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Fatalidades podem elevar ou arruinar uma pessoa.


depende de como ela reage
De uma hora para outra, aquela pessoa ativa e cheia de saúde vê-se
presa a uma cama, privada de sua liberdade. Há duas formas de
encarar a situação: conformar-se em ser uma vítima do destino ou
encarar o revés como um desafio e crescer como ser humano

Qualquer perda é dolorosa e requer que se passe por um longo e sacrificante processo
de adaptação à nova realidade. Para aprender a viver com a ausência de algo que até
então era vital, e que agora foi perdido, faz-se necessário aceitar o fato de que jamais
poderemos fazer muitas coisas que fazíamos antes, pelo menos não do mesmo modo.

O caso explorado pela novela “Viver a Vida”, em que a personagem interpretada pela
atriz Alinne Moraes sofre um acidente e fica tetraplégica, é bastante conhecido na vida
real. A treinadora de ginástica Georgette Vidor, o músico Marcelo Yuka e o modelo
Fernando Fernandes são alguns dos muitos exemplos de pessoas que, por motivos
distintos, tiveram de enfrentar o mesmo problema.

Mais do que exemplos de acidentes similares, devem ser lembrados como exemplos de
superação. “O ser humano escolhe o que fazer com os revezes de sua vida, isto é,
pode escolher ser vítima do destino e passar o resto da vida se lamentando ou o
oposto, encarar o revés como um desafio que lhe gera motivação e forças adicionais
para compensar a limitação, aprendendo a transformá-la em combustível e atingindo
mais conquistas no cotidiano, chegando ao ponto de sentir que foi graças a esta perda
que se tornou mais criativo, motivado e pôde atribuir maior significado à vida”, revela
a psicoterapeuta Dra. Léa Michaan.

A profissional afirma que, de fato, não se pode tapar o sol com a peneira e fingir que
esta não seja uma perda importante e muito significativa. Neste caso, entra-se num
mecanismo de defesa chamado negação. “Trata-se de um mecanismo muito útil para
a sobrevivência, principalmente quando ainda não estamos minimamente preparados
para lidar com uma situação desta magnitude. Porém, paulatinamente, a mente vai
absorvendo o fato e aprendendo ou desenvolvendo habilidades para sobreviver e,
posteriormente, viver, inclusive muito bem, apesar desta perda”, diz.

Segundo Dra. Léa, somos responsáveis pelas nossas escolhas. Inclusive, cabe a nós
escolhermos se a força que nos arrebatará será positiva ou negativa. “Claro que tais
escolhas não são tão simples e requerem muita elaboração mental e emocional. Em
situações extremas, como no caso de se tornar paraplégico, faz-se necessário mais de
uma mente para nos auxiliar a pensar e a expandir ao máximo o conhecimento que
podemos alcançar de nós mesmos, tornando-nos cientes de nossos recursos e
capacidades, até então ignorados. É aí que entra o trabalho psicológico”.

A psicoterapeuta reconhece que uma perda como a função das pernas não faz parte da
ordem natural dos acontecimentos. Ainda assim é possível extrair muita coisa positiva
da situação. “Podemos ganhar expansão mental e emocional, ou seja, evoluirmos
como pessoas. Afinal, o mais importante não é o que somos ou o que expressamos
quando tudo está bem, mas quem somos e o que expressamos quando alguma coisa
dá errado”, finaliza a psicoterapeuta.
*Dra. Léa Michaan é Psicoterapeuta e Psicanalista, graduada em psicologia
pela Universidade Mackenzie, Pós-graduada em Psicoterapia Psicanalítica
pela Universidade de São Paulo (USP) e Mestranda em psicologia clínica na
Pontifícia Universidade Católica (PUC).

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