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- Período Colonial -
O Estado do Maranhão foi criado à época da Dinastia Filipina, em 1621, compreendendo os atuais
territórios do Maranhão, Ceará, Piauí, Pará e Amazonas. Essa região subordinava-se, desse modo,
diretamente à Coroa Portuguesa. Entre as suas atividades econômicas destacavam-se a lavoura de
cana e a produção de açúcar, o cultivo de tabaco, a pecuária (para exportação de couros) e a
coleta de cacau. A maior parte da população vivia em condições de extrema pobreza, sobrevivendo
da coleta, da pesca e praticando uma agricultura de subsistência.
Desde meados do século XVII, o Estado do Maranhão enfrentava séria crise econômica, pois desde
a expulsão dos Neerlandeses da Região Nordeste do Brasil, a empresa açucareira regional não tinha
condições de arcar com os altos custos de importação de escravos africanos. Neste contexto, teve
importância a ação do padre Antônio Vieira (1608-1697) que, na década de 1650, como Superior
das Missões Jesuíticas no Estado do Maranhão, implantou as bases da ação missionária na região:
pregação, batismo e educação, nos moldes da cultura portuguesa e das regras estabelecidas pelo
Concílio de Trento (1545-1563).
Para solucionar esta mesma questão (da carência de mão-de-obra), a Coroa Portuguesa instituiu a
Companhia Geral de Comércio do Estado do Maranhão (1682), em moldes semelhantes ao da
Companhia Geral de Comércio do Estado do Brasil (1649). Pelo Regimento, a nova Companhia
deteria o estanco (monopólio) de todo o comércio do Maranhão por um período de vinte anos, com
a obrigação de introduzir dez mil escravos africanos (à razão de quinhentas peças por ano),
comercializando-os a prazo, a preços tabelados. Além do fornecimento destes escravos, deveria
fornecer tecidos manufaturados e outros gêneros europeus necessários à população local, como por
exemplo o bacalhau, os vinhos, e a farinha de trigo. Em contrapartida, deveria enviar anualmente a
Lisboa pelo menos um navio do Maranhão e outro do Grão-Pará, com produtos locais. O cacau, a
baunilha, o pau-cravo e o tabaco, produzidos na região, seriam vendidos exclusivamente à
Companhia, por preços tabelados. Para obtenção da farinha de mandioca necessária à alimentação
dos africanos escravizados, era permitido à Companhia recorrer à mão-de-obra indígena,
remunerando-a de acordo com a legislação em vigor. Graças à intercessão do Governador Francisco
de Sá de Meneses, apenas os jesuítas e franciscanos ficaram livres do monopólio exercido pela
Companhia.
A Companhia passou a ser objeto de acusações de não fornecer anualmente o número de escravos
estipulado pelo Regimento, de usar pesos e medidas falsificados, de comercializar gêneros
alimentícios deteriorados e de praticar preços exorbitantes. Esses fatos, somados às isenções
concedida aos religiosos conduziria a uma revolta.
Eclosão da revolta
Após alguns meses de preparação, aproveitando a ausência do Governador Francisco de Sá de
Meneses, em visita a Belém do Pará, a revolta eclodiu na noite de 24 de fevereiro de 1684, durante
as festividades de Nosso Senhor dos Passos.
Sob a liderança dos irmãos Manuel e Tomás Beckman, senhores de engenho na região, e de Jorge
de Sampaio de Carvalho, com a adesão de outros proprietários, comerciantes e religiosos
insatisfeitos com os privilégios dos Jesuítas, um grupo de sessenta a oitenta homens mobilizou-se
para a ação, assaltando os armazéns da Companhia.
Já nas primeiras horas do dia seguinte os sediciosos tomaram o Corpo da Guarda em São Luís,
integrado por um oficial e cinco soldados. Partiram dali, com outros moradores arregimentados no
trajeto, para a residência do Capitão-mor Baltasar Fernandes, que clamava por socorro, sem
sucesso. Registra o historiador maranhense João Francisco Lisboa que "Beckman intimou-lhe a voz
de prisão e suspensão do cargo, acrescentando, como que por mofa, que para tornar-lhe aquela
mais suave o deixava em casa entregue à guarda da sua própria mulher, com obrigações de fiel
carcereira. Baltasar Fernandes gritou que preferia a morte a tal afronta intolerável para um
soldado; mas a multidão, sem fazer cabedal dos seus vãos clamores, tomou dali para o Colégio dos
Padres, a quem deixaram presos e incomunicáveis com guardas à vista."
Posteriormente à ocupação do Colégio dos Jesuítas, foram expulsos do Maranhão os vinte e sete
religiosos ali encontrados.
A Junta Revolucionária
A 25 de fevereiro a revolta estava consolidada, organizando-se na Câmara Municipal, uma Junta
Geral de Governo, composta por seis membros, sendo dois representantes de cada segmento social -
latifundiários, clero e comerciantes. Para legitimá-la, foi celebrado um Te Deum. As principais
deliberações desta Junta foram:
• a deposição do Capitão-mor;
• a deposição do Governador;
• a abolição do estanco;
• a extinção da Companhia de Comércio;
• a expulsão dos Jesuítas.
A repressão ao movimento
A Metrópole Portuguesa reagiu, enviando um novo Governador para o Estado do Maranhão, Gomes
Freire de Andrade. Ao desembarcar em São Luís, em 15 de maio de 1685, à frente de efetivos
militares portugueses, este oficial não encontrou resistência.
Neste ano de revolta, o movimento tivera várias defecções entre seus entusiastas: eram os
descontentes, arrependidos, os moderados e os que temiam as mudanças. À chegada de Gomes
Freire não se opusera Manuel: tencionava libertar o irmão Tomás. Os emissários do novo
governante logo tomaram conhecimento do estado das coisas. Os mais comprometidos com a
revolta deliberaram pela fuga, enquanto Beckman permaneceu.
Apontados como líderes, Manuel Beckman e Jorge de Sampaio receberam como sentença a morte
pela forca. Os demais envolvidos foram condenados à prisão perpétua. Manuel Beckman e Jorge
Sampaio foram enforcados a 2 de novembro de 1685 (10 de novembro, segundo outras fontes). A
última declaração de Manuel foi: "Morro feliz pelo povo do Maranhão!". Tendo os seus bens ido a
hasta pública, Gomes Freire arrematou-os todos e devolveu-os à viúva e filhas do revoltoso.
Durante o governo de Don Pedro III de Portugal (1683-1716) a Companhia seria extinta,
definitivamente, a pedido do próprio Governador e dos própios irmãos de Don Pedro III.
Conseqüências
A situação de pobreza da população do Estado do Maranhão perdurou no decorrer das primeiras
décadas do século XVIII. Na segunda metade desse século a administração do Marquês de Pombal
(1750-1777) tentou encaminhar soluções para as graves questões da região. A administração
pombalina, dentro da política reformista adotada, criou, entre outras medidas, a Companhia de
Comércio do Grão-Pará e Maranhão.