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Mauro Souza
Eita! Est to quente que eu vou me derreter, foram as
primeiras palavras que ela disse quando chegou de trem na
estao. Ali se ouviram que bom ver voc minha filha
querida e estava com tanta saudade, frases que soaram no
calor opressivo, calor que s poderia equivaler ao abrir da
porta do forno para remover o assado de domingo. Os
cumprimentos vieram mais tarde quando o crebro no estava
to febril para pensar.
A Sra. M., que, lamentavelmente, estava vestida
exageradamente com um vestido azul feito sob medida, na
altura dos tornozelos, confeccionado com metros e metros de
tecido, e um chapu azul daqueles que se compram nas feiras
de Afonso Pena em frente ao Parque Municipal em Belo
Horizonte, acabara de chegar no pequeno municpio de Aimors
ainda no estado mineiro e a 7km do seu destino, pois a
estao de Baixo Guand estava em reformas. Veio juntamente
com a comadre Teresa, sua companheira de viagem, para passar
alguns dias com a filha Clia, com o genro Tiago e com a neta
Ritinha. Ela poderia ser descrita como um tipo alegre e
extrovertido, mas no naquele momento particular. Sentia-se
fraca e definitivamente sem sorte com os vapores quentes
circulando sua face arredondada e dificultando a respirao.
A Sra. M. sempre se apresentou como uma mulher feliz e
amorosa, apesar de ter perdido o seu esposo em 1918, devido a
grande epidemia de gripe que com ele levaram tantos outros,
e, em seguida, entrou em um casamento que deu a ela uma casa
frondosa, muita riqueza e oito filhos, alm da filha de seu
primeiro amor. Aos sessenta e sete anos esta mulher
corpulenta de rosto redondo era uma matriarca da famlia
Tomazio, e todos da famlia, exceto a filha, a visitavam aos
domingos na Rua da Ladeira nmero 35, fizesse sol ou chuva.
Mameeee! Clia exclamou ao se jogar nos braos de sua
me. to bom ver voc. Como vai a senhora? Como foi a
viagem? Quanto tempo foi a viagem de trem? A me foi
metralhada pelas perguntas que mal pode responder. Clia
continuou animadamente, sem tomar flego e sem esperar a
resposta da me.
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