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O MOVIMENTO ECOLÓGICO E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

PLANETÁRIA: ANÁLISE DA SMARTMOB A HORA DO PLANETA

Geovana Maria Cartaxo de Arruda Freire

Resumo
A cibercultura tem descortinado novas relações entre as pessoas, engendrando novas formas
de comunidades e até um novo fazer político, seja pela reestruturação dos governos em
governos eletrônicos, seja pelas diversas possibilidades de manifestação e articulação da
sociedade frente aos governos. O presente artigo pretende discutir se as promessas do
ciberespaço continuam meras teorias e desejos, ou se de fato há uma transformação política
no agir da sociedade possibilitada pelas novas tecnologias. Iluminar a relevância dessas novas
práticas e confrontá-las com as previsões dos principais teóricos da cibercultura consistem nos
principais objetivos deste trabalho, que refletirá releituras do conceito de cidade, cidadania e
democracia. A reflexão terá como base o estudo de caso da smart mob A Hora do Planeta.

.
Palavras-chave: cibercultura – cidadania interativa – ciberdemocracia – smart mob

Introdução

Os movimentos sociais hodiernos têm como característica ultrapassar as fronteiras de classe,


sexo, raça, nação, traduzindo a complexidade dos desafios que são propostos pela sociedade
da informação, pós-industrial. O mundo globalizado desfia problemas também planetários,
convocando uma nova tessitura para os movimentos sociais. As novas tecnologias traduzem
essa necessidade e sustentam outras modalidades de manifestação articulação e expressão dos
desafios globais. O presente trabalho busca refletir o uso das novas tecnologias de
informação e comunicação como fios desta teia de articulação planetária necessária às reações
da crise atual, no caso estudado a crise ambiental, que ameaça a qualidade de vida e a própria
sobrevivência no planeta.
Teóricos da cibercultura há que negam seu potencial libertário e afirmam somente
características paralisantes e ao mesmo tempo ressaltam que a aceleração imposta pelas novas
tecnologias é um reflexo não humano, criticam o imediatismo como um desserviço à
informação, devido sua velocidade, que inibe a assimilação. Virilio afirma que não crê num
incremento democrático por meio das novas tecnologias, ao contrário a democracia é minada,
pois é fundada em emoções coletivas, sem substância:

On croit qu'on défend la démocratie, en réalité, elle est minée. La démocratie


s'adresse à un corps social réfléchi, pas à un agrégat d'individus rois faussement unis
dans une émotion collective. Tant qu'on n'aura pas pensé ce problème, on n'arrivera
pas à inventer une démocratie de notre temps. Il faut inventer une "économie
politique de la vitesse".(VIRILIO, 2009)

Virilio reafirma, neste recente artigo, seu pensamento pessimista diante das transformações da
cibercultura. A perda da experiência, perda da significação dos lugares, a internet como um
impacto desagregador e desestruturador das sociabilidades, por sua imposição a uma
aceleração, foram alguns dos pontos salientados pelo autor em obras anteriores. (VIRILIO,
1990, 1997) Auge vislumbra um descentramento e o surgimento de não-lugares, como
resultado da sociedade pós–moderna, mediada pelos meios de comunicação e tecnologia.
(1995).

Em outro ângulo, se distinguem olhares alentadores na perspectiva transformadora das novas


tecnologias na re-construção da democracia, da cidadania e da cidade. Autores que percebem
a capacidade de resignificação e complexificação descortinados pelas novas tecnologias. Essa
construção teórica advoga a existência de uma cibercultura comprometida com a
transformação da sociedade, pelo uso das novas tecnologias. Nesse sentido, Lemos, comenta
o conceito de cibercidade e os diversos projetos que visam a articular o ciberespaço e a cidade
(cibercidades):

Todos têm como objetivo principal aproveitar o potencial das novas tecnologias de
informação e comunicação para, em tese, reaquecer o espaço público, recuperar o
interesse pelos espaços concretos da cidade, criar novas formas de vínculo
comunitário, dinamizar a participação política e ajudar a população na apropriação
social dessas tecnologias (LEMOS, 2003, p. 21)
Neste sentido, Lemos identifica novos significados aos espaços urbanos permeados pelas
tecnologias e por elas transformados, como as praças com wireless (acesso a internet sem fio),
os jogos que incluem tecnologia digital nas ruas etc.

Teóricos da cibercultura, como Pierre Levy, refletem o ciberespaço não como um espaço
de a substituição ou perda de experiências, mas complexificação e deslocamento dos centros
de percepção, muitas vezes ampliando a capacidade de sentidos (Levy, 1998, p.10). Mas não
há dúvidas de que a cidade está perdendo, em parte, seus marcos significativos. É crescente a
desvalorização dos centros urbanos e há o fortalecimento de espaços homogeneizados e
assépticos, como shopping centers e condomínios fechados. Levy também questiona a
concepção de cidade e espaço público, que são desvalorizados pelos mais jovens, nascidos na
cibercultura, mas como superar esses desafios? Pequenos grupos criam efeitos que irão nutrir
instituições e novas formas de sociabilidade irão dissolver outras. Pessoas vão ganhar novos
poderes ao mesmo tempo que perder antigas liberdades, é o que afirma Rheingold, teórico das
smart mobs (RHENGOLD, 2002, xiii)

É possível identificar novos focos de poder na sociedade engendrados pelas novas


tecnologias? É possível afirmar que se alicerça uma cidadania planetária tecida nas infovias
das novas tecnologias? Estas questões são o foco do presente trabalho.

Cidadania Ecológica e Digital

O conceito de cidadania é histórico, não estagnado, se modifica ao longo do percurso de sua


afirmação. (PINSKY, 13:2003). A cidadania que se invoca tem como escopo a busca de uma
ética capaz de conciliar o tempo de reposição da base material dos processos naturais e o
tempo de produção das necessidades materiais. (RIBEIRO,2003,:415) . A chamada cidadania
ambiental ou ecológica, preocupada com dimensões de direitos difusos e coletivos,
transgeracionais e planetários. A cidadania tem acepções que se engendram ao partilhamento
do poder, às relações do cidadão com o Estado, e foi definitiva para a formação do Estado-
nação. No entanto, nas raízes de sua concepção, nos textos Aristotélicos, é possível antever a
ligação de cidadania com a vida social, com a civilidade, denotando uma cidadania política,
social e cívica. Aristóteles afirmava que o homem é um ser social, e a cidadania o conjunto
de todos os cidadãos, sendo a cidadania inerente ao homem. A cidadania é mais abrangente
que uma relação com o Estado, emergindo das relações da sociedade, que hoje se encontra
globalizada não só em sua economia, mas nos seus desafios e problemas:

Neste sentido recordemos primeiramente que a noção de cidadania é, em


geral, avaliada na ótica do cidadão no tocante às possibilidades e
potencialidades que este pode ou poderia desfrutar no seu relacionamento
com o Estado e com sociedade no seu sentido mais amplo. A cidadania
associar-se-ia a um modo de vida visceralmente regrado pela existência em
comunidade, evidente na sua própria origem da palavra, decorrente do latim
civitas. (WALDMAN, 2003: 546)

O fortalecimento das relações sociais, o aumento das comunicações, a troca de experiências e


compartilhamento vivenciados pelo ciberespaço indiciam uma nova cidadania. A
universalidade característica dos movimentos ecológicos o coloca como a tradução e reflexo
da cidadania planetária que se constrói, por sua complexidade e permeabilidade. Como afirma
VIOLA,(1992:69):

Os movimentos ecológicos e pacifistas constituem-se num ponto de


inflexão na história da mobilização social e da ação coletiva: trata-se de
movimentos portadores de valores e interesses universais que
ultrapassam as fronteiras (...)

A deterioração da qualidade de vida afeta à todos. Sobre os efeitos negativos da vida moderna
e suas deseconomias VIOLA afirma:

Entre os efeitos negativos da intervenção humana encontram-se: destruição do solo


(...); inundações e alterações do clima; ameaça da vida biológica (...);
envenenamento da atmosfera (...); até o ponto em que as deseconomias externas do
congestionamento, da poluição e da alienação da moderna vida industrial e urbana
anulam os ganhos em qualidade de vida obtida através do aumento do consumo
material. (1992:66)

A demanda por uma mobilização em favor da proteção da vida no planeta implica também na
capacidade de mobilizar e articular um movimento planetário. Dialeticamente, este fenômeno
só se tornou possível a partir da capacidade ampliada de estar no mundo, influenciar o espaço
e compreendê-lo, propiciado pelas novas tecnologias. Al Gore, no filme Verdade
Inconveniente, afirma que o movimento ambientalista surgiu no dia em que vimos pela
primeira vez a imagem da Terra, a foto que mostrou ao mundo a Terra vista da Lua na década
de 70. A Terra azul, frágil, pequena e solta no espaço. O domínio e responsabilidades do ser
humano de há muito ultrapassam as noções de vizinhança e de sua existência temporal,
tratado inicialmente como um direito de vizinhança, o meio ambiente hoje se transformou
num direito transgeracional e transfronteiriço, devido à ampliação da intervenção humana no
espaço e no tempo.

O papel das Organizações não governamentais (ONGs) e dos movimentos ecológicos na


construção das políticas públicas em defesa do meio ambiente é crucial e determinante. As
conferências da ONU para o meio ambiente foram marcos na mobilização da sociedade civil,
reconhecidos inclusive em diversos documentos internacionais, como por exemplo, a Agenda
21 que dedica um capítulo ao papel das ONGs na construção de uma agenda sustentável. O
professor de Direito Internacional do Meio Ambiente Guido Soares destaca a relevância e
protagonismo das ONGs e da sociedade civil nas reuniões internacionais sobre meio ambiente
como impulsionadoras da transformação e democratização das relações internacionais,
classifica, ainda como um dos quatro fenômenos que ocasionaram a emergência do Direito
Internacional do Meio Ambiente:

a democratização das relações internacionais, com a exigência correlata da efetiva


participação da opinião pública na feitura e nos controles de aplicação dos grandes
tratados internacionais (SOARES, 2001:45).

As manifestações paralelas à reunião oficial, durante a I Conferência sobre Meio Ambiente


(Estocolmo - 1972) é descrita por SOARES como: uma série de eventos científicos e
artísticos promovidos pelas organizações não governamentais, que demonstraram sua
pujança, como fatores de formação e conscientização da opinião pública mundial sobre as
questões ambientais internacionais. (SOARES, 2001:55). A partir de então, o status das
ONGs no cenário internacional tem crescido em legitimidade, figurando em todas as reuniões
em caráter consultivo geral ou especial. O exercício do Secretariado da Convenção de
Ramsar, em 1971, por uma ONG, no caso a Organização Não Governamental IUCN – União
Internacional para a Conservação da Natureza é o reflexo da importância e reconhecimento do
papel da sociedade civil na construção das políticas públicas. O ápice deste processo ocorreu
após a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada
em 1992, no Rio de Janeiro, que teve como um dos seus mais importantes resultados a
Agenda 21, que consagra em vários capítulos a participação das ONGs, em especial no
Capítulo 27 (Fortalecimento do papel das ONGs: parceiros para o Desenvolvimento
Sustentável). Definitivamente são atores importantes na determinação de políticas públicas e
das normas de proteção ao meio ambiente. (SOARES, 2001: 68).

Rheingold 1 (1993) no seu clássico Virtual Comunity (Comunidades Virtuais,1993) descreve


com pormenores os avanços do uso dos computadores pelas organizações da sociedade civil e
a formação das primeiras comunidades virtuais. O uso de correios eletrônicos, listas e
comunidades ambientalistas têm conseguido superar as dificuldades financeiras, as barreiras
acadêmicas na participação de congressos internacionais e sobretudo, difundido as mensagens
ecológicas e popularizado termos científicos e técnicos.

A paisagem do século XXI nos remete a perigos invisíveis, a uma sociedade do risco, que
enfrenta grandes processos de contaminação, ameaça nuclear, perda da biodiversidade e das
florestas, e o maior e mais complexo dos problemas: o aquecimento global. Superar estes
complexos e globais obstáculos requer uma articulação e acúmulo de forças também
supranacionais. A sociedade do risco definida por BECK como a sociedade em que:

1
Environmental scientists and activists are dispersed throughout the world, generally don't have the
money to travel to international conferences, and are compartmentalized into academic institutions
and disciplines. The uses of electronic mailing lists and grassroots computer networks began to
spread through the scientific and scholarly parts of the ecoactivist grapevine through the late 1980s.
Just as virtual communities emerged in part as a means of fulfilling the hunger for community felt by
symbolic analysts, the explosive growth in electronic mailing lists covering environmental subjects has
served as a vehicle for informal multidisciplinary discussions among those who want to focus on real-
world problems rather than on the borders between nations or academic departments.
Os riscos não se limitam a lugares ou grupos, tem uma tendência à
globalização, não respeita fronteiras e surgem como ameaças globais
supranacionais e não específicas (...) Na modernidade a produção de
riqueza é acompanhada pela produção social de riscos (1998:25)

Por estas características específicas, o movimento ecológico é protagonista de uma série de


inovações e ampliações do exercício da cidadania na atualidade. Outros movimentos se
beneficiam do ciberespaço, como os movimentos de gênero, pela liberdade de expressão, em
defesa da infância e juventude, dos direitos humanos, todos compartilham como um grau de
fortalecimento pela diminuição das distâncias e fluidez das comunicações proporcionadas
pelas novas tecnologias. Mas é o movimento ecológico que pela primeira vez utiliza o
ciberespaço numa manifestação planetária, engendrada pelas novas tecnologias, fortalecendo
o conceito de uma cidadania digital. A smart mob a Hora do Planeta, a ser analisada a seguir
consubstancia esta nova realidade da cidadania. Hauben cunhou a expressão netizens em 1992
no ebook Netizens: On the Impact andHistory of Usenet and the Internet, afirmando que não
é o fato de estar interligado a rede que nos torna um netizen, mas a disposição de colaborar
para o aumento do conhecimento coletivo, a intenção de ajudar e trocar informações úteis
para a construção de um mundo melhor. Hauben (1992) afirma que a distancia geográfica é
compensada pelo espaço virtual. O primeiro conceito de Hauben tratava de um neticitizen,
mas a compreensão da desterritorialidade do cidadão da internet o fez retirar a referência ao
local (city) do termo (tradução livre).

A cidadania interativa se encontra em ampla expansão, a cada dia amplia-se o engajamento, a


participação, a influência e pressão aos governos e à opinião pública por meio das novas
tecnologias. A Câmara dos Deputados registra um projeto de lei enviado pela internet por
associação civil que se tornou lei, e mais de 15 intervenções da sociedade civil por meio
eletrônico no ano de 2008. É o início de uma série de transformações na vida política. Santos
define a cidadania interativa:
Por cidadania interativa entendemos a situação na qual indivíduos dispõem
dos recursos simbólicos necessários para estabelecer relações interativas na
sociedade, consideradas aqui como uma pré-condição indispensável para o
reconhecimento do individuo por uma determinada comunidade. (SANTOS:
209)

Ou seja, está em formação e em rápida aceleração a consolidação de comunidades e grupos de


pressão que só por meio da internet, celulares e outras formas construídas pelas novas
tecnologias são capazes de articulação e ação concreta

A smart Mob A Hora do Planeta

Observando nas ruas de Tóquio e Helsinque os jovens cravados nas telas de seus celulares,
máquinas automáticas que indicavam direções, código de barras lidos por celulares,
Rheingold juntou as peças do quebra-cabeça do ciberespaço e descortinou um novo mundo
que se avizinha com a convergência de dispositivos móveis, portáteis, pervasivos, locativos e
intercomunicativos nutrindo novas formas de práticas sociais que tornam as novas tecnologias
úteis para grupos como também para os indivíduos. Rheingold cunhou o termo smart mob.
Principal teórico das smart mobs e da cibercultura nos Estados Unidos, ele as descreve e as
analisa no livro Smart mobs: a próxima revolução social (Smart mobs. The next social
revolution). As novas tecnologias propiciam ações coletivas e formas de agir que nunca
seriam possíveis antes, amplificando os talentos humanos para cooperação (Rheingold).
Smart mobs são manifestações que utilizam as novas tecnologias como forma de comunicar e
atingir um maior número de pessoas que, em geral, não se conhecem, mas têm alguma causa
em comum.

As novas formas de agregação e manifestação social descritas por Rheingold, podem ser de
dois tipos: as smart mobs que têm caráter político, e são manifestações que utilizam a internet,
por meio de blogs ou Twitter, ou as tecnologias do celular, principalmente o SMS (short
message system) como forma de comunicação e mobilização. E as flash mobs que têm caráter
lúdico, performático, artístico e não político.

A Hora do Planeta ocorre desde 2007, caracteriza-se por ser uma mobilização planetária,
liderada pela Organização não governamental WWF (Fundo pela Conservação da Natureza).
A mobilização consiste em apagar as luzes por uma hora em protesto contra o aquecimento
global, pressionando os países a assumirem compromissos concretos para diminuir os gases
do efeito estufa: , convocou o mundo para um gesto simples em defesa do Planeta: apague as
luzes por uma hora no dia 28 de março às 20:30. Em 2009 esta manifestação ganhou
contornos planetários, 88 países e foi aderida por 4.153 cidades ao redor do globo, que
"apagaram" 1059 ícones e monumentos como a Torre Eiffel, em Paris; a Torre Aucland
Sky, na Nova Zelândia; a Ópera de Sydney, na Austrália; o templo Rizal Shrine, um dos
principais monumentos de Manila nas Filipinas; a estátua Merlion, e as torres gêmeas
Petronas, de Cingapura; o ninho do Pássaro, em Pequim. Pela primeira vez a Hora do Planeta
aconteceu no Brasil, em 2009.

A importância do evento ganha relevo devido se avizinhar a mais importante reunião mundial
sobre o clima, a 15ª Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudanças do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), que acontece em dezembro de
2009, em Copenhagen.

Não só as pirâmides, mas também o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, e o Centro Cultural
Dragão do Mar, em Fortaleza, até a estátua do Padre Cícero, em Juazeiro, ficaram às escuras.
São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, e diversas outras cidades pelo Brasil, realizaram
manifestações nas ruas à luz de velas. Em informação por correio eletrônico, James Kissell,
coordenador do evento do WWF enviou os seguintes dados:

1 bilhão de pessoas é a estimativa de participação na manifestação planetária; 80 milhões de


pessoas no Estados Unidos;

85 milhões na China;

143 milhões de outros países que o WWF opera.


34 línguas comunicaram a manifestação A hora do planeta.

2,4 milhões de parceiros e mídias sócias apoiaram a manifestação.

3 milhões de exibições do vídeo oficial sobre a Hora do Planeta.

5,3 milhões de vezes foram exibidas as fotos do evento no Flirk.

8 milhões de pessoas passaram mensagens de celular sobre o evento no Quênia.

4.088 cidades em 88 países pelo globo participaram;

73 capitais nacionais participaram;

18 dos 20 países do G20 participaram;

9 entre as 10 mais populosas cidades do mundo participaram;

Cobertura por 24 horas pelos meios de comunicação;

O Vice Presidente dos Estados Unidos celebrou a Hora do Planeta com o Presidente do
Chile

Os marcos mundiais mais importantes da Terra ficaram escuros: as Pirâmides (Egito), Burj
Al Arab hotel (Dubai), Torre Eiffel (França), Vaticano (Itália), Acrópoles (Grécia), Big Ben
(Reino Unido), Las Vegas Strip and Empire State Building (EUA), Cristo Redentor (Brasil),
Estádio Ninho do Pássaro(China) e as Torres Gêmeas de Petronas (Malasia).

Durante a campanha de 2009 :

Foram encontradas 87 milhões de menções a Hora do Planeta na web. ;

Durante as 24 horas que transcorreram a Hora do Planeta foram exibidas mais de 8,3
milhões de vezes os vídeos e imagens do evento;

A Hora d Planeta foi mencionada 300 vezes por segundo na web;

O vídeo A Hora do Planeta foi visto 10 vezes em cada segundo;

A hora do Planeta foi o tópico mais mencionado no twitter no dia 28 de março. (WWF –
Australia, 2009)

Kissel afirma que o sucesso da Hora do Planeta foi possível devido ao forte apoio da internet,
dos celulares e mídias sociais
No Brasil mais de 100 cidades participaram, mais de 480 comunidades e associações, e mais
de 1000 empresas deram apoio. (KISSELL, 2009).

A mensagem era clara: vote pelo Planeta. A idéia de um ciberativismo e o do exercício de


uma cidadania planetária pelo meio ambiente foi difundida pela primeira vez de forma global,
ao atingir a maior parte dos países do planeta. O uso de novas tecnologias foi fundamental
para a mobilização. Apesar de no Brasil a ONG ter tido o apoio das mídias tradicionais, como
a televisão, foi pela internet e pelos dispositivos móveis que o evento teve maior difusão e
repercussão. A resposta da comunidade pode ser medida principalmente pelas visitas no sitio
do WWF-Brasil no período da campanha, o aumento de acessos no mês de março foi de
250%, em relação ao mês anterior, atingindo 58.883 visitas somente no dia 28 de março,
sendo o terceiro sitio mais visitado do mundo, dentre os sítios do WWF, neste dia. O mais
visitado foi o sitio da Rússia com 91.768 pageviews, seguido pelo Reino Unido com 76.422
visitantes, em quarto lugar a Espanha com 27.238 visitas, seguido pelo Canadá com 18.025
visitantes (OLIVEIRA, 2009). Estes dados traduzem a importância das novas tecnologias
como engendradoras de um manifesto planetário e indutoras de mobilizações em tempo real.
O uso da internet pelos movimentos sociais contemporâneos, como o ambientalismo e os
movimentos de gênero, têm longa caminhada.

Conclusões

A complexidade e desafios da contemporaneidade engendram necessidade de soluções e


incitações mais elaboradas. O movimento ecológico tem reunido aspectos que correspondem
a essa complexidade, pois se caracterizam como movimentos que ultrapassam as fronteiras de
classes, de países, etnias.

As novas tecnologias têm nutrido a necessidade de reunir e aglutinar ações e informações que
respondam aos desafios planetários engendrados pela crise ecológica global. O aquecimento
global tem se mostrado o mais relevante desafio da humanidade no século XXI.

Ao contrário das afirmações de alguns teóricos que postulam um efeito paralisante e alienante
das novas tecnologias, estas têm servido na construção de novas sociabilidades, no
fortalecimento de comunidades e na articulação de mobilizações inovadoras, como as smart
mobs.

A smart mob A Hora do Planeta (Earth Hour) reflete essa capacidade de articulação e
demonstra a construção de uma cidadania planetária, com ações democráticas que
ultrapassam as fronteiras dos países e reafirmam o exercício da cidadania no sentido mais
genuíno deste termo, na reconstrução de uma identidade social e de uma solidariedade entre
as pessoas em busca de um objetivo comum.

O chamamento a votar, iniciado pela Organização Não Governamental WWF enseja uma
nova perspectiva democrática e renova o paradigma do exercício da cidadania. Inaugura um
forte movimento de solidariedade planetário e transgeracional.

O movimento a Hora do Planeta só foi possível devido a articulação pela e na internet.


Produziu um evento global que afirma os propósitos positivos e inovadores da cibercultura.
Confirma a possibilidade de materializar as promessas da cibercultura em atos globais e locais
em defesa da sustentabilidade planetária e do fortalecimento de uma cultura de colaboração
mundial. O direito ao meio ambiente, à democracia e a vida digital, configuram os mais
novos direitos, que alguns autores classificam como direitos a terceira, quarta e sétima
dimensão de direitos (HOESCH, 2003), como forma didática de expor a historicidade dos
direitos, ressaltando a necessária indivisibilidade dos direitos fundamentais.

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Agradecimentos:

Ao coordenador do Programa de Conservação do WWF- Brasil, Carlos Scaramuzza; á Denise Oliveira,


coordenadora de comunicação social do WWF-Brasil; e ao Diretor de Parcerias Globais para a Campanha a
Hora do Planeta , James Kissell , pela organização deste evento planetário e pela gentil disponibilização dos
dados, sem aos quais não seria possível a realização deste trabalho.

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