Nasci em Junho. É por isso que todas as coisas míticas acontecem
em Junho. É assim. Deve ser uma lei da natureza. Arianna também nasceu em Junho. E as coisas míticas também lhe acontecem sempre em Junho. Mas ela diria «giras», não diria «míticas». Arianna não é nenhuma intelectual. A intelectual sou eu. A história da mina - que tem a ver com nós as duas - começou precisamente, num dia quente de Junho.
Estava uma noite de raios e trovões, e os ruídos e o tumulto do
temporal acabaram por me acordar quase por completo. - Ouve, minha filha, não terá chegado a hora? Não será este o momento adequado, correcto e conveniente? - perguntou a minha voz interior. E pouco depois, sem me dar tempo de acordar totalmente: - Vais ou não afastar esse sono e essa preguiça? Será que não queres expor-te à excelente e frutífera luz? Diz-me em duas palavras e com o coração nas mão, não terá chegado a hora? Não será este o momento adequado, correcto e conveniente?
Não me lembro de como tudo começou. Só sei que passeava ao luar e
sobre a neve havia uma fina camada de gelo. Era contudo estranho para um começo, já que as crianças não costumam passear à noite sozinhas na floresta. Via a Lua, lá no alto, redonda como um balão, como se estivesse suspensa sobre os abetos. Mas nessa noite passaram-se coisas ainda mais estranhas.
Navegavam pelo espaço há vários dias, dentro da sua pequena nave
branca - Ítaca 3000. Tinham sido lançados do coração de África para o espaço, do calor de África para o frio que reinava lá fora. Um foguetão tranportara a nave até ao limite da atmosfera terrestre e daí, com um último rugido dos seus potentes motores, empurrara a pequena nave para diante e desintegrara-se a si próprio. A Ítaca-3000 ficara sozinha na imensidão de um céu que era luminoso de dia, quando navegavam no quadrante do Sol, e escuro como breu durante a noite. Qual será o título???
- Vou fazer compras à aldeia - disse a mãe do Jorge ao Jorge na
manhã de sábado. - Vê se te portas bem e não fazes marotices. Que parvoíce dizer tal coisa a um rapazinho, seja lá quando for. Ele pôs-se logo a magicar nas marotices que podia fazer. - E não te esqueças de dar o remédio à avó às onze horas - recomendou a mãe. Depois saiu, fechando atrás de si a porta das traseiras. A avó, que estava a dormitar na sua cadeira junto à janela, abriu um olhinho manhoso e disse: - Toma atenção ao que a tua mãe mandou, Jorge. Não te esqueças do meu remédio.
Se hoje em dia fosses a uma escola e perguntasses às crianças: - o
que é um tapado?, provavelmente obterias respostas muito disparatadas. - É uma pessoa sem cérebro, com a cabeça cheia de serradura - poderia responder uma criança. Ou: - É um terreno cercado para os animais pastarem. - Ou mesmo: - É um casaco de abafo. Mas em tempos idos não foi assim. Antigamente todas as crianças da terra te diriam que um tapado era um montículo especial, uma saliência coberta no solo, e que nesta saliência se escondia uma porta que se abria de quando em quando para revelar um túnel que conduzia a um mundo completamente diferente.
Corriam os meados do século XXI quando em Lisboa,
cidade dos buracos, a Câmara mandou abrir mais um buraco monumental. Destinavam-no a transformar-se na nova Estação de Metropolitano do Rossio. Como era da praxe, o Presidente da República apresentou-se na inauguração do buraco, que iria constituir, de facto, um grande furo em território nacional. Não faltou o Ministro dos transportes, pois se tratava de um buraco concebido para impedir o trânsito. Nem a Ministra da Indústria, visto que ali, pela primeira vez, seria experimentada a portentosa escavadora «Minhoca», fruto da mais avançada tecnologia minhota.