e coisas, mas o que realmente importa é que conheceram jovens
príncipes de todos os reinos circundantes para um grande baile espectaculares e, como era suposto, encontraram as suas
no castelo, um baile de máscaras. O convite foi feito por E-mail almas gémeas.
e pela TV Cabo, no canal Sic Radical (já sei, lá estou eu outra Sempre estava tão feliz, finalmente tinha alguém com
vez, mas tenho liberdade de expressão nas minhas narrativas... quem partilhar a sua vida: casou com uma jovem princesa de
ah! Já agora, discurso directo com linguagem popular e gíria à um reino vizinho, que se chamava Constantemente.
mistura... T.V..., E-mail? Nã. Resmas de asneiras. Mas nem só Casaram, tiveram muitos filhos, e foram felizes para
despautérios povoam o meu conto, já introduzi outros elementos sempre. Só um pequeno problema: a confusão dos nomes
também indispensáveis e que atenuam os injustificados: as continuou.
funções: lúdica, moral, social e cultural e o incentivo à criação do Ah! E as princesas também tiveram um final feliz: Nunca
ouvinte, posterior enunciador. Nada mal, tendo em conta as casou um fazendeiro chamado Também e Sempre foi viver para
infracções cometidas.). Nova Iorque com um actor de cinema, conhecido por Talvez.
Claro que compareceram em peso todos os convidados e (Desculpem a interrupção, mas é preciso explicar – estamos na
também os penetras - claro que o Conde José Castelo Branco parte final do conto, no desenlace. E como qualquer conto
não recusou o real convite. O baile foi magnífico, cheio de cor, tradicional, moldado no imaginário popular, a narrativa articula-
se rumo a um desfecho inesperado: o desenlace determina-se
desde o começo, a acção é fechada. Bom respeitei esse detalhe
relativamente ao príncipe, personagem principal, e as suas
irmãs. Também respeitei outras aspectos como: enredo simples
e de grande concentração espácio-temporal, unidade dramática
e número reduzido de personagens. Mas quanto aos reis...
tenho as minhas dúvidas sobre a arquitectura, julgo que
desobedeci às regas. Não interessa, vamos ao desfecho).
Jamais e Nada, os reis da nossa história (nossa como
quem diz, é minha) foram finalmente de férias (sem os chatos
dos filhos, ups! Não era suposto dizer isto, escapou...) num
cruzeiro, o Titanic. Bom, reza a lenda que fundaram um novo
reino nas profundezas do Oceano. Mas isso é outra história.

J.P.
sala, de forma nada discreta, Dona Cigarra exercitava a sua voz
e afinava a sua guitarra.
Chegou a tão esperada hora! Começaram a entrar os
primeiros convidados, entre eles o já esperado Príncipe de outro
condado, para ali prestar homenagem a sua majestade, João
Ratão. Com isto, todas as donzelas correram em direcção ao
espelho mágico, a fim de saberem qual delas era a mais bela.
Coroada de esplendor, surge a Gata Borralheira com uma
suculenta maçã que ofereceu à Capuchinho Vermelho. Privada ,
Há muito, muito tempo, numa verdejante floresta, vivia num pela madrasta, dos ricos manjares aceitou-a de bom grado. À
magnífico castelo, uma simpática menina de nome Capuchinho primeira dentada caiu num profundo sono.
Vermelho. Com ela, morava a sua malvada madrasta que a O caçador, ali encarregue de proteger o castelo, desatou
maltratava muito, obrigando-a a trabalhar. numa correria e todos se questionaram o motivo de tal corrupio.
A madrasta tencionava dar um baile em honra de sua Afinal, corria porque estava a ser perseguido pelo Lobo. Ao
majestade – o rei João Ratão – regressado de uma vitoriosa tentar matá-lo, falhou a pontaria e atingiu mortalmente a Gata
batalha contra os seus inimigos: os gatos. Borralheira.
Toda a nobreza foi convidada para aquela noite. Ainda que Com o estrondo do tiro que se fez ecoar por todo o castelo
contra a sua vontade, a Capuchinho Vermelho teve de levar o a Capuchinho Vermelho despertou muito assustada do profundo
convite à Gata Borralheira que morava longe dali. sono, Nisto, o Príncipe, por ela tão amado, correu em sua
Cansada e esfomeada do longo percurso, sentou-se em direcção e pediu-lhe que fosse a sua esposa. Irremediavelmente
cima de uma abóbora e pôs-se a chorar. De repente, como por apaixonada, Capuchinho Vermelho aceitou e convidou para
magia, apareceu-lhe a Branca de Neve que, com a varinha de suas testemunhas do casamento civil, a Fada Madrinha e a
condão roubada à Fada Madrinha, transformou a abóbora numa Avozinha.
bela limusine. Chegada ao castelo, a Carochinha, muito E assim, viveram felizes, durante algum tempo, tendo
atarefada, de vassoura na mão, abriu-lhe a porta. Os Sete muitos, muitos capuchinhos.
Anões fizeram as honras da casa e conduziram-na aos
aposentos da Gata Borralheira. Esta ficou radiante dizendo:
- Ah! Ah! Ah! Ah! Agora veremos quem conquistará o J.P.
coração do Príncipe!
Desolada, voltou para casa e preparou o mais belo vestido,
ainda que modesto para aquela noite. No castelo, a azáfama era
intensa: de um lado para o outro, corriam, apressadas, as
formigas com os últimos preparativos. Entretanto, ao fundo da
Arquitectura Clássica do Conto Popular • Enunciados anónimos
• Personagens anónimas
Narrar – é contar os acontecimentos ou as experiências que • Recurso ao “maravilhoso”
vivemos, ouvimos ou imaginamos. São os vários elementos que • Relação de comunicação em “presença” (importância do
participam da construção de uma narrativa, ou seja, ao contar uma acto de contar)
história, o narrador está a falar de personagens que se envolvem • Incentivo à criação do ouvinte, “posterior enunciador”
na acção ocorrida num determinado espaço e num certo tempo. • Funções: lúdica, moral, social e cultural
Por outro lado, pode a narrativa ser “recheada” com momentos de
descrição (das pessoas, dos lugares) ou com diálogos. Tipos de contos Tradicionais
• Contos de fadas - também chamados «contos de
CONTO – os contos são narrativas curtas, com uma linguagem encantos», são todas as narrações em que o
simples e quase sempre pitoresca, em que o ritmo e o encanto das maravilhoso entra como um dos elementos mais
situações são o mais importante. Distinguem-se ainda por não importantes. As personagens são elementos mitológicos,
entrarem em pormenores e reduzirem ao máximo a acção, o tempo como sejam gigantes, feiticeiras, fadas, monstros que
e o espaço. habitam subterrâneos, etc. Como elementos auxiliares do
As histórias têm como função principal deleitar ou entreter maravilhoso, aparecem os animais que falam, as árvores
os ouvinte. que cantam, as armas e os utensílios mágicos.. etc.
As personagens do conto seguem modelos de Têm como eixo gerador uma problemática existencial.
caracterização fixos e o protagonista ou é um herói cheio de Ou melhor, têm como núcleo problemático a realização
virtudes ou alguém com defeitos físicos (coxo, corcunda, parvo...) essencial do herói ou da heroína, realização que, via de
Dado que a acção está bastante concentrada no final, as regra, está visceralmente ligada à união homem-mulher.
primeiras linhas são essenciais para captarem a atenção do leitor. A efabulação básica do conto de fadas expressa os
Os contos são transmitidos através do tempo, de geração obstáculos ou as provas que precisam ser vencidas,
em, geração, oralmente, podendo por isso existir várias versões do como um verdadeiro ritual iniciático, para que o herói
mesmo texto. alcance a sua auto-realização existencial, seja pelo
encontro do seu verdadeiro eu, seja pelo encontro da
Características do conto tradicional princesa, que encarna o ideal a ser alcançado.
• Narrativa breve
• Tempo e espaço indefinidos • Contos maravilhosos - nestes contos, o desenrolar da
• Acção concentrada acção parte de uma malfeitoria ou de uma falta, e passa
• Número reduzido de personagens por funções intermédias para ir acabar em casamento,
• Presença de elementos simbólicos ou em outras funções utilizadas como desfecho.
• A descrição tende a anular-se, predominando o diálogo
• Histórias morais - são histórias que se propõem  Acção - tem um carácter moralizador, terminando quase
demonstrar uma tese. Não contêm o maravilhoso dos sempre pelo triunfo do Bem. Trata-se de uma acção simples.
contos de fadas nem os heróis das fábulas, que são sempre Concentração de eventos geralmente se intrigas secundárias.
animais.
 Estrutura da acção
• Contos etiológicos - são aqueles contos que explicam a - Situação inicial - os contos começam habitualmente pela
causa de determinados fenómenos como, por exemplo, as exposição de uma situação inicial. Enumeram-se os membros da
narrativas míticas de fundação de um local. família ou o futuro herói é apresentado simplesmente pela menção
do seu nome ou pela descrição do seu estado
Contos de encantamento - correspondem ao Conto de Fadas, às - Parte preparatória - nesta fase da narrativa. o conto vai
“estórias” da Carochinha, caracterizam-se pelo elemento apresentando os elementos necessários à sua evolução,
sobrenatural. anunciando as peripécias que só terão lugar lia terceira parte da
narrativa
• Contos de exemplo – são contos morais - Nó da intriga –é a parte mais movimentada de um conto. A partir
das duas primeiras fases, a narrativa ganha dinamismo e evolui em
cadeia. num avançar sucessivo de acções, que se provocam umas
• Contos de animais - fábulas em que os animais repetem às outras (peripécias) e vão culminar na parte final - o desenlace
acções humanas com intenção doutrinante ou satírica. - Desenlace - evento ou conjunto de eventos que, no termo de urna
acção narrativa, resolve tensões acumuladas ao longo dessa acção
• Contos religiosos - distinguem-se pela presença ou e institui uma situação de relativa estabilidade que em principio
interferência divina típica. Quando têm localização encerra a história, uma morte, um casamento, uma conquista ou
geográfica e ligadas a um Santo passam a ser Lendas. um reencontro são alguns acontecimentos susceptíveis de
constituírem desenlaces
• Contos etiológicos - explicam a origem dum aspecto,
forma, hábito, disposição de animal, vegetal ou mineral. O  Partes Introdutórias do Conto:
burro tem orelhas compridas por não ter decorado o nome. “Era uma vez...”
“Certo dia...”
• Contos de adivinhação - o episódio central depende da “Há muitos, muitos anos atrás...”
solução dum enigma que o herói elucida.
“Noutros tempos...”
“Reza a história que...”
• Contos acumulativos - aqueles em que os motivos são
“Conta-se que...”
sucessivamente encadeados, fases temáticas
consecutivamente articuladas “Diz-se que...”
“Num reino muito distante...”´
• Facécias - são Anedotas, patranhas de rir e de folgar, “Havia uma história que...”
casos cómicos Há muito, muito tempo atrás...”
 Partes Finalizadoras do Conto: Espaço
 “E viveram felizes para sempre.” - Espaço físico - compreende todos os elementos que servem
 “E nunca mais se separaram.” de cenário ao desenrolar da acção e à movimentação das
 “E assim acaba a história.” personagens
 “Casaram e viveram felizes para sempre.” - Espaço social - reflecte as características culturais,
 “Casaram e houve muitos festejos.” económicas, políticas e morais das camadas sociais
 “E a menina teve de viver escondida para sempre.” apresentadas na obra
Nota: poderão existir muitas outras formas de introduzir e - Espaço psicológico - revela-nos a vivência íntima das
finalizar os contos personagens

 Tempo – é geralmente indeterminado. E ainda que, pelo seu  As personagens – são geralmente anónimas
conteúdo, um ou outro conto deixe adivinhar um determinado - Protagonista - aquele que tem um papel central na acção
contexto histórico, o que verdadeiramente importa não é a - Secundária - o seu papel é de menor importância na
localização temporal dos eventos, mas o modo como eles economia da acção
aconteceram. O passado mais ou menos remoto para que o conto - Figurante - tem um papel irrelevante no desenrolar da acção,
no reenvia só interessa na medida em que atesta que a matéria a podendo contribuir para ilustrar ou intensificar determinado
narrar já aconteceu e que, por isso mesmo, vale sobretudo pela aspecto presente no texto
sua exemplaridade.
- Adjuvante – ajuda o sujeito (protagonista) na concretização
do seu objectivo
 Espaço – é igualmente indeterminado. É, uma vez mais, a
- Oponente – dificulta o protagonista na concretização do
excepcionalidade do que se conta que interessa e não o facto de
objectivo
ter acontecido no lugar A ou B.
Quando se fala num palácio, numa cidade, numa aldeia, numa
floresta, pode ser qualquer palácio, qualquer cidade, qualquer  Caracterização:
aldeia, qualquer floresta. Importante, em termos de espaço, é a - Física: traços fisionómicos, vestuário
sua associação à segurança ou ao risco a que as personagens se - Psicológica: traços psicológicos, de carácter, de
expõem. Note-se que um número significativo de histórias começa comportamento
exactamente com a saída do herói do espaço de segurança em - Social: grupo social a que pertence
que vivia para um espaço de risco, onde a aventura espreita. O - Directa: feita pelo narrador, pela própria personagem ou
“correr o mundo”, tão característico do conto tradicional, por outras personagens
pressupõe essa mudança que abre caminho a uma sucessão de
peripécias. - Indirecta: formulada pelo leitor a partir do
comportamento ou atitudes das personagens

Concepção de personagem
- Plana – sem evolução, sem vida interior própria
- Modelada – dinâmica, dotada de vida interior própria Lenda – narrativa de factos tidos como verdadeiros pelo locutor
e pelo auditório.
Tipo de personagem - Transmissão oral
- Individual: representa um herói - Património cultural de um povo
- Colectiva: representa um grupo - Heróis identificados
- Espaço e tempo definidos
Papel da personagem - Presença do “maravilhoso”
- Funcional: activo, dinâmico na acção - Facto histórico moldado pelo imaginário popular
- Não funcional: não intervém, serve apenas para ajudar a criar
um ambiente de verosimilhança  Fábulas - narrativas pouco extensas cujas personagens são
animais irracionais. Sem perderem as suas características
 Narrador – enuncia o discurso próprias, os animais que as protagonizam agem e falam,
todavia, como se fossem pessoas. Dai que a fábula contenha,
- Narrador participante – aquele que pode ser personagem muitas vezes ensinamentos ou críticas mais ou menos
principal ou secundária (a narração é feita na primeira pessoa) indirectas ao comportamento humano. Pode-se, por isso, dizer
- Narrador não participante – aquele que não desempenha que encerram uma moral. Os povos antigos cultivaram muito
qualquer papel na acção (o que se limita a contar a história na as fábulas. De entre os fabulistas mais célebres, destaca-se
terceira pessoa) Esopo que, no séc. VI, encheu a Grécia de belas e importantes
fábulas. Depois, já no séc. XVII, surgiu outro grande fabulista
Posição do narrador chamado La Fontaine.
- Narrador subjectivo – narrador parcial Em Portugal, escritores como D. Francisco Manuel de
- Narrador objectivo – narrador absolutamente imparcial Meio, Bocage, João de Deus e Armando Cortes Rodrigues
consagraram algum do seu tempo à produção deste tipo
Narratário - Receptor do texto narrativo, para quem o narrador / de texto narrativo.
emissor conta a história
 Anedotas – predomina a facécia e narram-se
 Modos de expressão – discurso acontecimentos verídicos de alcance restrito. A anedota parece
Diálogo – relação eu / tu, ligada ao discurso da personagem constituir nos nossos dias a forma privilegiada do acto de
Monólogo – o emissor é simultaneamente receptor. Conversa da contar.
personagem consigo mesma.
 Adivinhas – constituem enigmas.
Outras expressões da Literatura Oral e Tradicional
 Lenga-lengas – narrativas extensas e monótonas, por
vezes, fastidiosas.

 Trava-línguas - são expressões constituídas por


sequências de palavras, cuja pronúncia se torna difícil.  Rezas/ Salmos - súplicas dirigidas a uma entidade Divina
(sempre cristã) com o intuito de receber dádivas ou afastar
 Provérbios/ditados populares - são sentenças morais males. Superstições.

 Cantigas - poesias ligadas à vida doméstica - despiques


de conversados ou cantigas nupciais
J.P.

Imagina agora que és um contador de contos populares. E a tua


história começa com “Era uma vez...
Fim

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