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Material Teórico

Direito Tributário
Tema 5
Aplicação das Normas Tributárias

Conteudista Responsável: Profª Marlene Lessa


cod TribCDS1302_a05

1
Aplicação da Legislação Tributária

O Poder encarregado de criar leis em nosso


país é o LEGISLATIVO. Ele é o poder
competente para, por meio de lei, criar,
aumentar, modificar tributos. A regra geral é
que a lei ordinária (comum) faça este papel,
como consagra o Princípio da Legalidade e o
art. 48 da CF:

Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da


República, não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor
sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre:

I - sistema tributário, arrecadação e distribuição de rendas;

II - plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual, operações de


crédito, dívida pública e emissões de curso forçado...

Assim determinou o Constituinte para dificultar a ocorrência de abusos


no poder arrecadatório do Fisco e do governo.

Vigência e Eficácia da Legislação Tributária

VIGÊNCIA é a aptidão para incidir, vale dizer, para dar significação jurídica aos
fatos.1

Podemos entender que nem sempre a data da publicação da lei (que seria
quando a norma inicia sua vigência) é a mesma em que ela começa a ter efeito
(que seria a sua aplicação). Isto é o que se extrai desta frase: “Uma lei estará
em vigor quando formalmente apta para aplicação, embora isso não signifique
a garantida aplicação (eficácia) em função do princípio da anterioridade.”2

O fato de a lei estar em vigor não é sinônimo da lei estar sendo


automaticamente aplicada. Entendemos, no estudo anterior, que alguns
princípios cercam a imediata força da lei (como a lei que institui ou aumenta
tributos: deve respeitar o exercício financeiro em vigor, não pode retroagir, etc.)

1
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Malheiros, 13ª ed., 1998. p. 65.
2
BORBA, Cláudio. Direito Tributário. Rio de Janeiro: Impetus, 12ª ed, 2003. p. 211.

2
Nas palavras do prof. Luciano Amaro, “lei em
vigor é aquela suscetível de aplicação, desde
que se façam presentes os fatos que
correspondam à sua hipótese de incidência.
Essa possibilidade de aplicação supõe que a
norma tenha sido validamente editada, isto é,
que tenha atendido ao ritual previsto para sua
elaboração e obedecido aos demais limites
formais e materiais que balizam o processo
legislativo”3.

CTN, Art. 101. A vigência, no espaço e no tempo,


da legislação tributária rege-se pelas disposições
legais aplicáveis às normas jurídicas em geral,
ressalvado o previsto neste Capítulo.

Vigência no Espaço

A regra é o Princípio da Territorialidade, excepcionalmente


se admite a extraterritorialidade, ou seja, cada norma
tributária somente é aplicável no território do ente federativo
que a criou, assim, a legislação do IPTU do município de
Guarulhos, somente deve ser aplicada naquele mesmo
município.

A extraterritorialidade significa a possibilidade de aplicação de uma norma


tributária fora do âmbito territorial do ente federativo que a estabeleceu.
A regra da Extraterritorialidade da legislação estadual, distrital e municipal está
no art. 102 CTN.

Art. 102. A legislação tributária dos Estados, do Distrito Federal e dos


Municípios vigora, no País, fora dos respectivos territórios, nos limites em que
lhe reconheçam extraterritorialidade os convênios de que participem, ou do que
disponham esta ou outras leis de normas gerais expedidas pela União.

3
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 14a. ed, p. 1993e

3
EXTRATERRITORIALIDADE

POR LEI POR CONVÊNIO

Exemplo: Exemplo: Substituição


Artigo 120 CTN Tributária em ICMS na
Hipótese de Venda
Interestadual

CTN, Art. 120. Salvo disposição de lei em contrário, a pessoa jurídica de


direito público, que se constituir pelo desmembramento territorial de outra,
subroga-se nos direitos desta, cuja legislação tributária aplicará até que entre
em vigor a sua própria.

É importante entender que para haver o convênio entre os entes interessados


na tributação, seja observado o critério da competência e da pertinência, já que
o art. 102 do CTN fala de “normais gerais FEDERAIS”.

Vigência no Tempo

Para o Prof. Eduardo Sabagg a vigência no tempo é atinente ao


“tempo de vida” da norma jurídica. Desde seu nascimento até sua
extinção.

A Lei de Inrodução ao Código Civil (Lei 4.657/42) aliada à Lei


Complementar no 95/98 determinam toda a estruturação acerca da lei
e sua repercussão na sociedade. Desde a elaboração da lei até sua
obrigatoriedade há um trâmite que deve ser observado, com prazos
específicos...

4
45 dias após
Leis Internas a sua
publicação
NORMAL
Leis de
Repercussão 3 meses após
Externa a sua
VIGÊNCIA publicação
Art. 1o
LICC e Art
Atos Normativos Na data de
8o da LC
Expedidos por sua
95/98
Autoridade publicação
Administrativa
Salvo
dispositivo
EXCEPCIONAL
em 30 dias após
Decisões
contrário a sua
Administrativas
publicação

Art 103 Convênios Na data neles


CTN prevista

Além das regras normais de vigência estabelecidas no artigo 1º da Lei de


Introdução às normas do Direito Brasileiro (antiga LICC) e no artigo 8º da Lei
Complementar nº 95/98, na legislação tributária encontramos regras
específicas no artigo 103 do CTN, que determina que:

 os atos normativos expedidos por Autoridades Administrativas têm


vigência, salvo determinação em contrário, na data de sua publicação;

 as decisões administrativas com eficácia normativa, salvo


determinação em contrário, têm vigência 30 dias após a sua publicação
e;

 os convênios, salvo determinação em contrário, na data por neles


fixadas.

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Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro

Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país


quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.

§ 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando


admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.

Lei Complementar nº 95/98

Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a


contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento,
reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de
pequena repercussão.

§ 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam


período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último
dia do prazo, entrando em vigor no dia subseqüente à sua consumação
integral.

§ 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula


‘esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias de sua publicação
oficial’.

CTN, Art. 103. Salvo disposição em contrário, entram em vigor:

I - os atos administrativos a que se refere o inciso I do artigo 100, na data da


sua publicação;

II - as decisões a que se refere o inciso II do artigo 100, quanto a seus efeitos


normativos, 30 (trinta) dias após a data da sua publicação;

III - os convênios a que se refere o inciso IV do artigo 100, na data neles


prevista.

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Aplicação da Legislação Tributária

Enquanto na vigência se discute quando o processo de formação do ato


normativo se completa, estando apto a incidir seus efeitos, na eficácia se
discute a possibilidade de uma determinada norma ser utilizada em um caso
concreto.

VIGÊNCIA APLICAÇÃO
(Eficácia)

Validade Uso
Formal Efetivo

CTN, Art. 105. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos


geradores futuros e aos pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência
tenha tido início mas não esteja completa nos termos do artigo 116.

A regra geral é que a lei vigente pode ser aplicada a todos os fatos geradores:

 Futuros;

 Pendentes quando do início de sua vigência.

Dessa forma, a legislação tributária deve ser sempre aplicada para o futuro, ou
seja, primeiro a lei entra em vigor, para somente então ter seus efeitos
aplicados.

Em regra, a legislação tributária não é retroativa, contudo, o artigo 106 do CTN


estabelece situações em que essa retroatividade pode ocorrer.

A primeira situação se refere às chamadas leis interpretativas. “Lei


interpretativa é aquela que não inova, limitando-se a esclarecer dúvida surgida
com o dispositivo anterior” – Hugo de Brito Machado.4

A segunda situação se refere àquelas situações em que a lide tributária não foi
definitivamente julgada, sendo aplicável no caso de infrações, multas ou outras
sanções tributárias, ou seja, somente às penalidades.

4
Curso, cit., p. 70.

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Nesses casos o CTN prevê uma forma de retroatividade benéfica ao
contribuinte, sempre dependente de lei expressa.

Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:

I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a


aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados;

II - tratando-se de ato não definitivamente julgado:

a) quando deixe de defini-lo como infração;

b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou


omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta
de pagamento de tributo;

c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente
ao tempo da sua prática.

Normal A legislação aplica-se aos fatos geradores


Art. 105 futuros e aos pendentes - irretroatividade

Aplicação
Sendo expressamente
interpretativa, excluída a
Em qualquer aplicação de penalidade
caso...

Deixe de definí-lo como


infração
Retroativa
Art. 106 Quando deixe de trata-lo
Tratando-se como contrário a qualquer
de ato não exigência de ação ou
omissão, desde que não
definitivament
tenha sido fraudulento e não
e julgado, tenha impicado em falta de
quando a lei pagamento de tributo
nova...

Lhe comine penalidade


menos severa

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Portanto na Legislação Tributária...

 Vigência é a aptidão para a norma incidir.

 A legislação tributária obedece às regras de vigência para todas as leis e


obedece às da Lei Complementar 95/98.

 Vigência não se confunde com a validade ou aplicação da norma.


 Exemplo: determinada lei foi editada segundo os parâmetros do
ordenamento, emanada pela autoridade competente, pode não ser
vigente. Da mesma forma, outra lei que já é vigente no ordenamento
pode não ser válida, em razão de colidir com algum dispositivo
constitucional.

Quadro Geral de Vigência Tributária

Regra Geral  45 dias após a publicação


Lei que verse outro prazo  Conforme o texto
Atos normativos  Data da publicação
Decisões administrativas  30 dias após a publicação
Convênios  Conforme o texto
Impostos sobre patrimônio ou renda  1º dia do ano seguinte ao da
publicação que crie, majore,
altere a h.i., extingam ou
reduzam isenções.

Lei Complementar 95/98

Art. 8o - A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a


contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento,
reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis
de pequena repercussão.
§ 1o A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam
período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último
dia do prazo, entrando em vigor no dia subseqüente à sua consumação
integral.
§ 2o As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula
‘esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias de sua publicação
oficial’ .

Art. 9o - A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou


disposições legais revogadas.

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Interpretação e Integração da Legislação Tributária

Interpretação

O artigo 107 CTN determina que a interpretação da legislação tributária deve


se dar por meio dos critérios estabelecidos pelo CTN.

Art. 107. A legislação tributária será interpretada conforme o disposto


neste Capítulo.

Interpretar a norma significa extrair-lhe o significado, sem que haja a


necessidade de se buscar outras normas para isso.

A interpretação se inicia e se encerra na norma interpretada.

São utilizados os seguintes métodos para a interpretação da lei tributária,


também utilizados em outros ramos do Direito:

 Gramatical ou literal - limita-se ao texto legal; acaba não


satisfazendo plenamente devido aos diversos significados que
uma palavra ou uma expressão podem ter, sendo, por isso,
um método deficiente e precário.

 Histórico - procura interpretar a regra, analisando as razões


que motivaram a edição da lei, verificando o contexto social,
político, cultural da época do seu processo elaborativo.

 Sistemático - intenta observar o sentido da lei perante o


sistema jurídico no qual está inserida.

 Teleológico - tenta-se compreender a finalidade da lei, o


escopo da norma.

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Interpretação Literal da Legislação Tributária

Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre:

I - suspensão ou exclusão do crédito tributário;

II - outorga de isenção;

III - dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.

Não se admite que nos assuntos abrangidos pelo artigo 111 do CTN haja uma
interpretação ampliativa (extensiva), visto que essas questões acarretem a
dispensa de cumprimento de obrigações ou a estipulação de benefícios.

Essa ampliação pode se chocar com o Princípio da Legalidade.

Interpretação Mais Favorável ao Contribuinte

Art. 112. A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades,
interpreta-se da maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida
quanto:

I - à capitulação legal do fato;

II - à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou


extensão dos seus efeitos;

III - à autoria, imputabilidade, ou punibilidade;

IV - à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação.

O artigo 112 do CTN estabelece a necessidade de ser realizada uma


interpretação mais favorável ao contribuinte no caso de haver alguma dúvida
sobre a capitulação legal do fato e seus efeitos, bem como em relação as
penalidade.

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Integração

A aplicação dos métodos de integração ocorre quando o


aplicador da norma se deparar com uma lacuna na
legislação, ou seja, “na ausência de disposição expressa”,
conforme determina o artigo 108 CTN. Esse mesmo artigo
estabelece uma sequência na utilização desses métodos.

Art. 108. Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para


aplicar a legislação tributária utilizará sucessivamente, na ordem indicada:

I - a analogia;

II - os princípios gerais de direito tributário;

III - os princípios gerais de direito público;

IV - a equidade.

Emprego da Analogia

Art. 108, § 1º O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de


tributo não previsto em lei.

A analogia é o primeiro método de integração que deve ser empregado.

Na falta de norma específica para regular determinada situação, pode ser


empregada norma existente que regula situação semelhante.

Nessa situação, determina o CTN, que o emprego da analogia não pode


resultar na exigência de tributo expressamente previsto para aquela situação
concreta.

Isso se dá em razão da necessidade de ser obedecida a estrita legalidade na


criação de tributos – art. 150, I, CF.

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Emprego da Equidade

Art. 108, § 2º O emprego da equidade não poderá resultar na dispensa do


pagamento de tributo devido.

Equidade consiste na integração de uma regra existente a uma situação


concretamente observada, de forma a buscar uma maior igualdade e justiça na
sua aplicação.

O CTN não permite que, nesses casos, haja a dispensa de pagamento de um


tributo.

Dessa forma, por exemplo, produtores de laranja, não poderiam alegar a


equidade com o objetivo de se beneficiarem de uma regra de isenção somente
aplicável aos produtores de limão.

Princípios do Direito Privado

Podem ser utilizados no Direito Tributário, mas não modificam os efeitos


próprios definidos pela legislação tributária.

Art. 109. Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa


da definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e
formas, mas não para definição dos respectivos efeitos tributários.

Conceitos de Direito Privado Utilizados na Definição das


Competências
Não podem ser alterados pelo Direito Tributário.

Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o


alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados,
expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas
Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal
ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.

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Vejamos alguns casos:

 Suspensão da exigibilidade ou
Interpretação literal exclusão do crédito tributário
 Outorga de isenções
 Dispensa no cumprimento das
obrigações acessórias

Interpretação benigna Infrações e penalidades em caso de


dúvida quanto...

 Capitulação legal do fato


 À natureza ou às circunstâncias
materiais do fato, ou à natureza
ou extensão dos seus efeitos
 À autoria, imputabilidade, ou
punibilidade
 À natureza da penalidade
aplicável, ou à sua graduação.


Analogia


Princípios Gerais
de Direito Tributário

Princípios Gerais
do Direito Público

Equidade

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Conclusão

Após o estudo deste capítulo podemos concluir que a legislação tributária está
composta por toda e qualquer norma que contenha em seu texto matéria
tributária.

A interpretação e integração das normas jurídicas são relevantes para o


entendimento da legislação tributária frente a casos concretos.

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