O documento descreve o Pavilhão da Humanidade 2012, uma estrutura temporária construída para a conferência Rio+20. Projetada pela arquiteta Carla Juaçaba, a estrutura leve de andaimes abrigava exposições e debates sobre sustentabilidade. Com 200 mil visitantes em 10 dias, o pavilhão foi bem-sucedido em conscientizar o público sobre a necessidade de mudanças para um futuro sustentável.
O documento descreve o Pavilhão da Humanidade 2012, uma estrutura temporária construída para a conferência Rio+20. Projetada pela arquiteta Carla Juaçaba, a estrutura leve de andaimes abrigava exposições e debates sobre sustentabilidade. Com 200 mil visitantes em 10 dias, o pavilhão foi bem-sucedido em conscientizar o público sobre a necessidade de mudanças para um futuro sustentável.
O documento descreve o Pavilhão da Humanidade 2012, uma estrutura temporária construída para a conferência Rio+20. Projetada pela arquiteta Carla Juaçaba, a estrutura leve de andaimes abrigava exposições e debates sobre sustentabilidade. Com 200 mil visitantes em 10 dias, o pavilhão foi bem-sucedido em conscientizar o público sobre a necessidade de mudanças para um futuro sustentável.
Depois de grandes expectativas, acabaram as duas frenticas semanas de
intensas atividades que definiram a vida do Rio de Janeiro entre os dias 11 e 22 de junho de 2012. Os extremos vivenciados foram os infinitos engarrafamentos, as sirenes policiais dia e noite, a multido sempre presente no centro e no Aterro de Flamengo; e as frias foradas de estudantes, professores e empregados pblicos nos trs dias das atividades oficiais mais importantes da Conferncia da ONU sobre desenvolvimento sustentvel, a Rio+20. Sem dvida, a capital carioca transformou-se em uma Babel de raas, culturas, etnias, sociedades, cujos participantes chegaram de toda parte do mundo para apoiar as necessrias transformaes das polticas pblicas dos Estados sobre a necessidade de preservar a natureza, o ambiente urbano e natural, controlar a contaminao e a degradao das metrpoles, territrios, guas, florestas e oceanos da nossa sofrida Ter ra. A cidade foi o cenrio das mltiplas e contraditrias atividades desenvolvidas nestas duas semanas. Se por um lado, as distantes e isoladas atividades oficiais aconteceram na velha megaestrutura dos anos 1970 do Riocentro na Barra de Tijuca, que congregaram presidentes desde o veterano cubano Ral Castro at Franois Hollande, recentemente eleito na Frana , ministros, embaixadores e funcionrios internacionais; por outro, os representantes da sociedade civil que participaram na paralela Cpula dos Povos se reuniram no Aterro de Flamengo. E foram contnuos os protestos pblicos contra os pases do Primeiro Mundo, responsveis em grande parte da degradao e espoliao dos recursos do Planeta com a dinmica do consumismo infinito gerado pela economia do sistema capitalista; e que no momento no desejam pagar as contas para reverter um inexorvel processo de crise ambiental que vai incidir nas condies de vida das futuras geraes. Protestos contra a formulao de uma economia verde que favorece os pases desenvolvidos, e que no chega at os milhes de habitantes que moram em condies infra-humanas. Assim, na Avenida Rio Branco, desfilaram 80 mil pessoas presididas por jovens mulheres ativistas com os seios descobertos, para demonstrar a necessidade de lutar pelo futuro que necessitamos, e no pelo futuro que queremos, estabelecido pelos outros. E a nota mais original do evento foi imagem dos ndios amaznicos na Esplanada de Santo Antnio, tentando acertar com arcos e flechas, os funcionrios do BNDES, indignados pelo apoio da instituio construo da barragem de Belo Monte que vai afetar o equilbrio ecolgico da regio onde eles moram. Apesar dos 150 milhes de dlares gastos para a celebrao do evento, a arquitetura no teve uma significativa presena nele. Foram utilizados os prdios existentes na cidade e para as atividades desenvolvidas no Aterro do Flamengo, se levantaram as tradicionais carpas, tendas e leves pavilhes provisrios, sem uma particular significao esttica. E foi uma surpresa geral quando surgiu, grande velocidade, a monumental estrutura metlica de leves andaimes, criando um volume virtual de 170 metros de comprimento, 30 de largura e 20 de altura; sobre o slido e monoltico forte de Copacabana, para conter o pavilho Humanidade 2012, com um conjunto de salas expositivas, uma biblioteca com 10 mil livros e um auditrio para 500 pessoas. Projeto elaborado pela jovem arquiteta carioca Carla Juaaba, com a participao, no desenho das salas temticas, da veterana Bia Lessa. Considero que foi bem sucedida seleo do local, j que permitiu o fcil acesso do numeroso pblico que visitou o pavilho 200 mil pessoas em dez dias , o que no teria acontecido se estivesse alocado na Barra de Tijuca. Tambm pela significao simblica internacional de Copacabana, tradicional carto postal da Cidade Maravilhosa. E no terrao do edifcio, se tinha uma
vista indita do mar, da praia, do muro de prdios que identificam o bairro,
dos morros prximos e as favelas cariocas, sempre presentes. Os visitantes, depois de assistir as explicaes sobre o drama ecolgico e ambiental que vivemos no mundo hoje; na chegada ao terrao, compreenderiam a significao da eterna natureza, a fragilidade do homem, e a necessidade da interao entre a paisagem e a cidade. E poderamos adicionar duas metforas subliminais: uma edificao sustentvel, provisria e leve, expresso da liberdade e da participao popular, construda sobre um forte militar, serviria de lembrana aos oficiais que desde ali, em 1922, levantaram as armas contra o governo conservador da Repblica Velha. Ao mesmo tempo, foi uma homenagem a Oscar Niemeyer, que desde a janela do seu escritrio na Avenida Atlntica onde cotidianamente continua assistindo com os seus 104 anos olharia para a megaestrutura que o lembraria da sua presena no jri que nos anos setenta premiou o projeto de Piano e Rogers para o Centro Pompidou em Paris. No deixa de surpreender a genialidade de Carla Juaaba, que soube transformar a sua experincia na escala residencial os projetos de casas minimalistas, realizadas com materiais leves e industrializados nesta complexa estrutura de andaimes de 500 toneladas totalmente desmontvel, que compe um edifcio virtual; e no interior da aberta e transparente malha metlica, colocou suspensos no ar os leves containers expositivos, de materiais reciclveis, com uma sala biblioteca de 20x20 metros com 10 mil livros que representam o saber brasileiro de prestigiosas personalidades ; e o auditrio para 500 pessoas, com a realizao de mltiplas atividades culturais e significativos debates sobre os problemas ecolgicos e ambientais do mundo atual. Definiu-se um sistema de rampas para a circulao do pblico que interconectam as salas entre si e organizam um percurso contnuo desde o trreo identificado pela presena de uma densa vegetao que representa a Amaznia e a Mata Atlntica ; at chegar ao ar livre do contemplativo terrao panormico, de 1140 m2. Sendo o pavilho a obra arquitetnica mais importante do evento Rio+20, realizado com o patrocnio da Fiesp, Firjan, Sesi-Senai, Fundao Roberto Marinho, a Prefeitura do Rio e outras instituies, resulta inadmissvel o esquecimento do nome da arquiteta, tanto nos folhetos oficiais entregues ao pblico participante, quanto nos artigos publicados nos jornais; em particular, o silncio notvel de uma personalidade to sensvel e prestigiosa como Zuenir Ventura, no recente texto que apareceu no jornal O Globo. Sem dvida, a equipe de Carla Juaaba e Bia Lessa foi muito bem sucedida. Primeiro, por imaginar uma complexa construo que devia permanecer somente por dez dias neste significativo e perdurvel espao militar. Segundo, por achar um embasamento material econmico, flexvel, de fcil montagem e desmontagem, ou seja sustentvel; e ao mesmo tempo capaz de conter um conjunto de espaos to dissmiles e diversificados. Terceiro, por criar no pblico uma experincia indita, cheia de surpresas e de impactos visuais, espaciais, mediticos, em uma sequncia de sons, cores, dados, informaes e percepes sensoriais. Se por um lado, a promenade architectural dentro da estrutura, compreendia a circulao nas rampas, sustentadas pela frgil estrutura dos andaimes, percorridas ao ar livre, em um alternar-se de dentro e fora, de espaos hermticos e da constante viso da paisagem de Copacabana, sob o vento sol e chuva; por outro, foi impactante a diversidade de tcnicas expositivas para convencer aos visitantes das certezas das mensagens. E foram muito originais as salas sobre a biodiversidade, a particularidade da natureza brasileira, a acelerao da ao humana negativa sobre a Terra nos sculos recentes, as contradies do mundo em que vivemos; a capacidade infinita do homem de desenvolver a tecnologia e os conhecimentos cientficos que poderiam ajudar a configurar um mundo melhor; e a necessidade de tomar
conscincia da participao ativa de todos os membros da sociedade para
construir um futuro positivo para as novas geraes. No infinito bombardeio de imagens e textos, o que mais fica na memria uma frase de Celso Furtado: O desafio que se coloca no umbral do sculo XXI nada menos do que mudar o curso da civilizao; deslocar o seu eixo da lgica dos meios a servio da acumulao num curto horizonte de tempo para a lgica dos fins em funo do bem-estar social, do exerccio da liberdade e da cooperao entre os povos. Se Carla Juaaba e Bia Lessa, neste frgil e fugaz pavilho, conseguiram convencer destas ideias os 200 mil visitantes que o percorreram, valeu a pena o duro esforo realizado. sobre o autor Roberto Segre, arquiteto e crtico de arquitetura, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.