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Saneamento básico em Belo Horizonte: trajetória 100 anos.

Os serviços de água e esgoto.

A mudança da Capital das Minas Gerais era sonho antigo, presente desde o período
colonial e o império, devido a questões políticas e econômicas. Em 1867, um
delegado do Norte de Minas sugere a localização em área ao longo do Rio das
Velhas. O Arraial do Curral Del Rey localizava-se no encontro de três caminhos: Um
que, margeando o rio Arrudas (foto 87) e o rio das Velhas, ia para Sabará; outro que,
pela serra do Curral, se dirigia ao sul; e um terceiro que, na direção norte, ia para o
sertão. Na unção desses três caminhos ficava a praça com a Igreja (foto 1).
Esse local era dotado de uma série de qualidades, dentre elas, a facilidade de
ligação, através de um pequeno ramal férreo, à Estrada de Ferro Central do Brasil,
as amenidades do clima e sua salubridade e a facilidade de suprimento de excelente
água, própria para todos os usos domésticos em quantidade suficiente para uma
população de mais de 30.000 almas.

O urbanismo do século XIX se caracteriza, fundamentalmente, na Europa, por uma


vontade disciplinadora e de requalificação estética de cidades, que, a partir da
revolução industrial, experimentam um acentuado crescimento demográfico e uma
clara deterioração das estruturas espaciais preexistentes. Nesse sentido, as
intervenções urbanas são marcadas por dois aspectos interligados: uma concepção
higienista, que busca sanear o organismo das cidades, visualizadas como
ambientes promíscuos e insalubres, propício a proliferação de doenças e epidemias
e sobre os quais as autoridades perdem crescentemente sua capacidade de
controle; e uma concepção ordenadora e estética, de caráter fortemente político que
busca ajustar a estrutura espacial as novas dimensões da cidade e a nova dinâmica
da industrialização e dos deslocamentos internos. Busca-se retomar o controle dos
espaços centrais e requalifica-los, funcional e simbolicamente, como expressões da
sociedade burguesa emergente.

O Saneamento e a Construção da nova Capital:


Em consonância com a forte preocupação higienista do urbanismo da época, o
saneamento constitui-se em um dos aspectos principais do projeto da nova Capital.

No século XIX, em meio a Revolução Cientifica e Industrial, são lançadas na Europa


as bases da ciência sanitária moderna, com a possibilidade de aplicação prática dos
princípios fundamentais da hidrotécnica lançados por Torricelli, Pascal e Bernolli
ainda no século XVIII. A partir da primeira lei sanitária inglesa, o Public Health Act,
1848, ganha força o movimento higienista que se espalha pelos demais países da
Europa e pelos Estados Unidos.

A utilização nas canalizações de tubos de ferro fundido e aço, capazes de suportar


grandes pressões internas e de permitir a construção de sifões invertidos, capacita a
engenharia hidráulica para grandes empreendimentos, notadamente o transporte de
água dos mananciais a todos os recantos das cidades e as instalações prediais, que
proporcionam o uso amplo de torneiras nas habitações.

O rápido desenvolvimento da distribuição da água é acompanhado pelo


aperfeiçoamento e multiplicação dos procedimentos de filtragem e por um relevante
movimento nos sentido da implantação ou melhoria dos serviços de esgotamento
sanitário. O imenso território de Londres, por exemplo, havia sulcado por condutos
subterrâneos e interligados a grandes coletores escalonados, que, com a ajuda de
poderosas estações elevatórias, lançam a distância, no Tâmisa, todos os dejetos da
metrópole britânica. Foi a aplicação mais considerável do sistema que recebeu o
significativo nome de Tout à l’égou, por coletar tanto os dejetos sanitários como as
águas pluviais e que se propagou por todo o mundo (Foto 15 e 16).
Como consequência da expansão das redes de esgoto, é colocado na ordem do dia
o tratamento dos efluentes das aglomerações urbanas. O fato de que a reunião de
todos os dejetos de uma cidade em um único coletor de esgotos tem por resultado a
acumulação pontual de uma grande massa de matérias orgânicas em
decomposição, foco de emanações insalubres. Por esse motivo dar-se-ia o
tratamento pela ação natural do solo permeável, através da disposição de esgotos
sobre o mesmo, sob forma de irrigações intermitentes. Essa solução será a proposta
pela Comissão Construtora para Belo Horizonte.

O sistema unitário de esgotamento sanitário adotado terá, no entanto, dificuldades


de operação logo nos primeiros anos da capital, em virtude não só da pequena
vazão contribuinte, causando um grande consumo de água nos tanques fluxíveis,
como também do depósito das tubulações do material carreado pelas enxurradas
das vias públicas ainda não pavimentadas.

O tratamento dos esgotos por depuração através de infiltração do solo não chegará
a ser implantado, devido, principalmente, à demanda por área agricultáveis e de
condições topográficas desfavoráveis. Com isso as águas os esgotos são lançadas
diretamente no Ribeirão Arrudas (foto 30), sem qualquer tratamento prévio, o que irá
comprometer o uso de suas águas pelos agricultores tanto para irrigação quanto
para fins domésticos.
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http://bairrosdebelohorizonte.webnode.com.br/saneamento-/ 16/04/2010

Depois de abastecer a população e antes de desaguar no Ribeirão Arrudas, os


cursos d’água tinham a triste sina de receber o esgoto produzido e, ao final, despejar
tudo no referido ribeirão. Mais tarde, também no Ribeirão do Onça, que corta a
cidade na Região Norte. Os dois são afluentes do Rio das Velhas e principais
responsáveis pela sua poluição. A rede de esgoto e pluvial foi formada junta e só
separada a partir da década de 30.

Os projetos de construção da capital previam uma estação de tratamento de esgoto


no Arrudas, que seria instalada no Bairro Santa Efigênia, nas proximidades da
Câmara Municipal, na Região Leste. No entanto, a primeira estação do Arrudas só
veio a ser inaugurada 105 anos depois da inauguração da capital, em 2002. A
segunda estação é de realização recente, com apenas dois anos de funcionamento.

O cuidado da CNCC em erguer uma cidade com condições higiênicas ideais não
evitou que a população fosse vítima de doenças transmitidas pela água. Conforme
registro do livro “Saneamento básico de Belo Horizonte: trajetória em 100 anos”,
publicado pela Fundação João Pinheiro, uma tabela mostra o índice de
contaminação. Em 1910, 72,19 pessoas em cada grupo de 100 mil, tiveram febre
tifóide e 21,06, disenteria. Em 1920, o índice passou para 5,4, no caso da febre
tifóide, e 3,68, na disenteria. Em 1930, foram 17,95 ocorrências de tifo e 4,27 de
disenteria. O mesmo livro mostra que, em países desenvolvidos, os índices ficavam
perto de zero.

Hoje, a cidade não conta mais com as antigas fontes de água. Conforme informação
da Companhia de Saneamento de Minas Gerais – COPASA, 85% da água que
abastece Belo Horizonte, vêm de outras cidades e apenas 15% vêm do córrego do
Cercadinho. Levantamento sobre recursos hídricos realizado pela Superintendência
de Desenvolvimento da Capital – SUDECAP em 1999, informava que foram
encontrados 750 Km de cursos d’água, sendo que 550 – 67% - estavam
degradados, 250 estavam canalizados e 150 km passavam embaixo de ruas e
avenidas.

Uma das grandes novidades para os envolvidos neste levantamento foi o


descobrimento de uma galeria subterrânea na Avenida Afonso Pena, em frente ao
Palácio das Artes, em tijolo, em forma de arco em cantaria, que foi construída,
presumivelmente, por volta de 1898 e servia ao córrego do Acaba Mundo, para
escoamento de água pluvial e de chuva. Ela tem 5 metros de altura e 100 metros de
extensão, atravessando a avenida na diagonal, chegando até a Rua Pernambuco.
Ela foi desativada na década de 1970.

A transformação do leito de cursos d’água em canal foi justificada, durante muito


tempo, como a melhor opção para tratamento de córregos, ribeirões e rios que
passassem dentro dos centros urbanos em crescimento. Ao canalizá-los, era
possível aumentar as vias de transporte e loteamentos, além de se eliminar,
supostamente, o problema das enchentes, do esgoto e do excesso de lixo. Mas
hoje, é uma solução criticada, pois, cobertos por grandes ruas e avenidas, somente
são lembrados ao transbordarem.

RAIO X DO RIBEIRÃO ARRUDAS:

Nascente: Na junção dos córregos Jatobá e Barreiro, próximo ao limite com o


município de Contagem;
Foz: Deságua no Rio das Velhas, no município de Sabará;
Extensão: 47 Kms, sendo 37,6 em Belo Horizonte;
Volume: Em época de chuva, chega a 970 metros cúbicos por segundo. Em seca, 6
metros cúbicos por segundo;
Canalização: Apenas 3, 3 kms não estão canalizados.

HISTÓRICO DA CANALIZAÇÃO:

1895: Primeiras canalizações em Belo Horizonte, no córrego do Acaba Mundo e no


Ribeirão Arrudas;
1928: Implantação de canal entre a Avenida Tocantins e Estação Arrudas;
1935: Prosseguimento da canalização nos trechos entre as Ruas Rio de Janeiro e
Tupis e Avenida Tiradentes e Rua Tupinambás;
1973: Substituição de pontes na área central;
1980: Início da canalização abaixo da Ponte do Perrela;
1981: Início da canalização acima da Ponte do Perrela;
1997: Conclusão das obras até a divisa com o município de Sabará;
2007: Inaugação do Boulevard Arrudas entre a Alameda Ezequiel dias e Escola de
Engenharia da UFMG.

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