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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
AFS
Nº 70014683627
2006/CÍVEL
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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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Nº 70014683627
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DECISÃO MONOCRÁTICA
Vistos.
Trata-se de agravo de instrumento interposto por MAISONNAVE
CIA DE PARTICIPAÇÕES E OUTROS contra a decisão de fl. 74, segundo a
qual, nos autos da ação revisional de contrato de compra e venda manejada
por CARLOS AUGUSTO DA SILVA LINO, determinou a exclusão do nome do
agravado dos cadastros de proteção ao crédito, a inversão do ônus da prova e
a manutenção de posse do imóvel.
Em síntese, sustentam os agravantes que têm o direito de incluir
o agravado nos cadastros de proteção ao crédito, já que o depósito judicial a
ser realizado se dará em valor inferior ao devido. Pelo mesmo motivo, afirmam
que têm o direito de manejar demanda para reaver a posse do imóvel.
Outrossim, defendem que, sendo inverossímeis as alegações do agravado, não
há porque inverter o ônus probatório.
O recurso, embora tempestivo e preparado, merece algumas
considerações prévias ao seu conhecimento.
O artigo 522 do Código de Processo Civil, cuja redação foi
modificada pela Lei nº 11.187/2005, que entrou em vigor em 19 de janeiro de
2006, incluiu outro pressuposto para a interposição do agravo de instrumento: o
risco de lesão grave ou de difícil reparação da agravante. A partir dessa
alteração legal, a parte que não se conformar com a “sentença liminar”
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prolatada pelo juízo a quo deverá se manifestar, em regra, por meio do agravo
retido nos autos.
A Lei nº 11.187/2005 tem causado muito alvoroço no meio
jurídico, e nem mesmo os neófitos deixam de “palpitar” acerca dos avanços ou
prejuízos por ela causados. Mas o que não se tem dito é que a legislação em
comento nada mais fez que adequar a lei processual ao artigo 5º, inciso
LXXVIII, da Constituição Federal, que, desde a Emenda Constitucional nº
45/04, dispõe que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação”.
Ou seja, a celeridade processual foi guindada à categoria de
princípio constitucional, inserta expressamente dentre as cláusulas pétreas.
Contudo, os instrumentos legais à disposição dos aplicadores do direito
impediam que o processo, instrumento que viabiliza o exercício dos direitos das
partes, cumprisse tal finalidade.
É verdade que a Lei nº 10.352/2001, por exemplo, modificou o §
4º do artigo 523 do CPC, prevendo o agravo retido a situações similares à ora
proposta, mas a interposição do recurso era, ao fim e ao cabo, de escolha do
agravante, que invariavelmente alegava ser caso de dano de difícil e incerta
reparação, interpondo o agravo de instrumento, não o retido nos autos do
processo.
Assim, dia após dia éramos (a conjugação do verbo no pretérito é
proposital e demonstra o otimismo deste Relator) soterrados por agravos de
instrumento. O fato é que as partes recorriam porque eram sucumbentes e o
simples indeferimento de seu pleito, segundo a ótica de pelo menos 90%
(noventa por cento) dos agravantes, era o bastante para justificar o dano de
difícil e incerta reparação. Mas não é. Essa premissa é equivocada porque no
Direito o “prejuízo” de um em detrimento do outro é a regra. Um, no mínimo,
sempre será sucumbente. O ideal é que o sucumbente seja a parte que não
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tem razão. Porém, este é o utópico e maniqueísta plano ideal. Na vida real, a
parte que toma a iniciativa do processo pode não obter o seu pleito, assim
como a parte processada pode ter contra si decisão desfavorável. Tal decisão -
ou como dizem as partes: “prejuízo” - não necessita ser, como regra,
imediatamente revista pela instância superior. Afinal o julgador singular dispõe
do juízo de retratação. É ele quem poderá, até a prolatação da sentença, de
acordo com as provas carreadas aos autos, revisar suas decisões.
Enfim, ter decisão contrária à sua pretensão é ônus do processo,
e como tal deve ser absorvido pelas partes. Se a decisão foi certa ou errada é
questão de mérito, e como tal será analisada. Deste modo, sempre que a parte
não se conformar com a “sentença liminar” deverá lançar mão do agravo retido,
para evitar a preclusão de seu direito, e, depois de sentenciado definitivamente
o feito, ou seja, quando o juízo a quo não mais puder se retratar, a parte
poderá devolver ao Tribunal todas as questões que, segundo sua ótica, lhe
causaram prejuízos. Nessa oportunidade, com a atenção que os recursos
merecem, o Colegiado poderá fazer a análise crítica do processo, exercendo o
controle jurisdicional, próprio do sistema recursal.
Deste modo, o juízo monocrático deixará de ser mero organizador
de documentos e coletor de provas. O juiz natural voltará a ser o magistrado de
primeiro grau que, com suas decisões valorizadas, cumprirá o disposto no
artigo 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal, prestando a jurisdição em
prazo razoável. Outrossim, o próprio Tribunal poderá cumprir o dispositivo
constitucional, pois não terá perdido tempo com centenas de agravos
desnecessários, contando ainda com o efeito reflexo que é a qualidade da
prestação jurisdicional.
Tal mudança pode parecer radical àqueles que estão
acostumados a recorrer a cada decisão, mas não é. Na verdade repõe as
prioridades à ordem de primazia. E funciona. Haja vista o exemplo que nos é
prestado pela Justiça do Trabalho que convive, e bem, com a irrecorribilidade
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juízo natural do processo, mesmo porque a balança pende para os dois lados.
Ou seja, se foi reconhecida a lesão grave e de difícil reparação para um dos
pólos, por óbvio, não será para o outro.
Tal digressão se deve para que a parte entenda que, mesmo
fosse superada a ausência de requisitos de admissibilidade do agravo e fosse
analisado o seu mérito, nenhum reparo mereceria a decisão interlocutória, pois
ela demonstra que o juízo assumiu sua responsabilidade na distribuição dos
bens da vida durante o curso do processo com a maturidade e
responsabilidade inerentes ao cargo.
Por óbvio, o insucesso do presente agravo, na forma em que
proposto, não veda a possibilidade de revisão da decisão ao longo do
processo, pois, com a instrução do feito, outras circunstâncias poderão dar
novas matizes ao julgador, autorizando novo juízo de valor.
Enfim, a conclusão é que os agravantes não se desincumbiram
de seu ônus em demonstrar ser caso de lesão grave e de difícil reparação que
autorize o agravo de instrumento quanto à questão da posse. Tampouco
estamos diante de ponto que envolva a admissão da apelação e seus efeitos,
ou outra que justifique a aplicação da exceção à regra, de modo que, nos
termos do artigo 527, inciso II, do Código de Processo Civil, converto
parcialmente o presente agravo de instrumento em agravo retido nos autos do
processo de origem.
Quanto aos dois outros pontos, quais sejam, possibilidade de
inscrição do agravado nos cadastros de inadimplentes e inversão do ônus da
prova, não lançarei mão do disposto pelo artigo 527 do Código de Processo
Civil e passo à apreciação de plano, porque a matéria em debate já foi
pacificada pela Câmara. Ou seja, em análise preliminar, posso adiantar qual a
solução que será dada pelo Colegiado. Enfim, para economizar tempo e
dinheiro das partes e do Poder Judiciário, deixo de converter o restante do
presente em agravo retido.
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