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Marilei Fiorelli
Professora da FIB, Centro Universitário da Bahia e
IBES – Instituto Baiano de Ensino Superior
Abstract: From military tool, the GPS - Global Positioning System, like other technological
devices, can be used by the artistic community as another means of artistic creation.
Drawings created with its use can be viewed on the Internet, through interactive maps. This
article aims to show some examples and build on ideas of art with such this locative media
art.
Introdução
GPS drawing são desenhos virtuais criados a partir dos traçados/rastros gravados
através de GPS. A partir dos pontos definidos pela coordenadas latitude/longitude
alinha-se um desenho, ponto a ponto, de grandes dimensões. Como uma grande
tela de bordado, os pontos são percorridos, criando formas. Porém, ao invés de
tela, temos a paisagem como suporte. A visualiação do desenho é feita graças aos
satélites de telecomunicação e a dispositivos de leitura digitais ou o meio web.
Este tipo de criação acontece desde o começo dos anos 2000, quando os artistas
ingleses Jeremy Wood e Hugh Pryor cunharam o termo de “GPS drawing” para
designar estas linhas “gravadas” como traços digitais a partir dos satélites de
comunicação, que podem ser visualizadas em mapas (como o Google maps, por
exemplo) na rede internet. No site dos artistas há vários exemplos desses projetos.
http://www.gpsdrawing.com/
Mowing the Lawn – 2005 –
http://www.gpsdrawing.com/gallery/experiments/lawn/lawn05.htm
Outra relação pode ser traçada com a Land arte. Na Land arte, as obras de
grandes dimensões, só podem ser observadas, visualizadas como um todo a
distancia ou por meio de fotografias e filmes. Há a possibilidade de “experimentá-
las”, para isso é preciso que nos coloquemos dentro delas, percorrendo seus
caminhos passagens e paisagens. Na Land art as obras acompanham os passos e
o olhar do sujeito apreciador da obra, assim, através da experimentação,
interagindo com a obra. Da mesma forma, o GPS drawing, só pode ser visualizado
como um todo (seu traçado) a partir de um ponto de vista que perpassa as
interfaces gráficas – a visualização dos dados via um mapa na rede internet (e não
no local físico onde ocorre). No espaço físico, como na land art, o apreciador pode
percorrer e experimentar parte da obra.
Mas é dentro das chamadas Arte com mídias locativas (locative media art) que o
GPS drawing melhor se enquadra. Definida por Lemos como “processos artísticos
que usam tecnologias e serviços baseados em localização. O objetivo é criar
autoria no espaço público questionando e tensionando questões como mobilidade,
lugar, espaço, público, vigilância, controle e monitoramento.”(LEMOS, 2009)
Ainda segundo Lemos, as mídias locativas “indicam uma nova relação entre mídia,
espaço urbano e ciberespaço”. Este tipo de arte não acontece só no espaço, e
nem só no ciberespaço. As propostas de artes com mídias locativas englobam
ambos.
Os desenhos
Os percursos para esse traçado podem ser feitos a pé, como a caminhada
situacionista, ou via algum meio de transporte – carro, trem, ônibus, bicicleta etc.a
depender da dimensão e escala que se deseja criar o projeto. Pode se usar um
espaço de uma quadra, de varias quadras, um bairro, de uma cidade inteira ou até
em escalas maiores (via continentes, de avião ou navio). Nestas escalas grandes,
há a necessidade de um planejamento mais detalhado e minucioso – o grau de
complexidade para a execução da obra requer uma logística maior.
Alem dessa possibilidade, pode-se criar também outro tipo de conteúdo visual. Ha
projetos onde o artista gera, alem do traçado, uma documentação visual do
percurso a partir do percurso – gravacao de vídeos da paisagem urbana, com
detalhes do espaço – arquitetura, ambiente, clima, vegetação, pessoas; dos sons,
provenientes de cada local ou gerados pelo artista para a composição da obra ou
de fotografias.
Nesse caso, o acesso via internet ao mapa trás toda essa experiência sensorial do
artista ao fruidor, já que esse material todo pode ser acessado. Normalmente, a
partir do traçado são criados pontos visuais que linkam à estes materiais (abrindo
novas janelas, como pop-ups) ou direcionando para links de sites que hospedam
essas fotos e vídeos.
A visualizacao desses dados captados pelo GPS, são divididos, então, em dois
tipos de conteúdo visual. Segundo BRUNET, no artigo Mídia locativa, práticas
artísticas de intervenção urbana e colaboração, “Bowman (2008) divide a
visualização de dados de localização em dois tipos de conteúdo visual:
São vários os projetos de desenhos criados com o GPS. Não cabe aqui fazer um
apanhado geral ou uma classificação dos mesmos. Apenas citarei alguns
exemplos ilustrativos. Um dos projetos feitos recentemente na cidade de São e o
projeto que participei, realizado no Canadá em 2008.
Kandinsky by perdizes
http://marcusbastos.net/lat-23/
O trabalho 4nós4 de Marcus Bastus e Nacho Durán, realizado em 2008, pinta um
quadro de Kandinsky nas ruas do bairro de Perdizes com um GPS.
"um quadro de kandinsky, dois gps, dois tracksticks, câmeras e celulares. ao
contrário da maioria dos trabalhos em que textos ou desenhos são construídos a
partir de percursos pela cidade, em kandinsky by perdizes, o quadro abstrato serve
como ponto-de-partida para o percurso.” (memorial da obra).
Survivall
http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/andrelemos/survivall/
Sur-viv-all - 2008
Conclusão
Exemplo de arte com mídias locativas, como os GPS drawings nos trazem uma
nova percepção das paisagens urbanas. Como no caso da land art, o planeta e
suas paisagens são tratados como grandes telas de desenho. E mesclam mais
uma vez o espaço e o ciberespaço, já que o desenho em si só pode ser visualizado
via rede internet. E é na internet também que são visualizados os vídeos, fotos e
outras percepções que os criadores colheram no processo sensível, enquanto
percorreram os caminhos, passo a passo, ponto a ponto.
Assim, que tipo de arte é o GPS drawing? É intervenção urbana, web arte, land
arte? Ou a hibridização desses processos todos? Não cabe e não há necessidade
de fazermos essa classificação. O interessante, para nós, artistas, é mais uma
possibilidade – utilizar os satélites como pincel. Para a criação.
1- O GPS teve sua origem num programa militar americano. É um Sistema constituído por
uma rede de satélites, colocados em órbita ao redor da Terra em posições estratégicas e
por Receptores no solo (aparelhos que recebem o sinal e calculam a distância entre o
receptor e o satélite). Através desse cálculo de triangulação de distâncias entre vários
satélites e o receptor, é possível determinar uma posição no globo terrestre (Latitude e
Longitude). Estes dados são captados a todo o instante e posteriormente são analisados
pelo processador do receptor, que através de uma relação de tempo-distância-
deslocamento, poderá devolver muitas informações tais como: velocidade, altitude, etc.
Referências:
LEMOS, A. Arte Com Mídias Locativas (Locative Media Art). Enciclopédia Itaú
Cultural Arte e Tecnologia. Disponível em: http://www.cibercultura.org.br/
tikiwiki/tiki-index.php? page=locative+media+art&highlight=andre%20lemos
Marilei Fiorelli
Mestre em Artes Visuais (UFBA), Especialista (UNEB) e graduada (UFSM) em
Design. Professora da FIB, Centro Universitário da Bahia e da IBES – Instituto
Baiano de Ensino Superior. E-mail: marifiorelli@gmail.com