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Jongo

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Apresentação de Jongo do Grupo de Caxambu Michel Tannus de Porciúncula-RJ

Jongo é uma manifestação cultural essencialmente rural diretamente associada à cultura


africana no Brasil e que influiu poderosamente na formação do Samba carioca, em
especial, e da cultura popular brasileira como um todo.

Inserindo-se no âmbito das chamadas 'danças de umbigada' (sendo portanto aparentada


com o 'Semba' ou 'Masemba' de Angola), o Jongo foi trazido para o Brasil por negros
bantu, sequestrados nos antigos reinos de Ndongo e do Kongo, na região compreendida
hoje por boa parte do território da República de Angola.

Composto por música e dança características, animadas por poetas que se desafiam por
meio da improvisação, ali, no momento, com cantigas ou pontos enigmáticos
('amarrados') , o Jongo tem, provavelmente, como uma de suas origens mais remotas
(pelo menos no que diz respeito á estrutura dos pontos cantados) o tradicional jogo de
adivinhas angolano, denominado Jinongonongo. Uma característica essencial da
linguagem do Jongo é a utilização de símbolos que, além de manter o sentido cifrado,
possuem função supostamente mágica, provocando, supostamente, fenômenos
paranormais. Dentre os mais evidentes pode-se citar o fogo, com o qual são afinados os
instrumentos; os tambores, que são consagrados e considerados como ancestrais da
comunidade; a dança em círculos com um casal ao centro, que remete à fertilidade; sem
esquecer, é claro, as ricas metáforas utilizadas pelos jongueiros para compor seus
"pontos" e cujo sentido é inacessível para os não-iniciados.

Hoje em dia podem participar do Jongo homens e mulheres, mas esta participação, em
sua forma original era rigorosamente restrita aos iniciados ou mais experientes da
comunidade. Este fator relaciona-se a normas éticas e sociais bastante comuns em
diversas outras sociedades tradicionais - como as indígenas americanas - baseadas no
respeito e obediência a um conselho de indivíduos 'mais velhos' e no 'culto aos
ancestrais'.
Pesquisas históricas indicam que o Jongo possui, na sua origem, relações com o hábito
recorrente das culturas africanas de expressão bantu, durante o período colonial, de criar
diversas comunidades, semelhantes a sociedades secretas e seitas político-religiosas
especializadas, dentre as quais podemos citar até mesmo irmandades católicas, como a
Congada. Estas fraternidades tiveram importante papel na resistência à escravidão,
como modo de comunicação e organização, e até mesmo comprando e alforriando
escravos.

Dançado e cantado outrora com o acompanhamento de urucungo (arco musical bantu,


que originou o atual berimbau), viola e pandeiro, além de três tambores consagrados,
utilizados até os nossos dias, chamados de Tambu ou 'Caxambu', o maior - que dá nome
a manifestação em algumas regiões - 'Candongueiro', o menor e o tambor de fricção
'Ngoma-puíta' (uma espécie de cuíca muito grande), o Jongo é ainda hoje bastante
praticado em diversas cidades de sua região original: o Vale do Paraíba na Região
Sudeste do Brasil, ao sul do estado do Rio de Janeiro e ao norte do estado de São Paulo.
Entre as diversas comunidades que mantêm (ou, até recentemente, mantiveram) a
prática desta manifestação, pode-se citar, como exemplo, as localizadas na periferia das
cidades de Valença, Vassouras , Paraíba do Sul e Barra do Piraí (Rio de Janeiro) além
de Guaratinguetá e Lagoinha (São Paulo), com reflexos na região dos rios Tietê,
Pirapora e Piracicaba, também em São Paulo (onde ocorre uma manifestação muito
semelhante ao Jongo conhecida pelo nome de 'Batuque') e até em certas localidades no
sul de Minas Gerais.

Na cidade do Rio de Janeiro, a região compreendida pelos bairros de Madureira e


Oswaldo Cruz, já nos anos imediatamente posteriores à abolição da escravatura,
centralizou durante muito tempo a prática desta manifestação na zona rural da antiga
Corte Imperial, atraindo um grande número de migrantes ex-escravos, oriundos das
fazendas de café do Vale do Paraíba. Entre os precursores da implantação do Jongo
nesta área se destacaram a ex-escrava Maria Teresa dos Santos muitos de seus parentes
ou aparentados além de diversos vizinhos da comunidade, entre os quais Mano Elói
(Eloy Anthero Dias), Sebastião Mulequinho e Tia Eulália, todos eles intimamente
ligados a fundação da Escola de Samba Império Serrano, sediada no Morro da Serrinha.

A partir de meados da década 70, no mesmo Morro da Serrinha, o músico


percussionista Darcy Monteiro 'do Império' (mais tarde conhecido como Mestre Darcy),
a partir dos conhecimentos assimilados com sua mãe, a rezadeira Maria Joana Monteiro
(discípula de Vó Teresa), passando a se dedicar á difusão e a recriação da dança em
palcos, centros culturais e universidades, estimulando por meio de oficinas e
workshops, a formação de grupos de admiradores do Jongo que, embora praticando
apenas aqueles aspectos mais superficiais da dança, deslocando-a de seu âmbito social e
seu contexto tradicional original, dão hoje a ela alguma projeção nacional.

Ainda no âmbito da cidade do Rio de Janeiro, é digno de nota também o 'Caxambu do


Salgueiro', grupo de Jongo tradicional que, comandado por Mestre Geraldo, animou,
pelo menos até o início da década de 1980, o Morro do Salgueiro, no bairro da Tijuca e
era composto por figuras históricas daquela comunidade, entre as quais Tia Neném e
Tia Zezé, famosas integrantes da ala das baianas da Escola de Samba G.R.E.S
Acadêmicos do Salgueiro.
Em 1996 aconteceu no município de Santo Antônio de Pádua, Rio de Janeiro, o I
Encontro de Jongueiros, resultado de um projeto de extensão da Universidade Federal
Fluminense/UFF, desenvolvido pelo campus avançado que a universidade possui neste
município. Deste encontro participaram dois grupos de jongueiros da cidade e mais um
de Miracema, município vizinho. A partir daí, o encontro passou a ser anual. Hoje,
cerca de treze comunidades jongueiras participam deste Encontro. O mais recente, o XII
Encontro de Jongueiros, foi realizado nos dias 25 e 26 de abril de 2008 em Piquete / SP
e teve a participação de 1000 jongueiros das cidades de Valença-Quilombo São José,
Barra do Pirai, Pinheiral, Angra dos Reis, Santo Antônio de Pádua, Miracema, Serrinha,
Porciúncula, Quissamã, Campos, São Mateus, Carangola, São José dos Campos,
Guaratinguetá, Campinas e Piquete.

Em 2000, durante a realização do V Encontro de Jongueiros, em Angra dos Reis, Rio de


Janeiro, foi criada a Rede de Memória do Jongo e do Caxambu cujo objetivo é
organizar as comunidades jongueiras e fortalecer suas lutas por terras, direitos e justiça
social.

Ano e Local de Realização dos Encontros de Jongueiros:

I Encontro - 1996 - Santo Antônio de Pádua, RJ. II Encontro - 1997 - Santo Antônio de
Pádua, RJ. III Encontro - 1998 - Miracema, RJ. IV Encontro - 1999 - Rio de Janeiro
(Arcos da Lapa), RJ. V Encontro - 2000 - Angra dos Reis, RJ. VI Encontro - 2001 -
Marquês de Valença, RJ. VII Encontro - 2002 - Pinheiral, RJ. VIII Encontro - 2003 -
Guaratinguetá, SP. IX Encontro - 2004 - Rio de Janeiro, RJ. X Encontro - Santo
Antônio de Pádua, RJ. XI Encontro - Marquês de Valença (quilombo da fazenda São
José), RJ. XII Encontro - 2008 - Piquete, SP.

[editar] Bibliografia
• Carneiro, Edison. “Samba de umbigada.” In: Folguedos Tradicionais. Rio de
Janeiro: Funarte/INF, 1982 [1961].
• Dias, Paulo. “A outra festa negra.” In: István Jancsó & Iris Kantor (orgs.) Festa:
cultura e sociabilidade na América Portuguesa. São Paulo:
Hucitec/Edusp/Fapesp/Imprensa Oficial, 2001.
• Gandra, Edir. Jongo da Serrinha, da senzala aos palcos. Rio de Janeiro: Giorgio
Gráfica e Editora ltda./UNI-RIO, 1985.
• Lara, Silvia Hunold & Pacheco, Gustavo (orgs.) Memória do jongo: as
gravações históricas de Stanley J. Stein. Rio de Janeiro: Folha Seca, 2007.
• Pacheco, Gustavo. “Jongos.” In: Colin Palmer (ed.) Encyclopedia of African-
American Culture and History: The Black Experience in the Americas. New
York: Macmillan, 2005.
• Perez, Carolina dos Santos Bezerra. Juventude, Música e Ancestralidade no
Jongo: Som e Sentidos no Processo Identitário São Paulo: USP (Dissertação de
Mestrado), 2005.
• Ribeiro, Maria de Lourdes Borges Ribeiro. O Jongo. Rio de Janeiro: Funarte,
1984.
• Simonard, Pedro. "A construção da tradição no Jongo da Serrinha: uma
etnografia visual do seu processo de espetacularização". Rio de Janeiro:UERJ
(tese de doutorado), 2005.
• Silva, Gilberto Augusto da & Gouvêa, Ana Maria de. "Jongo de Piquete, um
novo olhar": Histórico do Jongo de Piquete. Piquete/SP, 2007.
• Silva, Marília T. Barboza da & Oliveira Filho, Arthur L. de. Silas de Oliveira:
do jongo ao samba-enredo. Rio de Janeiro: Funarte, 1981.
• Stein, Stanley J. Vassouras: um município brasileiro do café, 1850-1900. Rio de
Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1990.
• Valença, Rachel Teixeira & Valença, Suetônio Soares . Serra, Serrinha,
Serrano, o império do Samba. Rio de Janeiro: José Olympio, s/d.
• Gouvêa, Ana Maria e Silva, Gilberto Augusto . Jongo de Piquete, um novo
olhar . São Paulo, 2007

[editar] Discografia
• 100% Gonça. Caixa Preta. Rio de Janeiro:Independente, 1999. CD. Digital
audio.
• Batuques do Sudeste. Coleção Itaú Cultural/Documentos Sonoros Brasileiros –
Acervo Cachuera!, vol. 2. São Paulo: Associação Cultural Cachuera!/Itaú
Cultural, 2000. CD.
• Clementina de Jesus. Odeon, 1966. LP 33 1/3 rpm.
• Daude #2. Daude. Rio de Janeiro:Natasha, 1997.CD.
• Jongo do Quilombo da Fazenda São José. Rio de Janeiro: Associação Brasil
Mestiço, 2004. CD.
• Jongo da Serrinha. Rio de Janeiro: Grupo Cultural Jongo da Serrinha, 2002.
CD.
• Jongos do Brasil. Rio de Janeiro: Associação Brasil Mestiço, 2006. CD.
• Quilombo. Grupo Basam. Tapecar, s/d. LP 33 1/3 rpm.
• Bandoleia Grupo JONGO DE PIQUETE, 2009. CD.

Filmografia

• Caxambu de Sá Maria. Direção de Guilherme Fernandes. Rio de Janeiro:


Independente. Vídeo (65 min.), son., color.
• Feiticeiros da palavra: o jongo do Tamandaré. Direção de Rubens Xavier. São
Paulo:Núcleo de Documentários da TV Cultura; Associação Cultural Cachuera!,
2001. Vídeo (56min.), son., color.
• Saravá jongueiro. Direção de Bianca Brandão, Cecília de Mendonça e Luisa
Helena Pitanga. Rio de Janeiro:Independente, 2003. Vídeo (24 min.), VHS, son.,
color.
• Salve jongo!. Direção de Pedro Simonard. Rio de Janeiro:Independente, 2005.
Vídeo e DVD (25 min.), son., color.

Referências
[editar] Ligações externas
• Jongo da Serrinha
• Artigos IPHAN
• Rede de Memória Jongo Caxambu
• Grupo JONGO DE PIQUETE

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