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Ernst Robert
Curtius, Literatura Europia e Idade Mdia Latina, trad. Teodoro Cabral, Rio,
INL,
1957, pp. 74 ss.
16 Isso torna ainda mais engraada a trama d'O Nome da Rosa, de Umberto
Eco, trama propositadamente impossvel que o espectador desinformado
toma
como fico verossmil: pois como poderia surgir uma disputa em torno da
desaparecida Segunda Parte da Potica de Aristteles, numa poca que
desconhecia at a Primeira?
17 No quadro medieval, o fenmeno que descrevo tem certamente alguma
relao com uma estratificao social que colocava os sbios e filsofos,
classe
sacerdotal, acima dos poetas, classe de servidores da corte ou artistas de
feira. O
status inferior do poeta em relao aos sbios nota-se tanto na hierarquia
social
(veja-se o papel decisivo que no desenvolvimento literrio medieval
desempenharam os clerici vagantes, ou goliardos, todo um proletariado
eclesistico margem das universidades), quanto na hierarquia das
cincias
mesmas: os estudos literrios estavam rigorosamente fora do sistema
educacional da escolstica, e as mais elevadas concepes filosficas da
Idade
Mdia foram escritas num latim bastante grosseiro, sem que isto, na
ocasio,
suscitasse qualquer estranheza e muito menos reaes de escndalo
esteticista
como as que viriam a eclodir no Renascimento. Cf., a propsito, Jacques Le
Goff, Os Intelectuais na Idade Mdia, trad. Lusa Quintela, Lisboa, Estudios
Cor,
1973, Cap. I 7.