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A data de hoje, 25 de Março, fixada para esta festa, está relacionada com o Natal; além
disso, conforme uma antiga tradição, deviam coincidir no equinócio da primavera a criação do
mundo e o início e o fim da Redenção. Nos anos em que coincide com algum dia da Semana
Santa, costuma ser transferida para a segunda-feira da segunda semana do Tempo Pascal.
Como culminância do seu amor por nós, Deus enviou ao mundo o seu Filho
Unigénito, que se fez homem para nos salvar e nos dar a incomparável
dignidade de filhos. Com a sua vinda, podemos afirmar que chegou a plenitude
dos tempos.
São Paulo diz literalmente que Jesus nasceu de uma mulher2. Não apareceu
na terra como uma visão fulgurante: fez-se realmente homem, como nós,
assumindo a natureza humana nas entranhas puríssimas da Virgem Maria. A
festa de hoje é propriamente não só de Jesus como de sua Mãe. Por isso, “em
primeiro lugar – diz frei Luís de Granada –, é preciso pôr os olhos na pureza e
santidade desta Senhora que Deus escolheu ab aeterno para tomar carne dela.
“Porque assim como, quando decidiu criar o primeiro homem, lhe preparou
primeiro a casa que deveria habitar, que foi o Paraíso terreal, assim, quando
quis enviar ao mundo o segundo, que foi Cristo, primeiro preparou-lhe o lugar
em que hospedar-se: que foi o corpo e a alma da Sacratíssima Virgem”3. Deus
preparou a morada do seu Filho, Santa Maria, com a maior dignidade criada,
com todos os dons possíveis e cumulando-a de graça.
Nesta Solenidade, Jesus aparece mais unido do que nunca a Maria. Quando
Nossa Senhora deu o seu consentimento, “o Verbo Divino assumiu a natureza
humana: a alma racional e o corpo formado no seio puríssimo de Maria. A
natureza divina e a natureza humana uniram-se numa única pessoa: Jesus
Cristo, verdadeiro Deus e, desde então, verdadeiro homem; Unigénito eterno
do Pai e, a partir daquele momento, como Homem, filho verdadeiro de Maria.
Por isso Nossa Senhora é Mãe do Verbo encarnado, da segunda Pessoa da
Santíssima Trindade que uniu a si para sempre – sem confusão – a natureza
humana. Podemos dizer bem alto à Virgem Santa, como o melhor dos
louvores, estas palavras que expressam a sua mais alta dignidade: Mãe de
Deus”4. Quantas vezes não teremos repetido: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai
por nós...!
Que valor deve ter a criatura humana diante de Deus, “se mereceu ter tão
grande Redentor”10! Ao longo do dia de hoje, demos graças a Deus por este
bem tão imenso que nunca chegaremos a entender.
O empenho por chegar à semelhança com Cristo implica, pois, uma luta
contra tudo aquilo que nos torna menos humanos ou infra-humanos: os
egoísmos, as invejas, a sensualidade, a mesquinhez de espírito... Isto é, o
verdadeiro empenho do cristão pela santidade traz consigo a purificação e por
conseguinte o desabrochar da verdadeira personalidade em todos os sentidos.
Assim como em Cristo o humano não deixou de sê-lo pela sua união com o
divino, do mesmo modo as realidades terrenas não deixaram de sê-lo em
virtude da Encarnação; mas a partir desse instante podem e devem ser
orientadas para o Senhor. Et ego, si exaltatus fuero a terra, omnia traham ad
meipsum13. E Eu, quando for levantado da terra, tudo atrairei a Mim.
“Cristo, com a sua Encarnação, com a sua vida de trabalho em Nazaré, com
a sua pregação e milagres pelas terras da Judeia e da Galileia, com a sua
morte na Cruz, com a sua Ressurreição, é o centro da Criação, Primogénito e
Senhor de todas as criaturas.
“[...] O Senhor quer os seus em todas as encruzilhadas da terra. Chama
alguns ao deserto, para que se desentendam dos avatares da sociedade dos
homens e com o seu testemunho recordem aos demais que Deus existe.
Confia a outros o ministério sacerdotal. Mas quer a grande maioria dos homens
no meio do mundo, nas ocupações terrenas. Estes cristãos devem, pois, levar
Cristo a todos os ambientes em que desenvolvem as suas tarefas humanas: à
fábrica, ao laboratório, ao cultivo da terra, à oficina do artesão, às ruas das
grandes cidades e aos caminhos de montanha”14. Essa é a nossa tarefa.
(1) cfr. Gal 4, 4-5; Liturgia das Horas, Antífona 1 do Ofício das leituras; (2) cfr. Sagrada Bíblia,
Epístolas de San Pablo a los Romanos y a los Gálatas, vol. VI, nota a Gal 4, 4; (3) Frei Luís de
Granada, Vida de Jesus Cristo, 1; (4) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 274; (5) Jo
1, 14; (6) São Tomás, S.Th., III, q. 1, a. 2; (7) Jo 3, 16; (8) João Paulo II, Angelus no Santuário
de Jasna Gora, 5-VI-1979; (9) Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 22; (10) Hino Exsultet,
Missa da Vigília Pascal; (11) idem, Enc. Redemptor hominis, 4-III-1979, 11; (12) ib.; (13) Jo 12,
32; (14) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 105; (15) Santa Catarina de Sena,
Elevações, 15.