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VIGÍLIA PASCAL.

DOMINGO DA PÁSCOA NA RESSURREIÇÃO DO


SENHOR

47. RESSUSCITOU DOS MORTOS


– A Ressurreição do Senhor, fundamento da nossa fé. Jesus Cristo vive: esta é alegria de
todos os cristãos.

– A luz de Cristo. A ressurreição, uma forte chamada ao apostolado.

– Aparições de Jesus: o encontro com sua Mãe, a quem aparece em primeiro lugar. Viver este
tempo litúrgico muito perto da Virgem.

I. O SENHOR RESSUSCITOU verdadeiramente, aleluia. A Ele a glória e o


poder pelos séculos dos séculos1.

“Ao cair a tarde de Sábado, Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, e


Salomé compraram perfumes para irem embalsamar o corpo morto de Jesus. –
No outro dia, de manhã cedo, chegaram ao sepulcro, nascido já o sol (Mc, XVI,
1 e 2). E entrando, ficam consternadas, porque não encontram o corpo do
Senhor. – Um jovem, coberto de vestes brancas, diz-lhes: Não temais; sei que
procurais Jesus Nazareno. Non est hic, surrexit enim sicut dixit – não está aqui
porque ressuscitou, como tinha anunciado (Mat, XXVIII, 5). – Ressuscitou! –
Jesus ressuscitou. Não está no sepulcro. A vida pôde mais do que a morte”2.

A Ressurreição gloriosa do Senhor é a chave para interpretarmos toda a sua


vida e o fundamento da nossa fé. Sem essa vitória sobre a morte, diz São
Paulo, toda a pregação seria inútil e a nossa fé vazia de conteúdo 3. Além disso,
na Ressurreição de Cristo apoia-se a nossa ressurreição futura. Porque Deus,
rico em misericórdia, impelido pelo grande amor com que nos amou, deu-nos a
vida ao mesmo tempo que a Cristo, quando estávamos mortos em
consequência dos nossos pecados... Com Ele nos ressuscitou4.

A Ressurreição do Senhor é uma realidade central da nossa fé católica, e


como tal foi pregada desde os começos do cristianismo. A importância deste
milagre é tão grande que os Apóstolos são, antes de mais nada, testemunhas
da Ressurreição de Jesus5. Este é o núcleo de toda a sua pregação, e isto é o
que, depois de vinte séculos, nós anunciamos ao mundo: Cristo vive! A
Ressurreição é a prova suprema da divindade de Nosso Senhor.

Depois de ressuscitar pelo seu próprio poder, Jesus glorioso foi visto pelos
discípulos, que puderam certificar-se de que era Ele mesmo: puderam falar
com Ele, viram-no comer, verificaram as marcas dos pregos e da lança no seu
corpo... Os Apóstolos declaram que Jesus se manifestou com muitas provas6,
e muitos deles morreram em testemunho dessa verdade.

“Apareceu a sua Mãe Santíssima. – Apareceu a Maria de Magdala, que está


louca de amor. – E a Pedro e aos demais Apóstolos. – E a ti e a mim, que
somos seus discípulos e mais loucos que Madalena. Que coisas lhe dissemos!

“Que nunca morramos pelo pecado; que seja eterna a nossa ressurreição
espiritual. – E, antes de terminar a dezena, beijaste as chagas dos seus pés...,
e eu, mais atrevido – por ser mais criança –, pus os meus lábios no seu lado
aberto”7.

II. SÃO LEÃO MAGNO diz de uma forma muito bela que Jesus se apressou
a ressuscitar porque tinha pressa em consolar sua Mãe e os discípulos 8: esteve
no sepulcro o tempo estritamente necessário para cumprir os três dias
profetizados. Ressuscitou ao terceiro dia, mas o mais cedo que pôde, ao
amanhecer, quando ainda estava escuro9, antecipando o amanhecer com a
sua própria luz.

O mundo tinha ficado às escuras. Só a Virgem Maria era um farol no meio


de tantas trevas. A Ressurreição é a grande luz para todo o mundo: Eu sou a
luz10, tinha dito Jesus; luz para o mundo, para cada época da história, para
cada sociedade, para cada homem.

Ontem à noite, enquanto participávamos – se nos foi possível – na liturgia da


Vigília pascal, vimos como no começo da cerimónia reinava no templo uma
escuridão total, que era imagem das trevas em que a humanidade jaz sem
Cristo, sem a revelação de Deus. Pouco depois, o celebrante proclamou a
comovedora e feliz notícia: A luz de Cristo, que ressuscita glorioso, dissipe as
trevas do coração e do espírito11. E da chama do círio pascal, que simbolizava
Cristo, todos os fiéis receberam a luz: o templo ficou iluminado com a luz do
círio pascal e a de todos os fiéis. É a luz que a Igreja derrama generosamente
sobre a terra mergulhada em trevas.

A Ressurreição de Cristo é uma forte chamada ao apostolado, isto é, a que


sejamos luz a fim de levarmos a luz aos outros. Para isso devemos estar
unidos a Cristo. “Instaurare omnia in Christo, é o lema que São Paulo dá aos
cristãos de Éfeso (Ef 1, 10): informar o mundo inteiro com o espírito de Jesus,
colocar Cristo na entranha de todas as coisas. Si exaltatus fuero a terra, omnia
traham ad meipsum (Jo 12, 32), quando for levantado ao alto sobre a terra,
tudo atrairei a mim. Cristo, com a sua encarnação, com a sua vida de trabalho
em Nazaré, com a sua pregação e milagres pelas terras da Judeia e da
Galileia, com a sua morte na Cruz, com a sua Ressurreição, é o centro da
Criação, Primogénito e Senhor de toda a criatura.

“A nossa missão de cristãos é proclamar essa realeza de Cristo, anunciá-la


com a nossa palavra e as nossas obras. O Senhor quer os seus em todas as
encruzilhadas da terra. Chama alguns ao deserto, para que se desentendam
dos avatares da sociedade dos homens e com o seu testemunho recordem aos
demais que Deus existe. Confia a outros o ministério sacerdotal. Mas quer a
grande maioria dos homens no meio do mundo, nas ocupações terrenas. Estes
cristãos devem, pois, levar Cristo a todos os ambientes em que as suas tarefas
humanas se desenvolvem: à fábrica, ao laboratório, ao cultivo da terra, à
oficina do artesão, às ruas das grandes cidades e aos caminhos de
montanha”12.

III. A VIRGEM MARIA, que esteve acompanhada pelas santas mulheres nas
horas terríveis da crucifixão do seu Filho, não as acompanhou na piedosa
tentativa de acabar de embalsamar o corpo morto de Jesus. Maria Madalena e
as outras mulheres que haviam seguido Jesus desde a Galileia tinham
esquecido as suas palavras sobre a Ressurreição ao terceiro dia. Mas a
Virgem Santíssima sabe que Ele ressuscitará. Num clima de oração que nós
não podemos descrever, Maria espera o seu Filho glorificado.

“Os Evangelhos não nos falam de uma aparição de Jesus ressuscitado a


Maria. De qualquer maneira, assim como Ela esteve de modo especial junto da
Cruz do Filho, também deve ter tido uma experiência privilegiada da sua
Ressurreição”13. Uma tradição antiquíssima da Igreja diz-nos que Jesus
apareceu em primeiro lugar e a sós à sua Mãe Santíssima. Em primeiro lugar,
porque Ela era a primeira e principal corredentora do género humano, em
perfeita união com o seu Filho. A sós, já que esta aparição tinha uma razão de
ser muito diferente da das demais aparições às mulheres e aos discípulos. A
estes, o Senhor tinha que reconfortá-los e conquistá-los definitivamente para a
fé. A Virgem, que já havia sido constituída Mãe do género humano reconciliado
com Deus, não deixara em momento algum de estar em perfeita união com a
Santíssima Trindade. Toda a esperança na Ressurreição de Jesus que restava
sobre a terra tinha-se refugiado no seu coração.

Não sabemos de que maneira Jesus apareceu à sua Mãe. Apareceu a Maria
Madalena de uma forma que não permitiu que ela o reconhecesse a princípio.
Juntou-se aos dois discípulos de Emaús como um viajante. Apareceu aos
Apóstolos reunidos no Cenáculo estando as portas fechadas... À sua Mãe,
numa intimidade que nos é impossível imaginar, mostrou-se de uma forma tal
que Ela pôde reconhecer o seu estado glorioso e perceber que o seu Filho já
não continuaria a mesma vida de antes sobre a terra14.

Depois de tanta dor, a Virgem encheu-se de uma imensa alegria. “A estrela


da manhã – diz Frei Luis de Granada – não surge com tanta formosura como a
que resplandeceu aos olhos da Mãe naquele rosto cheio de graças e naquele
espelho da glória divina. Maria vê o corpo do Filho ressuscitado e glorioso, livre
já de todos os maus tratos passados, recuperada a graça daqueles olhos
divinos e ressuscitada e aumentada a sua primeira formosura. As feridas das
chagas, que tinham sido para a Mãe como espadas de dor, viu-as Ela
convertidas em fontes de amor; àquele que vira padecer entre ladrões, vê-o
agora acompanhado de anjos e santos; àquele que a confiara do alto da cruz
ao discípulo, vê-o agora estender-lhe os seus braços, vê-o ressuscitado diante
dos seus olhos. Ela o possui e não o deixa; abraça-o e pede-lhe que não parta;
junto da Cruz, emudecida de dor, não soubera o que dizer; agora, emudecida
de alegria, não consegue falar”15. Nós nos unimos a essa imensa alegria da
nossa Mãe.
Conta-se que, nesta festa, São Tomas de Aquino aconselhava todos os
anos os seus ouvintes a não deixarem de felicitar a Virgem pela Ressurreição
do seu Filho16. É o que nós fazemos a partir de agora, começando hoje a rezar
o Regina Coeli, que ocupará o lugar do Angelus durante o tempo pascal:
Rainha do céu, alegrai-vos, aleluia! Porque aquele que merecestes trazer no
vosso seio ressuscitou como disse, aleluia!... E lhe pedimos que nos alcance a
graça de ressuscitar para sempre de todo o pecado, a fim de permanecermos
em íntima união com Jesus Cristo. Façamos o propósito de viver este tempo
pascal muito unidos a Santa Maria.

(1) Cfr. Lc 24, 34; Antífona de entrada da Missa do Domingo da Páscoa; cfr. Apoc 1, 6; (2) São
Josemaría Escrivá, Santo Rosário, 1º mist. glorioso; (3) cfr. 1 Cor 15, 14-17; (4) Ef 2, 4-6; (5)
cfr. Act 1, 22; 2, 32; 3, 15; etc.; (6) At 1, 3; (7) São Josemaría Escrivá, Santo Rosário, 1º mist.
glorioso; (8) São Leão Magno, Sermão 71, 2; (9) Jo 20, 1; (10) Jo 8, 12; (11) Missal Romano,
Vigília Pascal; (12) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 105; (13) João Paulo II,
Discurso no Santuário de Nuestra Señora de la Alborada, Guayaquil, 31-I-1985; (14) cfr. F. M.
Willam, Vida de Maria; (15) Frei Luís de Granada, Livro da oração e meditação, 26, 4, 16; (16)
cfr. Fr. J. F. P., Vida e misericórdia da Santíssima Virgem, segundo os textos de São Tomás de
Aquino, Segóvia, 1935, págs. 181-182.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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