Para estabelecer uma relação entre o Projeto Ético-Político do Serviço Social
brasileiro e as relações internacionais do Conjunto CFESS/CRESS, há dois vetores a serem percorridos: a) o das relações de nossas organizações com a América Latina e Caribe (uma das Regiões Continentais da Federação Internacional de Trabalhadores Sociais – FITS) e, b) o das relações do Conjunto CFESS/CRESS com a própria Federação Internacional. Ao faze-lo, invocamos informações reunidas por Juan Manuel de Latorre, Presidente Regional do continente latino-americano e caribenho no Comitê Executivo da FITS entre 1998
e 2006 e também nossas próprias informações colhidas desde 2002 até 2007, quando participamos de reuniões e eventos do Comitê Mercosul em 06 cidades latino-americanas, da Associação Internacional de Escolas de Trabalho Social (AIETS) e da FITS em 03 cidades européias, 01 escandinava, 01 australiana, 01 estadunidense.
Título original
O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS1
Para estabelecer uma relação entre o Projeto Ético-Político do Serviço Social
brasileiro e as relações internacionais do Conjunto CFESS/CRESS, há dois vetores a serem percorridos: a) o das relações de nossas organizações com a América Latina e Caribe (uma das Regiões Continentais da Federação Internacional de Trabalhadores Sociais – FITS) e, b) o das relações do Conjunto CFESS/CRESS com a própria Federação Internacional. Ao faze-lo, invocamos informações reunidas por Juan Manuel de Latorre, Presidente Regional do continente latino-americano e caribenho no Comitê Executivo da FITS entre 1998
e 2006 e também nossas próprias informações colhidas desde 2002 até 2007, quando participamos de reuniões e eventos do Comitê Mercosul em 06 cidades latino-americanas, da Associação Internacional de Escolas de Trabalho Social (AIETS) e da FITS em 03 cidades européias, 01 escandinava, 01 australiana, 01 estadunidense.
Para estabelecer uma relação entre o Projeto Ético-Político do Serviço Social
brasileiro e as relações internacionais do Conjunto CFESS/CRESS, há dois vetores a serem percorridos: a) o das relações de nossas organizações com a América Latina e Caribe (uma das Regiões Continentais da Federação Internacional de Trabalhadores Sociais – FITS) e, b) o das relações do Conjunto CFESS/CRESS com a própria Federação Internacional. Ao faze-lo, invocamos informações reunidas por Juan Manuel de Latorre, Presidente Regional do continente latino-americano e caribenho no Comitê Executivo da FITS entre 1998
e 2006 e também nossas próprias informações colhidas desde 2002 até 2007, quando participamos de reuniões e eventos do Comitê Mercosul em 06 cidades latino-americanas, da Associação Internacional de Escolas de Trabalho Social (AIETS) e da FITS em 03 cidades européias, 01 escandinava, 01 australiana, 01 estadunidense.
O PROJETO TICO-POLTICO E AS RELAES INTERNACIONAIS1
Joaquina Barata Teixeira2
Para estabelecer uma relao entre o Projeto tico-Poltico do Servio Social brasileiro e as relaes internacionais do Conjunto CFESS/CRESS, h dois vetores a serem percorridos: a) o das relaes de nossas organizaes com a Amrica Latina e Caribe (uma das Regies Continentais da Federao Internacional de Trabalhadores Sociais FITS) e, b) o das relaes do Conjunto CFESS/CRESS com a prpria Federao Internacional. Ao faze-lo, invocamos informaes reunidas por Juan Manuel de Latorre, Presidente Regional do continente latino-americano e caribenho no Comit Executivo da FITS entre 1998 e 2006 e tambm nossas prprias informaes colhidas desde 2002 at 2007, quando participamos de reunies e eventos do Comit Mercosul em 06 cidades latino-americanas, da Associao Internacional de Escolas de Trabalho Social (AIETS) e da FITS em 03 cidades europias, 01 escandinava, 01 australiana, 01 estadunidense Projeto tico-Poltico e Amrica Latina e Caribe No foi animador o ensaio de formulao do panorama latino-americano, no mbito do exerccio e da formao profissional, elaborado por Juan Manuel de Latorre, apresentado ao Pleno do CFESS em 14/02/2004. Foram apontados:
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os impactos da globalizao neoliberal no conjunto da sociedade, com o
crescimento exacerbado da superpopulao relativa mais diretamente ligada ao profissional das (os) assistentes Sociais e, em conseqncia, dos problemas a ela relacionados. Os reflexos na profisso e em suas organizaes, teriam gerado mudanas no perfil profissional, para adequ-lo aos interesses dos grupos dominantes, criando condies para exerccios profissionais que no raro seriam contrrios a um projeto tico-poltico profissional. Pauperizao, privatizao de servios e perda de direitos, excluso/includente, individualizao do social seriam as cruas realidades do trabalho profissional . O poltico coletivo teria perdido o sentido; as organizaes se sentiriam distantes dos interesses dos profissionais e da problemtica mesma a que est submetido o trabalhador social entendido como cidado. A ausncia, em quase 50% dos pases latino-americanos, de marcos e parmetros legais que protejam o exerccio profissional e favoream a
Texto publicado na Revista Inscrita n. 10.
Mestre em Planejamento do Desenvolvimento (NAEA/UFPA) Especialista em Administrao Universitria pelo IGLU (Instituto de Gesto e Liderana Universitria) (parte terica em Alagoas (UFAL) e parte prtica nos EUA Estado da Flrida (1994) Conselheira do CFESS Membro do Comit Executivo da IFSW (International Federation of Social Workers) Co-Coordenadora do Comit Mercosul de Organizaes Profissionais de Servio Social Professora Adjunta IV da UFPA (aposentada)
organizao (Regulamentao Profissional, Cdigo de tica, Currculo Mnimo
etc..). Alm disso, em alguns pases nos quais existem regulamentaes, estas s so questionadas por setores crticos que as percebem como instrumentos a servio da reproduo da estrutura de poder dominante, alheios ao marco axiolgico identificado como inerente profisso, ou seja, a defesa da liberdade, a primazia dos direitos humanos, a ampliao e consolidao da cidadania, a democracia, o posicionamento a favor da equidade, da justia, da participao social e a afirmao da poltica pblica como responsabilidade estatal, como direito e no como servio privatizado. A carncia de um currculo mnimo para a formao dos trabalhadores sociais, o qual apresenta uma grande diversidade de enfoques, com o aparente predomnio na regio de currculos defasados da anlise crtica e totalizadora da questo social. Com poucas excees, fragilidade e disperso das organizaes profissionais, com baixo nvel de filiados, alta burocracia e em conseqncia, problemas de representatividade, escassa comunicao, alheias a uma viso global, integral e prospectiva quanto sua articulao com as lutas da classe trabalhadora e setores pauperizados. Incipientes relaes com o mundo acadmico, desconexo com outras organizaes de base e com o trabalho poltico coletivo orientado busca de outro tipo de sociedade. Debilidades na capacidade de gesto e envolvimento em um trabalho que prioriza o tema das relaes humanas, com desconhecimento de uma ao responsvel sobre as relaes sociais. Tecnicismo, subalternidade e assistencialismo, vigentes na interveno profissional, alheia a processos de desenvolvimento sustentvel. O excesso de filantropizao das aes profissionais e a localizao predominante em atividades de prestao direta de servios, sem reconhecimento na instncia da planificao e formulao de poltica pblica, do conta da legitimidade profissional que tem a profisso para o projeto dominante, assim como da debilidade na formao terico-poltica crtica. Vinculao de muitas entidades profissionais ao livre jogo do mercado, no com opes alternativas, mas veiculando a poltica neoliberal, em um processo claro de terceirizao a servio do modelo dominante. Ausncia de intecomunicao entre os pases da regio, o que no facilita o intercmbio bibliogrfico, de experincias, de avanos, conquistas, de orientaes que possam fortalecer a ao organizativa em benefcio no s dos segmentos com os quais se trabalha, se no tambm da profisso em geral.
Como se v, os 25 anos de ditadura militar e uma dcada e meia de
neoliberalismo, promoveram estragos na Amrica Latina e uma forte inflexo no movimento que era ascendente (e foi interrompido), de ruptura do Servio Social latino-americano com o pensamento herdado de vertentes conservadoras das cincias sociais. Os anos de redemocratizao da dcada de 80 no foram portanto homogeneamente fortes, nem suficientes, para o resgate do protagonismo nos pases de lngua espanhola. O Brasil foi uma exceo. No
obstante o regime de arbtrio e as investidas neoliberais, retoma, ainda no fim da
dcada de 70 e incio de 80, seu crescimento e avano no marco conceitual e categorial, na formulao de diretrizes curriculares identificadas com uma formao crtica, no seu reconhecimento como um dinmico campo de pesquisa e produo acadmica, na consolidao de marcos legais e institucionais, na assuno a nveis de gesto e formulao de polticas pblicas e, alm dessa progressiva caminhada, na explicitao de seu compromisso com um projeto tico-poltico profissional que promove a crtica radical sociedade capitalista. Para Juan Manuel, no obstante o quadro extremamente adverso j apontado, h a indicao de elementos que abrem prossibilidades a uma arrancada no rumo de um horizonte tico-poltico superior, a saber:
A defesa das Polticas Pblicas que, por princpio, envolve a profisso,
independente do sentido que a elas se confere. E essa defesa seria politizadora para os (as) assistentes sociais.. A relao direta que, em sua prtica, estabelecem os profissionais com os setores populares, o que lhes possibilita uma sensibilizao s suas causas. A experincia e tendncia de realizao de eventos nacionais e internacionais que promovem o conhecimento, difundem a produo prpria, promovem o debate crtico. A existncia mesma das organizaes que, apesar de seus problemas, dificuldades e debilidades, buscam a formao continuada, a regulamentao e mobilizao pr-ativa - em alguns casos, contra a globalizao neoliberal. O acmulo histrico do Servio Social crtico no continente e a existncia de alguns projetos editoriais na organizao, mediante os quais se divulga a produo prpria ou de profissionais e disciplinas afins. As possibilidades de conexo virtual. A presena na FITS e a atitude receptiva desta organizao voz do trabalho social latino-americano. A investigao em Servio Social.
Juan Manuel claro, ao apontar caminhos para uma ao promissora e indica
claramente a necessidade de difundir entre as associaes os avanos organizativos e poltico-associativos do projeto tico-poltico brasileiro, da organizao Mercosul, de diferentes aes pro-ativas do tipo alternativo desenvolvidas em distintos pases, de incurses no plano do desenho e avaliao de polticas pblicas, de participao em aes expressivas e coletivas relacionadas com as possibilidades de mundos melhores, de regulamentaes profissionais, cdigos de tica etc.. O Brasil presentemente coordena o Comit Mercosul de Organizaes Profissionais de Servio social. Esta entidade, ora integrada por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela, com possibilidade de ingresso do Chile, est consciente da tarefa que lhe cabe e de suas responsabilidades na articulao latino-americana (juntamente com a ALAEITS), na perspectiva do resgate do
protagonismo dos profissionais latino-americanos, os quais vivenciaram, na
dcada de 60 e 70, a virada reconceituacional no Servio Social continental e que podem, sim, a partir da conscincia da subalternidade do continente na diviso internacional do trabalho, das nefastas conseqncias das relaes sociais de um capitalismo maduro e decadente sobre os povos latino-americanos, instrumentalizar-se para um Servio Social comprometido com o avano dos direitos sociais e com transformaes societrias na direo de outro mundo possvel. Projeto tico-poltico e demais regies continentais da FITS A gnese da FITS como entidade internacional do Servio Social fundou-se no reconhecimento, por parte inicialmente dos scios europeus, e posteriormente de outras regies continentais (asiticos, africanos, americanos do norte, americanos do sul), de que princpios, objetivos e metas profissionais, no campo da defesa dos direitos humanos e da luta dos oprimidos, transcendem fronteiras e nacionalidades. e que importante dar uma voz global profisso. Foi possvel perceber, nestes dois anos e meio de convvio internacional, alguns pontos que so globalmente comuns profisso, apesar do largo e extensivo espectro de diversidades culturais, econmicas, polticas, raciais e tnicas, o que ensejou Lea Braga (ex- Presidente do CFESS) exclamar: Os assistentes sociais so iguais em toda a parte. Esses pontos comuns parecem ser: a) A insero cada vez mais visvel e cada vez mais numerosa, do trabalho do assistente social na questo social e no mago de outras relaes de opresso que se combinam com as contradies da relao capital x trabalho (lutas de gnero, etnia, raa, geraes, migrao, orientao e expresso sexual etc.); b) A tendncia dos profissionais de avanarem na conscincia de que os direitos sociais, pelos quais lutam os movimentos sociais, no sero conquistados simplesmente com a reforma moral da sociedade, mas com profundas transformaes econmicas, polticas e sociais; c) A busca de patamares superiores do exerccio e da formao profissional, do ponto de vista tcnico, tico e poltico. O Servio social uma profisso em contnuo crescimento no mundo, com profissionais inquietos e combativos, embora nem sempre conscientes da direo estratgica, nem sempre balizados por uma teoria crtica. O Servio Social europeu, neste incio de milnio, por exemplo, parece identificar-se (embora no homogeneamente) com algumas formulaes ps-modernas, que na Amrica Latina so recusadas e entendidas no bojo do suporte deo-poltico neoliberal. No evento da AIETS em Santiago do Chile, ocorrido em 2006, algumas das mesas evidenciaram essa linha de anlise e produo acadmica, a exemplo a apresentada por Adele Cortina, assistente social espanhola, para quem o protagonismo no se exerce s na vida poltica, mas tambm nas associaes cvicas, a partir das empresas, a partir da sociedade civil, porque o trip que 4
sustenta uma sociedade civilizada seria, segundo ela, um estado democrtico,
uma economia tica e uma cidadania ativa; Pergunta-se: possvel uma economia tica no capitalismo, onde a explorao e a acumulao concentrada da riqueza, embora legais, so em si amorais? At onde j foi a responsabilidade social das empresas na Amrica Latina? A alguns programinhos assistenciais e ambientais de repercusso estritamente local e que no compensam os prejuzos sociais e ambientais que provocam. Fundamentada em Habermas, propugna Adele a necessidade de se contar com a sociedade civil para qualquer projeto de transformao, no se devendo mais entende-la como sociedade burguesa, j que nela so possveis perspectivas universais. Pergunta-se mais uma vez: No h mais classes nem luta de classes? Projeto tico-poltico: referncia permanente no exerccio profissional, na luta social e nas Organizaes polticas da categoria no Brasil, na Amrica latina e no mundo. Para as (os) assistentes sociais brasileiros (as) a profisso ancora-se, sim, em um Projeto tico-poltico profissional. O fundamento da profisso em princpios e valores tico-polticos significa a busca de uma identidade com a qual possa manter coerncia, que forme o carter coletivo da profisso, que lhe d uma viso de mundo, que sirva de parmetro, de caminho, que permita aos profissionais o enfrentamento consciente das violentaes da sociedade capitalista. Trata-se de uma busca crtica de uma reflexo de princpios em um horizonte de outra sociedade projetada e aspirada;. Como propunham os gregos, a formao de individuos para a felicidade, para a vida justa e livre, s era possvel como vida tica e poltica na polis. Hoje a polis o mundo (OLDESSSMANN: 2203), da que h que aspirar-se uma busca global na profisso por uma nova sociedade.. A reflexo tico-poltica tem que ser permanentemente alimentada e enriquecida. Devemos sempre formular princpios e utopias, redesenha-los a cada momento e movimento histrico de transformao social. Essa busca tambm uma luta para revelar o que foi socialmente construdo como verdade, mas que no corresponde universalidade perseguida e s interessa a alguns (elites dominantes). Revelar essas falsas verdades e revelar o seu antagonismo a princpios tambm um embate tico-poltico (IBID). No campo do Servio Social, podemos compreender um projeto tico-poltico como uma ao a favor dos direitos humanos e sociais e em busca de uma nova forma e contedo econmico-poltico para a sociedade. BIBLIOGRAFIA ANDERSON, Perry A Crise da Crise do Marxismo (introduo a um debate contemporneo). So Paulo: Brasiliense, 1985 5
OLDESSSMANN, D. Assessor alemo da FASE. Conferncia intitulada tica
(proferida em Belm. 2203) EVANGELISTA, Joo E. Crise do Marxismo e Irracionalismo Ps-Moderno. S. Paulo: Cortez Editora, 1992 MARX, Karl A Ideologia Alem (Feuerbach). S. Paulo: Grijalbo, 1977 ____________ O Capital (Crtica da Economia Poltica). Livro 2 Volume 3. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, s/d LATORRE, J. M. Proposta do vice-presidente da FITS para a Amrica Latina e Caribe (elaborada em outubro de 2002 e atualizada em abril de 2003) NOVAES, Adauto Cenrios. In: Bignotto, N. et alii. tica. So Paulo: Cia. Das Letras, 1992; ROUSSEAU, J. J. O Contrato Social. In: Os Pensadores. Abril Cultural, 1978 SPINOZA, B. tica (demonstrada maneira dos Geometras). So Paulo: Editora Marin Claret, 2002 ZAIDAN FILHO, Michel A Crise da Razo Histrica, Campinas: Papirus, 1989