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UNIVERSIDADE

Curso LUSÍADA
de Preparação DE LISBOA
para Acesso ao
CEJ

Tema 3 - “Tecnologia, Vida e Morte”

3 de Abril de 2007
Prof. Doutor Cassiano
Reimão

(cm.reimao@fcsh.unl.pt)
Síntese

1. Introdução
2. Pensamentos/Referências
3. Objectivos e Meios para os objectivos
4. Situação actual do mundo da vida e crise da razão
5.Crise actual do sentido e exigência da reflexão ética.
6. Pós-modernidade e crise do humanismo
7. Axiologia, Ética, Moral e Deontologia
8. Bioética e questões jurídicas associadas ao princípio e ao
fim da vida.
9. Algumas conclusões e propostas
Bibliografia (complementar à referida
no DR, 2ª série, nº 13 – 18 de Janeiro de
2007 – p. 1462)
z ARCHER, L., BISCAIA, J., OSSWALD, W., Bioética,
Verbo, Lisboa, 1996.
z ARCHER, L., BISCAIA, J., OSSWALD, W., RENAUD,
M., Novos desafios à Bioética, Porto Editora, Porto, 2001,
z DUNBAR, R., A História do Homem, Quetzal Editores,
Lisboa, 2006.
z NUNES, R. e MELO, H., A ética e o direito no início da
vida humana, Gráfica de Coimbra, Coimbra, 2001.
z AA. VÁRIOS, Acção Médica, “A dignidade humana”,
Julho/Setembro de 2005.
z AA. VÁRIOS, Acção Médica, “Ética e Genética”,
Abril/Junho de 2006.
Ética – Bibliografia (complementar)
z Revista Arquipélago – Nº 7 (2000)
z Temas de artigos recomendados:
z Relativismo cultural versus universalismo (pp. 57-
92)
z “Uma ética para a civilização tecnológica” (H.
Jonas)” (pp.107-128)
z Das éticas gerais às éticas aplicadas (pp. 143-
162)
z Ética, valores e acção educativa (pp. 163-176)
Introdução
z Poder saber, saber melhor
z Eternos estudantes; gostar do que já se sabe
z Equilíbrio
z Perguntar, mas não irracionalmente
z Motivação
z Não bloquear o sonho
Introdução
z Aventura do desconhecido: “Onde a Terra
acaba e o mar começa”...
z Factores de risco. Procurar chegar primeiro,
na ciência. Ser os primeiros a saber.
Atitude. Se # Quando. Persistência. Brio
profissional. Alimento do progresso.
Watson (prémio Nobel): a ciência não pode
ser conformista.
Introdução
z Cidadãos do mundo sem perder a identidade
(cidadania afectiva), sendo bons aqui.
z Prazer em saber mais
z F. Pessoa: “Das pedras dos obstáculos fazer
um castelo”
z Ética e respeito pelo próximo
z Espírito de curiosidade e de inovação
Introdução
z Pascal: O conhecimento é como uma
esfera; quanto maior, maior é o seu contacto
com o desconhecido
z Mais investigação, mais utopia.
Aprendizagem. Perseverança. Rigor
z Factores de risco
z Incerteza. Flexibilidade. Em ordem ao bem-
estar
Introdução
z Transformação da sociedade. Combate a alguns
mitos. Escola comum # Escola de escol. Escola
promotora de valores. Não abdicar dos valores
contra os poderes dominantes. Nos limites da
tolerância. Imagem identitária. Livre da política e
dos grupos de pressão. Assumir os deveres perante
a sociedade. Nobreza de sentimentos; que é o que
fica no fim dos nossos dias.
Introdução
z “A vontade e o sentimento fazem milagres”

zA cultura, na Europa, nos últimos cinquenta


anos, tem sido uma “apologia sumptuosa do
nada” (Eduardo Lourenço)
Pensamentos/Referências
z “Quantos princípios te forem apresentados,
a eles deves manter-te fiel, como se fossem
leis, ciente da impiedade que é transgredi-
los. Quanto ao que disserem de ti, não
prestes atenção. É que, de facto, isso não
está na tua dependência”
z Epicteto
z “Muitas coisas são inquietantes, mas nenhuma é mais
inquietante do que o homem”
Sófocles

z “É preciso ensinar os homens a amarem a vida a ponto


de a considerarem eterna”
Coménio

z “O sentido da vida deve ser o encontro com o outro”


J. Biscaia
z “Não possuímos senão aquilo que
damos”
E. Mounier

z Umaciência não é ciência senão para


quem verdadeiramente a procura
Gasset
OBJECTIVOS
1. Confirmar convicções
2. Considerar que a problemática dos valores e, em
particular, dos valores éticos (perante as situações
da vida e da morte) é uma problemática
fundamental para o homem
3. Tornar evidente que a existência é um combate
(ético) em defesa da humanidade do homem, no
qual as questões jurídicas desempenham um papel
relevante.
O pensamento é uma audácia contra as ordens estabelecidas
Viver e aprender é, ao mesmo tempo, entrar em confiança e
entrar em resistência
Meios para os Objectivos
Compete-nos, na verdade:
z criticar o funcionalismo dominante
z realizar uma antecipação societal
z estabelecer uma apreensão global do saber

Os homens e as mulheres de hoje devem ser,


hoje, no campo da ética, homens e mulheres
de esperança.
Situação actual do mundo da vida e crise
da razão

z Já não pertencemos a um mundo de


referências e de centros, de cruzamento
de itinerários.
z Exigem-se novas tomadas de
consciência ética, que há que assumir
com coragem, com risco, mas também
com esperança.
Situação actual do mundo da vida e crise
da razão

z Assistimos, hoje, a uma nova ordem em que as


transformações em curso exigem novos olhares
sobre o mundo; a ambiguidade e a complexidade
das relações e das práticas de organização dos
grupos sociais implicam mudanças de óptica,
mudanças de escalas, de representações, de
posicionamento para se poder construir uma
sociedade democrática e humanizada.
Situação actual do mundo da vida e crise
da razão

zO mundo já não se nos apresenta


solidamente unificado na sua
compartimentação, “nem uno pela
possibilidade de definição de fronteiras e de
diferenças: um antes e um agora, um aqui e
um acolá, um eu e um outro, num mesmo
esquema mental”.
Situação actual do mundo da vida e crise
da razão
z Vivemos num mundo “que ainda não aprendemos a olhar”,
onde adormeceu a possibilidade de uma história unitária
que avança para um fim e se auto-realiza de forma
integrada. O profundíssimo paradoxo da nossa civilização
é o facto de que, na hora em que, finalmente, o
alargamento da rede da comunicação nos possibilita o
“sistema-mundo” com um projecto autenticamente
universal, surgem infinitos centros de interesse, a partir do
declínio da tradição, que nos oferecem uma explosiva
situação de pluralização que chega a desgastar o próprio
sentido da realidade.
z Habitamos, na verdade, um mundo “posterior”. Um mundo pós-
tradicional, na medida em que nos esquecemos das nossas origens
culturais; num mundo pós-histórico, considerando que a história
terminou em 1989; num mundo pós-nacional, uma vez que, devido ao
peso da globalização, aderimos a uma cidadania mundial.

z Ao nosso tempo chama-se já “pós-humano”, tendo em consideração as


manipulações possíveis do genoma, podendo já qualificá-lo de “pós-
sexual”, uma vez que a distinção binária entre masculino e feminino
está a ser ultrapassada pela investigação em genética.

z Chegámos, também, a uma espécie de pós-feminismo, dado que a


libertação da mulher perdeu a sua razão de ser, devido à desconstrução
a que os paradigmas tradicionais foram sujeitos, uma vez que, no
universo biológico, se está à procura de superar sistematicamente o
próprio corpo.
z A noção de “verdade” está a ser suplantada pela de
“justiça” e a noção de “justiça” é produzida pelo discurso
liberto de toda a soberania donde possa, eventualmente,
derivar.
z Entrou-se, de facto, numa era pós-metafísica, emergindo
“conceitos repletos de ilusões”; a consciência, a percepção
de si mesmo e do próprio meio, são fenómenos biológicos
associados ao neo-córtex.
z Neste sentido, o pensar do homem é compreendido como
um reflexo neuro-biológico suplementar no combate pela
vida.
z O sujeito autónomo do Iluminismo tornou-se num artifício
utilitário não da razão, mas da natureza.
z As modalidades actuais de pensar perderam sentido.
z As maneiras pós-modernas de inteligir o real apregoam a
insurreição contra as grandes narrativas uniformizantes
(como a Ilíada e a Bíblia), entendidas como incarnadoras
de uma concepção monopolista, totalitária, dos deuses, dos
homens, das coisas; este monopólio seria alimentado pelo
delineamento de uma doutrina do ser e por uma
interrogação sobre as coisas, bem como, curiosamente,
pelo racionalismo do século das Luzes, por uma razão
habilitada para tudo aprender e explicar.
z A partir de agora, valoriza-se o intemporal, recusando-se a
universalidade de um conceito capaz de excluir totalmente
a diferença.

z A pós-modernidade caracteriza-se pelo individualismo e


pela independência, é marcada pela desorientação e pelo
vazio e, sobretudo, pela falta de utopias, prescindindo-se
de normas e de valores; o pensamento que perpassa esta
época é um pensamento débil, sem princípios e sem
critérios de conexão.
z É através de um acto dominador, arbitrário e
despótico que o “eu”, ao afirmar-se, passa da auto-
afirmação à posição e à afirmação do “tu”.

z Pensar, para os pós-modernos, seria renunciar a


explicar, renunciar ao discurso fechado no interior
de um “sistema anónimo de pensamentos” que
conduziria à exclusão daqueles que pensam de
outro modo.
zA visão com que o homem pós-
moderno nutre o seu espírito é a da
pluralidade, onde cada ser singular se
torna suspeito, enquanto tal. Aqui,
como avança Lyotard, o sublime e o
sofrimento tornam-se partes
integrantes da existência.
z Mas, como já afirmava Max Scheler, confrontado com a angustiante
“situação espiritual do nosso tempo”, “o homem não é um objecto, mas
uma direcção”, um sentido.
z Nós não nos contentamos com a mera relação a nós mesmos; não
somos o nosso próprio sentido.
z Uma finalidade da natureza não pode constituir o sentido do homem.
z Torna-se, por isso, urgente, perante a crise geral do sentido que nos
rodeia, a procura de uma antropologia e de uma ética, “para além do
niilismo” e da construção virtual do homem.
z Pertence à educação propor novos enquadramentos éticos e apresentar
novos contributos, neste domínio.
Crise actual do sentido
z Presente e declarada nas afirmações da temática
do “fim”, em vários pensadores da segunda
metade do séc. XX.
z Fim do sujeito (e, até, do homem), da verdade
(não apenas da metafísica), mas das próprias
ciências, da história, da estética.
z Foi, contudo, sobre estas vertentes que se
construiu o sistema de valores do Ocidente, a
partir da herança grega e cristã.
Crise actual do sentido
z A crise manifesta-se em diversas esferas, minadas
e, até, paralizadas por descontinuidades e rupturas
(com a tradição e a história) que os termos “crise “
e “fim” evidenciam.
z A temática do “fim”, em relação ao agir e ao
pensar (à racionalidade), não é um capricho
niilista de alguns, mas a interpretação presente do
devir da sociedade e do pensamento. No meio
dela, cumpre-nos questionar-nos como superá-la,
para não ser a crise a submergir definitivamente o
homem.
Crise actual do sentido
z Mas será possível descortinar novos valores que
estabeleçam pontes entre domínios, aparentemente
desconexos, na esfera do cognitivo, do ético-
político, do estético, aproximando termos opostos?
z Porque só há sentido onde existe continuidade, a
única resposta reside na procura de continuidades
insuspeitas. Esta procura é uma tarefa urgente,
para nós, no tempo presente. A resposta situa-se
na dignidade incontornável do homem como
pessoa (pessoa humana).
Crise actual do sentido e
urgência da reflexão ética
z Parece que há tentativas de construir sistemas “em
que os homens sejam supérfluos” (Hannah
Arendt).

z Práticas de crimes contra a humanidade.

z Só a assunção de valores universais nas


consciências individuais (singulares) conduzirá os
homens a uma verdadeira humanização.
zA transição do plano moral para o da
construção de uma ética pessoal implica
necessariamente a capacidade integradora,
estrutural e crítica da realidade.
Questões prioritárias a ponderar

z Que tipo de sociedade estamos a construir

z Que tipo de homem nos comprometemos a promover


Pós-modernidade
z Axiologicamente, o século XX foi devastador –
pôs em causa a identidade humana.
z A Pós-modernidade anulou a tradição
z Jean-François Lyotard: O pós-moderno – função
narrativa e legitimação do saber
z Max Weber: desencantamento
z J. S. Mill: Utilitarismo – a justiça deriva da
utilidade social
Pós-modernidade
z Marca a crise do humanismo
z Processo da modernidade – últimos 300
anos – lugar central do humanismo
z A cultura grega foi fundamentalmente
cosmocêntrica
z A Idade Média foi teocêntrica
z A modernidade fez do homem o seu centro
Pós-modernidade
z Na modernidade, operou-se a emancipação
do homem face à natureza, à tradição, à
religião, com o objectivo da plena conquista
de si mesmo. Autonomia mediante a
absoluta confiança no poder da razão,
fundada nos fenómenos quantificáveis,
matematizáveis.
Pós-modernidade
z Modernidade:
z A razão e a liberdade são as armas com que o
homem procura realizar o seu projecto. Numa
ambiguidade – cisão da experiência humana:
razão/liberdade – natureza/consciência;
objectividade/subjectividade (Descartes- res
cogitans/res extensa, Hume- razão/sentimento,
Kant- razão teórica (determinismo)/razão prática
(liberdade)
Pós-modernidade
z Modernidade – Tentativas de síntese:
Feuerbach (O homem substitui Deus); Marx
(O homem fica sujeito à história): anti-
humanismo.
z O antropocentrismo é acompanhado de
sucessivos descentramentos a que Freud
chamou humilhações/ofensas
Pós-modernidade
z Humilhações/ofensas:
z Descentramento cosmológico (G. Bruno,
Copérnico)
z Descentramento biológico (Darwin)
z Descentramento psicológico (Freud)
z Descentramento linguístico-estruturalista
(M. Foucault)
Pós-modernidade
z Humilhações/ofensas:
z Há que perguntar se a subjectividade humana é um
“sujeito-de” ou um “sujeito-a”
z Assistimos, hoje, ao maior desafio lançado à
concepção humanista do homem: investigações
etológicas, bioquímicas e genéticas.
z Dissolução da diferença entre a cultura e a
natureza, entre o homem e o animal
z Cícero: “homo res sacra” – Kant: “Nunca trates a
humanidade como simples meio”
Factores (actuais) condicionantes
dos valores

z Indivíduo

z Quantidade

z Divertimento/Facilidade

z Competição
Oposições

Tradição Tolerância
Vivência Ciência
Crítica Sedução

z Cultura “das raízes” – Cultura “das antenas”


z Propostas a partir de uma nova racionalidade
Controlo

Homogeneização Medo Alienação

Global
Participação

Diversidade Amor Pertença

Local
PECADOS MORTAIS DA HUMANIDADE
CIVILIZADA ( K. Lorenz)

Homeostasia
1. Urbanização (quebra das inter-relações – biocenose)
2. Competição da Humanidade consigo própria (onde o mais
não coincide com o melhor)
3. Unidimensionalismo humano (materialização dos valores)
4. Morte (em vida) dos afectos (indiferença pelos sentimentos
alheios)
5. Quebra das tradições
6. Escravização aos mass media (julgamento e avaliação)
O homem, que é único e insubstituível, no dizer de
Unamuno, corre o risco de se trocar por um outro eu,
um eu de mercado, sujeito à oscilação dos preços
O contexto das éticas contemporâneas

Importância e ambiguidade da ética na


sociedade actual
Depois de uma marginalização, sofrida no passado, a
ética está vivendo, de novo, um verdadeiro
protagonismo, devido
z ao progresso científico e tecnológico
z aos problemas vindos da cultura moderna
Importância e ambiguidade da ética na
sociedade actual

A cultura moderna é marcada:


z Pela secularização;
z Pela autonomia;
z Pelo pluralismo.
Importância e ambiguidade da ética na
sociedade actual

Progresso científico e tecnológico :


z aparecimento de novos problemas que questionam a
nossa concepção de pessoa, de saber o que é permitido ou não
e cuja solução não parece passar pelo enfoque científico
(ex. clonagem);

z aparecimento de efeitos ameaçadores para o


homem em relação aos quais a tecnociência se tem mostrado
sem capacidade para predizer e para controlar os efeitos
perversos das suas realizações (destruição ecológica).
Importância e ambiguidade da ética na
sociedade actual

Assim, a ideologia do progresso científico e


tecnológico, sendo, embora, um grande
poder perante o qual a ética parecia mostrar-
se arbitrária e ineficaz, tem levado a um
impulso da ética, no sentido da resposta à
pergunta: deve fazer-se tudo aquilo que,
técnica e cientificamente, é possível?
Importância e ambiguidade da ética na
sociedade actual

z Podemos, pois, afirmar que, depois de ter


obscurecido a ética, a ciência a pôs novamente na
moda ao pedir-lhe directrizes para a sua acção.

z Este regresso da ética está, porém, imbuído de certa


ambiguidade, uma vez que, a par da crença na
conveniência da regulação ética, continua a não ser
possível impedir as realizações que a tecnociência
nos abre, sem atender àquela regulação.
Importância e ambiguidade da ética na
sociedade actual

Daqui, as seguintes conclusões:

z a técnica continua como um grande poder e a


ética, sendo, embora importante e necessária,
apresenta-se como um “débil poder”;

z a educação é uma dimensão decisiva da ética,


sendo esta intrínseca ao acto educativo.
Importância e ambiguidade da ética na
sociedade actual

A Secularização
z Com a secularização, fenómeno complexo, mas aqui analisado,
apenas, no aspecto da perda da referência do religioso, quer
para a convivência social, quer para os planos pessoais de vida,
a ética, como fundamento intramundano, passa, assim, para
primeiro plano, tornando-se numa ética da convivência, numa
ética cívica.
z Esta ética deveria encontrar uma fundamentação autónoma,
capaz de fazer com que as nossas acções não se situem na pura
arbitrariedade.
Importância e ambiguidade da ética na
sociedade actual

A Autonomia

z Valor que a modernidade põe acima de qualquer


outro;
– as pessoas autodeterminam-se e realizam em liberdade
os seus projectos de vida.

z A ética moderna é, assim, uma ética da liberdade.


Importância e ambiguidade da ética na
sociedade actual

Pluralismo
z Eleito como valor moral

z A ética moderna é pluralista e deverá, para


responder aos desafios, encontrar os mínimos
comuns, possibilitadores da convivência das
liberdades e das decisões colectivas
Importância e ambiguidade da ética na
sociedade actual

Cultura actual e Globalização


z Globalização - conflitualidade intercultural que
lhe é imanente:
– Globalização da informação;
– Globalização económica;
– Globalização política.
Importância e ambiguidade da ética na
sociedade actual

Na ética, evidenciam-se duas questões:

– busca de esquemas de justiça internacionais;


– busca de uma ética universal de mínimos com
validade transcultural.

z São questões clássicas mas, hoje, com contornos especiais


que aparecem por detrás da proclamação dos direitos
humanos.
Axiologia
z Axiologia – Teoria dos valores – Filosofia dos
valores – Estimativa

z A ideia e o problema dos valores estão presentes


em toda a história da cultura e de toda a história da
Filosofia

z Na segunda metade do século XIX, estabeleceu-se


uma análise autónoma da Filosofia dos valores
Axiologia
z Axiologia – Teoria Pura dos valores, das atitudes e
das posições valorativas

z Reflexão sobre os valores – Promoção dos valores


– Interiorização dos valores
z A prática axiológica é vivencial. A axiologia é
essencial à formação do homem. Situa-se na
prudência (frónesis), na procura do equilíbrio
Axiologia
z Lotze (1818-1881) – Pai da Filosofia dos valores
z Nietzsche (1844-1900)

z Escola de Baden: Wilhelm Windelband (1848-


1915) e Heinrich Rickert (1863-1936)

z Max Scheler (1873-1928) e Nicolai Hartmann


(1882-1950) – continuadores da Escola de Baden
Axiologia
z Ferrater Mora: O valor situa-se em diversas
ordens:
z Económica, estética, funcional, ética, vital,
lógica

zO valor ocupa um campo semântico plural,


mas convergente: situa-se na linha do
desejo
Axiologia
z Características dos valores:
zO Valer
z A objectividade
z A não-independência
z A polaridade
z A qualidade
z A hierarquia (qualitativa)
Axiologia

z Para
Scheler, os valores são formas
materiais a priori
ÉTICA
z Ciênciaou filosofia da acção humana –
ciência categoricamente normativa dos
actos humanos, segundo a luz natural da
razão
Ética
z Éthos (etimologicamente, significa, covil dos
animais; o termo era assim utilizado nos poetas
gregos): Habitação, carácter, costume
z Para Heidegger: Morada do ser
z Sentidos:
z 1. Ordem moral ou ordem ética – totalidade do
dever moral
z 2. Estrutura fundamental das ideias morais
z 3. Conduta moral efectiva de um indivíduo ou de
um grupo
Ética
z Ética antiga: “ética da vida feliz = vida boa”
z Ética kantiana: “ética do dever”
z Habermas/K.O. Apel: “ética do diálogo
(diálogo racional, universal e livre – situado
no consenso)
z A racionalidade é a categoria ética suprema
z Virtude – hábito que inclina à prática do
bem
Ética – Lawrence Kohlberg
z Critériosde legitimidade, de racionalidade,
de universalidade e de comensurabilidade
Níveis de Ética

1. Ética vivencial
2. Ética sociológica
3. Ética filosófica
A responsabilidade não resulta do
agir,
é-lhe anterior,
determinando a própria acção.

Hans Jonas
Ética

zA ética é uma sabedoria prática construtora do


equilíbrio da acção humana (entre o desejo e o
interdito)
z Horizonte de plenitude da ética
z A ética como ideal de convivência
Ética
z Ética integra três termos: o alcance da vida boa, com
e para os outros, em instituições justas. A Ética refere-
se ao que é julgado bom
z Moral refere-se ao que se impõe como obrigatório.
z Deontologia contém um sistema de referências de
orientação prática das acções concretas cuja génese é
intrínseca a uma classe profissional, à qual compete a
respectiva jurisdição. (O direito è extrínseco à classe e
a sua jurisdição pertence aos tribunais).
Ética
z A Ética contém o alcance de uma vida realizada sob o
sinal das acções consideradas boas (herança
aristotélica)

z A Moral contém o aspecto obrigatório, marcado por


normas, obrigações, interdições, caracterizadas
simultaneamente por uma exigência de universalidade
e por um efeito de constrangimento (herança
kantiana)
Ética

P. Ricoeur defende:
z A primazia da ética sobre a moral
z A necessidade de a visão ética passar pelo
crivo da norma
z A legitimidade de um recurso da norma à
visão ética quando os conflitos surgem na
singularidade das situações
Ética

z Regra de Ouro: “Não faças aos outros o que


não queres que te façam a ti”.
(Rousseau – Aristóteles, Cristianismo, Kant, P. Ricoeur)

z Paradoxo da educação do homem e do cidadão

z Ética da convicção e Ética da responsabilidade


(René Simon)
Ética, Liberdade e
Responsabilidade
z Conceitos/Tipos de liberdade:
z Liberdade interior
z Liberdade como auto-realização (ausência de
fatalismo)
z Liberdade como auto-determinação (ausência de
coacção)
z Sartre (1905-1980): L´Être et le Néant; Cahiers
pour une morale; L´Existentialisme est un
humanisme; Critique de la raison dialectique.
Ética
z A vida “boa” ou “feliz”só pode obter-se através
da participação numa comunidade bem
governada (Rousseau)

z O valor educativo fundamental é a virtude

z A virtude é a força que nos permite cumprir o nosso


dever em situações difíceis (Rousseau)
Ética
z “Ciência “ da acção humana (Definição genérica).
Actos de homem e actos humanos
z A acção (práxis) distingue-se da especulação
(theoria) e do fazer (poiein)
z A Ética é uma sabedoria prática (saber
especulativo/prático); é orientadora do “viver
bem” do homem, orientando-o a viver como
convém ao próprio homem
Interesse e legitimidade da
Ética
z Responde ao “que fazer?” que todo o ser
humano coloca
z É um saber eminentemente humano
z Enraíza-se na Antropologia e na Ontologia:
orienta a formação do “ser do homem”
Ética
z Virtuoso é aquele que aprendeu a controlar as suas
inclinações tornando-se senhor de si mesmo,
submetendo-se apenas à sua própria razão
z Virtudes fundamentais: a justiça e a liberdade – a
justiça é a virtude do bem comum; a liberdade é o
fundamento de todas as virtudes
z Relação entre o bem (Ricoeur) e o justo (J. Rawls)
Valores Éticos

z A ética está, hoje, na linha da frente devido aos


problemas colocados pela ciência e pela técnica

z O homem não está preparado para a actual


transformação do mundo

z Já Heidegger dizia que era urgente uma meditação


sobre a emergência da técnica (“provocadora”) – O
mundo não depende só da tecnologia
Valores Éticos

z Valor absoluto não significa ser


definitivamente aceite, mas que a sua perda
constitui um recuo e uma perda da
humanidade do homem

z Osvalores éticos são relativos no sentido de


que se inserem numa cultura e esta é
constituída por valores relativos
Valores Éticos

z Mas, sob o ponto de vista do seu conteúdo, são absolutos


na medida em que, se recuássemos em relação a eles,
dar-se-ia uma perda de humanidade

z Enquanto absoluto, o valor não tem limites na sua


aplicação

z Fragilidade da Ética – ausência de punição extrínseca; a


punição consiste numa auto-punição (auto-degradação
do ser humano)
Valores Éticos
zA ética enquanto “saber/ciência do homem”
z Dotada de um objecto complexo
z Saber o que é ser homem será sempre uma
perplexidade para o próprio homem. Raízes
para uma compreensão do ser humano:
liberdade, intersubjectividade e orientação
para o sentido do ser.
BIOÉTICA
z Termo proposto, em 1970, pelo médico
cancerólogo Van Rensselaer Potter (artigo
“Bioethics, the science of survival”, livro de 1971,
Bioethics, bridge to the future).
z Começou por designar o conjunto de
preocupações, discursos e práticas que então
surgiram e que vieram a estruturar-se num novo
saber
z A bioética tornou-se uma referência indispensável.
Encontramo-nos na era da bioética.
BIOÉTICA
z Até meados do séc. XX, a maioria dos
problemas morais que se colocavam à
biomedicina podiam ser resolvidos através
de uma deontologia profissional e de uma
ética de inspiração hipocrática, apoiadas em
virtudes básicas, como a compaixão, o
desinteresse e o princípio de que o médico
deve agir sempre em benefício do doente.
BIOÉTICA
z Apesar da sua origem científica, a bioética
transcende, em método e em objectivos, o
âmbito da ciência. Inclui áreas não médicas:
z Anos 70, engenharia genética (DNA),
modificação de micro-organismos (com
efeitos na ecologia); análise do genoma.
z Patentes e protecção jurídica de invenções
biotecnológicas.
BIOÉTICA
z Três factos históricos desencadearam uma
nova bioética:
z 1. Alguns abusos na experimentação em
seres humanos;
z 2. O surgir de novas tecnologias que põem
questões inéditas;
z 3. A percepção da insuficiência dos
referenciais éticos tradicionais
1. Alguns abusos na
experimentação em seres
humanos
z Médicos nazis, em hospitais de alienados e em
campos de concentração (Tribunal de
Nuremberga, 1947- reconhece a dignidade de toda
a pessoa humana; a Declaração Universal dos
Direitos do Homem (1948) reconhece o mesmo
princípio).
z Hospital de Willowbrook (Nova Iorque), de 1956
a 1971: em 700 a 800 crianças foi inoculado o
vírus da hepatite com o objectivo de buscar uma
terapia imunizante;
z Em Tuskegee (Alabma), 431 negros pobres foram privados
de cuidados contra a sífilis, para permitir o estudo do curso
normal da doença
1. Alguns abusos na
experimentação em seres
humanos
z Reacção: a prática de investigação clínica
em seres humanos tem de estar sujeita a
critérios rigorosos que respeitem os direitos
e a dignidade da pessoa humana.
z Em 1964, a Associação Médica Mundial aprovou um
conjunto de recomendações destinadas a servir de guia às
práticas médicas na investigação clínica (Declaração de
Helsínquia, revista em Tóquio – 1975 – e em Hong Kong –
1989)
1. Alguns abusos na
experimentação em seres
humanos
z Em 1978, o Relatório Belmont (The National
Commission for the Protection of Human Subjects,
in Abel, 1993) propõe os princípios fundamentais
para a investigação em seres humanos: o respeito
pela autonomia da pessoa, o princípio da
beneficência e o princípio da justiça.
z As suas aplicações práticas são as seguintes: o
consentimento informado, uma razão favorável de
custos/riscos-benefícios e a selecção equitativa
dos sujeitos de experimentação.
1. Alguns abusos na
experimentação em seres
humanos
z A fim de evitar atropelos foram, posteriormente,
publicadas normas que exigem que toda a
investigação em seres humanos seja previamente
aprovada por uma comissão de ética local,
independente do investigador. Esta comissão será
constituída por um mínimo de 5 membros com
formações diferenciadas; pelo menos um deverá
trabalhar em área que não seja considerada
biomédica: por exemplo, um jurista ou um
sacerdote.
1. Alguns abusos na
experimentação em seres
humanos
z A finalidade das comissões de ética é velar pela
qualidade da investigação em seres humanos e
proteger estes últimos nos seus direitos e na sua
dignidade. Devem ser independentes.

z Neste sentido, constituíram-se centros de bioética


e comissões nacionais e internacionais.
z
2. As novas tecnologias
z Deu-se um rápido desenvolvimento de tecnologias
médicas e terapêuticas, mais inovadoras nos
últimos trinta anos, originando situações inéditas
de decisão moral: tecnologias de cuidados
intensivos (que permitem manter vivo um recém-
nascido portador de múltiplas afecções graves ou
prolongar a vida de um doente terminal), técnicas
de ventilação e circulação artificiais, técnicas de
transplante de órgãos, de suprimento da
infertilidade, de diagnóstico pré-natal, etc.
2. As novas tecnologias
zO que é tecnicamente possível será
eticamente aceitável?
z 1960 – hemodiálise (Screibner): não
havendo equipamento suficiente, que
critérios adoptar para resolver a
hierarquização das prioridades?
z 1978 – fertilização in vitro. Reprodução
assistida; clonagem – problemas éticos.
Na sociedade dos nossos dias a técnica deixa de estar ao serviço do
Homem para estar o Homem ao serviço da tecnologia.
O Homem perde o seu estatuto de sujeito, tornando-se por esse
efeito objecto de um processo que o ultrapassa.
A tecnologia permite ao Homem viver o que antes era relegado para o
domínio da utopia.
A tecnologia faz-nos esquecer a necessidade de pensarmos nos fins de
acordo com os quais a Humanidade deve viver, ao pretender substituir
essa reflexão sobre os fins pela satisfação dos desejos quotidianos,
que são imediatos ou passíveis de satisfação num curto prazo.
A eleição dos fins pertence à ética.
A tecnologia moderna espelha a supressão da “nobreza” da procura
do conhecimento pelo conhecimento, da existência do conhecimento
teórico, e a sua corrupção pelo sentido da utilidade.
A responsabilidade obriga
incondicionalmente à
protecção do frágil
e do perecível.
3. Insuficiência dos
referenciais éticos tradicionais
z Insuficiência do código hipocrático face à
autonomia do doente, à verdade, à informação, ao
consentimento informado.
z Incapacidade da ética filosófica para resolver
questões novas, sobretudo através de uma
racionalidade especulativa meramente processual,
bem como da teologia moral, tradicionalmente
baseada no conceito de lei natural. A ética médica
tradicional, baseada na relação médico-doente,
teve de atender à repercussão social da
investigação científica.
Tecnologia - Ciência
z Foi sobretudo dos homens de ciência que proveio
o apelo e o impulso a uma nova bioética, como
reacção ao rápido desenvolvimento de um
tecnologismo desumanizante.
z Já em 1967, o biólogo e prémio Nobel Nirenberg
profetizava que, dentro de 25 anos, seria
tecnicamente possível alterar geneticamente
células humanas, mas que só muito mais tarde a
ciência poderia avaliar as suas consequências
éticas.
Tecnologia - Ciência
z Segundo Nirenberg, a ciência não pode
utilizar indiscriminadamente a tecnologia,
logo que ela seja viável, mas só depois de a
poder usar em benefício da humanidade.
Tecnologia - Ciência
zA biomedicina passou a partilhar do forte
impacto social que as ciências
experimentais adquiriram. Se é verdade que
se deve defender o direito à liberdade de
investigação, também é certo que esse
direito não á absoluto. Muitas das novas
tecnologias médicas têm repercussões que
afectam o futuro da humanidade.
Tecnologia - Ciência
z Necessidade de criar estruturas para estudo e
diálogo entre biólogos, médicos, filósofos,
teólogos, juristas, sociólogos, economistas e
políticos, que possam fornecer ao grande público e
aos governos, as coordenadas e as perspectivas
capazes de fundamentar a definição das grandes
opções sobre política científica. A bioética é uma
transdisciplina (envolve as tecnociências, as
humanidades, as ciências sociais e o direito).
Tecnologia - Ciência
z Procura de respostas consensuais para a
defesa da dignidade da pessoa humana.
z Transcendência do puro pragmatismo
biomédico, procurando a sabedoria prática,
baseada nas finalidades éticas e na sua
hierarquização teórica.
z Harmonização internacional: a ciência é
universal, as culturas regionais.
Questões jurídicas ligadas ao
princípio e ao fim da vida
z Legitimidade reguladora do poder
legitimador do Estado: até que ponto o
legislador pode interferir na vida do
cidadão? Onde começa e acaba a
legitimidade que legitima a própria lei?
Duas tendências: positivista e naturalista
Questões jurídicas ligadas ao
princípio e ao fim da vida
z (Discurso do Papa Bento XVI aos
participantes no Congresso sobre direito
natural, promovido pela Pontifícia
Universidade Lateranense, 12.2.07:
liberdade, justiça, solidariedade – estes
valores não dependem da vontade do
legislador nem do consenso que os Estados
lhe podem conferir). O ser humano não é
um objecto.
Questões jurídicas ligadas ao
princípio e ao fim da vida
z “Confiarcegamente na técnica como a
única garantia de progresso, sem oferecer ao
mesmo tempo um código ético que
mergulhe as suas raízes na mesma realidade
que é estudada e desenvolvida, equivaleria a
causar violência à natureza humana, com
consequências devastadoras para todos nós”
(Bento XVI, 12.2.2007)
Questões jurídicas ligadas ao
princípio e ao fim da vida
Vida humana # personalidade jurídica
Interesses conflituantes.Tendência
proteccionista do embrião
Momentos reflexivos (ligados ao
essencial) # momentos mediáticos
(ligados ao acessório)
Questões jurídicas ligadas ao
princípio e ao fim da vida
z Legitimação na comunidade?
z É urgente que a comunidade saiba por onde quer
ir.
z Não há leis que imponham aquilo que a educação
deveria ter dado. O contributo da família.
z Loby financeiro associado às questões do início da
vida
z Ética de máximos. Temporalidade e historicidade
do ser humano: uma identidade em
desenvolvimento. O que é a vida humana? “Todos
iguais, todos diferentes”.
O começo da vida humana
z A vida humana merece respeito ético e a protecção
legal desde o seu começo e durante as fases
iniciais do seu desenvolvimento.
z Individuação embrionária e estatuto ético-jurídico
e ontológico da vida humana.
z A biologia identifica um processo contínuo de
desenvolvimento da nova vida humana que resulta
da fecundação até ao ser humano adulto.
O começo da vida humana
z O processo de fecundação leva entre 12 a 24 horas
a completar-se (singamia), com um outro período
de 24 horas necessário para a fusão dos dois
núcleos haplóides;
z Aproximadamente 30 horas após a fecundação dá-
se a primeira divisão da célula;
z Ao 4º dia, o embrião apresenta-se com 12 a 16
células.
O desenvolvimento da vida humana na
fase intra-uterina

Dia 1
Imediatamente depois da
FECUNDAÇÃO começa o
desenvolvimento celular

"Life is present from the moment of conception."


Lejeune, Geneticista
Dia 4 (trompas de falópio)

As células começam a
diferenciar-se

“Quanto mais sabemos acerca de este


maravilhoso mecanismo, mais assombrosa
aparece a concepção humana, assim
como todas as extraordinárias funções do
corpo da mãe orientadas para este
propósito”

Dr. Nilsson
Dia 8 (1ª semana)

Ocorre a IMPLANTAÇÃO

A nova vida está composta por


centenas de células…
2ª SEMANA
9 O fígado do novo ser já desenvolveu as suas
próprias células sanguíneas
9“Linha primitiva” – rudimento do sistema nervoso
9 Já se podem apreciar as contracções dos
músculos do coração
9 Começa a perceber-se o desenvolvimento dos
olhos

3ª SEMANA
9 Aparece a base do sistema nervoso

4ª SEMANA
9 0,5 cm de comprimento
9 O embrião tem o seu próprio grupo sanguíneo
9 Um coração primitivo já bate…
6ª SEMANA
5ª SEMANA
9Completa-se o esqueleto
9 As orelhas e o nariz vão adquirindo
forma 9Nas mãos e nos pés começam a distinguir-se
os dedos
9O cérebro já dá sinais de actividade eléctrica,
9 A energia do coração alcança 20% da evidência de que o sistema nervoso começa a
de um adulto funcionar coordenadamente

Já é possível registar ondas cerebrais num


Já se pode fazer um electrocardiograma. eletroencefalograma.
7ª SEMANA

9 O embrião já possui intestinos,


9 O cérebro já está completo
rins, fígado e pulmões

9 Distinguem-se perfeitamente as
9 Todos os sistemas do corpo
orelhas e o nariz
estão em funcionamento
ENTRE A 8ª E A 9ª SEMANAS

9 O feto mexe-se bastante, apesar de a mãe não sentir


9 O coração está quase completamente formado e os batimentos
cardíacos podem ser ouvidos através de Doppler
10ª SEMANA

A sua formação está


praticamente completa…
10 semanas
Questões jurídicas ligadas ao
princípio e ao fim da vida -
Eutanásia
z Eutanásia – acto intencional de matar,
praticado por uma pessoa a pedido de
outrem.
z 1. O médico decide, por si só, matar o
doente por, em sua opinião, ser preferível
matar a pessoa do que prolongar uma vida
difícil. É um homicídio qualificado, punido
com pena de prisão - no nosso Código Penal
Questões jurídicas ligadas ao
princípio e ao fim da vida -
Eutanásia
z 2. O médico decide interromper tratamentos
extraordinários que já não são úteis e que causam
grande incómodo e sofrimento ao doente. Decisão
eticamente correcta. A manutenção destes
tratamentos é distanásia.
z 3. Para aliviar o sofrimento do doente, em fase
terminal de uma doença incurável, o médico aplica
medicamentos eficazes, mas que podem ter efeitos
secundários reduzindo o tempo de duração da fase
terminal. Decisão correcta, eticamente (duplo
efeito).
Transplante de órgãos
z Transplantações homólogas (transferência de
órgãos ou tecidos entre indivíduos da mesma
espécie)
z Princípios: autonomia (consentimento informado
do dador); confidencialidade; gratuitidade; não
discriminação; subsidiariedade (só são admissíveis
na medida em que não seja possível a sua
obtenção em cadáveres); proporcionalidade
(exclui-se a dádiva de órgãos essenciais)
Questões jurídicas ligadas ao
princípio e ao fim da vida
z “A nossa condição mortal recai sobre nós com a
sua crueldade mas também com a sua sabedoria –
porque sem ela não haveria a promessa
eternamente renovada da frescura, da imediatez e
da sofreguidão da juventude; nem existiria para
nenhum de nós incentivo para contarmos os
nossos dias e fazer com que valham a pena”
(JONAS, H., Ética, medicina e técnica, Vega,
Lisboa, 1994, p. 165).
A PESSOA

zA pessoa- sujeito moral que realiza


a ética
A PESSOA
z Não é um mero indivíduo (Hellen Key, Stigner)
z Não é um átomo social (DurKheim)
z S. Paulo: “ser hílico, psíquico e anímico”
z Boécio: “substância individual de natureza racional”
z Escolástica: “o modo mais perfeito de ser”
z Kant: “A pessoa é fim em si mesma; nunca pode ser
usada como meio”
A PESSOA
z Filosofia Contemporânea: “o único ser capaz de pensar
e de dizer o ser”; “O ser capaz de interpretar o sentido
do ser”; “ser físico, psíquico, ético e social”
z Ser dotado de identidade (saber ser, saber tornar-se),
de unicidade, de solidariedade, de liberdade e de
autonomia (ser pluridimensional)
z Mounier: “Não é um objecto, mas o centro de
reorientação objectivo do universo”
z Max Scheler: ser dotado de reflexão e da capacidade de
decidir
A Pessoa e a Ética
z Ser orgânico (corpo próprio), afectivo e
cognitivo;
z Ser livre, autónomo e criador (cria a
cultura);
z Ser intersubjectivo/relacional;
z Ser pluridimensinal.

z SER RESPONSÁVEL /ÉTICO


Humanizar a pessoa é ir dos
arredores do homem ao
coração do homem
Humanismo e Ética

zOhumanista trava um combate pelo


homem e pela sua dignificação
zO homem humanista é aquele que é
feliz com a felicidade do outro
O que é educar

z Educar consiste em oferecer e transmitir um


modo de viver e de entender a vida
z Educar é um compromisso humano e o mais
humano de todos
Pirâmide axiológica
(Max Scheler)

Religiosos (“ultimidade”)
Éticos (bem)
Estéticos (beleza)
Intelectuais (verdade)
Hedonísticos (prazer)
Práticos (tecnológicos)
Valores vitais (biológicos)
A educação deve respeitar a hierarquia dos valores e
realizar a totalidade da pirâmide
Segundo Hegel, “o belo é a expressão sensível da Ideia”
Que valores
para o 3º milénio?

z Os valores referidos na “pirâmide axiológica” de Max


Scheler

z Os valores da construção de uma nova racionalidade


(Verdade/Sabedoria)

z Os valores de uma nova cultura – valores linguísticos,


estéticos, éticos e religiosos (Luc Ferry: “os valores
estão para além da moral e aquém da religião”)
Que valores
para o 3º milénio?

Os valores da pessoa, respondendo às grandes tensões


do tempo presente:
1. ter/ser
2. individualismo/solidariedade
3. qualificação/humanização
4. violência/paz
5. unidimensionalidade/pluridimensionalidade
6. normas/autonomia
7. globalização/circunstancialidade
8. Lealdade/traição
Que valores para o 3º
milénio?
z9 Justiça/exploração
z 10 Verdade/mentira
Os valores no contexto do conflito entre o
desejo e o interdito – perspectivas
psicológicas e antropológicas do valor

z O homem não é a vida que julga ser, nem a morte que


não quer ser; é o traço luminoso da sua luta.
z O desejo (traço característico da condição humana) é
um apelo à quietude que carrega consigo o embrião da
frustração, da falta, porque, na linha da finitude, nunca
será saciado.
z Porque o desejo constitui, para o homem, a fonte
primeira da acção, é por ele que o homem assume a
responsabilidade do seu destino
Compromissos éticos e planos de
trabalho:

z Relação com a comunidade


z Coerência institucional
z Avaliação institucional
z Exercício das responsabilidades

z (O que, em definitivo, é importante é a


qualidade das pessoas)
Ética e instrumentos da melhoria
do desempenho nas instituições:
A ética e os valores vivem-se na relação com os outros
e, através desta, na relação consigo mesmo como
ser, não redutível a competências instrumentais,
partilhando a título igual, o universal com todas as
pessoas, numa permanente viagem para a alteridade.
A criatividade é nuclear na estruturação dos valores e
na consolidação de uma ética pessoal.
A transição do plano moral para o da construção de
uma ética pessoal implica necessariamente a
capacidade de integração, estrutural e crítica da
realidade.
Algumas propostas (de mudança de
paradigma):
7. Há que colocar
. o cuidado antes da eficiência
. as pessoas antes dos recursos
. os outros antes do eu
. o sentimento antes do desempenho

8. Deixando de lado a ilusão participativa, apostar em utopias de


humanidade

Há que ultrapassar a cultura instalada da “etnologia da


solidão”, porque ninguém é sujeito na solidão e no
isolamento
Programa
1. Há que passar
– de uma cultura da contabilidade para uma cultura da
responsabilidade;
– de uma pedagogia da instrução para uma pedagogia da
justiça;
– de uma cultura do individualismo para uma cultura da
participação;
– de uma cultura da apatia a uma cultura da esperança.

2. Há que ter coragem para romper com o imobilismo, com a


incompetência, com o autismo e com a irresponsabilidade
Programa
3. Há que procurar a protecção do indivíduo contra o mimetismo
colectivo na concorrência histérica instalada no nosso mundo
4. Abrir os olhos sobre a profundidade das coisas
5. Educar para a fraternidade solidária e para a justiça
(exploração/exclusão)
6. Incorporar o outro na nossa própria mundividência
7. Prestar atenção aos nossos limites morais
8. Realizar o auto-conhecimento, a auto-estima e a auto-aceitação
9. É a acção que faz mudar as coisas
10. Não podemos ficar no mesmo lugar
11. Há que acolher os valores modernos, mas sem sacrificar o
património
ANTROPOLOGIA DOS VALORES: O HOMEM E OS
VALORES

O sentido da vida é a suprema exigência que


se coloca à existência humana

«A preocupação fundamental, para o


homem, deve consistir em saber como há-
-de cumprir a sua missão no mundo e o
que tem a fazer para conseguir ser
verdadeiramente homem».
(Kant)
ANTROPOLOGIA DOS VALORES: O HOMEM E OS
VALORES ÉTICOS
«O fim supremo do homem é, justamente, ser
homem, fazer-se homem».

O mais alto fim da vida humana é a


humanização do homem.
z “É justamente para preservar o que é novo e
revolucionário em cada criança que a educação
deve ser conservadora, isto é, assegurar a
continuidade do mundo”

Hannah Arendt
zA ética profissional implica:

z 1. Profissionalidade (Dedicação e
Competência)
z 2. Sentido social
z 3. Humanidade (Dignidade humana -
- o espírito como valor)
Eixos da Ética da Profissão

z Quatro são as aspirações de fundo que, segundo


Manuel Antunes, habitam o homem:
z Aspiração à dignidade de ser pessoa
z Aspiração a ter uma oportunidade para dar a sua
medida
z Aspiração a ter uma garantia de segurança
z Aspiração a ver-se reconhecido e tratado como
responsável
“Os conflitos que o nosso planeta sofre não têm
com certeza uma causa única: rivalidades
económicas, relações de força entre poderes
políticos, sujeição a mercados cada vez mais
mundializados”
(Jean-Pierre Changeux e Paul Ricoeur, O que nos faz pensar, Ed. 70, Lisboa, 2001)
A responsabilidade é de sentido único e
vai do que possui poder para o frágil.
A responsabilidade colectiva é mais importante que a individual e tem
um expressão política. Por isto o governo deve estar nas mãos dos
esclarecidos.
O homem deve assumir toda a responsabilidade em relação ao mundo
e aos outros. Só ele deve porque só ele pode.
“O ser obriga ao agir, e o agir visa a preservação do ser.”
Conclusões

zNa Ética, cruza-se a intimidade,


a ontologia e a existência, no
seu todo. Há, aqui, que
desvendar, os sentidos e as
razões da própria condição
humana.
Conclusões
z Falámos do vivido, da sua
complexidade.
z Falámos do humano, falámos de nós (o
que foi difícil).
z Humanismo integral (Jacques Maritain).
z Procurámos distinguir valor de preço.
Conclusões
z Proposta em ordem a mudar o futuro,
a partir do presente. Aprender a
“desaprender”, criando, através do
exercício do pensamento crítico, uma
plataforma de resistência intelectual
z (a partir donde se está – Kierkegaard)
Conclusões
z Missão das Instituições, hoje:

zCríticaaos poderes dominantes


zAntecipação societal
zCompreensão global do saber
Conclusões
z Na procura contínua da felicidade, no exercício
dos afectos (estética), em equilíbrio, respondendo
à insatisfação (Kant) – é esta a missão da Ética.
z No contexto temporal em que vivemos: “O
crepúsculo do dever”; “O domínio do efémero”,
“A era do vazio” (Gilles Lipovetski) – Cultura
predadora.
z Urge pensar para além do imediato, conciliando,
por vezes, “o impossível com o necessário, o inútil
com o indispensável” (Derrida).
Conclusões

zConstruindo a sabedoria,
na percepção de que não
vivemos em vão.
Conclusões
zConscientes de que a vida
humana deve seguir as pistas do
trabalho, da justiça, do amor e
da verdade.
z Cientesde que “não há vento favorável
para quem não sabe aonde vai”.
Conclusões

zA progressão da vida
não é linear – há que
recomeçar
continuamente
Conclusões
z L´homme est à s´inventer chaque jour (Sartre)
z Ética – horizonte de plenitude – dignidade
humana, o respeito como valor, atendendo ao
“mistério” que envolve todas as coisas.
z A pessoa humana é, por natureza ética (E.
Lévinas). Há que superar o consenso (J.
Habermas).
z Drama do homem: situado na finitude, mas aberto
ao absoluto.
z Recusar ser salvos pelo número.
Conclusões
z

zO fracasso não é uma medida


do sucesso.
Conclusões
z “Em todo o caso, nos erros cometidos, no que foi
verdade e falhou ou se consumiu, no que me
excitou e não tinha razão, um valor persiste
quando a tudo dou um balanço, e é o valor da
própria vida. Só para ter existido valeu a pena
existir. A maior recompensa da vida é ela própria.
Creio que em tudo o que me fascinou nada me
fascinou mais do que a vida, o seu mistério
inesgotável, a sua inesgotável maravilha”.
z Jostein Garder, O Mundo de Sofia
Vales se amas,
amas se serves,
serves se vales
zTextos
complementares (Síntese)
Ética, afectividade e alteridade
Cassiano Reimão (artigo – síntese)
Afectividade
z Capacidade individual para experimentar
sentimentos e emoções.
z O projecto da existência humana como abertura e
compromisso em relação aos outros, a
afectividade constitui uma referência originária em
relação ao ser.
z O projecto de auto-realização, só está completo
com esta dinâmica tendencial nos seres que
procuram a sua plenitude.
Afectividade

z A afectividade é a participação na vida do mundo através


do movimento da transcendência intersubjectiva, ou seja, o
estudo da afectividade tem de partir da experiência, da
experiência do existir e do ser, esclarecida no encontro
com os outros no mundo.
z Por um lado, a experiência afectiva vivida é indivisível.
z Por outro lado, a afectividade é sempre uma
relacionalidade situada na percepção do mundo (o
imaginário, o juízo, o desejo e o querer do homem no
mundo)
A afectividade na filosofia

z A afectividade estrutura-se segundo uma


dimensão cruzada que releva de uma relação
longitudinal do existir, ligada ao SENTIR; por
outro lado, implica uma relação vertical no
encontro de outrem que especifica a modalidade
própria do sentir.
z Prazer, dor, paixão, desejo, amor, angústia -
fazem variar a existência segundo o sofrer e o
fruir, a emoção ou o sentimento
A afectividade na filosofia
Platão associou o objecto final do
conhecimento à plenitude do prazer.
A teoria é apreendida no movimento do
desejo.
O desejo abre as distâncias temporais e, desta
forma, Platão introduz a sua estrutura
temporal e a estrutura da afectividade, em
geral.
A afectividade na filosofia
z Martin Heidegger afirma que o aborrecimento (tédio) é o
afecto fundamental da nossa sociedade.
z O homem tem que despertar para si mesmo para poder
encontrar a compreensão do seu ser.
z Nós estamos alegres, tristes, ou indiferentes; são estados de
alma que se traduzem na abertura ou fechamento ao
mundo. O afecto não é qualquer coisa de inconsistente; é
uma possibilidade de ser que abre a relação do homem ao
mundo e aos outros sob a forma de encontro.
A afectividade na filosofia
z Emmanuel Lévinas considera a afectividade como
passividade. Em nenhum caso a afectividade
designa um sentimento para com o outro, mas o
facto de o sujeito ser afectado, no sentido de ser
remetido a si, de ser obrigado a ser ele próprio, por
causa do outro.
z Eu saio de mim e comprometo-me com o outro,
através do seu rosto.
z A afectividade, a sensibilidade e a vulnerabilidade
são conceitos de conotação ética.
Antropologia da afectividade

z Afectivo designa o carácter genérico do prazer, da


dor e das emoções
z Afectar significa exercer uma acção sobre a
sensibilidade e, em especial, produzir um estado
interior de índole psicológica
z Numa análise fenomenológica da afectividade
identificam-se três estruturas: a corporeidade, a
temporalidade e a espacialidade
Antropologia da afectividade
z A corporeidade – o concreto antropológico do
corpo próprio manifesta o existente enquanto
relação de ser-com-o-mundo.
z É o corpo que estabelece a ligação com o mundo,
tornando-se no veículo da percepção do mesmo.
z Em cada etapa da existência, o corpo descobre a
experiência afectiva; “ver” é, portanto, tocar,
ouvir; é também perceber e compreender, pois a
percepção, enquanto intencionalidade concreta,
anuncia a possibilidade de uma reflexividade
categorial do sentido, como significação” Florival,
G.
Antropologia da afectividade

z A temporalidade – a afectividade está relacionada com o


tempo; o mundo dura no tempo; este sustenta a nossa
espera e a nossa esperança na medida em que é ele que
dispõe as coisas.
z Na afectividade contactamos a temporalização da nossa
própria temporalidade existencial. Assim, afectividade e
tempo implicam-se mutuamente. O afecto revela a essência
do tempo como dimensão relacional.
z A todos os níveis da vida afectiva se joga uma
bipolaridade: prazer/dor (afectos), alegria/tristeza (estados
afectivos), vivenciados no instante, ou em duração
Antropologia da afectividade

z A espacialidade – as dimensões espacializadas do


corpo remetem para uma topografia do próximo e
do distante.
z Revelando os momentos passados da nossa vida
afectiva, verificamos que eles são
simultaneamente temporais e espaciais. O corpo,
recordando-se das distâncias percorridas,
redescobre as etapas das nossas angústias e dos
nossos desejos.
Da afectividade à ética

Como afirma Paul Ricoeur, o homem é um ser afectivo, desiderativo;


pode preferir e, consequentemente, construir os valores e realizar-se
eticamente.
O eu é irremediavelmente único. Mas, ao ser posto em questão por
outrem, conservando o eu na sua solidão, projecta-se na
responsabilidade; a fenomenologia torna-se ética: o sujeito, mantendo-
se ele próprio, não se tornando outro, compromete-se com o outro.
A fenomenologia abre-se, então, à ética, na medida em que é superada a
não indiferença existente na diferença entre mim e o outro. A diferença
entre mim e o outro reside na impossibilidade, para mim, de ser
impassível diante do outro.
Afectividade e projecto de existir

z A afectividade reveste-se de fulcral importância


para a realização humana, para a conquista
permanente da felicidade, em que a afectividade
dá estrutura à vida, no sentido natural e cultural.
Há que reconhecer no ser uma dimensão pessoal e
afectiva.
z O ser ama o homem e dá-lhe sentido
Afectividade e projecto de existir

z A análise fenomenológica mostra-nos que a


afectividade é manifestação prática do sentido de
existir .
z A alteridade sexuada, inteiramente singular e mais
originária que a alteridade, é constitutiva do devir
relacional da pessoa.
z É a relação de troca sexual que funda os
indivíduos segundo a sua polaridade na inter-
relação.
Afectividade e projecto de existir

z O corpo não é a “abominável vestimenta da alma”


como refere Gregório Magno; o corpo somos nós,
onde se encontra escrita e descrita a nossa história.
z O amor, como realização plena da afectividade do
homem, está acima da razão; mas está cheio de
apelos à razão; por isso, o amor sobrevive para lá
da razão, embora o amor verdadeiro só exista
suportado pela razão.
z A pergunta impõe-se: “se se prefere amar ou ser
amado” (amar é dar-se), invocando a capacidade
de sair de si para ir ao encontro do outro.
Afectividade e projecto de existir

A educação da afectividade deve ser personalizada, aberta,


sem medos, mas responsável. Esta educação deve assentar
num quadro de valores que dê maior importância ao amor
e respeite o sentido da vida, promovendo a fidelidade
afectiva através de um compromisso para com o outro.
O que se exige é a pratica de uma pedagogia da proximidade,
no que diz respeito à educação dos afectos.
A sexualidade situa-se no plano das relações interpessoais e
define o homem como “ser de encontro” e um “ser de
presença” de si ao outro.
Afectividade e projecto de existir
z A sexualidade é orientada para a construção do homem
como ser de amor e liberdade; e ser livre consiste em ser
capaz de conferir sentido pleno à própria vida.
z São incontornáveis o papel e a importância da família na
construção da identidade do ser humano, da situação
originária da sua afectividade (pela educação da
sexualidade).
z As instituições educativas devem dar confiança ao homem
de hoje, propondo-lhe quadros de referência por que valha
a pena viver. A educação da afectividade deve ter como
objectivo a alegria de viver, ou seja, a felicidade como
culminar da realização afectiva e intelectual do homem.
Em síntese
z A pluralidade humana, condição básica da acção e
do discurso, tem o duplo aspecto da igualdade e da
diferença. Se não fossem iguais, os homens seriam
incapazes de compreender-se entre si. Se não
fossem diferentes, se cada ser humano não
diferisse de todos os que existiram, existem ou
virão a existir, os homens não precisariam do
discurso ou da acção para se fazerem entender;
através de simples sinais e sons poderiam
comunicar as suas necessidades imediatas.
Em síntese
z Ser diferente não equivale a ser outro - ou seja, não equivale a
possuir essa curiosa qualidade de «alteridade», comum a tudo o que
existe e que é uma das características básicas e universais que
transcendem todas as qualidades particulares. A alteridade é, sem
dúvida, um aspecto importante da pluralidade; é a razão pela qual
todas as nossas definições são distinções e as razões pelas quais
não podemos dizer o que uma coisa é sem a distinguir de outra.
z Só o homem é capaz de exprimir a diferença e distinguir-se; só ele
é capaz de se comunicar a si próprio e não apenas comunicar
alguma coisa - como sede, fome, afecto, hostilidade ou medo. No
homem, a alteridade que ele tem em comum com tudo o que existe,
e a distinção, que ele partilha com tudo o que vive, tornam-se
singularidades e a pluralidade humana é a paradoxal pluralidade
dos seres singulares.
Em síntese
z É um facto que as diferenças entre os seres humanos existem; e poucos
são aqueles que descortinam as suas igualdades. Uns mais inteligentes
que outros, uns emocionalmente mais fortes do que outros, raças
diferentes, credos diferentes, culturas diferentes; são estes "diferentes"
que têm fomentado desde sempre as violências e os ódios, devido ao
preconceito, à ignorância, à intolerância e à incompreensão do homem
relativamente aos outros que são diferentes de si. A pedra basilar para
evolução e sobrevivência da civilização humana situa-se no facto de
nos conhecermos, de nos compreendermos, de nos tolerarmos no que
respeita às nossas diferenças. O homem tem de amar os outros, no que
eles têm de virtude e de defeito, para subsistir.
Em síntese
z Ghandi, Martin Luther King, Madre Teresa
de Calcutá são referências incontornáveis de
prática da alteridade, exemplos de ética a
ser seguidos por quantos orientam a sua
existência por utopias de esperança.
z “Ou aprendemos a viver como irmãos, ou
vamos morrer juntos como idiotas"
z Martin Luther King
Os valores num mundo em
mutação Síntese de texto -
- Michel Renaud
O PROBLEMA DOS VALORES

z Valor, consciência e finalidade

zO círculo hermenêutico do valor

zA crise dos valores


O PROBLEMA DOS VALORES
z Crise ?
z Desaparecimento ?
z Criação ?

Sim---------------Não
(tímido) (assumido)
mais jovens menos jovens
Ponto de vista cultural
Ética

Valores
Cultura

Valores
Objectivos

1. Associar o valor ao agir

2. Esquema formal da
problemática do valor
Aproximar o valor do agir

Privilegiar a relação com:


Consciência
Finalidade

VALOR – Conteúdo de uma


motivação
Motivação

Motivação – elemento formal do agir

Pensar o VALOR em relação com a


acção
Motivação
z Sempre presente no
agir consciente

z Todoo agir humano,


todo o agir consciente
se apoia numa
motivação
Motivação e valor

z Motivação consciente do agir

z Introduz o conceito de finalidade


Aproximar o valor do agir
zO fim do agir tem
subjacente uma orientação.
z O agir especificamente
humano projecta para a
acção a realizar, o que se faz
na decisão consciente.
Aproximar o valor do agir
Finalidade – sentido de um
processo consciente
determinado, acção ou
conjunto de acções, com
ligações entre si.
A motivação acrescenta a
dimensão da escolha
possível.
Valores
z Moral - implica a presença da
obrigação
z Ético - o dever ou obrigação
não é imediatamente focado,
mas centra-se na finalidade
do agir com a realização da
existência
Esquema formal da
problemática do valor
z Círculo hermenêutico do
valor

Valor Acção
Circulo hermenêutico

z Pré-compreensão
z Compreensão do todo a partir das
partes
z Compreensão das partes a partir do
todo
z Crer para compreender e compreender
para crer
A origem dos valores

1. Solução de cariz
intelectualista

2. Posição de cariz filosófico


A origem dos valores

zO valor é deduzido quanto ao bem


z O que tem valor é bom
z O Valor precede a acção, é
conhecido através da teoria
z A existência como um caminho pré-
conhecido
A origem dos valores

z Acção confere existência ao valor


através do agir
z Não é necessária uma
representação conceptual prévia
A origem dos valores
O círculo hermenêutico do valor
z Decisão inicial (opção por um
determinado valor) pode ser ou não
derivada de um acto de reflexão,
criação de um valor ou actuação em
função de um valor.
z Sem o agir, o valor não tem
significado, é através da acção que o
“valor tem valor”
z Ao agir segundo determinado valor é
reconhecida a sua importância
A origem dos valores
O círculo hermenêutico do valor
Os valores são universalmente
compreendidos, culturalmente
perecíveis, relativos e mutáveis

A dependência do valor em relação ao


agir implica que o ser humano tenha
capacidade para fazer viver
determinados valores, reinterpretá-los,
na medida em que tal contribui para a
realização da sua existência
A crise dos valores

z Como o agir de cada um de nós influencia o


valor, este não tem uma existência universal
e permanente
z O valor é limitado pela contingência do agir,
ficando na sua dependência, pois é este que
confere ao valor uma existência real
A crise dos valores

z Desaparecimento temporário de valores, ditado por


circunstâncias anómalas que abalem uma sociedade
(catástrofes naturais, guerras)
z Recuo de determinados valores (casamento católico,
símbolos nacionais)

z Valores são função do agir de vários indivíduos e,


como tal, fruto da sua vivência individual, o que leva
a equacionar uma multiplicidade de valores – valores
potenciais
A crise dos valores
z O valor existe graças aos princípios de
preferência e hierarquização
relativamente às múltiplas actividades
humanas.
z O valor refere-se à motivação do agir;
e o seu conteúdo implica a presença
de uma hierarquização.
z A finalidade é o sentido do agir, a
realização desta é o bem moral, na
medida em que contribui para a
realização moral do ser humano
A crise dos valores
O impacto da hierarquização no problema
do valor

zÉ analisado em função de critérios


(utilidade, preço, religiosidade)
zEstabelece-se uma preferência.
zQuando se verifica uma preferência
permanente passamos a falar de
hierarquização de valores.
zUm valor pode ser mau se puser em
causa outro de hierarquia superior
A crise dos valores

Diferença entre valores e valores ético/morais.

zOs valores implicam bens referidos a critérios de


preferência e de hierarquização

zO Valor ético/moral constitui-se como meta que


enquadra todos os valores
A mutação dos valores

z Mudança de critérios utilizados na


hierarquização de valores

z Juízo histórico dos valores passados

zO que, hoje, é um valor aceite, amanhã


poderá ser questionado
Exemplo 1

A colonização

z Um bem para os colonizadores


z Um encontro de culturas, ajuda a outros povos

z Subida na hierarquia do valor “independência”


z Actos de tirania e outros males que acompanhavam a
colonização
Exemplo 2
Ética e moral da sexualidade

z Dependência económica dos pais que


só com o casamento era superada
z Proliferação de tabus

z Melhores condições socio-económicas


z Erosão da fronteira entre o privado e o
público (a sexualidade é abordada de
forma livre e desprovida de tabus)
z Novas preferências => novas
hierarquias
Síntese

zA hierarquização não é constante


z A posição relativa entre valores
sofre alterações
z Assim, não é possível uma tabela
de valores fixa, pois eles sofrem
mutações
“Se os teus princípios morais te
deixam triste, podes estar certo
de que estão errados”
Robert Stevenson
A Ética no Mundo
Contemporâneo

z Questão actualíssima

z Legado aristotélico

z Actualmente, muito divulgado


A Ética no Mundo
Contemporâneo
z Actualmente, a ética é fundamentada nos
valores e na ética da virtude

z Explica a necessidade global

z Relançada actualmente
Ética e emergência dos
valores
z Debate:

z Ao nível da existência humana

z Futuro das sociedades

z Dependência do homem
Ética e emergência dos
valores

zA ética desenvolve uma conjugação


entre

– Universal

– Singular
Ética e educação

z O que é educar:

– Dar
– Transmitir
– Incumbir

Uma maneira de viver e de entender a vida


Ética e educação

z Acreditar na perfeição do homem

z Humanizar
– Existência de valores
– Estruturação dos valores

Os valores são a base do sistema educativo


Ética e educação

z Impotência de as instituições fornecerem os


valores para as gerações mais novas.

z Problemas nas escolas a nível ético

z Asescolas são responsáveis pela referência


das questões éticas e dos valores
Ética e educação

z Alunos de culturas distintas

z Necessidade da resolução das questões


éticas na escolas

z Liberdade dos alunos


Síntese

z Problema éticos que preocupam a sociedade:

z Globalização

z Abertura às novas realidades

z Os valores são os mesmos, mas as situações são distintas

z Consciencialização da sociedade
zÀs instituições educativas
compete impulsionar a
formação ética
Estratégias para a sala de aula
O professor como mentor e Tratar os alunos com carinho e respeito
modelo
Uma sala de aula acolhedora Levar os alunos a cuidar do seu projecto
de existência
Disciplina moral Usar as regras para desenvolver a
moralidade
Uma sala de aula democrática Participação dos alunos na tomada de
decisão
Ensino de valores através do Usar os conteúdos disciplinares para
currículo desenvolver a moralidade
Ensino cooperativo Ajudar os alunos a cooperarem

Clima de responsabilidade Desenvolver a responsabilidade e o gosto


pelo o trabalho bem feito
Reflexão ética Desenvolver o raciocínio moral através da
leitura e da discussão
Resolução de conflitos Ensinar os alunos a superar os conflitos
Estratégias para toda a escola

Uma escola acolhedora Uma escola onde todos se


respeitem e se preocupem uns
com os outros

Um clima moral na escola Um código de conduta


respeitador dos valores básicos

Pais e comunidade como Colaboração escola-família-


parceiro comunidade
ÉTICA -
- UMA EXPERIÊNCIA, NA
COEXISTÊNCIA E COM SENTIDO
Cassiano Reimão (artigo – síntese)

Sofia Rebelo
ÉTICA

“A ética é daquelas coisas que todo


mundo sabe o que são, mas que não
são fáceis de explicar, quando
alguém pergunta”

(VALLS, Álvaro L.M. O que é ética. 7a edição Ed.Brasiliense,


1993, p.7)
ÉTICA

“O estudo dos juízos de apreciação


que se referem à conduta humana
susceptível de qualificação do ponto
de vista do bem e do mal, seja
relativamente a determinada
sociedade, seja de modo absoluto”
ÉTICA

Conceito evolutivo à medida da


evolução da própria história e do
seu reflexo na diversidade de
situações culturais e sociais
ÉTICA
A intersubjectividade como pilar da
eticidade - não existe ética sem:
¾Liberdade
¾Relação
¾Interacção
¾que exista a medida do outro
como reflexo do eu
¾Abertura ao sentido do ser
ACÇÃO

¾ Como motor de acontecimentos


relacionais
¾ Como postura que gera
normatividade interna
¾ Causa – Efeito / Livre arbítrio
ACÇÃO

¾A acção pode reger-se por


máximas – o que deve ser, em
determinada situação.

Normatividade ética
ACÇÃO

¾ Facea situações inéditas –


que não comportam acções-
padrão - intervém a reflexão
REFLEXÃO
ÉTICA
¾ “ Vida Boa”: Conceito sintético e
subjectivo que pode determinar
acções/padrões que consubstanciem
novos tipos de comportamento
¾ “Dever”: Conceito analítico em que o
sujeito procura, na imperatividade
legal, a regra para a acção
ÉTICA E VIDA BOA

¾ O devir como meio de tomada de


acção face a um futuro
¾ A linguagem como ordenadora
da relação entre indivíduos e
como forma de exteriorização
REFLEXÃO
ÉTICA

¾ O conceito de sentido como


forma de transformação de puras
factualidades em conceitos-
padrão de tomada de decisão
EXISTÊNCIA E TOTALIZAÇÃO

¾ O sentido de toda a acção inscreve-se


na existência, em continuo;
¾ Esta existência nunca é total, porque
significa devir, continuidade (é um
tornar-se...)
EXISTÊNCIA E TOTALIZAÇÃO

¾ O sentido como significação,


direcção e valor

¾ Estes conceitos tendem a levar à sua


totalização, num processo temporal
contínuo
EXISTÊNCIA E TOTALIZAÇÃO

¾ O télos é o edifício de construção da


existência, mediada pelos conceitos
descritos

¾ Daqui…
LINHAS DE PENSAMENTO

¾ Teleologia Ética
situacional
¾ Deontologia
¾ Neoliberalismo
¾ Comunitarismo
Teleologia

¾ Do grego télos = fim, estabelece


que a qualidade de uma acção é
medida pelos seus resultados
¾ Os seus defensores não partem de
regras morais, mas de objectivos
Teleologia

¾O valor moral de uma acção não


está na acção propriamente dita,
mas no seu resultado final
Teleologia

Exemplos de situações éticas de


complexidade diversa:
¾Direitoà vida vs Aborto
¾Trabalho Infantil
DEONTOLOGIA

¾ Do grego, deón = dever


¾ Os deontologistas regem-se pelo
princípio de que há coisas que se
deve ou não deve fazer,
independentemente dos resultados
da acção
DEONTOLOGIA

¾ Os deontologistas salientam os
deveres e as obrigações
¾ O dever surge como um imperativo
categórico – tu deves - que se impõe
a uma consciência moral
inteiramente livre
DEONTOLOGIA

Exemplos:

¾Asreligiões
¾Normas jurídicas
ÉTICA
SITUACIONAL

¾ Relativismo cultural
¾ Valoriza o contexto em que a acção
ou decisão tem lugar
¾ Exemplos: Castração/circuncisão
feminina – tradicional em algumas
sociedades do 3º mundo
Neoliberalismo

¾ Hobbes, Rousseau, Kant


¾ Liberdade de Consciência
¾ Princípio geral da igualdade de
direitos, liberdades e
oportunidades
Neoliberalismo

¾ Concepção universalista do Homem.


¾ Este só age moralmente quando, pela
sua livre vontade, determina as suas
acções com intenção de respeitar os
princípios que reconheceu como bons
Neoliberalismo

Kant:
“Age de tal forma que trates a
humanidade, tanto na tua pessoa como
na de qualquer outro, sempre e
simultaneamente como um fim em si
mesmo e nunca simplesmente como um
meio”
Neoliberalismo

Kant:

“Age apenas seguindo as máximas que


possas ao mesmo tempo querer como
leis universais”
COMUNITARISMO

¾ Aristóteles, Hegel:
¾ Comungam da desconfiança na moral
abstracta
¾ Defendem a ética das virtudes e a
história da tradição
COMUNITARISMO

¾ Os comunitaristas colocam a
prioridade na forma de vida
comunitária

¾ Os valores da comunidade e as suas


orientações estão à frente dos atributos
do universalismo
MAIS DO QUE UM CONJUNTO FIXO
DE REGRAS, A ÉTICA É UM
ESFORÇO PERMANENTE, LEVADO
A CABO EM PARTICULARES
CIRCUNSTÂNCIAS, NA PROCURA
DAS MELHORES SOLUÇÕES PARA
PROBLEMAS
Todas as teorias de reflexão
apresentadas são imperfeitas e
incompletas face à complexidade
do homem e do mundo que ele
habita
Ética – Uma experiência, na
coexistência e com sentido

CASSIANO REIMÃO (Síntese de artigo)


ACÇÃO E ÉTICA

zÉ através da acção que se projecta algo no


mundo;
z Graças à acção humana, o mundo torna-se
outro, enriquecendo-se;
z Reflectir sobre a acção é interrogar-se sobre
o sentido que modifica a vida do homem.
ACÇÃO E ÉTICA

z Ao realizar-se, a acção reveste-se de uma


qualidade – a qualidade que constitui o valor ético
da acção e que se exprime nos termos tradicionais
de “Bem” e de “Mal”;
z O juízo exercido sobre a acção propriamente dita,
ou sobre o seu efeito, é esclarecido através de
máximas que representam a normatividade ética.
ACÇÃO E ÉTICA

z O problema coloca-se quando estas máximas são


postas em causa (evolução da ciência/tecnologia),
tornando-se necessária a intervenção da reflexão,
instaurando-se, entre intuição e reflexão, um
diálogo susceptível de dar à ideia intuitiva de
legitimidade um conteúdo preciso para inspirar
novas máximas, apropriadas às novas situações.
Ex.: inseminação artificial, células estaminais.
A REFLEXÃO ÉTICA

z Compete a esta reflexão sobre a ética trazer à luz


os princípios segundo os quais podem ser
elaboradas as máximas da acção e a partir das
quais elas podem ser justificadas.
z É aqui que a tradição filosófica se divide,
existindo duas perspectivas:
z A “VIDA BOA”
z O “DEVER”
A REFLEXÃO ÉTICA

z A primeira coloca o núcleo fundamentador da


essência da normatividade ética na tensão que
projecta a existência para o seu “TÉLOS” (do
grego télos = fim);
z A segunda coloca esse mesmo núcleo no
sentimento do “DEVER” (do grego deon =
dever), enquanto eco, na subjectividade, da
imperatividade da lei.
TEORIAS TELEOLÓGICAS

z Afirmam que a obrigatoriedade de uma acção


deriva unicamente do cálculo das suas
consequências; o valor moral de uma acção não
está na acção propriamente dita, mas no seu
resultado final.
z Fins últimos: felicidade, prazer, interesses, etc.
z Ex.: Epicurismo, Aristotelismo, Utilitarismo.
TEORIAS DEONTOLÓGICAS
z Afirmam que só agimos moralmente quando
obedecemos à lei e porque obedecemos à lei.
z O dever moral em fazer o que a lei moral
determina sobrepõe-se ao mero cálculo das
vantagens ou consequências práticas que possam
resultar desta obediência.
z Em termos formais (Kantianos), a obrigatoriedade
pressupõe, em primeiro lugar, a liberdade
realizada na autonomia da vontade.
z A obediência deve-se apenas àquelas normas que
possam ser universalizadas, isto é, que sejam
imparciais, de utilidade geral, etc.
TEORIAS DEONTOLÓGICAS

z O dever surge como um imperativo categórico,


que se impõe a uma consciência moral
inteiramente livre.
z Origem do dever: Divina, Natural, Civil, etc.
z Ex.: Moral Judaica, Moral Cristã, Estoicismo,
Kantismo.
z Outras designações: Contratualistas, Formais.
TEORIAS DEONTOLÓGICAS

«A preocupação fundamental, para o


homem, deve consistir em saber como
há-de cumprir a sua missão no mundo
e o que tem a fazer para conseguir ser
verdadeiramente homem».
(Kant)
z Porque cada uma destas perspectivas
contém parte de verdade, é preciso ver
como se podem cruzar numa reflexão em
torno da experiência ética
ÉTICA E “VIDA BOA”
z Leva-nos a apreender a existência (entendida
como desenrolar concreto de uma vida) sob o
ponto de vista do seu devir num processo contínuo
de auto-realização.
z O que move verdadeiramente é o termo desta
realização (objectivos de vida).
z O devir da existência está teleologicamente
ordenado e a “vida boa” é precisamente o “télos”
desta forma de vida.
z É este “télos” que faz da vida, enquanto pura
factualidade, uma vida com sentido.
EXISTÊNCIA E TOTALIZAÇÃO

z Pode, assim, afirmar-se que o sentido de uma acção, ou de


uma situação, é o modo como se inscreve na totalidade da
existência.
z E uma existência tem sentido na medida em que ela
consegue unificar-se, isto é, possibilitar a cada um dos seus
momentos, integrar-se, com harmonia e equilíbrio, no
processo de totalização que a constitui;
z O que permite a esta existência unificar-se é a sua
capacidade para ordenar cada um dos seus momentos para
o seu “télos”; por isso, este constitui o sentido da
existência.
TELEOLOGIA E DEONTOLOGIA
TELEOLOGIA DEONTOLOGIA
Determinação concreta daquilo Determinar em que condições
Problema que pode constituir a “vida boa” é possível uma coexistência
essencial autêntica, geradora de paz,
entre indivíduos que, por
hipótese, têm visões
diferentes, porventura
contraditórias, em relação
àquilo que pode constituir a
“vida boa”.
A “vida boa” é uma vida segundo a Parte da verificação de uma
Ideia razão e, por isso, pode, em pluralidade de interpretações
principal princípio, ser determinada no seu
conteúdo através de um espaço de
da ideia de “vida boa” e do
desacordo existente entre elas.
reflexão.
Mas esta determinação recebe em
simultâneo, um valor universal.
TELEOLOGIA E DEONTOLOGIA
TELEOLOGIA DEONTOLOGIA
Apresenta-se como agente A propriedade essencial que é
Sujeito da autónomo; contudo, a sua reconhecida ao sujeito da acção é
acção liberdade é concebida como
capacidade de se assumir,
a autonomia, sendo a acção livre a
pura posição de uma determinação
com aquilo que lhe vem do
passado e o que se lhe
anuncia como exigência vinda
do “télos” que lhe abre um
futuro com sentido.

É entendida como algo que é Não pode ser dada ao sujeito da


Coexistência dado ao sujeito da acção com acção, tem de ser construída,
a sua própria existência, assegurando a compatibilidade das
enquanto sujeito. liberdades. Esta não pode resultar
senão de uma instauração; e a
ética é, precisamente, a base sobre
a qual tal instauração pode
acontecer.
NEOLIBERALISMO E
COMUNITARISMO

z Estadualidade de perspectivas encontra-se


também no debate que opõe os neoliberais
aos comunitaristas.
NEOLIBERALISMO E
COMUNITARISMO
COMUNITARIS- NEOLIBERALIS-
MO MO
Entende o sujeito dotado de uma Admite uma liberdade
Liberdade do herança que o liga a tradições, com compreendida como poder de
enraizamento numa comunidade e
sujeito com uma história, com um peso
escolha absolutamente autárcica.
A única obrigação que se impõe
cultural a partir do qual se decide a
sua adesão a uma concepção de vida ao sujeito é a que deriva do
determinada. acordo relativo às condições de
Não tem uma capacidade absoluta coexistência, entendida como
de escolha em relação aos valores, compatibilidade entre indivíduos
mas, antes, como capacidade de com opiniões acerca do sentido
assumpção de uma herança, não a da vida irredutivelmente
recebendo passivamente, mas diferentes e não como
inserindo-se criativamente nela,
reinterpretando-a.
participação numa obra colectiva
ou como partilha de uma mesma
convicção fundamental relativa
ao sentido da existência
NEOLIBERALISMO E
COMUNITARISMO
COMUNITARISMO NEOLIBERALISMO
Substanciais Procedimentais
Éticas Que determinam que uma Que definem uma teoria moral
teoria moral só se pode fundada segundo normas
desenvolver a partir de um procedimentais, formais,
concepção específica do bem. desligadas de qualquer
concepção específica do bem.
São éticas que, em vez de
decidirem o que há que fazer,
dizem de que forma decidiremos
correctamente o que devemos
fazer.
Aristóteles, Hegel Locke, Hobbes, Stuart Mill,
Filósofos Kant
NEOLIBERALISMO E
COMUNITARISMO

z Relacionando as perspectivas atrás referenciadas,


importa realçar que, na articulação entre os
conceitos de Justo e de Bem, é comum afirmar-se
que os Liberais defendem a prioridade do “Justo
sobre o Bem” (posição Deontológica) e que os
Comunitaristas defendem o primado do “Bem
sobre o Justo” (posição Teleológica).
A CONSTITUIÇÃO DA ÉTICA:
COEXISTÊNCIA OU SENTIDO?
z Do ponto de vista “liberal deontologista” deve
desenvolver-se a concepção de uma
coexistência que seja mais do que uma
compatibilidade formal: a da participação numa
práxis comum na qual cada um receberia a
possibilidade de se constituir como humano.
z A concepção deontologista reconhece a
exigência do sentido, mas recusa-se a ver a
potencialidade da racionalização que, no
entanto, o habita.
A CONSTITUIÇÃO DA ÉTICA:
COEXISTÊNCIA OU SENTIDO?

z A concepção teleológica baseia-se no


reconhecimento desta potencialidade enquanto
inscrita no dado da exigência do sentido.
z A cultura moral e política da modernidade liberal
reside, essencialmente, na afirmação da questão do
primado da coexistência sobre a questão do
sentido.
A ÉTICA NA CULTURA
CONTEMPORÂNEA

z A simples substituição do paradigma da


coexistência (a Justiça) em vez do sentido da
coexistência (o Bem) conduz-nos, desde então, a
um desvirtuamento do vivido subjectivo e
intersubjectivo cada vez mais visível nas
sociedades contemporâneas (solidão, violência,
indiferentismo, anomia, agravamento das fracturas
socioeconómicas).
A ÉTICA NA CULTURA
CONTEMPORÂNEA

z Há assim que criar uma “3ª via”:


z Com os deontologistas, contra os
comunitaristas: a necessidade da
Universalidade das regras;
z Com os comunitaristas, contra os
deontologistas: problematizar a redução da
teleologia ao domínio do privado.
z A ética possui um carácter regulador da acção
que transcende e antecipa o viver concreto dos
homens.

z A ética surge-nos, fundamentalmente, como um


conjunto mais ou menos estruturado de
princípios que devem enformar, organizar e guiar
o comportamento dos homens.
zA ética diz respeito, em primeiro lugar, ao
agir que se constitui em conexão com o
plano radical a partir do qual a orientação
humana no mundo se dá.

z Em segundo lugar, diz respeito ao pensar


desse mesmo plano.
z Atravésde uma reflexão do homem sobre o
homem e da relação do homem com os
outros homens, a ética apela à descoberta,
no mundo, de um sentido na coexistência,
de uma mediação que permite ao homem e
aos homens encontrarem-se a si mesmos.
zO sentido faz primordialmente referência
ao porquê da vida ou da existência
humana no mundo (este porquê é
compreendido como justificação pela
indicação de um fim).

zO sentido da vida (e, consequentemente,


o sentido do mundo) constitui, assim, a
questão primeira da ética.
z Nanossa época, a exigência da Justiça e a
questão do Sentido tornaram-se as questões
maiores dos homens.

zÉ através da Justiça e do Sentido que se


desenham as novas fronteiras das
solidariedades inter-humanas.
zA ética opera como que um chamamento ao
qual cada consciência humana responde
pessoalmente e de modo autónomo, no
dinamismo da sua auto-realização,
implicando, na sua essência, uma abertura
ao sentido, indissoluvelmente ligada à
abertura aos outros, à coexistência.
Relativismo Cultural
versus
Universalismo Ético

Resumo de Artigo de Acílio Estanqueiro Rocha


z Articular as singularidades culturais e conseguir a
adopção de uma perspectiva que suponha regras
universais.
• ou
z Optar pelo conceito de “necessidades básicas
humanas” realizado no respeito pela dignidade e
autodeterminação dos povos e comunidades
seguindo o caminho da Ética das culturas.
z Articular as singularidades culturais e conseguir a
adopção de uma perspectiva que suponha regras
universais.
• ou
z Optar pelo conceito de “necessidades básicas
humanas” realizado no respeito pela dignidade e
autodeterminação dos povos e comunidades
seguindo o caminho da Ética das culturas.
Enfrentamento das culturas
z Conflito de civilizações com predomínio da mais
forte.
z A modernização e a mutação social desvaloriza o
papel do Estado como fonte de identidade.
z As civilizações são híbridas. “Uma civilização
pura, cujos membros estariam organicamente
ligados num todo indissociável, é uma ficção”.
Princípios éticos universais

z“ quando se quer estudar os homens, é


preciso olhar à nossa volta(…) e para
longe(…), observar as diferenças para
descobrir as propriedades”
z O universalismo obriga a “omissões
selectivas” e conduz, não à abstracção, mas
à idealização com inclusão selectiva de
dados que podem não ser reais.
“Ideia comum da humanidade”
z Valores:
z Liberdade
z Igualdade
z Justiça
z Paz
z Dignidade
z Educação
São universalizáveis e negá-los significa um
afastamento da ética.
z “Uma coisa é a justiça ou a dignidade da
pessoa, princípios universais, e outra os
costumes que respondem a necessidades
(…) múltiplas não universalizáveis”
Como definir valores universais?
Critério da imparcialidade:
- determinam-se princípios fundamentais de
justiça.
Critério das consequências:
- determinam-se perante os valores das
sociedades modernas e desenvolvidas.
Comunitarismo
Ética comunitária
z Liberdade individual
z Diversidade
z Pluralidade cultural
JUSTIÇA
z Proporciona uma forma de vida organizada.
z Justiça como equidade independente de
influências religiosas, morais ou filosóficas.
z Deve ser capaz de consensos.
z Crítica:
– A justiça colmata a ausência de solidariedade (“…é a
primeira virtude das instituições sociais”).
– Um sentido de justiça pessoal.
– Defende a prioridade do Bem sobre a Justiça.
– Não é culturalmente neutra.
SATISFAÇÃO DAS
NECESSIDADES BÁSICAS
“ Uma sociedade é homogénea quando todos os seus
membros gozam dos direitos directamente
vinculados à satisfação das suas necessidades
básicas”.

A homogeneidade é compatível com a pluralidade das


culturas, mas obriga à mudança das minorias –
princípio da dinamização.
z Universalização por uniformização
(imposta).
z Universalização por dialéctica (negociação).

“Uma comunidade, grupo ou etnia que, para além


da satisfação de bens básicos, imponha uma
moral sem possibilidade de dissidência, (…)
não é justa.”
“GLOCAL”
z Global e local quase se tornam as duas faces
de uma mesma realidade em que um não
existe o global sem o local.
Considerações finais

. Três critérios para um comportamento ser


considerado ético:
. Critério utilitário
. Critério dos direitos individuais
. Critério da justiça
Cavanaugh, Moberg e Velasquez (1981):
Considerações finais

. Virtudes fundamentais:

Justiça: virtude do bem comum

Liberdade: fundamento de todas as virtudes


Considerações finais

“O mais alto fim da vida humana é a


humanização do Homem”

. Esse máximo pode ser atingido pelo seu


abrir-se para os valores, pela aceitação destes
e, sobretudo, dos mais altos de todos, os
espirituais
zÉtica e práticas jurídicas
O aspecto principal é que o padrão ético do serviço
jurídico decorre da sua própria natureza. Os valores éticos
fundamentais da actividade jurídica decorrem
primariamente do seu carácter e da sua relação com a
comunidade.
“…um modelo para a acção do quotidiano…” e “… um
guia que, por ser moral, se coloca aos níveis mais
elevados de exigência das consciências individuais,
isto é, ao nível da auto-avaliação; por isso, os deveres
éticos ultrapassam os meros deveres jurídicos,
deixando para estes as incidências disciplinares e
reservando para os primeiros a censura da consciência
colectiva”.
A moralidade poderá ser considerada como um sistema
de regras, de valores, de ideais e de princípios que
corresponde ao padrão ético geral de uma sociedade.
Este sistema é comum a todos e do conhecimento de
todos. Para que uma comunidade exista com o mínimo
de coesão e estabilidade é necessário que exista um tal
sistema, que todos o conheçam e que todos acreditem
que, pelo menos a maior parte das pessoas, na maior
parte do tempo, está disposta a segui-lo.
Em defesa da moral
Kohlberguiana

Artigo de Orlando Lourenço (análise–resumo)


Lawrence Kohlberg
(1926 – 1987)
Origem judaica

Em 1958 faz a tese de


doutoramento em
Psicologia na
Universidade de Chicago

Tese sobre Raciocínio


Moral em rapazes
adolescentes

Anos antes, embarca


rumo a Israel onde
participa na construção
do Novo Estado de
Israel
Aderiu bastante cedo a
uma ética humanista de
influência kantiana

Na Psicologia, ainda
enquanto estudante, a
sua maior influência foi a
obra de Piaget

Salienta-se o livro
Le Jugement morale
chez les enfants
A partir dos anos 70, com o
início do seu envolvimento
na criação de programas
curriculares de educação
moral, em cenários de
escolas secundárias,
passou a acentuar mais o
carácter social da
moralidade.

O maior contributo de
Kohlberg para o estudo
do desenvolvimento
moral foi, sem dúvida, a
sua teoria dos estádios
de desenvolvimento
moral.
Estádios de desenvolvimento moral de
Kohlberg
Estádios de desenvolvimento moral
de Kohlberg
Estádios de desenvolvimento
moral de Kohlberg
Em defesa da moral
Kohlberguiana

Este artigo tem por base uma reflexão “sobre as implicações do


desenvolvimento moral ou para a justiça no desenvolvimento
interpessoal.”
Análise das respostas ao dilema do Joe
segundo os estádios de desenvolvimento moral
de Kohlberg
z «O Joe deve dar o dinheiro ao pai porque o pai é o chefe e
quem manda.»
- Estádio 1

z «O Joe deve dar o dinheiro ao pai porque, desse modo


assegura que o pai lhe faça favores no futuro.»
- Estádio 2

z «O pai não deve pedir o dinheiro ao filho porque, ao pedi-


lo está pondo em causa a própria relação entre eles.»
- Estádio 3
Análise das respostas ao dilema do Joe
segundo os estádios de desenvolvimento moral
de Kohlberg
z « O Joe deve recusar dar o dinheiro ao pai porque, o pai está a abusar da
sua autoridade.»
ou
z «O Joe deve dar o dinheiro, se o pai precisar dele para o sustento da
família.»
- Estádio 4

z «Joe deve recusar dar o dinheiro ao pai porque, enquanto pessoa tem
direitos que são tão legítimos quanto os do pai.»
Ou
z «O Joe deve recusar dar o dinheiro ao pai, porque as promessas livremente
assumidas são a base de qualquer relação social.»
- Estádio 5
A teoria do desenvolvimento moral
kohlberguiana vs morais narrativas do
movimento pós-moderno
z Para Kohlberg, a pessoa moralmente mais desenvolvida é aquela que
atinge um nível de moralidade pós-convencional – procura resolver
conflitos de interesse seguindo princípios que são reversíveis e
universalizáveis.

z Para as morais narrativas do movimento pós-moderno, «nenhum


critério de desenvolvimento moral é mais legítimo do que outro, que a
racionalidade é um critério (…) sem emoções (…) e que a
universalidade é um critério etnocêntrico que sobrevaloriza o indivíduo
da sociedade Ocidental e que não é possível estabelecer critérios de
comparação (comensurabilidade) entre teorias (…).»
A teoria do desenvolvimento moral
kohlberguiana vs morais narrativas do
movimento pós-moderno
Moral Kohlberguiana Movimento pós-moderno

Não neutralidade Neutralidade

Legitimidade Relativismo

Universalismo Contextualismo

Racionalidade Narrativa

Comensurabilidade Incomensurabilidade
Não neutralidade vs Neutralidade
Kohlberg Morais narrativas

Há concepções de justiça ou Todas as vozes morais são igualmente


narrativas morais que são mais justas válidas.
do que outras e que, em termos de Os juízos morais devem ser
maturidade, as diversas formas de considerados narrativas pessoais e
relacionamento interpessoal não se histórias de vida, por isso não podem
equivalem ser hierarquizados nem julgados.
Ser justo é regular a acção moral e
relação interpessoal que passaria no
“teste” da reversibilidade e da
universalidade.
Legitimidade vs Relativismo
Kohlberg Morais narrativas

Defende que as concepções são Defendem que as concepções e


construções pessoais em valores morais são convenções
desenvolvimento, que estas podem sociais, logo não são objectivas e
ser hierarquizadas em nome de podem ser entendidas fora do seu
critérios que são tanto mais contexto, pelo que fica ilegítima a
legítimos quanto mais são gerais, sua hierarquização em função de
racionais e universáveis. critérios desligados dessas
narrativas.
Universalismo vs Contextualismo
Kohlberg Morais narrativas

Considera o pressuposto do Não há verdades objectivas nem


universalismo como um pressuposto valores universais, todo o
moral básico. conhecimento e todos os valores são
A defesa dos princípios morais válidos e relativos.
universais é o único modo de Na passagem à moralidade pós-
defender o respeito pelo contexto, convencional a pessoa abandona os
pelo relativo e pelo diferente. princípios universais para adquirir
uma perspectiva relativista e
contextual na solução dos conflitos.
Racionalidade vs Narrativa
Kohlberg Morais narrativas

Defende que são as razões Recusam a primazia da razão


cognitivas que estão por detrás das porque faz o apelo à desconstrução
acções que definem o nível do e ao fragmentado. Consideram os
raciocínio moral. A escolha dos sistemas lógicos demasiado
critérios que permitem ordenar as abstractos, as teorias científicas
diferentes concepções de justiça tem demasiado gerais e as grandes
por base o pressuposto racionalista. narrativas demasiado impessoais e
racionalistas.
Comensurabilidade vs
Incomensurabilidade

Kohlberg Morais narrativas

Admite princípios éticos reversíveis Defende que não há critérios


prescritivos e universalizáveis que objectivos de verdade e de justiça,
definem o ponto de vista moral e sendo assim qualquer narrativa do
que permitem a hierarquização das domínio científico ou moral é
diferentes concepções de justiça ou igualmente válida e portanto
tipos de acção moral. incomensurável.
Os critérios de verdade e de justiça
são sempre práticos, locais e
incomparáveis.
Em defesa da moral Kohlberguiana
O autor do artigo vem em defesa da teoria do desenvolvimento
da moral kohlberguiana ao afirmar que «(…) é a que mais permite
conciliar as perspectivas de relativismo e do universalismo, as vozes da
justiça e do cuidado, os critérios da racionalidade e da emoção e os
pontos de vistas mais gerais e narrativos.»

«(…) os pressupostos em que assenta a moral Kohlberguiana


libertam-na de ser auto-contraditória, de um ponto de vista
epistemológico: de ser niilista e pessimista, em termos de
empenhamento e de acção; e de ser oportunista quanto a critérios de
moralidade e de relação interpessoal.

Ao invés, as morais narrativas, contextuais ou pós-modernas


correm o risco de conduzir a posições contraditórias, niilistas e
oportunistas.»
Éticas tradicionais e
Ética do futuro
Contributos e insuficiências do pensamento de Hans Jonas
Artigo de Mª Céu Patrão Neves (resumo)
Com este artigo a sua autora pretende

Apresentar o Apresentar a O alcance da ética


objectivo principal necessidade da jonassiana
de Jonas: a fundamentação relativamente a
renovação da ética da ética da outras perspectivas
responsabilidade contemporâneas

Revela insuficiências Trouxe contributos à ética actual


A renovação da ética
Jonas pretende renovar a ética perante os desafios de uma sociedade
contemporânea norteada pelo progresso tecnológico, o qual é a essência
do agir.

É certo que a inovação e a evolução técnica têm acompanhado e


fomentado o desenvolvimento das civilizações humanas; mas Jonas
distingue:

• do passado - caracterizada pela posse dos


instrumentos para satisfação das necessidades.
A tecnologia • moderna - caracterizada pelo processo de
satisfação das mesmas; este leva à criação de
outras necessidades = auto - proliferação / vida
própria.

Critica o auto - controlo do progresso tecnológico.


A proliferação da tecnologia moderna anula a distância entre os

Quotidianos – a satisfazer pela inteligência

desejos
Últimos de realização humana a satisfazer
pela sabedoria

A tecnologia invadiu todas as dimensões da existência humana, tornou-se um


poder manipulador inédito. Receio pela manutenção do equilíbrio da
Natureza como condição da sobrevivência do homem e suas gerações futuras
Tecnologia Moderna

Inicialmente, era um poder Depois, um poder manipulador


instrumentalizador dominante inédito

É a alteração da tecnologia moderna que, segundo Jonas, conduz à


transformação da essência do agir humano:
Na esfera das relações inter-pessoais
No poder manipulador do mundo extra-humano

quem exercer a acção técnica tem de ter em atenção os seus deveres


=
ganha significância ética

Alargamento do domínio da ética, concepção nova e renovada da mesma (1º


contributo para a ética actual).
A sua reflexão sobre a tecnologia moderna é a base da sua ética para a civiliza-
ção tecnológica
Caracterização das éticas tradicionais é feita:

Inserção no horizonte espácio- Restrição ao âmbito interpessoal


temporal

Simultaneidade Imediatez Inter-subjectividade como fonte


da experiência ética
Como a acção técnica ultrapassa

Imediatez Temporal Proximidade Espacial Não se limita ao domínio


intra e interpessoal ( 2º
contributo para a ética
actual). Cuida do bem
humano + bem natureza

A Ética do futuro
=
Previsão e responsabilidade

Previsão – os efeitos da acção no presente têm uma significação ética futura (saber
preditivo, o que constitui um dever na orientação do agir).
Responsabilidade - a acção presente, antecipa e modela o futuro.
Análise da nova concepção ética à luz das características da
ética tradicional:

horizonte espácio-temporal supera a dimensão intra-pessoal

no tempo futuro sem fronteiras

Ética Jonassiana ganha uma significação


cósmica

Críticas: há uma relação assimétrica da responsabilidade - um tem o poder


(responsabilidade) e os outros não têm (reclamam o dever) + a responsabilidade
colectiva é mais importante que a individual, porque corresponde ao dever da
humanidade em relação a si própria

Jonas avalia a significação e os limites, a dimensão e a validade da ética de hoje


(3º contributo para a ética actual)
Fundamentação da ética da responsabilidade
3 níveis
Decorre da necessidade de fazer uma fundamentação válida,
universalmente, surgindo a responsabilidade em dois pontos.

Sentimento
desencadeado pelo Princípio que obriga à
medo, motivador da procura do bem
acção

Medo
Sentimento, motivador Forma de conhecimento “saber Princípio que obriga à
da acção das possibilidades” procura do bem
Crítica: o argumento do medo pode criar a ideia de que a ética é um produto
do medo e tem a função de estabelecer limites à acção humana.

Responsabilidade: começa com a existência do ser (ex: bebé) e exprime-se no


dever ser.

1º nível
A afirmação da prioridade do “ser” sobre o “não ser” dá origem à noção de
valor
=
transição da problemática da exigência do dever ser para o estatuto do valor

Existência ontológica Ética


A responsabilidade começa com a existência = princípio objectivo que se funda
no ser e se exprime no dever fazer

A articulação entre valor, bem, fim e dever levanta dificuldades


O bem + valor estão no ser
Fundam-se no ser, originando o dever ser

Determinam o dever fazer ( exigem a sua realização)

Axiologia = parte da ontologia ( origem) do bem

2º nível

Responsabilidade

Não é uma obrigação, porque é A responsabilidade é = sabedoria


impossível comprovar a sua
fundamentação
Responsabilidade é

Significação maior Significação menor

Principio Virtude

Orientação de acção ética

Imprime novos sentidos de reflexão e prática


3º nível

Fundamentação ontológica da responsabilidade é feita com base na auto -


determinação do ser.

A finalidade constitui o valor do ser + o seu dever ser

A responsabilidade é objectiva, universal e indissociável à vida.

Crítica: a fundamentação da ética da responsabilidade numa ontologia do


bem não é garantia da validade universal.
A nova ética
Valor acentuadamente pragmático;
Exortação ao empenhamento de todos os homens na resolução de problemas,
na formulação de regras de actuação.
Cuidado e preservação da vida e do futuro da humanidade.

Tem dimensão universal: fundamentada no ser, na totalidade dos seres;


fundamentação ontológica, objectiva.

Cuja objectividade assenta no finalismo na natureza: o ser obriga ao agir;


o agir visa a preservação do ser.

Limites da nova ética


1 - na sua aplicação à promoção da justiça social
2 - no descurar do processo de personalização
Projecto de Jonas

Ética da responsabilidade e ética da convicção de Max Weber

Racionalidade da evolução da Fidelidade à vida como valor


natureza face à consequência do sagrado e à luta contra a
agir e à importância da previsão e irracionalidade ética do mundo.
do ser pragmático.

Insuficiente estruturação do seu pensamento politico denotam a permanência


da reflexão no plano da convicção
A ética de Jonas parece desajustada ao pluralismo ético
exigido pela era democrática em que vivemos
“… os propósitos de Jonas ultrapassam as suas
realizações, (…) contributos da sua reflexão alargam ,
diversificam e enriquecem o amplo domínio dos debates
éticos contemporâneos. (…) a renovação da sua ética não
alcançou a desejada irrefutabilidade não formal, (…) mas
ganhou efectividade pragmática sempre procurada na
afirmação da responsabilidade como solicitude, (…) dever,
dever de outro que não o próprio” .
Uma Ética para a Civilização
Tecnológica Hans Jonas
Artigo de Mª
Mª Céu Patrão Neves
Universidade dos Aç
Açores
(Resumo)
Uma Ética para a Civilização Tecnológica
por M. Patrão Neves/Universidade dos Aç
Açores

1. Filosofia e Técnica

2. O progresso Técnico Contemporâneo

3. Uma Ética de Responsabilidade


Uma Ética para a Civilização Tecnológica
por M. Patrão Neves /Universidade dos Aç
Açores

1.Filosofia e Técnica

ª O Principio Responsabilidade
… formulação de uma “nova ética” … num mundo novo
enquanto dominado pela tecnologia.

ª A Técnica
…A capacidade de o homem criar meios artificiais para
responder às suas necessidades tem sido uma constante.

ª Técnica Æ Tecnologia
…habilidade de fabricar e manusear instrumentos para a
capacidade de produzir e manipular a aplicação dos
conhecimentos científicos na transformação do real. Não
quantitativa, mas qualitativa.
Uma Ética para a Civilização Tecnológica
por M. Patrão Neves /Universidade dos Aç
Açores

1.Filosofia e Técnica

ª Relação Técnica - Filosofia


Grécia Antiga Século XVII 2ª Guerra Mundial

-Aristóteles: -Gabriel Marcel José -Tecnociência (poder-


Ortega y Gasset, Martin saber-fazer)
- Techné – arte de Heidegger.
criação exterior -Valorização do Fazer
-Manter o domínio
-“Como” e não sobre as técnicas. -“Humanismo e
“porquê” técnica”- perde para a
-Marcel, Ortega(1939), “Ética da técnica”
Heidegger (Associação
técnica e poder) -– não neutro – Poder
humano
-Forma de acção ->
ética
Uma Ética para a Civilização Tecnológica
por M. Patrão Neves /Universidade dos Aç
Açores

2. O progresso técnico Contemporâneo

Hans Jonas, O príncipio Responsabilidade, 1979

- Tecnologia do passado (posse):


Equilíbrio entre meios, necessidades e objectivos.

- Tecnologia moderna (processo):


Criação de outras necessidades; relação circular de meios e fins –
impulso dinâmico – auto-proliferação (consumidor de bens).

1º Aspecto importante a destacar nesta análise:


-O desenvolvimento da Tecnologia passa de opção para destino
-A eleição dos fins pertence à sabedoria dos homens - Futuro
Uma Ética para a Civilização Tecnológica
por M. Patrão Neves /Universidade dos Aç
Açores

2. O progresso técnico Contemporâneo

2º Aspecto importante :
A acção tecnológica interfere na esfera humana:
- sujeito passa a objecto;
- aspecto manipulador;

-A reflexão prossegue no plano do dever (ético): o poder sobre o futuro,


na escolha de finalidades e poder sobre os viventes.

Deveres/obrigações do homem para Jonas:


- Integridade do Homem;
(existência e conservação da espécie)
- Preservação da sua identidade – ser-tal

“o imperativo de que a humanidade seja resultado da própria ideia


do homem...”
Uma Ética para a Civilização Tecnológica
por M. Patrão Neves /Universidade dos Aç
Açores

2. O progresso técnico contemporâneo

-Existência:
…obrigação efectiva de cuidar pelo dever das
futuras gerações e da sua obrigação de serem uma
“humanidade verdadeira”.

-Assim, a prioridade máxima da ética tem de ser a


de garantir a existência da humanidade futura.
Uma Ética para a Civilização Tecnológica
por M. Patrão Neves /Universidade dos Aç
Açores

2. O progresso técnico contemporâneo


Problemas que afligem as sociedades actuais:
- Aumento demográfico Æ alimentação Æ exploração dos solos
Æ contaminação das águas Æ salinização do solo, erosão.

-Energia Æ matérias primas Æ poluição Æ efeito de estufa

-Genética ÆEngenharia Genética Æ Clonagem

“Pelo perigo que existe da utilização imprudente da tecnologia…exige-


se … a enunciação de uma nova ética que garanta que a humanidade
seja.”
Uma Ética para a Civilização Tecnológica
por M. Patrão Neves /Universidade dos Aç
Açores

2. O progresso técnico Contemporâneo

“Necessidade de repensar a ética …capaz de


responder aos desafios que hoje se colocam à
sobrevivência do homem e sua identidade.”

Ética de responsabilidade
Uma Ética para a Civilização Tecnológica
por M. Patrão Neves /Universidade dos Aç
Açores

3. Uma Ética de responsabilidade

. RESPONSABILIDADE como princípio necessário


da acção ética.

Fundamentação:
1º Exigência da necessidade de existir, de ser;
2º Equivalência do ser e do valor ao bem e ao fim;
3º Não há ser sem finalidade.
Uma Ética para a Civilização Tecnológica
por M. Patrão Neves /Universidade dos Aç
Açores

3. Uma Ética de responsabilidade

“ Só uma fundamentação biológica da ética


garantiria o respeito do imperativo da existência.”

Na ausência de uma sólida fundamentação da


responsabilidade como princípio, esta corresponde:
à “Convicção dos nosso sentimento”:
-Coragem de assumir os receios;
-Moderação nas formas de acção;
-Prudência na acção;
-Defesa e protecção do vulnerável - objecto da responsabilidade.
Uma Ética para a Civilização Tecnológica
por M. Patrão Neves /Universidade dos Aç
Açores

3. Uma Ética de responsabilidade

- Responsabilidade Infinita relativa ao futuro:


- Imperiosa – atendendo ao valor da vida;
- Singular e intransmissível
- Colectiva - poder globalizante.

Ela é anterior à acção, obriga-a e determina-a


no seu sentido. Por isso, não é conquistada
ou atribuída.
- Condição do agir.
Uma Ética para a Civilização Tecnológica
por M. Patrão Neves /Universidade dos Aç
Açores

3. Uma Ética de responsabilidade

Novo significado para responsabilidade:


Deixa de ser uma acepção neutra e passa a moral, com valor,
como o do “dever-agir”
Alan Etchgoyan em a “Era dos responsáveis”, 1993

Responsável é o que tem deveres, o que tem de fazer.

Max Weber
“Ética da responsabilidade” - “Ética da convicção”
Consequência do agir - previsão das consequências.
Uma Ética para a Civilização Tecnológica
por M. Patrão Neves /Universidade dos Aç
Açores

3. Uma Ética de responsabilidade

- A responsabilidade é reposta para os desafios do mundo


contemporâneo, pautado pelo individualismo.
-como resposta ao apelo da presença do outro.
Emmanuel Lévinas
-Responsabilidade não é alternativa à liberdade :
- Incumbência - Lévinas
- Dever – Jonas

Responsabilidade - apresenta-se como “assignação” ao


destino, como missão.
Uma Ética para a Civilização Tecnológica
por M. Patrão Neves /Universidade dos Aç
Açores

3. Uma Ética de responsabilidade

"Podemos arriscar a nossa vida mas não a da


humanidade"
Hans Jonas

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