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«Antes de mais nada, boa viagem a todos, esperamos, pois apesar da famosa nuvem aqui estamos
nós! Em Portugal sinto, antes de mais, os sentimentos de alegria e gratidão pelo que fez e faz este
país no mundo e na história, e pela profunda humanidade deste povo que quero conhecer nesta visita
com tantos amigos portugueses. É verdade que Portugal foi uma grande força da fé católica, levou
essa fé a todas as partes do mundo, uma fé corajosa, inteligente e criativa. Foi capaz de criar grandes
culturas, vemos no Brasil, no próprio Portugal, e na presença do espírito português em África e na
Ásia. E, por outro lado, esta presença do secularismo não é algo inteiramente novo. A dialéctica
entre a laicidade e a fé em Portugal tem uma longa história. Já existe uma forte presença no
Iluminismo do século XVIII, basta pensar no nome do Marquês de Pombal. Assim, vemos que,
nestes séculos, Portugal já vivia na dialéctica que hoje naturalmente é radicalizada, mostra-se com
todos os sinais do espírito europeu de hoje. E eu acredito que este é um grande desafio e
oportunidade. Neste século da dialéctica entre iluminismo-laicidade e fé, sempre houve pessoas que
queriam construir pontes, criar um diálogo, mas, infelizmente, a tentação e a tendência dominante
era a da oposição. Hoje vemos que essa dialéctica é uma oportunidade, devemos encontrar a síntese
com um diálogo profundo e verdadeiro. Na situação multicultural em que nos encontramos, vemos
que uma cultura europeia que fosse apenas racionalista, e não tivesse a dimensão religiosa e
transcendente, não saberíamos dialogar com as grandes culturas da humanidade que têm essa
dimensão religiosa e transcendente, que é uma dimensão do ser humano. E quem pensar que há
uma razão pura, anti-histórica, apenas existente em si mesma, é um erro, vê-mo-lo sempre que toca
apenas uma parte do homem, expressa uma determinada situação histórica e não é a razão como tal.
A razão, como tal, está aberta à transcendência e só no encontro entre a realidade transcendente, a fé
e a razão, o homem se encontra a si mesmo. O que compete à Europa, a missão da Europa nesta
situação é encontrar esse diálogo, integrando a fé e a racionalidade moderna numa única visão
antropológica, que completa o ser humano e, portanto, também torna transmissíveis as culturas
humanas. Então eu diria que a presença do secularismo é normal, mas a separação e oposição entre
o laicismo e a cultura da fé é anormal e deve ser superada. O grande desafio deste momento é que os
dois se encontrem e encontrem a sua verdadeira identidade. Isso, como eu disse, é uma missão da
Europa e uma necessidade humana na nossa história.»

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«Eu diria que precisamente esta crise económica, com a sua componente moral que ninguém pode
não ver, é um caso para aplicar e implementar o que eu disse antes, isto é, que as duas correntes
culturais distintas se devem encontrar, caso contrário, não encontraremos o caminho para o futuro.
Existe um positivismo económico que pensa poder realizar-se sem a componente ética, regulado
apenas por si mesmo, das forças puramente económicas, da racionalidade positivista, do
pragmatismo da economia, em que a ética seria uma coisa estranha... Na verdade, vemos agora que
um pragmatismo puramente económico, que prescinde da realidade do homem que se mantém ético,
não contribui positivamente, mas cria problemas. Então agora é o momento de ver que a ética não é
algo externo, mas interior à racionalidade económica e ao pragmatismo económico. Por outro lado,
temos também de contestar que a fé católica, cristã, era muitas vezes era demasiado individualista,
ignorava as coisas concretas do mundo económico e só pensava na salvação individual, nos actos
religiosos, sem ver que isto implica uma responsabilidade global, uma responsabilidade pelo mundo.
Aqui devemos entrar num diálogo concreto: eu tenho experimentado na minha Encíclica <i>Catitas
in veritate</i>, e toda a tradição da doutrina social da Igreja vai neste sentido, de alargar o aspecto
ético e da fé do indivíduo à responsabilidade do mundo, a uma ética racional, e, por outro lado, os
mais recentes desenvolvimentos no mercado nos últimos dois ou três anos têm demonstrado que a
dimensão ética é interna e deve entrar dentro da acção económica porque o homem é um, trata-se do
homem, de uma antropologia sã que implica tudo e a única maneira de resolver o problema é a
Europa cumprir a sua missão.»

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) Para si, é possível enquadrar essa visão no sofrimento da Igreja
de hoje pelos pecados dos abusos sexuais a menores?

«Antes de tudo, gostaria de expressar a minha alegria de ir a Fátima, de rezar à Nossa Senhora de
Fátima, que para mim é um sinal da presença da fé numa nova força que é uma mensagem para todo
o mundo, ao longo da história, em todos os seus presentes, e ilumina esta história. Em 2000, na
minha apresentação, eu disse que uma aparição é um impulso sobrenatural, que não vem apenas da
situação da pessoa, mas na realidade vem da Virgem Maria, o sobrenatural. É o impulso interno do
sujeito que se expressa nas possibilidades do sujeito. O sujeito é determinado pela sua condição
histórica, pessoal, temperamental e que se traduz num grande impulso sobrenatural, na sua
habilidade de falar, de imaginar, de expressar, mas nessas expressões formadas pelo sujeito esconde-
se um conteúdo que vai além, é mais profundo. Só no decorrer da história podemos ver toda a
profundidade desta visão possível de pessoas reais. Além desta grande visão do sofrimento do Papa,
que podemos ligar a João Paulo II, é mostrada a realidade do futuro da Igreja. É verdade que com o
tempo indicado na visão, se fala, se vê a necessidade de uma paixão da Igreja, que naturalmente se
reflecte na pessoa do Papa, mas o Papa está na Igreja e, portanto, foi anunciado o sofrimento da
Igreja. O Senhor disse-nos que a Igreja será sempre sofrimento, de formas diferentes, até o fim do
mundo. O importante é que a mensagem, a resposta de Fátima, basicamente, não vá a situações
particulares, mas a resposta fundamental que é a conversão permanente, a penitência, a oração, e as
três virtudes cardeais: fé, esperança, caridade. Então vemos que a resposta real e fundamental que a
Igreja deve dar, temos de dar a cada indivíduo nesta situação. Quanto à novidade que podemos hoje
encontrar nessa mensagem, é que não só são os ataques de fora ao Papa e à Igreja, mas os
sofrimentos da Igreja vêm de dentro da Igreja, do pecado que existe na Igreja. Isto sempre se soube,
mas hoje vemos de uma forma aterradora: a maior perseguição à Igreja não vem dos inimigos de
fora, mas nasceu do pecado na Igreja. A Igreja tem a profunda necessidade de reaprender o
arrependimento, aceitar a purificação, a aprender a perdoar, mas também a necessidade de justiça.
O perdão não substitui a justiça. Devemos aprender a questão essencial: a conversão, a oração, a
penitência, as virtudes teologais. Temos de responder e de ser realistas, para esperar que o mal
sempre ataque, de dentro e de fora, mas que as forças do bem estão presentes e, finalmente, o Senhor
é mais forte que o mal e a Virgem Maria para nós é a garantia disso. A bondade de Deus é sempre a
última palavra da história.»

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