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Monocórdio só é bom para quem quer dormir em berço esplêndido

Ainda há tempo e água para as próximas eleições. Entretanto, não há muito debate
sobre o que interessa.
Nesta eleição temos um “pré-candidato” que não pode ser eleito, se quisermos ter
um outro tipo de Brasil, um candidato que concentra a quase unanimidade das for
ças do preconceito: de classe, de cor, de sexo e de credo. Este candidato atende
pelo nome de José Serra. É uma pena, mesmo, que alguém com a biografia de Serra
se preste a este serviço. Mas ele quer assim, porque deseja com gula feroz ser
presidente do país. Sim, é verdade que outros abutres apóiam aqui e ali outros c
andidatos. Mas a questão é quem apóia o candidato Serra: a elite branca, conserv
adora, moralista e hipócrita que crê em Capitanias Hereditárias e que quer a Sen
zala longe, bem longe, dos olhos.
“O que não se vê o coração não sente”, a velha frase define bem as “políticas pú
blicas” das “modernas” gestões da cidade e do Estado de São Paulo. O esquecível
Conde Matarazzo, ex super secretário das gestões José Serra e Gilberto Kassab na
Administração Pública de SP talvez seja o retrato mais fiel destas políticas. O
conde quando foi Subprefeito da Sé e Super Secretário Municipal fechou albergue
s e mandou limpar as ruas do centro com esguichões noturnos para impedir o sono
dos moradores de rua. Tudo para deixar a cidade mais limpa.
Feita esta consideração preliminar, que revela em quem eu não recomendaria meu v
oto, é importante afirmar que a eleição não pode se encerrar nesta negação. Deve
ir além. E nesta observação anoto o nome de outro “pré-candidato” nas próximas
eleições para presidente, que devemos, na minha modesta avaliação, prestar mais
que atenção: Plínio de Arruda Sampaio, do Psol. Não sem antes apontar uma diverg
ência de fundo com o partido de Plínio e com o próprio candidato: Não, Lula não
é igual aos tucanos. Não há comparações possíveis que os deixem no mesmo lado da
história, na minha modesta avaliação, aos governos FHC e Lula. O recente episód
io do Irã é emblemático das diferenças entre um e outro, do servilismo colonial
do tucano e da tentativa lúcida de virar o jogo de Lula. As políticas sociais do
governo Lula podem não ser o sonho dos socialistas, mas representam, sim, uma a
lternância de rota, de rumo e de prumo. A vitória de um representante da era FHC
será um retrocesso brutal na história do país, um desastre. E é por isso que Di
lma e Serra não representam a “mesma coisa”. Não são.
Mas não há, também, como deixar de crer que outras lutas sejam possíveis, necess
árias e imprescindíveis. Não há como aceitar a tese de que o Governo Lula simbol
iza o “bem” e quem for contra está “traindo” o povo. Em questões fundamentais pa
ra a construção de um novo país Lula pouco ou nada avançou.
Como a Reforma Agrária, por exemplo. Não houve uma política efetiva de assentame
ntos e de desapropriações de terras improdutivas e de terras de “pseudo propriet
ários”, que foram na verdade tomadas, griladas, “conquistadas”, usurpadas. Um go
verno de transformação deve ter como centro de suas ações a defesa intransigente
da “função social da propriedade”. A propriedade não é um direito divino, sacro
, imaculado. Há requisitos para o exercício deste direito.
Como segundo exemplo de tibieza, é fundamental para o país a implementação de po
líticas que resultem na democratização dos meios de comunicação: Proibição das p
ropriedades cruzadas, ou seja quem for dono de jornal não pode ser dono de rádio
, num exemplo bem grosseiro para o entendimento imediato da proposta. Mudança ra
dical no emprego das verbas publicitárias do Governo, na perspectiva que propaga
nda institucional informa e não “vende” produtos, com a destinação de recursos p
ara veículos diversos, de preferência para os pequenos jornais, rádios e estaçõe
s de tv locais em detrimento aos “comerciais” em rede nacional nos “grandes” veí
culos de comunicação em massa. Restrição ao direito de entidades religiosas sere
m proprietárias de meios de comunicação, com a proteção ao estado laico. Fomento
a criação de rádios e tvs comunitárias, de alcance local. A implementação, sim,
do Plano Nacional de Banda Larga, com a atuação, sim, do Estado nesta área.
Enfim, há muito o que fazer e o que sonhar. Para além do Governo Lula, sem ignor
ar que não podemos voltar ao tempo anterior.
Lula é um mito. Sou daqueles que admiram e que não me arrependo de ter votado ne
ste homem, com imensas virtudes que superam os erros. Mas Lula, o mito, não pode
ser o ponto final. Para mim, é triste ver que o PT se transformou no partido do
Lula, e ponto final. É triste observar que a candidata do PT, apesar da bela hi
stória de vida e de luta, não representa o partido, representa o mito. É triste
ver que ao PT coube o papel de apêndice.
Mas a opção por Plínio não é fruto só de certa impaciência com a descaracterizaç
ão do PT como partido político. Na verdade, há candidatas e candidatos preocupad
os em ganhar eleições, o que é legítimo, mas que moldam discursos, tergiversam,
vestem vários modelitos conforme a ocasião. Mas há outros candidatos que querem,
nas eleições também, mudar o mundo. Também é uma opção legítima, mas estes são
vitais, essenciais, imprescindíveis.
Plínio está onde eu gostaria de estar: Nos acampamentos dos Sem Terra, nas March
as contra a Homofobia, nas Manifestações contra a recente decisão do STF sobre a
Anistia, nas lutas contra a implementação da Usina de Belo Monte, na batalha pe
la auditoria da dívida pública brasileira.
Plínio tem sido nas esferas de debate onde ele pode ser ouvido, porque a grande
mídia o afasta propositalmente do debate, o militante político que sempre foi: O
pina, mesmo que a opinião possa ser “desfavorável” ao senso comum da “opinião pú
blica”. Se posiciona, mesmo quando defender que o Irã tem direito ao seu program
a nuclear enquanto outros países vizinhos, como Israel, têm os seus arsenais atô
micos, é ser absolutamente “do contra”.
Recomendo a todas e todos que acompanhem o “tuíter” de Plínio de Arruda Sampaio,
www.twitter.com/pliniodearruda ou, para quem tem página no tal “tuíter”, @plini
odearruda.
Acompanhe e compare com os outros candidatos, que mais parecem estar num desfile
de “miss” preocupados em agradar aos jurados.
Sim, vamos dizer um rotundo e solene “NÃO” ao passado, ao candidato deste passad
o, que hoje é simbolizado por José Serra. Mas não podemos perder a oportunidade
de sonhar, de lutar, de querer os irresignados. Por estas razões é que não podem
os ignorar a pré-candidatura de Plínio de Arruda Sampaio.
Ao debate!
Fernando Garcia C. do Amaral
fergga@hotmail.com
www.twitter.com/quodores
@quodores

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